domingo, 29 de novembro de 2015

A GEOPOLÍTICA DO SÉCULO XXI SENDO ESCRITA EM TEMPO REAL (parte 3)

A plena integração buscada pela União Europeia pode de fato nunca vir...

Por Éder Israel


Disponível em: <http://i0.statig.com.br/bancodeimagens/59/8j/4h/598j4hduhsam51s94oo7j1cpe.jpg> Acesso em 29 nov. 2015

"A culpa é desses imigrantes!" Seria a tradução em palavras do pensamento que ecoa na cabeçada extrema direita ultra conservadora francesa, historicamente representada por Jean Marie Le Pen e atualmente defendida por sua proeminente prole, a já usual pré-candidata de todas as eleições Marie Le Pen, que recebe cada vez mais apoio das alas tradicionais da população francesa.

O discurso de fechar as fronteiras para os refugiados do Oriente Médio e do norte da África, sabidamente em fuga do Estado Islâmico e do Boko Haram, respectivamente, ganha corpo na União Europeia, que recebe desde o final de 2014 grandes contingentes populacionais provenientes de nações devastadas por anos de guerra civil e pela recente expansão de grupos extremistas islâmicos.

Tratados políticos do bloco europeu podem sucumbir e ruir diante da crescente ameaça silenciosa que ronda a União Europeia. Destes tratados ameaçados o que mais se destaca é o chamado Acordo Shengen implantado em 1997, que demarca um território político por onde as pessoas provenientes dos países signatários possam circular livremente. O governo francês acena com a possibilidade de fechamento das fronteiras, tanto daquelas nações signatárias do espaço Shengen, quanto daquelas nações que não integram esta zona de livre circulação.



Disponível em: <http://www.imoplaces.com/wp-content/uploads/2015/01/Schengen-Map-4.png> Acesso em 29 nov. 2015

Nesse momento o discurso do presidente François Hollande, representante da "situação" se converge para aquele defendido por Marie Le Pen, representante da "oposição". Pode ser que a livre circulação de pessoas na/da França seja comprometida após os atentados, afetando a liberté, pilar básico daqueles três que deram sustentação à Revolução Francesa no século XVIII, e isso poderia de modo perigoso representar uma forma de vitória para o terror. O medo imposto pela Al Qaeda aos Estados Unidos poderia estar chegando à França pelas mãos do Estado Islâmico?

A própria União Europeia, enquanto bloco econômico, poderia estar com sua estrutura organizacional em risco. A quase plena integração entre suas nações constituintes estaria ameaçada também no campo político, pois na esfera econômica a situação já se encontra complicada desde a crise de 2008 no setor imobiliário dos Estados Unidos, que se alastrou pela Europa  e pelo resto do mundo.

A França não integra o grupo de países mais afetados economicamente da União Europeia, grupo este composto por Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, ou simplesmente "PIIGS", como são pejorativamente conhecidos na Europa. Porém a nação francesa, ou antes, as decisões por ela tomadas, podem ser o estopim de uma profunda crise política no bloco da Europa Ocidental.


Disponível em: <https://relevantmatters.files.wordpress.com/2013/10/piigs.jpeg> Acesso em 29 nov. 2015

O crescimento da direita ultra conservadora na Europa tem atingido nestes PIIGS proporções preocupantes, e lançando uma resposta há certo tempo esperada pelo mundo, a respeito do quão longe vai essa proposta de plena integração da União Europeia, e do quão dispostos estão os países membros em abrir mão de seus próprios interesses e convicções político-partidários em nome do bem comum do bloco.

Nos PIIGS esta situação será bem pior, uma vez que países como Itália e Grécia serem as verdadeiras vias de entrada para imigrantes ilegais provenientes da África e Oriente Médio, que se aventuram na travessia do Mediterrâneo em busca de garantias de vida e talvez até melhorias nas condições precárias de vivência que possuem em seus países de origem. Ali sim pode tencionar todo o avanço diplomático e internacional que se observa hoje no bloco europeu, principalmente com a abrangência cada vez maior das ideias ortodoxas e mal intencionadas que associam diretamente os refugiados que imigram na Europa à crescente onda de terrorismo que se observa no mundo, especialmente no velho continente.

O ato de fechar as fronteiras poderia ser usado como proposta para a redução dos problemas econômicos dos PIIGS ( que a extrema direta europeia insiste em atribuir aos imigrantes, e não ao envelhecimento populacional do continente...) e evitar problemas políticos, uma vez que o governo francês poderia criar uma crise diplomática com estes países, acusando-os de dar entrada e abrigo a supostos terroristas (que na verdade são, em sua maioria esmagadora, refugiados).

Talvez o fortalecimento de um discurso baseado em etnocentrismo e nacionalismo (no menos nobre significado dos termos) que permeia as aparições públicas de Marie Le Pen possa ser considerado como o primeiro real ganho dos terroristas na França, pois a fraternité tem sido duramente colocada em xeque neste final de 2015. Trata-se agora de uma questão de esperar para ver até que ponto as outras nações comprarão as ideias dos conservadores ortodoxos da Europa. Na França os atentados de janeiro se mostraram eficientes no renascimento destas ideias, e os de novembro se mostraram proveitosos em seu fortalecimento.


Continua...

2 comentários:

  1. https://www.youtube.com/watch?v=16mQ-jHdEqo

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    1. Ótima dica, estou trabalhando em dois textos sobre esse assunto, acompanhe as postagens.

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