Como dizem os mineiros:
"Quando a esmola é demais, o santo desconfia..."
Por Éder Israel
Disponível em: < http://content-portal.istoe.com.br/istoeimagens/imagens/mi_4752743197071956.jpg> Acesso em 23 nov. 2015
Após
a tragédia (como se ela já tivesse passado...) começam as ações dos juristas,
ambientalistas e “coisistas” das redes sociais. O clamor que se criou para o
apontamento dos culpados e a estipulação das punições a faz com que as coisas
se compliquem, pois, a pressa brasileira, faz a justiça morosa caminhar a
passos largos e desconsertados de quem não tem o costume de se mover.
É
preocupante, a divisão dos "justiceiros ambientalistas", em duas
vertentes distintas de "debate" acerca das questões. A primeira
destas vertentes, moralista, saudosa do glorioso Brasil potência econômica
mundial, antes da década de 1990 (se estiver levando a sério esta ironia, pare
imediatamente de ler este texto), acredita piamente que quando o Estado era o
timoneiro da economia, antes, portanto, da política de privatizações do
neoliberalismo, coisas do tipo não ocorriam
no país.
Há,
de fato, quem atribua à privatização da Companhia Vale do Rio Doce a ocorrência
do desastre de agora, como se a gestão dos riscos por parte do Estado fosse
mais eficiente (ou menos ineficiente). Não me aprofundarei nessa discussão, por
considerá-la por demais superficial e pueril. A outra vertente, ortodoxa, apregoa a necessidade de se impor pesadas
multas à SAMARCO, afetando o bolso dos "donos" da empresa, como se
isso, por si só, resolvesse o problema. Ora, a multa seria apenas um valor
financeiro, arrecadado pelo Estado, que poderia (eu disse poderia) ser direcionado
para as obras necessárias à recuperação do desastre ambiental.
Acreditar
que este dinheiro, em um país corrupto (desde quando espelhos compravam
pau-brasil...) chegaria de fato ao vale do rio Doce, seria como acreditar que a
gestão estatal da mineração traria maior controle e rigor às questões
ambientais ligadas à extração de commodities. Acorda aí, José!
Atendendo
ao clamor social e da mídia parcial brasileira por "justiça" (se
pudesse, muita gente amarraria a SAMARCO a um poste e deixaria aos urubus...),
o governo estipulou uma multa de R$ 250 milhões contra a empresa, supostamente
após o inventário dos reais danos causados pelo vazamento da lama dos lagos de
Fundão e Santarém. Uai (em bom mineirês), deu tempo de realizar investigações
isentas e precisas acerca dos verdadeiros problemas recorrentes e dos reais
custos para a reparação dos impactos? Acho que não heim... Mas enfim, a multa
foi estabelecida e segundo a SAMARCO será paga; talvez...
Após
a multa "aplicada" pelo governo federal (através do IBAMA), um juiz
de Minas Gerais (estado mais afetado pelo "acidente") entrou com uma
ação pedindo o bloqueio de aproximadamente R$ 300 milhões em dinheiro nas
contas da SAMARCO, que devem ser usados (segundo palavras do magistrado) em obras
de recuperação e revitalização do vale do rio Doce, nos estados de Minas Gerais
e Espírito Santo.
Somados,
a multa e o bloqueio de contas completam uma quantia razoável, (quando se
analisa apenas os valores financeiros) porém irrisória (quando se tem a mínima
ideia do real impacto e se observa os custos) para a recuperação e realização
de obras similares a estas pelo mundo. Caso esses recursos chegassem aos
devidos locais a serem recuperados, ainda assim seria insuficiente para mitigar
os impactos, o que dirá para repará-los e resolvê-los.
Este
valor parece ainda mais irrisório quando se remete a outras tragédias
ambientais pelo mundo, como, por exemplo, o vazamento de petróleo da plataforma
da British Petroleum (BP) em 2010, no
Golfo do México. No episódio, órgãos estadunidenses multaram a companhia em
aproximadamente US$ 86 bilhões, valor quase infinitamente maior que o aplicado
à SAMARCO, além da obrigação, por parte da BP de realizar a "limpeza"
e "despoluição" da área afetada pela mancha de óleo. Eu sei, José,
são coisas diferentes e não devem ser comparadas, usei apenas como exemplo
prático...
A
rapidez com que o Estado necessitou dar uma resposta em forma de punição à
SAMARCO, somada ao não-esforço da empresa em considerar o valor de R$ 250
milhões por demais alto, revela a possibilidade de que tais valores não sejam
condizentes com a realidade dos fatos relacionados aos acontecimentos ocorridos
em Mariana.
Mas
enfim, é Brasil. No final de tudo a gente da um jeitinho e as coisas se ajustam.
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