domingo, 29 de novembro de 2015

A GEOPOLÍTICA DO SÉCULO XXI SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL (parte 3)

A plena integração buscada pela União Europeia pode de fato nunca vir...

Por Éder Israel


Disponível em: <http://i0.statig.com.br/bancodeimagens/59/8j/4h/598j4hduhsam51s94oo7j1cpe.jpg> Acesso em 29 nov. 2015

"A culpa é desses imigrantes!" Seria a tradução em palavras do pensamento que ecoa na cabeçada extrema direita ultra conservadora francesa, historicamente representada por Jean Marie Le Pen e atualmente defendida por sua proeminente prole, a já usual pré-candidata de todas as eleições Marie Le Pen, que recebe cada vez mais apoio das alas tradicionais da população francesa.

O discurso de fechar as fronteiras para os refugiados do Oriente Médio e do norte da África, sabidamente em fuga do Estado Islâmico e do Boko Haram, respectivamente, ganha corpo na União Europeia, que recebe desde o final de 2014 grandes contingentes populacionais provenientes de nações devastadas por anos de guerra civil e pela recente expansão de grupos extremistas islâmicos.

Tratados políticos do bloco europeu podem sucumbir e ruir diante da crescente ameaça silenciosa que ronda a União Europeia. Destes tratados ameaçados o que mais se destaca é o chamado Acordo Shengen implantado em 1997, que demarca um território político por onde as pessoas provenientes dos países signatários possam circular livremente. O governo francês acena com a possibilidade de fechamento das fronteiras, tanto daquelas nações signatárias do espaço Shengen, quanto daquelas nações que não integram esta zona de livre circulação.



Disponível em: <http://www.imoplaces.com/wp-content/uploads/2015/01/Schengen-Map-4.png> Acesso em 29 nov. 2015

Nesse momento o discurso do presidente François Hollande, representante da "situação" se converge para aquele defendido por Marie Le Pen, representante da "oposição". Pode ser que a livre circulação de pessoas na/da França seja comprometida após os atentados, afetando a liberté, pilar básico daqueles três que deram sustentação à Revolução Francesa no século XVIII, e isso poderia de modo perigoso representar uma forma de vitória para o terror. O medo imposto pela Al Qaeda aos Estados Unidos poderia estar chegando à França pelas mãos do Estado Islâmico?

A própria União Europeia, enquanto bloco econômico, poderia estar com sua estrutura organizacional em risco. A quase plena integração entre suas nações constituintes estaria ameaçada também no campo político, pois na esfera econômica a situação já se encontra complicada desde a crise de 2008 no setor imobiliário dos Estados Unidos, que se alastrou pela Europa  e pelo resto do mundo.

A França não integra o grupo de países mais afetados economicamente da União Europeia, grupo este composto por Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, ou simplesmente "PIIGS", como são pejorativamente conhecidos na Europa. Porém a nação francesa, ou antes, as decisões por ela tomadas, podem ser o estopim de uma profunda crise política no bloco da Europa Ocidental.


Disponível em: <https://relevantmatters.files.wordpress.com/2013/10/piigs.jpeg> Acesso em 29 nov. 2015

O crescimento da direita ultra conservadora na Europa tem atingido nestes PIIGS proporções preocupantes, e lançando uma resposta há certo tempo esperada pelo mundo, a respeito do quão longe vai essa proposta de plena integração da União Europeia, e do quão dispostos estão os países membros em abrir mão de seus próprios interesses e convicções político-partidários em nome do bem comum do bloco.

Nos PIIGS esta situação será bem pior, uma vez que países como Itália e Grécia serem as verdadeiras vias de entrada para imigrantes ilegais provenientes da África e Oriente Médio, que se aventuram na travessia do Mediterrâneo em busca de garantias de vida e talvez até melhorias nas condições precárias de vivência que possuem em seus países de origem. Ali sim pode tencionar todo o avanço diplomático e internacional que se observa hoje no bloco europeu, principalmente com a abrangência cada vez maior das ideias ortodoxas e mal intencionadas que associam diretamente os refugiados que imigram na Europa à crescente onda de terrorismo que se observa no mundo, especialmente no velho continente.

O ato de fechar as fronteiras poderia ser usado como proposta para a redução dos problemas econômicos dos PIIGS ( que a extrema direta europeia insiste em atribuir aos imigrantes, e não ao envelhecimento populacional do continente...) e evitar problemas políticos, uma vez que o governo francês poderia criar uma crise diplomática com estes países, acusando-os de dar entrada e abrigo a supostos terroristas (que na verdade são, em sua maioria esmagadora, refugiados).

Talvez o fortalecimento de um discurso baseado em etnocentrismo e nacionalismo (no menos nobre significado dos termos) que permeia as aparições públicas de Marie Le Pen possa ser considerado como o primeiro real ganho dos terroristas na França, pois a fraternité tem sido duramente colocada em xeque neste final de 2015. Trata-se agora de uma questão de esperar para ver até que ponto as outras nações comprarão as ideias dos conservadores ortodoxos da Europa. Na França os atentados de janeiro se mostraram eficientes no renascimento destas ideias, e os de novembro se mostraram proveitosos em seu fortalecimento.


Continua...

sábado, 28 de novembro de 2015

A GEOPOLÍTICA DO SÉCULO XXI SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL (parte 2)

Em resposta à ação terrorista a França pode ter iniciado uma guerra de grandes proporções

Por Éder Israel


Disponível em: < http://midia.gruposinos.com.br/_midias/jpg/2015/11/16/torre_eiffel_afp-1182984.jpg> Acesso em 28 nov. 2015

"Será que desta vez conseguimos?" Possivelmente perguntavam-se os terroristas, representantes de uma minoria absoluta do mundo islâmico, enquanto contabilizavam os ganhos e as perdas da ação, enquanto os franceses juntavam os cacos no centro de Paris e planejavam a reação aos ataques sofridos, assim como o planejamento das ações para evitar ou pelo menos prevenir que outros ataques possam ocorrer.

Após as mortes, uma onda global de comoção se espalhou pela Europa e pelo mundo, e apoio aos franceses e em repúdio ao Estado Islâmico. Porém, esta comoção não chegou ao lugar em que deveria de fato, que é a Organização das Nações Unidas - ONU, ou mesmo à Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN, uma força militar criada durante a Guerra Fria para cobater a ameaça bélica da União Soviética, mas que serve nos dias atuais para a defesa (ou ataque, na maioria das vezes) dos países signatários, em sua maior parte potências mundiais.

De fato o clamor não alcançou as esferas dos mecanismos supranacionais, mas motivou os franceses a ampliar suas ações militares autônomas contra o Estado Islâmico na Síria, ações estas que ocorrem desde setembro de 2015, em resposta aos ataques realizados pelos terroristas na revista Charlie Hebdo em janeiro deste ano. No dia seguinte a França já planejava como aumentar seu poder de fogo na Síria, sem ferir os direitos nacionais e a autonomia da nação do Oriente Médio, se é que isto seria de algum modo possível.

Grande parte do "cuidado" francês nestas ações era por conta da preocupação de não "sujar" a imagem do país, matando mais civis do que seria necessário, fato que poderia dificultar a adesão de outras nações ao projeto bélico da nação europeia. Dito e feito. No domingo, dois dias depois da ação terrorista em Paris, os aviões da potência europeia iniciaram os bombardeios sobre alvos atribuídos ao Estado Islâmico no país do Oriente Médio. A resposta, segundo o presidente francês, deveria ser rápida, eficiente e certeira.


Disponível em: < http://i0.wp.com/wp.radioshiga.com/wp-content/uploads/2015/11/bombardeio.jpg?w=696> Acesso em 28 nov. 2015

As forças de segurança da ONU e a própria OTAN se mostraram inertes às ações francesas, em um misto de preocupação com os resultados futuros dos bombardeios, e ao mesmo tempo de alívio, em saber que nãoprecisariam agir contra um inimigo tão perigoso como os extremistas islâmicos.

Enquanto franceses bombardeavam o Estado Islâmico em alvos estratégicos, uma verdadeira caçada humana se desenvolvia na União Europeia, inicialmente na França e posteriormente na Bélgica, em busca de provas e indícios que apresentassem uma ponta de fio solta neste novelo emaranhado de extremismo desmedido e ações terroristas descabidas que assolam o continente.

Na França as buscas se concentraram em locais por onde os terroristas possam ter passado e/ou planejado as ações terroristas. Já na Bélgica estas ações de busca tentam ligar um dos terroristas, sabidamente belga, a outras pessoas que pudessem fazer parte de alguma célula europeia do grupo extremista, que estejam planejando novos atentados em solo europeu.


Disponível em: < http://e-c4.sttc.net.br/uploads/RTEmagicC_f39b423dd2.jpg.jpg> Acesso em 28 nov. 2015

O trabalho da polícia antiterror da França, criada após os ataques de janeiro, é mais complicado do que parece, pois os terroristas possuem o péssimo hábito de morrer durante suas ações... Isso dificulta bastante a necessidade de se saber o próximo passo dessas células. Assim, se torna praticamente uma procura de uma agulha em um palheiro, quando o "procurador" da agulha é cego. Nesse caso, é uma questão de esperar que a tal agulha espete o seu dedo para localizá-la.

Poderia parecer mais eficiente esperar que os terroristas dessem algum sinal de onde se encontram, porém quando eles fazem isso as pessoas envolvidas (inclusive os próprios terroristas) acabam morrendo. Portanto, a ação francesa se mostra sensata, embora na pareça em um primeiro momento eficaz.

Talvez o maior problema para se prever as ações terroristas de grupos como o Estado Islâmico é o fato de não existir um padrão de fenótipo de um homem bomba (ou atirador). Não dá para "bater o olho" e identificar o inimigo, como se faz em uma guerra convencional, em que na maior parte das vezes este inimigo usa uma roupa diferente daquela que você e seu exército usam. É difícil achá-los e apanhá-los com vida. E esta tem sido a árdua tarefa dos serviços de inteligência militar das forças armadas da França.


Continua...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A GEOPOLÍTICA DO SÉCULO XXI SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL (parte 1)

Em Paris, a história se repete e o terrorismo se mostra real e vivo na Europa

Por Éder Israel



Disponível em: <http://www.austinchronicle.com/binary/a31a/republique-francaise.png> Acesso em 27 nov. 2015

"Mais uma sexta feira 13", diria um otimista e bem humorado francês naquela data que é tida como sinônimo de acontecimentos ruins. Porém em 2015 a mística em torno da referida data pode passar a fazer sentido de modo um pouco mais dramático e concreto para os franceses em geral, em especial os parisienses. A data, no mês de novembro deste ano marcou a ocorrência de um daqueles inesperados muito esperados do mundo. Um atentado para a capital desta grande nação europeia.

Inesperado, pelo fato de tratar-se do modus operandi dos covardes facínoras terroristas, que buscam no caos o estabelecimento de uma (des)ordem, a qual nem mesmo para eles mesmos faz algum sentido. Esperado, porque foi uma espécie de retomada dos ataques à revista Charlie Hebdo, do início deste mesmo ano, quando outros facínoras desta alcateia de loucos sanguinários, sedentos por uma fé que não têm ou não acreditam, invadiram a redação do periódico francês, matando aqueles que realizavam sátiras (desrespeitosas, concordo) sobre o mundo islâmico; porém, não publicação "humorística" que justifique assassinatos...

A França após os ataque de janeiro enfatizou sua primazia às liberdades individuais e coletivas, principalmente no que se refere à liberdade de expressão e direito de livre manifestação de ideias e pensamentos. Ora, isso foi considerado uma afronta aos islâmicos (na verdade uma parte deles), que esperavam que os assassinatos da Charlie Hebdo servissem a seus dois propósitos principais: primeiramente impor o temor/terror à população francesa, através do medo disseminado, e em segundo lugar, acabar de vez com o folhetim satírico, raiz de toda a "discórdia" (atual!) entre franceses e muçulmanos (nem todos, em ambos os grupos).

Deu errado!


Disponível em: <http://www.oabcdacomunicacao.com.br/admin/upload/post/550815f2f1c2d.jpg> Acesso em 27 nov. 2015.

A Al Qaeda conseguiu disseminar o pânico nos Estados Unidos após o 11 e setembro de 2001, com os ataques às Torres Gêmeas; medo que até hoje povoa os "sonhos" de grande parte da população estadunidense. Mas o Estado Islâmico nãofoi capaz de suprimir as liberdades individuais e coletivas dos franceses, como se observou anteriormente na adoção do "Decreto Patriótico" pelo governo estadunidense, que eliminou grande parte dos direitos básicos e da privacidade da população daquele país.

A França não se curvou! Embora devamos levar em consideração que foram atentados de magnitudes, intenções e motivações diferentes. Os franceses na verdade ampliaram as suas liberdades individuais, ou pelo menos tornaram o seu uso cada vez mais ostensivo/intensivo, incentivando a continuação das publicações da Charlie Hebdo, e mais que isso, ampliando a tiragem da revista, que se tornou um sucesso típico daqueles pós tragédias. E os terroristas ficaram putinhos...

Daí, era de se esperar novas ações terroristas em solo francês, como forma de retaliação à manutenção da postura da população do país europeu (e dos países vizinhos, que apoiaram os franceses), de continuarem a satirizar o islamismo, assim como fazem (e há tempos já faziam) com o cristianismo e demais religiões. É a liberté em sua mais pura essência.

Os franceses, de fato já esperavam que algo de ruim pudesse acontecer, mas quando o esperado acontece acaba pegando muita gente de surpresa... Pois bem, os terroristas voltaram a atacar o ventre da sociedade que prega a igualdade e a fraternidade (lembro que pregar algo está distante de praticar este algo...).

Os alvos desta vez foram locais públicos, diferente de janeiro, quando as ações se deram na sede de uma revista privada. Atacaram a case de shows Bataclán, um restaurante no centro de Paris, e o principal estádio do país, onde acontecia um jogo entre a seleção nacional e a seleção alemã.


Disponível em: <http://www.brasil.rfi.fr/sites/brasil.filesrfi/imagecache/rfi_43_large/sites/images.rfi.fr/files/aef_image/fd3475da353c92472a51f9b1a10342342a95e7cf.jpg> Acesso em 27 nov. 2017

Quase 200 vidas perdidas imediatamente e quase outra centena de feridos, em sua maioria em estado grave. Será que dessa vez o caos e o terror domina os sentimentos dos franceses? se perguntaram atônitos os terroristas...


Continua... 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O DESASTRE SÓCIO-AMBIENTAL DE MARIANA - MG (parte 3)

Como dizem os mineiros: "Quando a esmola é demais, santo desconfia..."

Por Éder Israel


Disponível em: < http://content-portal.istoe.com.br/istoeimagens/imagens/mi_4752743197071956.jpg> Acesso em 23 nov. 2015


Após a tragédia (como se ela já tivesse passado...) começam as ações dos juristas, ambientalistas e “coisistas” das redes sociais. O clamor que se criou para o apontamento dos culpados e a estipulação das punições a faz com que as coisas se compliquem, pois, a pressa brasileira, faz a justiça morosa caminhar a passos largos e desconsertados de quem não tem o costume de se mover.

É preocupante, a divisão dos "justiceiros ambientalistas", em duas vertentes distintas de "debate" acerca das questões. A primeira destas vertentes, moralista, saudosa do glorioso Brasil potência econômica mundial, antes da década de 1990 (se estiver levando a sério esta ironia, pare imediatamente de ler este texto), acredita piamente que quando o Estado era o timoneiro da economia, antes, portanto, da política de privatizações do neoliberalismo, coisas do tipo não ocorriam  no país.

Há, de fato, quem atribua à privatização da Companhia Vale do Rio Doce a ocorrência do desastre de agora, como se a gestão dos riscos por parte do Estado fosse mais eficiente (ou menos ineficiente). Não me aprofundarei nessa discussão, por considerá-la por demais superficial e pueril. A outra vertente, ortodoxa,  apregoa a necessidade de se impor pesadas multas à SAMARCO, afetando o bolso dos "donos" da empresa, como se isso, por si só, resolvesse o problema. Ora, a multa seria apenas um valor financeiro, arrecadado pelo Estado, que poderia (eu disse poderia) ser direcionado para as obras necessárias à recuperação do desastre ambiental.

Acreditar que este dinheiro, em um país corrupto (desde quando espelhos compravam pau-brasil...) chegaria de fato ao vale do rio Doce, seria como acreditar que a gestão estatal da mineração traria maior controle e rigor às questões ambientais ligadas à extração de commodities. Acorda aí, José!



Atendendo ao clamor social e da mídia parcial brasileira por "justiça" (se pudesse, muita gente amarraria a SAMARCO a um poste e deixaria aos urubus...), o governo estipulou uma multa de R$ 250 milhões contra a empresa, supostamente após o inventário dos reais danos causados pelo vazamento da lama dos lagos de Fundão e Santarém. Uai (em bom mineirês), deu tempo de realizar investigações isentas e precisas acerca dos verdadeiros problemas recorrentes e dos reais custos para a reparação dos impactos? Acho que não heim... Mas enfim, a multa foi estabelecida e segundo a SAMARCO será paga; talvez...

Após a multa "aplicada" pelo governo federal (através do IBAMA), um juiz de Minas Gerais (estado mais afetado pelo "acidente") entrou com uma ação pedindo o bloqueio de aproximadamente R$ 300 milhões em dinheiro nas contas da SAMARCO, que devem ser usados (segundo palavras do magistrado) em obras de recuperação e revitalização do vale do rio Doce, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.

Somados, a multa e o bloqueio de contas completam uma quantia razoável, (quando se analisa apenas os valores financeiros) porém irrisória (quando se tem a mínima ideia do real impacto e se observa os custos) para a recuperação e realização de obras similares a estas pelo mundo. Caso esses recursos chegassem aos devidos locais a serem recuperados, ainda assim seria insuficiente para mitigar os impactos, o que dirá para repará-los e resolvê-los.

Este valor parece ainda mais irrisório quando se remete a outras tragédias ambientais pelo mundo, como, por exemplo, o vazamento de petróleo da plataforma da British Petroleum (BP)  em 2010, no Golfo do México. No episódio, órgãos estadunidenses multaram a companhia em aproximadamente US$ 86 bilhões, valor quase infinitamente maior que o aplicado à SAMARCO, além da obrigação, por parte da BP de realizar a "limpeza" e "despoluição" da área afetada pela mancha de óleo. Eu sei, José, são coisas diferentes e não devem ser comparadas, usei apenas como exemplo prático...




A rapidez com que o Estado necessitou dar uma resposta em forma de punição à SAMARCO, somada ao não-esforço da empresa em considerar o valor de R$ 250 milhões por demais alto, revela a possibilidade de que tais valores não sejam condizentes com a realidade dos fatos relacionados aos acontecimentos ocorridos em Mariana.

Mas enfim, é Brasil. No final de tudo a gente da um jeitinho e as coisas se ajustam.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O DESASTRE SÓCIO-AMBIENTAL DE MARIANA - MG (parte 2)

O amargo futuro do rio Doce

Por Éder Israel



Disponível em: < http://msalx.veja.abril.com.br/2015/11/09/1858/pe6Cx/alx_brasil-barragem-mariana-20151109-013_original.jpeg?1447102717 > Acesso em 13 nov. 2015

Após o rompimento das barragens e da liberação dos resíduos contaminados serra a abaixo, a gravidade se encarregou de fazer seu trabalho, arrastando tudo que havia pelo caminho em direção ao vale do rio Doce, levando para a água que abastece cidades mineiras e capixabas todo tipo de rejeito proveniente das atividades mineradoras.

Confesso que inicialmente pareceu-me apenas uma água turva e barrenta, que transbordaria as águas do rio Doce, porém após sua passagem as águas do rio voltariam a se "limpar", como ocorrem após as fortes chuvas que sujam as águas deste rio no verão mineiro. Porém, duas notícias (que não posso precisar as fontes e nem averiguar completamente suas veracidades) trouxeram um golpe seco de realidade à visão minimalista que esse desastre trouxe a muitos de nós.

A primeira notícia é na realidade um relato de um químico de que as primeiras análises da água do rio Doce após a chegada da lama da SAMARCO davam a impressão de que alguém havia jogado a tabela periódica inteira dentro do rio, tamanha a quantidade e a diversidade de elementos químicos (muitos deles contaminantes) presentes e observáveis nas amostras. Segundo dados laboratoriais foi observada na água a presença de manganês, arsênio, mercúrio, alumínio, ferro, chumbo, boro, bário, cobre, dentre outros materiais contaminantes.

A segunda notícia, ainda mais alarmante partiu da SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares - MG), que atestou que nas amostras avaliadas pelos seus laboratórios, havia na água contaminada pela lama da SAMARCO uma quantidade de metais muito superior ao aceitável pela Organização Mundial de Saúde - OMS e por outros órgãos internacionais. Segundo esta avaliação, havia uma quantidade de ferro 1.366.666% acima do normal; já o manganês, material tóxico, estava 118.000% acima do normal; o alumínio encontrava-se 645.000% além dos valores toleráveis, além dos demais materiais ali presentes.

A tabela a seguir, divulgada pela prefeitura de Governador Valadares, se refere aos valores observados para alguns destes materiais presentes na água no dia 11 de novembro, seis dias após o vazamento.



Fonte: < http://img.r7.com/images/2015/11/11...> Acesso em 15 nov. 2015

A torrente de lama que chegou à calha do rio Doce pode ser responsável pelo maior desastre ambiental da história do Brasil, sob o risco de dizimar toda a fauna e flora aquática e ribeirinha do rio. A mortandade de peixes observada assusta, embora as autoridades que deveriam se atentar ao problema se mostram incapazes de esboçar qualquer tipo de reação efetiva, o que na verdade é típico do Brasil, onde as questões urgentes são sempre suprimidas por algum acontecimento de grande magnitude e mais recente que se observa.



Disponível em:< http://s2.glbimg.com/vC4KqkJkElWMdSCRjQ_WmAA3lwg=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2015/11/13/rio_doce.jpg> Acesso em 15 nov. 2015

Um dos grandes questionamentos que deveria estar sendo feito agora se refere às perspectivas futuras para o rio Doce e sua população, pois caminhamos de fato para um impacto ambiental irreversível, uma vez que espécies endêmicas pode ter sido simplesmente varridas pela onda de poluição e rejeitos que por ali passou. Além disso, há o problema das famílias, não só aquelas que perderam tudo com a passagem da lama, mas sim e principalmente aquelas que dependem do rio como forma de sustento. De onde estes pescadores irão garantir a realização de sua atividade profissional? Há um plano emergencial para esta situação? Ou os governos federal e estadual também vivem naquele misto de "se eu não fizer outro fará" e "se nunca aconteceu, por que aconteceria agora?"...

O grande fotógrafo de Minas, Sebastião Salgado deu essa semana uma entrevista contundente, em defesa de Minas Gerais, dos mineiros e principalmente do rio Doce, enfatizando a ideia central de sua fala sobre o desastre ambiental no referido rio, afirmando veementemente que "vamos recuperá-lo!". Admiro muito Sebastião Salgado, sou fã incondicional de sua fotografia e de sua 'mineirice' desmedida, mas discordo dele em 2 pontos básicos. Em primeiro lugar, por quê NÓS vamos recuperar o rio Doce? Em segundo lugar, a preocupação de enfatizar que a VALE estaria disposta a patrocinar um fundo de recuperação das nascentes da bacia do rio Doce, que sofre há décadas com o desmatamento e demais atividades antrópicas.

Ora, parece-me pouco efetivo em uma situação de emergência e catástrofe no médio e baixo curso do rio, que as ações e planos de mitigação de problemas se refiram ao alto curso e às nascentes do mesmo, embora saiba e admita a necessidade destas ações, parece-me pouco eficaz resolver os problemas de Mariana investindo na nascente do rio no município de Ressaquinha, na Serra da Mantiqueira. Mas enfim, é só uma opinião...

Finalizo, por hora, com uma frase que tenho repetido seguidas vezes nos últimos anos, seguida de sua rápida explicação, para que não hajam falsas e tendenciosas interpretações. Tenho dito que "o grande problema do Brasil tem sido o brasileiro", e explico! Não por qualquer desvio de caráter, índole, má fé ou qualquer outro defeito pejorativo, mas sim pela capacidade que temos de nos adaptar e nos virar em quaisquer situações, dando sempre um jeito de "consertar" as coisas que nos são entregues erradas. Isso traz para nós uma acomodação, e uma incapacidade de cobrança, que nos torna capazes de dar um jeitinho para tudo que não está certo, ao invés de exigir que seja feito e nos entregue do modo correto.

Criamos uma capacidade enorme de dizer "vamos recuperá-lo", quando deveríamos dizer "vocês serão responsabilizados"...

Continua...






GABARITO COMENTADO DE GEOGRAFIA - UNESP 2016/1

domingo, 15 de novembro de 2015

O DESASTRE SÓCIO-AMBIENTAL DE MARIANA - MG (parte 1)

A má companhia no vale do rio Doce
Por Éder Israel



Disponível em: <http://assets1.exame.abril.com.br/assets/images/2015/11/590860/size_810_16_9_bombeiro-resgata-cachorro-em-mariana.jpg> Acesso em 12 nov. 2015

O dia 05 de novembro de 2015, possivelmente será lembrado por muito tempo como sendo a data oficial a constar no atestado de óbito do rio Doce, um dos mais importantes do estado de Minas Gerais. Foi de fato um duro golpe (na verdade dois...) o rompimento das duas barragens de rejeitos de mineração na unidade industrial de Germano, no município de Mariana.

As barragens de Fundão e Santarém ruíram e uma torrente de lama varreu o distrito de Bento Rodrigues quase que por completo do mapa, levando consigo bens, vidas, histórias, tudo...

Passagem da lama pelo distrito de Bento Rodrigues -MG


Disponível em: <http://s2.glbimg.com/sc-9OPInVyZEEOZEVxfGYsk-J_s=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/11/12/antes-depois-map1_1.gif> Adaptado. Acesso em 13 nov. 2015

Após os acidentes, (embora o termo acidente seja inviável, é o que a lei determina antes das devidas averiguações) criou-se uma onda de revolta nas redes sociais contra a empresa, que chegou a ser maior que a comoção em relação às indefesas vítimas carregadas pela enxurrada de lama que desceu as encostas das serras das “Geraes”... Mas enfim, é difícil entender as pessoas em momentos de grandes tragédias, embora pareça-me racional a revolta contra a irresponsabilidade técnica da empresa em questão, eram pessoas ali, gente...

Acredito que a catástrofe em Mariana possa vir a ser apenas a ponta de um enorme iceberg, que até hoje fingimos ser apenas um pequeno bloco de gelo flutuando em uma mar de aparente tranquilidade. Mas até que um navio bata no iceberg e afunde, ninguém se preocupa em sinalizá-lo aos navegantes desavisados. Foi assim com as barragens de Fundão e Santarém, duas pontinhas minúsculas de "gelo", que escondiam uma imensidão de rejeitos industriais de mineração, nesse estado que pelo próprio nome atente por MINAS Gerais.   

Uma tragédia ambiental dessa magnitude, traz-nos preocupações que por tempos passam despercebidas. Mas, no momento em que a mídia volta suas atenções para a temática, somos forçados a procurar bases mais sólidas de dados. É nesse momento que nos damos conta, de quão calamitosa é a situação em um país onde o lucro exponencial torna-se imperativo e a responsabilidade com os custos e perdas para a obtenção deste lucro tornam-se preocupações secundárias. Refiro-me aqui ao Brasil, nessa busca de lucro inconseqüente por uma questão metodológica. Porém, sabemos que o mundo inteiro está funcionando dessa mesma forma.

Mas considero pormenorizar demais a discussão a respeito deste tema, apenas a uma crítica ao sistema capitalista, como sendo o grande causador de toda a tragédia ambiental e social do mundo. Muito tenho ouvido e lido a respeito da culpabilidade do "sistema" pelo ocorrido em Mariana, mas sinceramente, colocar o capitalismo como raiz do problema seria por demais livrar a barra do ser humano, que vive em um misto de "se eu não fizer outro fará" e "se nunca aconteceu, por que aconteceria agora?". Lembremos que o "acidente" de Chernobyl, ocorreu em um "sistema" totalmente diferente, em que a postura humana de não se atentar para os avisos e indicadores de risco em suas atividades, levou a uma tragédia sem precedentes, independentemente da busca ou não pelo lucro.

A empresa responsável pela mineração na região de Mariana, a SAMARCO MINERAÇÃO S.A., fundada em 1977, é administrada (na verdade pertence, no bom português, por tratar-se de uma joint-venture) por dois sócios majoritários, a VALE S.A. e  BHP BILLITON, tendo sido a mesma considerada, neste ano de 2015, a décima maior exportadora mineral do Brasil, o que nos traz uma ideia, ainda que vaga, sobre os reais ganhos dessa grande mineradora "brasileira". Porém, uma informação importante, que a mídia (por razões escusas) não noticia, é o fato de que o direito de exploração da área minerada atualmente, e palco do acidente do ultimo 05 de novembro, foi concedida à SAMARCO por uma outra mineradora, a SAMITRI (S.A. Mineração Trindade), o que vai possivelmente abrir uma brecha daquelas típicas do Brasil, na determinação dos verdadeiros responsáveis pela tragédia anunciada.

Duas outras preocupações me ocorrem acerca da gestão dos riscos da mineração nas Minas Gerais: uma pontual na área específica de Mariana, local do referido desastre, e outra mais ampla, externada para todo o estado mineiro, embora ambas tenham o mesmo questionamento, sobre as perspectivas futuras desta atividade que historicamente responde por fatias significativas do PIB mineiro.

A primeira preocupação se refere ao risco de rompimento de uma nova barragem de rejeito de mineração na mesma área, chamada barragem de Germano, que segundo dados da própria empresa (SAMARCO) possui um volume de material três vezes maior do que aquele liberado por Santarém e Fundão. O problema surge, quando a vazão da torrente de lama da barragem do Fundão, passou à margem da barragem de Germano, o que pode ter provocado um processo de erosão capaz de comprometer a estrutura da mesma.

Área de ocorrência do rompimento das barragens em Mariana - MG


Fonte: Elaboração própria.

De acordo setores da mídia mineira, responsáveis técnicos da SAMARCO e do Corpo de Bombeiros, confirmaram a existência de uma rachadura (trinca) de 3 metros na barragem de Germano, mas segundo estes mesmos técnicos, não existe qualquer risco de rompimento da mesma, devido à sua grande dimensão frente aos danos observados, os quais já encontram-se em correção pela empresa. A SAMARCO havia afirmado também que não havia qualquer risco de rompimento das barragens de Fundão e Santarém, tanto que recebeu, recentemente, do governo estadual um selo de qualidade em gestão de riscos ambientais...

Minha segunda preocupação se refere à gestão dos demais lagos desse tipo existentes em Minas Gerais. Segundo o Ministério das Minas e Energia, existem no estado pelo menos outros 470 depósitos de rejeitos industriais do setor de mineração, os quais passaram até hoje praticamente despercebidos aos olhos da mídia e dos mineiros, como um grande iceberg que navega calmamente sob um oceano de águas barrentas e turvas, fingindo ser apenas um pequeno bloco de gelo que flutua mansa e inofensivamente...

Continua...


  

sábado, 10 de outubro de 2015

O QUE HÁ DE NOVO NA PARCERIA TRANSPACÍFICO? Parte 1

Enquanto você dorme (ou nem tanto...) a geopolítica do século XXI se desenha.




Disponível em: <http://innerself.com/content/images/2015/540/tpp-1-5.jpg>


Por Éder Israel

Nessa semana foi anunciada a assinatura de um acordo multilateral entre Estados Unidos, Japão e um monte de países muito animados, pensando que vão se dar bem, seja no âmbito comercial ou econômico. Pobres países, tão jovens e já tão iludidos...

O tratado comercial assinado nesse início de outubro entre algumas das nações da bacia do Oceano Pacífico simbolizou na verdade um primeiro passo efetivo em uma ideia que era proposta ainda desde a Conferência de Seattle em 1993, quando foi batizado, antes mesmo de surgir, de Asia-Pacific Economic Cooperation - APEC. Porém uma das maiores novidades que se observa hoje no "novo" bloco de Estados Unidos e Japão é a ausência da China, simplesmente o maior mercado consumidor (ainda potencial) e o maior exército de reserva de mão de obra do mundo, além da Rússia, que é o maior país russo do mundo... Outros membros a APEC foram também dispensados deste novo tratado.

Este novo bloco, chamado agora de Parceria Transpacífico congrega um número menor de países, sendo 12 contra os 21 membros da APEC, mas as intenções são por demais ambiciosas. aspiram mais do que criar uma zona de livre comércio, onde as mercadorias circulam sem o pagamento de impostos, ou pagando valores mínimos de tarifas alfandegárias, querem frear a China...

Membros da APEC

Disponível em: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRcH7IBE_YWbTXQxgaVwHxwM7eUX699pzeiWS1yh38LS0VBCfm5>

Membros da Parceria Transpacífico


Disponível em: <http://static01.nyt.com/images/2014/02/05/opinion/05edsall-map/05edsall-map-articleLarge.png>


O acordo capitaneado pelos Estados Unidos é realizado em um momento tenso, em que a China tem tentado demonstrar seu poder e sua capacidade de assumir a posição de maior potência mundial no século XXI, tal qual os estadunidenses fizeram no século passado. Porém, os estadunidenses sabem muito bem o que pode acontecer caso os chineses logrem êxito nessa empreitada, pois fizeram a mesma coisas no final da Segunda Guerra Mundial, embora por meios diferentes...

Meus alunos me perguntaram insistentemente essa semana que estamos vivendo uma nova Guerra Fria, e eu torci o nariz em todas as vezes, mas agora já começo a rever meus conceitos, embora o termo Guerra Fria não se enquadre no tipo de conflito que se desenha atualmente,porém o 'modus operandi' da disputa geopolítica que se configura entre Estados Unidos e China nesse início de século XXI conduz cada vez mais para uma bipolaridade econômica, diferente, em termos, daquela bipolaridade político-ideológica vista no pós Segunda Guerra Mundial.


Esta nova disputa que se trava atualmente tende a tomar contornos cada vez mais tensos nos próximos anos, principalmente pelas alianças que vêm sendo realizadas, pois por um lado tem-se a manutenção da proximidade entre Estados Unidos e Japão, estabelecida logo após a derrota do país asiático frente à potência americana na Segunda Guerra Mundial. Por outro lado a China volta a se aproximar política e economicamente da Rússia, tal qual viu-se na Guerra Fria, porém agora com contornos antagônicos, pois no período de bipolaridade mundial o lado mais forte da relação era o russo, mas dessa vez é a candidata a potência asiática.

E nessa semana houveram eventos importantes relacionados a essa "Guerra Fria", e todos por coincidência ou não, localizados no Oriente Médio. Teria a corrida espacial dado lugar a uma corrida petrolífera?

Vai saber...


Continua...

domingo, 7 de junho de 2015

O CORREDOR FERROVIÁRIO SUL-AMERICANO MADE IN CHINA (última parte)

Corredor ferroviário bi-oceânico: a mais nova estratégia de integração econômica dos BRICS (última parte)
Por Éder Israel
Disponível em: <http://www.environment.co.za/wp-content/uploads/2015/02/brics-logo1.png> Acesso em 30 mai. 2015.

SERÁ DESSA VEZ?

A grande questão que nos surge com relação a esse possível acordo sino-brasileiro para a construção desse corredor bi-oceânico é se esse dinheiro realmente chegará ao Brasil e se essa obra será realmente concluída. Ou até mesmo iniciada...

Aparentemente, para a China os 50 bilhões de dólares (investimento previsto para esta obra) não são um problema, pois os chineses têm ganhado dinheiro quase que ininterruptamente desde a segunda metade do século XX, quando Deng Xiao-ping assumiu o poder no país, após a morte de Mao Tse-tung, período em que iniciou-se no país asiático uma intensa, porém gradual, abertura econômica, com o intuito principal de atrair investimentos produtivos externos. Daí por diante o fluxo de dinheiro nunca mais cessou.

Esse novo modelo econômico adotado pela China pode ser chamado de Socialismo de Mercado, ou ainda Capitalismo de Estado, e é caracterizado pelo incentivo ao investimento privado, principalmente externo, aliado ao controle rigoroso dos aspectos políticos por um regime de partido único, no qual as condições de vida da população são escamoteados face à necessidade de se criar condições vantajosas para a atração dos capitais investidores advindos de países ocidentais.

Nesse aspecto, o Partido Comunista Chinês (PCCh) criou nas províncias litorâneas no leste da China as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que funcionariam, a grosso modo, como enclaves capitalistas em uma nação declarada socialista na Revolução Comunista de 1949. Nestes locais seriam viabilizados novos fatores locacionais para as empresas estrangeiras, que trariam ao país os investimentos externos e a tecnologia que ele não possuía, além da experiência com o modelo de gestão capitalista, o qual a nação procura se integrar e adaptar a partir da morte de Mao Tse-tung.

AS ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS



Disponível em: < https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1QrRAYn0M2GeSdj0joJJWWnXYF1IiaLxscpD4OT4vkg67whuYNYE_6I7cpBG6MWa7_EFfQ3bMu6Kzs7X8bqBHmxDqWomA-dlr6KPF3VycjwDL7xZV7bjdSlP6W8dFFCrg50C6cQZtUYc/s1600/china+-+zee's.jpg> Acesso em 01 jun. 2015.

Concordamos então que dinheiro em caixa não é um problema potencial para a China, embora sua economia tenha reduzido nos últimos anos o ritmo de crescimento, pois ninguém esteve totalmente a salvo da crise econômica global que se instaurou a partir de 2008. Porém, o acumulado nos anos anteriores foi capaz de criar uma poupança capaz de sustentar a economia no atual período de "vacas magras".

Mas talvez o grande dilema que a China enfrenta hoje seja a quantidade de investimentos simultâneos que o país realiza pelo mundo. Talvez a ânsia para alcançar a posição de maior potência mundial possa tornar-se um empecilho para a economia chinesa, pois a quantidade de dinheiro que o PCCh dispõe é inegavelmente alta, porém os passos que o governo do país asiático está dando atualmente podem se mostrar maiores que as próprias pernas da nação.

A China aponta seu canhão financeiro hoje para dois alvos vitais para sustentar seu projeto global, que são o continente africano e mais recentemente a América do Sul. O objetivo por trás destes investimentos é claro e óbvio, representado pelo livre acesso às commodities que se localizam nessas duas áreas, porém mais uma vez, o modo afoito de agir da economia chinesa pode trazer grandes perdas e inviabilizar uma série de projetos de grande envergadura, tais como o corredor ferroviário projetado no MERCOSUL.

O próprio Brasil já tem sido vítima recentemente desses "passos maiores que as pernas" do PCCh, posto que muitos projetos e programas de investimentos do país asiático na nação sul-americana não têm sido feitos do modo planejado, ou mesmo nem realizados estão sendo, conforme demonstra a imagem a seguir.



Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1632160-promessas-nao-cumpridas-da-china-somam-us-24-bilhoes.shtml> Acesso em 06 jun. 2015

Portanto, pode-se perceber que a China tem se esforçado muito em demarcar sua presença financeira pelo mundo, o que é totalmente esperado, basta lembrar dos Planos Marshall e Colombo realizados pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Obviamente a comparação aqui foi meramente a título de exemplo, haja visto que os períodos e os interesses por trás destes projetos de investimentos sejam diametralmente opostos, porém fazem parte do mesmo "modus operandi"...

O entendimento desta realidade leva-nos a ficar "com um pé atrás" com essa boa vontade chinesa em construir essa ferrovia de ligação entre o Pacífico e o Atlântico, pois o que for possível para que se reduzam os custos desse empreendimento será feito, logo este trajeto proposto possivelmente será alterado, e quem sabe o "choro" de Evo Morales possa surtir algum efeito, pois a ferrovia atravessando o território boliviano terá um traçado bem mais curto que o proposto que passaria pelo Peru, embora  já tenhamos aqui mencionado que o traçado proposto atualmente se deve ao interesse de passar pelo centro-oeste do Brasil e ter acesso mais fácil às safras de grãos do país.

Em resumo, o MERCOSUL nunca esteve tão próximo de finalmente conseguir estabelecer um canal de comunicação entre os dois oceanos que banham o subcontinente sul-americano, porém continuamos distantes da certeza de quando e como esta obra de infraestrutura será de fato concluída ou mesmo iniciada. O grande diferencial das outras vezes em que ficamos no quase, é o interesse e o caráter de urgência que a China deu a esta ligação, o que pode ser decisivo a favor dos mais otimistas sobre o incremento do comércio do bloco regional, mas por outro lado pode justificar o pessimismo daqueles que afirmam que podemos apenas trocar a histórica dependência em relação aos Estados Unidos por uma nova relação desfavorável com a candidata asiática à potência hegemônica do século XXI.

De resto é torcer para que nos "fundos de investimentos chineses", sobre dinheiro para a América do Sul...
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