A ESCALADA NAS TENSÕES POLÍTICAS ENTRE ESTADOS UNIDOS E IRÃ
Parte III: O país Persa cada vez mais controlado pelos Árabes
Por Éder Israel
Disponível
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<http://cornellilj.org/wp-content/uploads/2018/01/maxresdefault_52.jpg>
acesso em 12 jan. 2020
O fortalecimento
geopolítico que o Irã acredita estar obtendo após a Revolução Xiita, combinado
com a certeza que as demais nações tem da não ameaça regional representada por
essa República Teocrática, começam a nutrir uma dicotomia que tem tudo para não
dar nada certo ou para dar muito errado...
A
ampliação gradativa e natural do poder político do aiatolá Khomeini, uma
possível aproximação do ideário iraniano aos demais países vizinhos começa a preocupar
as nações ocidentais, principalmente em decorrência do impacto que isso traria
ao mercado global de petróleo, uma vez que a grande maioria desse recurso
consumido no mundo moderno provém do Oriente Médio. Outro ponto preocupante
nessa nova geopolítica que se desenha é a postura iraniana em relação ao Estado
de Israel [lembre-se que no período da monarquia do Xá Reza Pahlavi mencionamos
que o Irã se mantinha de certo modo aquém dessas discussões]. O governo Xiita
que se instaura na República Iraniana é veementemente contra a existência do
Estado judeu nas terras palestinas, e isso ainda será a causa de muita dor de
cabeça no futuro.
Porém,
a morte de Khomeini em 1989 cria uma série de expectativas a respeito da
transição religiosa e política do país, principalmente do modo como o Estado
seria conduzido pelo novo aiatolá. Era de fato um período de grandes mudanças e
transformações na geopolítica mundial, com a queda do Muro de Berlim na
Alemanha, o inicio do esfacelamento da União Soviética e a Guerra Fria dando
sinais claros de que seria brevemente superada. Cabe ressaltar que havia no
Estado iraniano a figura do aiatolá, líder supremo dos poderes político e
religioso, mas abaixo dessa liderança havia a figura de um presidente, mera
formalidade, uma vez que na prática, durante os anos de Khomeini ele centrava
em si todo o poder decisório. Assim, a tendência natural é que o então
presidente (aliado de confiança do aiatolá) assumisse o cargo de líder supremo
do país, e foi exatamente o que se observou, quando Ali Hossayn Khamenei
(presidente iraniano entre 1981 e 1989) ascende ao cargo de aiatolá iraniano
[para fins metodológico nos referiremos a ele a partir de agora apenas como
aiatolá Khamenei].
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<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/90/Portrait_of_Ali_Khamenei%2C_1985_%282%29.jpg>
acesso em 12 jan. 2020
Ao assumir o poder
supremo no Irã, o novo aiatolá, Ali Khamenei demonstra que as mudanças
esperadas pelo ocidente na condução política do país não seriam de fato
vislumbradas. Fiel ao ideário de Khomeini, a nova liderança manteria os mesmos
posicionamentos do governo após a revolução em 1979.
Seu
histórico regresso com presidente iraniano durante o período de liderança
suprema do aiatolá Khomeini, trouxeram a Khamenei a experiência administrativa
que faltava a seu antecessor, posto que ao assumir o poder no Irã após a
revolução, Khomeini não possuía vasta [ou nenhuma] experiência política, o que
lhe trouxe a necessidade de aparelhar a república com a figura de um
presidente. O novo aiatolá [embora continuasse a existir o presidente] acabou
por aglomerar em si grande parte do poder nacional, mais até do que o antigo
líder. Indiscutivelmente, o aiatolá Khomeini desempenhava uma liderança
carismática sobre a população, que falta a Khamenei, porém o atual líder
supremo compensa essa falta com o entendimento político que os anos de
presidência lhe garantiram. Até certo ponto exageradamente, mas não totalmente
irreal, podemos conceber que a figura do presidente iraniano na atualidade é
mais simbólica do que factual [a decisão final é sempre do aiatolá].
A
participação ativa no governo durante a era Khomeini garantiu a Khamenei uma
rede importante de relações e influências dentro da administração iraniana, com
destaque para a proximidade com a Guarda Revolucionária Iraniana,
supervisionada por ele antes e depois de assumir a presidência do país
[lembre-se que já mencionamos que a Guarda Revolucionária Iraniana encontra-se
no epicentro da atual crise com os Estados Unidos. Vá guardando essas
informações...]. Com uma liderança tão proeminente exercendo os cargos de chefe
político e religioso, nenhum presidente iraniano conseguiu sair da sombra do
aiatolá Khamenei, tendo sido os governos de Ali Akbar Hashemi Rafsanjani (1989 – 1997) e de Seyed Muhammad
Khatami (1997 – 2005) de pouco peso na geopolítica regional, posto que a figura
de Khamenei ocupava todo o cenário político iraniano. Mas nesse meio tempo
faz-se necessária a análise do início do século XXI, posto que esse momento
trará o acirramento atual entre Estado Unidos e Irã, nesse contexto as
desavenças começam a tomar forma de possível conflito militar.
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<https://media.elobservadordelsur.com/adjuntos/247/imagenes/000/089/0000089714.jpg>
acesso em 12 jan. 2020
Os atentados terroristas
contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 provocaram uma profunda
mudança na política externa da potência americana, tendo o então presidente,
George W. Bush lançado a chamada “Guerra ao Terror”, com intervenções militares
e imposição de sanções econômicas contra nações acusadas de apoiar grupos
terroristas, dentre elas o Irã.
Após
a realização dos ataques do grupo terrorista Al-Qaeda, liderado por Osama Bin
Laden, contra alvos políticos, militares e civis dentro do território dos
Estados Unidos, o país lança a chamada Doutrina Bush, que tinha como
justificativa o combate ao terrorismo e ao extremismo religioso, principalmente
no Oriente Médio. Como alvos diretos o governo Bush agrupou seus quatro
desafetos principais, Afeganistão, Iraque, Irã e Coreia do Norte, no que ficou
conhecido como “Eixo do Mal”. A ofensiva militar se iniciou com a invasão do
Afeganistão, ainda em 2001, seguida pela ocupação do Iraque em 2004, enquanto
contra o Irã e a Coreia do Norte foram impostas apenas sanções econômicas. [Vai
parecer repetitivo, e de fato é... mas devemos nos lembrar que em 1979 a URSS
invadiu o Afeganistão e os Estados Unidos apoiaram grupos insurgentes afegãos, que
expulsaram os soviéticos em 1989. Uma das lideranças principais desses insurgentes
era Osama Bin Laden, treinado, financiado e apoiado pelo governo estadunidense.
Novamente o aliado do passado é o arqui-inimigo do presente...]
No
caso do Irã, os Estados Unidos possuíam uma combinação de fatores que levavam a
considerar o país asiático como uma ameaça a seus interesses. Em primeiro
lugar, desde a revolução de 1979 as lideranças xiitas do país consideravam a
potência americana um inimigo público da fé islâmica. Em segundo lugar, o
governo dos aiatolás dificultava o acesso estadunidense à produção de petróleo
iraniana (cabe destacar que o irã possui a segunda maior reserva global em
volume de produção). Em terceiro lugar o governo iraniano estaria supostamente
investindo em um programa nuclear para fins militares, mesmo sendo signatário
do Tratado de Não-Proliferação Nuclear - TNP, em vigor desde 1970. O governo
iraniano negava o uso de atomística para produção de bombas atômicas.
Aliás,
a questão nuclear iraniana é um assunto controverso, para se dizer o mínimo...
Os investimentos do país nessa tecnologia foram iniciados ainda durante o
governo do Xá Reza Pahlavi na década de 1950, como parte de um grande acordo
internacional chamado de “Programa Átomos para a Paz” [não ria...], defendido,
apoiado e financiado pelos Estados Unidos [não ria...]. Pois bem, o Irã agora
governado por desafetos declarados dos estadunidenses estaria desenvolvendo
tecnologia para a criação de uma bomba atômica, o que traz consigo dois
problemas centrais: Sendo signatário do TNP, o país asiático se comprometeu a
não desenvolver tais armamentos, e estaria portanto infringindo uma regra
internacional, estando sujeito a punições, que poderiam ir de sanções
econômicas até intervenções militares. Além disso, o governo iraniano afirmou
repetidas vezes que é totalmente contrário à existência do Estado de Israel na
região, e a posse desse tipo de armamento colocaria os israelenses (importantes
aliados dos Estados Unidos) em risco iminente de ataque. Publicamente, o
próprio aiatolá Khamenei já afirmou repetidas vezes que o holocausto nunca
existiu...
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<https://editorart.files.wordpress.com/2010/08/mahmoud_ahmadinejad1.jpg>
acesso em 12 jan. 2020
A situação entre Estados
Unidos e Irã se torna ainda mais complexa a partir de 2005, quando Mahmoud Ahmadinejad
se torna presidente do país. Diferentemente de seus dois antecessores,
Ahmadinejad não permanecerá envolto nas sombras da figura do aiatolá supremo. O
novo presidente iraniano é midiático e incisivo nos ataques públicos ao governo
estadunidense.
Mahmoud
Ahmadinejad é um importante aliado do aiatolá Khamenei, se assim não o fosse,
dificilmente teria ascendido ao posto presidencial do Irã. Na realidade a
aparente bravata do presidente se trata do fato de ele assumir o papel de
interlocutor público do líder supremo, muitas vezes falando aquilo que o
aiatolá não falaria ou fazendo aquilo que o grande líder não se prestaria a
fazer. Mahmoud seria de certo modo a voz de Khamenei fora do Irã, uma vez que o
aiatolá não viaja para fora do país... Com carta branca para falar suas
bravatas em nome da república, o presidente se torna um dos principais
personagens da geopolítica do Oriente Médio no início do século XXI, travando
por várias vezes debates acalorados e trocas de ameaças diversas com o então
presidente George W. Bush, mas a maioria dos insultos e ameaças raramente
passaram do nível da verbalização.
Porém,
de um jeito ou de outro o programa nuclear iraniano seguiu, apesar de todas as
pressões externas e das sucessivas sanções econômicas impostas ao país pela
Organização das Nações Unidas – ONU e pela Organização Mundial do Comércio –
OMC. Apesar de ser de conhecimento público que o país asiático estivesse
realizando pesquisas atômicas, explorando reservas próprias de urânio e
realizando enriquecimento do combustível, os organismos internacionais não
conseguiram de fato provar o uso desses recursos ou suas motivações para os campos
militares, por isso (em grande parte) o país não foi invadido pelas forças
armadas estadunidenses ou de seus aliados. Do mesmo modo que os discursos
afiados do presidente iraniano não criaram um conflito bélico com os países
ocidentais, eles dificultaram qualquer tentativa de estabelecimento de um
acordo internacional que diminuísse as sanções econômicas impostas ou
reconhecesse as intenções civis do programa nuclear do Irã.
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em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/Hassan_Rouhani.jpg
> acesso em 12 jan. 2020
Após o período Ahmadinejad,
agora sob a presidência do moderado Hassan Rouhani o Irã reabre os debates com
as lideranças ocidentais e os organismos internacionais, criando possibilidades
para a superação das incertezas quanto ao programa nuclear do país e a
suspensão das sansões econômicas impostas à República Islâmica.
Apenas
após o período de presidência de Mahmoud Ahmadinejad e a chegada ao poder de Hassan Rouhani ao poder em 2013 as portas de negociação internacional foram
reabertas para o Irã, e as nações passaram a buscar o estabelecimento de um
novo acordo nuclear, que contemplasse as mudanças globais observadas desde a
assinatura do TNP e as novas diretrizes do projeto supostamente civil iraniano.
Ainda em 2013 foi iniciada uma série de reuniões entre o Irã e o grupo
conhecido como P5 + 1, composto pelos 5 membros do Conselho de Segurança da ONU
(Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China) e a Alemanha, onde foram
tratados e definidos os termos do Acordo Nuclear do Irã, finalizado e
formalizado em 2015, na tentativa de por um fim na escalada de tensões e
ameaças entre o ocidente e o Oriente Médio. Os termos desse acordo previam que
o país asiático se comprometeria a reduzir seus estoques de urânio enriquecido,
além de permitir a visita de supervisores internacionais, que atestassem as
finalidades pacíficas do programa, em troca da retirada das sanções econômicas
impostas ao país pela ONU e pela OMC.
Continua...
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