Questão interdisciplinar 01
Um
dos eixos da bipolaridade escravista que unia a África à América portuguesa
girava, justamente, na rota aberta entre as duas margens do mar por correntezas
e ventos complementares. Na ida, a rota principal seguia o inverso dos
ponteiros do relógio, no sentido dos ventos oeste-leste, entre o Trópico de
Capricórnio e 30º5. Na volta, a rota principal seguia no sentido dos alísios de
sudeste, abaixo da linha do Equador. Na medida em que se zarpava com facilidade
de Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro até Luanda ou a Costa da Mina, e
vice-versa, a navegação luso-brasileira que se desenvolveu naquelas rotas foi
transatlântica e negreira. Vários tipos de trocas uniam as duas margens do
oceano.
(Adaptado
de Luiz Felipe de Alencastro, O trato dos viventes: formação do Brasil no
Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 61 - 63.)
Com
base no excerto e em seus conhecimentos, responda às questões.
a)
Explique a direção dos ventos alísios no Atlântico Sul e a sua funcionalidade
no transporte marítimo da África para o Brasil.
Comentário:
Os ventos alísios são motivados por conta das diferenças de
pressões atmosféricas entre as baixas e médias latitudes terrestres, soprando
sempre das altas pressões próximas aos trópicos (zonas anticilonais) em direção
às baixas pressões equatoriais (zona ciclonal). Na linha do Equador os alísios
do hemisfério Norte se encontram com os alísios do hemisfério Sul, concentrando
a umidade que transportam, gerando a formação de uma região muito chuvosa,
chamada de Zona de Convergência Intertropical. No hemisfério Norte, a direção
dos ventos é no sentido horário, ao passo que no hemisfério Sul se dá no
sentido anti-horário (da costa africana em direção à costa brasileira no
Atlântico Sul).
O sentido do deslocamento dos ventos alísios favoreceu por muito
tempo o movimento das embarcações que cortavam o Oceano Atlântico Sul partindo
da costa da África em direção à costa do Brasil, carregados de escravos
traficados entre as duas regiões, posto que tais embarcações utilizavam os
ventos para inflar suas velas e se deslocar por longas distâncias.
b)
Cite e explique um exemplo de relação estabelecida entre o Brasil e a África na
época da colonização portuguesa na América.
Comentário:
O item ‘B’ da questão interdisciplinar 1
é referente aos conteúdos de História.
Questão interdisciplinar 02
Até
hoje, a formação das classes médias esteve ligada à expansão da indústria e à
elevação de seus níveis de produtividade. Historicamente, a indústria permitiu
estruturar a representação política e sindical das categorias mais
desfavorecidas da população em torno dos interesses que afetavam as grandes
massas de trabalhadores. Já no contexto atual, marcado por um mundo menos
industrializado e orientado para uma economia em que os serviços tendem a ser
mais fragmentados e frequentemente artesanais ou informais, os interesses
comuns dos trabalhadores são evidentemente muito mais difíceis de emergir.
Considerando este quadro, a desindustrialização prematura dos países do Hemisfério
Sul (com exceção do Leste Asiático) não é muito favorável a uma consolidação
democrática.
(Adaptado
de Pierre Veltz, La société hyper-industrielle. Le nouveau capitalisme
productif. Paris: Éditions du Seuil, 2017, p. 16.)
Com
base no texto e em seus conhecimentos, responda às questões.
a)
Que decreto-lei garantiu os principais direitos trabalhistas na Era Vargas e
por que a menor presença de uma classe trabalhadora na indústria enfraquece os
processos democráticos na contemporaneidade?
Comentário:
O item ‘A’ da questão interdisciplinar 2
é referente aos conteúdos de Sociologia e História.
b)
Indique e explique qual foi a principal mudança estrutural ocorrida na economia
brasileira nas duas últimas décadas.
Comentário:
A economia brasileira passou a partir da década de 1990 por um
intenso processo de reestruturação decorrente da busca pela recuperação da
crise financeira da década anterior. No conjunto das ações ligadas a essa
reestruturação se destaca a adoção de preceitos marcadamente neoliberais, como
os processos de privatização das empresas estatais, além da abertura dos mercados para produtos e empresas
estrangeiras, atraídas para o Brasil pelos menores custos produtivos.
Além das mudanças mencionadas, o país passa ainda por um processo
de desconcentração industrial da região Sudeste, onde os custos produtivos
(principalmente salários e impostos) e as estruturas saturadas (principalmente
as vias de circulação) têm dificultado a fabricação e encarecido o preço final
das mercadorias. Como resultado das políticas neoliberais há ainda a
modernização do país, com investimentos em produção e oferta de energia em
regiões fora do Sudeste, além do melhoramento na oferta dos modais de
transportes oferecidos, o que amplia ainda mais o processo de desconcentração.
Soma-se nesse contexto a ampliação da participação do setor
primário na economia nacional, principalmente por conta da ampliação dos
mercados das commodities exportadas
pelo pais, principalmente para a União Europeia e para a China. A esse processo
dá-se o nome atualmente de commoditização
ou reprimarização econômica, o que afeta diretamente o processo de
industrialização (secundarização) da produção econômica brasileira.
Questão interdisciplinar 03
Leia
os três excertos e responda às questões.
Texto 1: “Mas cachoeira é barranco de chão, e
água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o
barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...”
(João
Guimaraes Rosa, Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001,
p. 26.)
Texto 2: “Chego à sacada e vejo a minha serra,
/ a serra de meu pai e meu avô, / de todos os Andrades que passaram / e
passarão, a serra que não passa. / (...) / Esta manhã acordo e / não a
encontro. / (...) / foge minha serra, vai / deixando no meu corpo e na paisagem
/ mísero pó de ferro, e este não passa.”
(Carlos
Drummond de Andrade, Boitempo II. Rio de Janeiro: Record, 1994, p. 72.)
Texto 3: “Menor em quilômetros do que o
desastre de Mariana, causado pela Samarco, controlada pela mesma Vale, o de
Brumadinho é gigante em gravidade: as florestas e rios afetados eram muito mais
ricos e importantes para o equilíbrio ambiental, salientam especialistas.”
(Fonte:
https://oglobo.globo.com/brasil/dano-ambiental-em-brumadinho-ameaca-centenas-de-especies-23424033.
Acessado em 06/11/2019.)
a)
A vida imita a arte. Quando Guimarães Rosa, que se criou nas terras do sertão
do Paraopeba, e Drummond escreveram, provavelmente não imaginavam o que
ocorreria em Brumadinho e Mariana. Percebe-se uma relação entre um processo de
transformação e as expressões “mísero pó de ferro”, em Drummond, e “desfaz o
barranco”, em Rosa. Identifique a atividade econômica e descreva o processo de
transformação da matéria-prima implícitos nos textos desses autores.
Comentário:
A atividade econômica implícita nos dois fragmentos dos dois
autores naturais de Minas Gerais trata-se da mineração, realizada nesse estado
na reserva do Quadrilátero Ferrífero, que é a maior reserva mineralógica (em
volume produzido) no Brasil. Tanto o que ocorreu em Mariana quanto em Brumadinho
se refere a desastres ambientais causados por atividades antrópicas nessa
gigantesca província mineralógica.
No processo de transformação associado a essa atividade faz-se
necessária a escavação da mina (“desfaz o
barranco”, segundo João Guimarães Rosa), a separação do minério de ferro (“mísero pó de ferro”, segundo Carlos
Drummond de Andrade) do solo e demais minerais misturados a ele. Esse processo
de separação produz grandes quantidades de rejeitos (lama) que são acumulados
em grandes represas, as quais, quando não geridas de modo adequado, podem se
romper e causar tragédias de grandes dimensões na área a que se inserem.
b)
Em Brumadinho, a lama afetou espécies endêmicas de “florestas e rios” da Mata
Atlântica e do Cerrado mineiros, em área da Reserva da Biosfera da Unesco da
Serra do Espinhaço. Considerando a possível extinção das espécies endêmicas
afetadas, identifique e explique uma consequência biológica para o equilíbrio
ambiental desses ecossistemas.
Comentário:
O item ‘B’ da questão interdisciplinar 2
é referente aos conteúdos de Biologia.
Questão 15
Após
1988, o Brasil incorporou à sua agenda política importantes questões de
natureza social, ambiental e de direitos individuais. Nessa linha, o país
participou ativamente das negociações internacionais na defesa do meio ambiente
– sendo representado na Comissão Brundtland e organizando a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que acabou sendo realizada
no Rio de Janeiro, em 1992, e ficou conhecida como ECO-92.
(Adaptado
de Luiz Carlos Delorme Prado e Maria Antonieta P. Leopoldi, “O fim do
desenvolvimentismo: o governo Sarney e a transição do modelo econômico
brasileiro”, em Jorge Ferreira (org.), O Brasil Republicano: O tempo da Nova
República – v. 5: Da transição democrática à crise política de 2016. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018, p.74.)
A partir da leitura do texto e de seus
conhecimentos, responda às questões.
a)
Explique a importância das escalas local e global definidas na ECO-92.
Comentário:
ECO-92 ou RIO-92 foi uma conferência ambiental internacional
realizada em território brasileiro naquele ano, cuja temática principal foi a busca
de conciliação entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico. Foi a
partir dessa conferência que se começou a discussão acerca do conceito do
desenvolvimento sustentável.
Nas discussões foram abordados temas como as diferentes escalas
relacionadas às questões ambientais contemporâneas, com ênfase para a necessidade
de se voltar as atenções para os problemas que estão em nosso entorno imediato
(escala local) pois são mais passíveis de se solucionar, tendo por intuito que
os resultados da solução desses problemas “pequenos” impacte em todo o ambiente
mundial (escala global). Daí a ideia de “agir localmente pensando globalmente”.
Assim sendo, como todos os sistemas terrestres estão interligados,
qualquer problema ambiental, por menor que seja, traz consigo repercussões em
nível mundial. Por exemplo, a poluição provocada por uma indústria na cidade de
São Paulo é liberada para a atmosfera, e a circulação global dos ventos e
massas de ar podem levar esses materiais particulados até o território do Chile
(ou Estados Unidos ou qualquer outro país...), podendo provocar ali reações
químicas que causam, por exemplo, a chuva ácida. Assim, os problemas locais,
não causam apenas consequências ambientais nas localidades em que se inserem.
b)
Cite e explique uma meta socioambiental relativa às matrizes energéticas do
Planeta, adotada pelos países signatários da ONU entre a Conferência de 1992 e
a Conferência do Clima de 2015.
Comentário:
A necessidade de mudança nas matrizes energéticas mundiais foi
proposta inicialmente no Relatório Brundtland em 1987, o qual teve como
resultado a elaboração de um documento oficial intitulado “Nosso Futuro Comum”,
onde eram analisados os impactos decorrentes das ações antrópicas sobre os
sistemas terrestres, bem como as possíveis consequências em médio prazo, caso
uma mudança significativa de perspectiva não fosse adotada. Dentre as propostas
encontra-se a mudança nas matrizes energéticas das nações, incentivando o uso
das fontes alternativas, em detrimento das fontes não renováveis (fósseis).
A principal meta socioambiental dessa proposta de mudança
energética é a diminuição dos níveis de poluição atmosférica, principalmente
pelos materiais particulados liberados pelos hidrocarbonetos, bem como a
redução da dependência do uso de fontes não renováveis, como o petróleo, que é controlado
por um pequeno número de empresas e nações no mundo. Assim sendo, além da
vantagem ambiental de conservação dos recursos e sistemas, poderia se alcançar
maior autonomia para as nações que são atualmente dependentes da importação de
petróleo e de outras fontes não renováveis.
Nesse contexto as fontes renováveis, como hidráulica, solar, eólica
e principalmente a biomassa (biocombustíveis) poderiam representar grandes
oportunidades de ganhos e independência financeira para nações como o Brasil,
posto que as condições físicas e ambientais do país permitem que tais fontes
sejam produzidas em larga escala, trazendo além de vantagens ambientais,
significativos ganhos econômicos.
Questão 17
(Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/06/guarda-chuva-se-firma-como-simbolo
-da-democracia-em-hong-kong.shml. Acessado em 01/10/2019.)
No
final do século XX, Hong Kong tornou-se uma “Região Administrativa Especial” da
China. Em teoria, gozará de semi-autonomia até 2047, quando a China terá plenos
poderes sobre a ilha. Hong Kong tem moeda própria, mas não é independente em
termos de defesa e diplomacia, ou seja, seu status político-administrativo é
híbrido, fruto de um acordo – a “Declaração Conjunta” de 1984 – entre a China e
um governo estrangeiro que tutelou a ilha por 99 anos, a partir de 1898. Em
1997 entrou em vigor o acordo, sob a conhecida fórmula “um país, dois
sistemas”. A partir de 2014, movimentos de contestação social ganharam relevo
em Hong Kong. Com base no enunciado e em seus conhecimentos, responda às
questões.
a)
Que nação manteve domínio sobre Hong Kong por 99 anos? Explique a expressão “um
país, dois sistemas”.
Comentário:
A nação que manteve o controle político e econômico sobre o
Território de Hong Kong por 99 anos (1898 – 1997) foi o Reino Unido (mais
precisamente a Inglaterra), que na verdade assumiu o controle de parte da
região ainda após a I Guerra do Ópio em 1842.
A expressão “um país, dois sistemas” se refere ao quadro
administrativo observado atualmente na China, que politicamente mantém uma
estrutura centrada no ideário socialista (implementado no país desde a Revolução
Comunista de 1949), ao passo que economicamente estabelece a partir de 1976 um
processo gradual de abertura ao capitalismo, principalmente nas províncias
litorâneas, onde foram criadas as Zonas Econômicas Especiais – ZEEs,
plataformas de exportações, onde indústrias estrangeiras são atraídas pelos
baixos custos produtivos ali oferecidos. Assim, a combinação de uma política
socialista com uma economia capitalista estabelece o chamado Socialismo de
Mercado, dando à China dois sistemas distintos, um na política e outro na
economia.
b)
Sob que denominação ficou conhecida a revolta iniciada em 2014 e intensificada
em 2019? Apresente pelo menos uma reivindicação dos manifestantes.
Comentário:
A revolta popular iniciada nas ruas de Hong Kong em 2014 ficou
conhecida como “Revolução dos Guarda-chuvas”, fazendo referência ao uso desse
objeto para proteger os manifestantes do gás lacrimogênio e do spray de pimenta, usados pelas forças
militares.
Dentre as principais reivindicações dos manifestantes encontra-se o
desejo de reduzir a interferência chinesa no território de Hong Kong
(considerada uma Região Administrativa Especial). Essa região permaneceu sob o
controle da Inglaterra até 1997, quando foi devolvida à China, sob a condição
de que fosse mantida autônoma (aberta e capitalista por 50 anos. Portanto, até
2047). Assim, o governo chinês tem gradativamente buscado o controle sobre Hong
Kong, visando concretizar plenamente sua reintegração ao país asiático.
Outra das principais causas da revolta foi uma proposta de mudanças
nas regras eleitorais de Hong Kong, na qual apenas candidatos pré-selecionados
pelo Partido Comunista Chinês poderiam disputar a governança do território, o
que diminuía de modo significativo a liberdade e autonomia política da
população.
Questão 18
O
tântalo (Ta) é um elemento metálico encontrado em baixíssima concentração na
crosta terrestre. É o “rei” da era digital, pois seu uso em capacitores tem
contribuído para a miniaturização de circuitos eletrônicos. Em Bandulu, no
leste do Congo, onde as minas de coltan (columbita-tantalita) são abundantes,
existe um único painel solar para carregar os celulares, e os poucos que
existem não são smartphones. A exploração de coltan não é ordenada, uniforme ou
pacífica. Analistas da geopolítica contemporânea o consideram a estrela dos
“minerais de sangue”.
(Adaptado
de Gemma Parellada, Viagem ao berço do coltan, o coração dos smartphones.
Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/19/internacional/1455896992_924219.html.
Acessado em 20/09/2019.)
a)
Que país colonizou a atual República Democrática do Congo? Em que período se
deu a independência desse país africano?
Comentário:
A atual República Democrática do Congo foi colonizada pela Bélgica,
que iniciou seu domínio sobre a região ainda em 1876, através do Rei Leopoldo
II, que assinou tratados econômicos com lideranças tribais da região. A dominação
belga se formalizou através da partilha da África em 1885, na chamada
Conferência de Berlim.
Essa nação, que era chamada inicialmente de Congo Belga (de 1908 até
1960), depois República do Congo (de 1908 até 1964), posteriormente República
Democrática do Congo (de 1964 até 1971), em seguida República do Zaire (de 1971
até 1997), e novamente República Democrática do Congo (de 1997 até hoje),
alcançou sua independência, assim como a maioria das nações africanas, após a
Segunda Guerra Mundial, principalmente a partir da realização da Conferência de
Bandung (1955), que marca o processo crescente de descolonização do continente.
No caso desse país, a independência se deu em 1960, porém isso não garantiu
plena liberdade a toda a população, e muito menos a paz na ex-colônia belga. Após
o processo de independência houve no país sucessivas rebeliões populares e
golpes de Estado, em um período em que a violência eclodiu na nação recém
liberta da dominação europeia. As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela
repressão violenta pelo governo, interferência política externa e instabilidade
econômica. A situação violenta eclodiu no final da década de 1990, quando o
país atravessou uma sangrenta Guerra Civil, também conhecida como “Guerra
Mundial Africana”, cujo número geral de mortos (por consequências diretas e
indiretas) é estimado em cerca de 3,8 milhões de pessoas.
b)
Explique por que não há smartphones na região do Congo referida, e por que o
coltan é considerado um dos “minerais de sangue”.
Comentário:
Embora produza riquezas minerais supervalorizadas em larga escala,
o continente africano passa longe de se beneficiar efetivamente de seus
recursos naturais, sendo que essa exploração traz invariavelmente mais
problemas do que benefícios a essa região.
O fato de o texto ter mencionado que a região de Bandulu produz
grande quantidade de columbita-tantalita, matéria prima essencial para produção
de modernos smartphones, e que não possui
esse aparelho disponível para o usa da população é um retrato da pobreza e das
desigualdades sociais latentes no continente africano. A condição econômica precária
que a população dessa região vive impede que financeiramente ela possa possuir
tais dispositivos, o que combinado com a pouca integração dessa região às redes
globais tornam totalmente impossíveis a utilização desses aparelhos sem que
energia elétrica e sistemas de telecomunicações estejam disponíveis.
Tal recurso foi considerado pelo texto como um “mineral de sangue”
na África, o que é uma analogia ao fato de que as disputas pelo controle e
exploração das áreas produtoras das riquezas minerais do continente causem,
invariavelmente, conflitos armados e Guerra Civis nos países, muitas vezes
incentivados por grandes empresas estrangeiras, ou mesmo nações, interessadas
no acesso às matérias primas que são supervalorizadas pelas indústrias mais
modernas e mais lucrativas da atualidade.
Questão 19
O
mapa abaixo apresenta a espacialização dos desertos no globo terrestre.
(Fonte:
J. F. Petersen, D. Sack e R. E. Glaber, Fundamentos de Geografia Física. São
Paulo: Cengage Learning, 2014, p. 165.)
a)
Aponte uma característica biogeográfica e uma característica climática do
domínio de desertos frios.
Comentário:
O conceito de deserto se refere às condições edáficas (naturais) de
uma dada região, que dificultam ou impedem ali o desenvolvimento e a manutenção
da vida animal e vegetal. Assim, locais quentes e secos demais, como o Saara,
são considerados “desertos quentes”, ao passo que locais secos e excessivamente
gélidos, como a Antártida, são considerados “desertos frios”.
Os desertos frios se estabelecem nas regiões de elevadas latitudes
terrestres, entre os círculos polares (66ºN e 66ºS) e os centros polares (90ºN
e 90ºS). Sua formação está associada às áreas anticiclonais (altas pressões atmosféricas)
que ali se estabelecem, provocando a saída dos ventos e a perda de umidade,
além da presença de correntes marinhas frias, com menor poder de evaporação, o
que reduz o índice de chuvas, bem como a presença de barreiras orográficas
(montanhas) que impedem a chegada de massas de ar úmido.
Em termos paisagísticos, tanto a fauna quanto a flora são
restritas, posto que apenas poucas espécies são capazes de se adaptar às
condições climáticas muito rigorosas, com destaque para as vegetações de
tundras, compostas apenas por espécies herbáceas de pequeno porte, como as
briófitas e algumas pradarias, cuja vegetação rasteira se adapta à baixa
incidência solar e pouca umidade disponível, além dos invernos longos e
extremamente frios.
b)
Diferencie “deserto” e “desertificação”.
Comentário:
O deserto consiste em um ecossistema árido, onde os índices
pluviométricos são muito baixos e as temperaturas são extremas (muito quentes
ou muito frias), onde a vida não encontra condições favoráveis à sua
permanência ou desenvolvimento. Essas condições decorrem da ação dos chamados
fatores de desertização, sendo forças naturais causadoras das adversidades
climáticas ali observadas. Dentre essas forças se destacam as altas pressões
atmosféricas, as correntes marinhas frias e as barreiras orográficas. Como as condições
edáficas são muito rigorosas e restritivas, nos desertos a biodiversidade é
muito baixa, e apenas as espécies mais adaptáveis conseguem sobreviver nesses
ecossistemas.
Por outro lado, a desertificação consiste em um processo decorrente
das ações antrópicas que causam a esterilização dos solos e a degradação das
condições edáficas, comprometendo a manutenção da vida animal e vegetal em uma
determinada localidade. Dentre as principais ações humanas causadoras da
desertificação se destacam o desmatamento, o uso irrestrito das queimadas, a
exposição dos solos aos agentes erosivos, a prática de monoculturas que tornam
o solo exausto e empobrecido, o uso indevido de irrigação, que causa os
processos de salinização e acidificação do solo, atividades pastoris que
promovem o pisoteio e a compactação do solo, dentre outas.
Questão 20
O
território brasileiro apresenta uma grande diversidade de formas de relevo.
Elas estão agrupadas em grandes compartimentos identificados como planícies,
depressões, tabuleiros, chapadas, patamares, planaltos e serras. A figura
abaixo indica a espacialização de três desses compartimentos.
(Adaptado
de Manual técnico de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.)
Considerando
a figura acima e seus conhecimentos sobre o relevo brasileiro, responda às
questões.
a)
Aponte uma semelhança e uma diferença entre as chapadas e os tabuleiros.
Comentário:
O relevo brasileiro apresenta uma divisão estrutural entre escudos
cristalinos (cerca de 36% do território) e bacias sedimentares (cerca de 64% do
território), sendo essas estruturas subdivididas de modo escultural entre
planaltos, planícies e depressões (com o predomínio das duas primeiras). Os
mapas apresentados pela questão fazem menção à forma escultural dos planaltos,
divididos entre serras, chapadas e tabuleiros.
Tanto chapadas quanto tabuleiros apresentam em comum sua origem
geológica, posto que ambos representem planaltos em estruturas sedimentares,
bem como o aspecto visual de ambos é semelhante, uma vez que se tratam de superfícies
elevadas, de topos planos, que são limitadas por bordas abruptas, chamadas de
escarpas.
As diferenciações entre as chapadas e os tabuleiros se associam à
sua localização geográfica, pois as chapadas se concentram nas porções mais
interiores do país, ao passo que os tabuleiros se concentram nas faixas
próximas ao litoral. Há ainda as diferenciações dimensionais e altimétricas,
uma vez que as chapadas, por localizarem em estruturas interiores apresentam
grande extensão e altitude mais elevada (geralmente acima de 600 metros),
enquanto os tabuleiros, por se localizarem próximas à borda continental,
apresentam menores extensões e altitudes mais modestas (geralmente até 200
metros).
b)
Qual a importância da Serra do Espinhaço para o setor de mineração do Brasil?
Em que estrutura geológica esse compartimento está situado?
Comentário:
O termo “serra” (assim como o termo “morro”) é utilizado para
designar planaltos formados em estruturas cristalinas muito pretéritas, nos
chamados crátons ou maciços antigos. Nessas regiões cristalinas da Terra se
concentram as maiores jazidas de minerais metálicos existentes, assim como nas
estruturas sedimentares se localizam as grandes reservas de minerais
energéticos (combustíveis fósseis) existentes na atualidade.
No caso da Serra do Espinhaço, que se estende no sentido sul-norte
desde a porção central de Minas Gerais até o norte da Bahia, se insere no
chamado Planalto Atlântico, de idade Proterozoica, encontra-se a província
mineralógica do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, região onde se dá
atualmente a maior parte da produção de minério de ferro no país. Além do
minério de ferro, essa região possui ainda abundância de outros minerais, como
ouro, manganês e bauxita, ambos de suma importância para o setor exportador de commodities nacional.
Questão 21
O
atual avanço tecnológico permite produzir robôs de tamanho manejável e
facilmente incorporados às estruturas produtivas ou à prestação de serviços. Em
2015, o custo de um robô soldador era de 8 dólares por hora, o equivalente ao
custo da mão de obra para o mesmo trabalho no Brasil.
(Adaptado
de CEPAL, La ineficiencia de la desigualdad, Santiago, 2018. p. 148. Disponível
https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43442/6/S1800059_es.pdf.
Acessado em 15/09/2019.)
a)
Qual era relação entre o custo da mão de obra e a localização das indústrias
transnacionais na segunda metade do século XX? Como a robótica poderá alterar
essa relação?
Comentário:
A partir da segunda metade do século XX, principalmente após a
ocorrência da Terceira Revolução Industrial na década de 1970, a localização das
unidades fabris no mundo passou por uma grande reestruturação, principalmente
em decorrência do processo de desconcentração produtiva (também chamado de desindustrialização)
das grandes potências mundiais, no qual as empresas multinacionais e
transnacionais partiram em direção às nações mais pobres em busca de menores
custos produtivos, representados principalmente pelos baixos salários e pelos
baixos impostos ali cobrados.
Desse modo, o elevado grau de qualificação da mão de obra nas
nações mais desenvolvidas estabelecia ali salários muito elevados, diminuindo a
margem de lucro das grandes empresas, o que as levou a buscar novas
localizações em nações menos desenvolvidas, onde a mão de obra, de menor
qualificação, se sujeitava a salários mais baixos. Nesse contexto surgem as
indústrias multinacionais e inicia-se a fase de maior industrialização das nações
mais pobres, bem como de sua maior dependência econômica e tecnológica em
relação às grandes potências mundiais.
A partir do início do século XXI o avanço tecnológico trouxe
consigo a evolução da robótica e a ampliação da automação das cadeias produtivas,
demonstrando que a substituição do homem por essas modernas máquinas se
mostrava, em médio prazo, muito atrativa, principalmente por conta dos gastos
com encargos laborais que seriam eliminados. Assim, do mesmo modo que a mão de
obra barata dos países pobres substituiu a mão de obra cara dos países
desenvolvidos, na atualidade a própria mão de obra barata tem perdido espaço e
sido suplantada pelos robôs e modernos equipamentos industriais, formalizando a
Quarta Revolução Industrial, que se encontra em curso.
b)
Considerando a atual situação de desigualdade social do México e do Brasil,
indique duas possíveis consequências do uso intensivo dessa nova tecnologia.
Comentário:
O processo de gradativa substituição da mão de obra humana pela
força de trabalho robotizada traz consigo a ampliação do desemprego estrutural,
que diferentemente do desemprego conjuntural, é permanente. Os postos de
trabalho perdidos pela chegada de uma máquina ou equipamento que desempenhe
determinada função produtiva dificilmente serão retomados pelos operários, que
permanecem desempregados até que consigam se enquadrar em outros ramos da
cadeia produtiva.
No caso de México e Brasil, o grande problema é que essa mão de
obra é tradicionalmente de baixa qualificação, o que torna mais difícil sua
reinserção no mercado de trabalho, podendo aumentar exponencialmente o período
de permanência da população em inatividade econômica. Em decorrência desse
desemprego permanente há a redução da renda média da população, que impacta diretamente
na diminuição de seu poder de consumo, afetando toda a cadeia produtiva, bem
como dificulta seu acesso aos bens e serviços essenciais, piorando ainda mais a
qualidade de vida, já baixa nessas nações.
A dificuldade da mão de obra em retornar ao mercado de trabalho determina
a opção desses trabalhadores desempregados pelo setor de trabalho informal (à
margem da legislação trabalhista), o que pode trazer ao país o processo chamado
de hipertrofia do setor terciário, ampliando a dimensão da População
Economicamente Inativa – PEI (que necessita dos serviços e investimentos
sociais oferecidos pelo Estado) em detrimento da População Economicamente Ativa
– PEA (que contribui para a arrecadação de impostos pelo governo). Esse descompasso
entre PEI e PEA cria um quadro de instabilidade econômica do país (gastos
maiores que a arrecadação), levando à formação da chamada dívida interna, que culmina
em quadros de recessão para a nação.
Questão 22
Os
movimentos sociais não são fenômenos de agregação de indivíduos movidos por
ações irracionais; pelo contrário, mobilizam estratégias e ações racionais para
atingir objetivos previamente estabelecidos. Movimentos sociais objetivam
transformações sociais significativas e, por isso, conflitos sociais decorrem
das distintas concepções sobre direitos sociais, civis e políticos, nunca
excluindo os conflitos de classe. É pouco provável que no mundo atual, em
sociedades urbanizadas e industrializadas, não se coloquem movimentos sociais ativos.
(Adaptado
de “A sociologia de Alain Touraine”. Revista Lua Nova, São Paulo, n. 106,
jan./abr. 2019.)
Com
base no texto e em seus conhecimentos, responda às questões.
a)
O que são movimentos sociais e por que suas ações ensejam conflitos sociais?
Comentário:
Os movimentos sociais são caracterizados como organizações
coletivas entre grupos e indivíduos que vislumbram objetivos similares e se
articulam em prol do alcance de tais objetivos. Para tal, os movimentos sociais
buscam maior participação nas esferas políticas, econômicas e culturais,
visando inserir a população marginalizada nas esferas de poder decisório.
Em sua maioria, tais movimentos lutam por mudanças organizacionais
e políticas que permitam que as demandas buscadas pela população passem a ser
oferecidas ou garantidas pelo Estado, aumentando assim a representatividade
política popular. Porém, a maioria das mudanças pleiteadas pelos movimentos sociais
se choca com problemáticas historicamente estabelecidas e interesses arraigados
nas sociedades ao longo das gerações.
A demanda por mudanças que ofereçam às classes excluídas mais
representatividade e benefícios sociais é vista por vezes como ameaça pelos
grupos que historicamente foram beneficiados por uma sociedade marcadamente desigual,
o que dá origem aos conflitos de interesses, entre aqueles que buscam maiores
benefícios e aqueles que temem perder os benefícios que desfrutam ao longo do
tempo. A visão de que a desigualdade seja uma condição natural e necessária à
sociedade moderna enraíza o pensamento de que o benefício de uma parte da população
precisa, necessariamente, ocasionar o prejuízo da outra.
b)
Dê um exemplo de movimento social organizado no meio urbano brasileiro e
comente uma de suas reinvindicações.
Comentário:
O aumento do acesso à informação e ao conhecimento tem feito com
que no Brasil (assim como no restante do mundo) a população passe a ter cada
vez mais consciência acerca de seus direitos e das obrigações do poder público
em respeitá-los e garanti-los. Dessa mudança de paradigma social advém a
politização de camadas populares, antes totalmente marginalizadas e submissas à
estrutura social dominante, o que possibilita a ampliação dos movimentos e das
reivindicações sociais na contemporaneidade.
No caso brasileiro há uma vasta gama de movimentos sociais na
atualidade, com reivindicações variadas, dos quais podemos destacar o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, que se organiza nas
áreas urbanas e busca por mudanças nas políticas habitacionais do país, para
que o direito à moradia seja respeitado e a especulação imobiliária e a
exclusão socioespacial sejam superadas; o Movimento Quilombola, que busca a
inserção das populações descendentes de escravos na vida política, econômica e
social do país, garantindo na prática sua teórica representatividade jurídica.
Ainda pode-se citar o Movimento Passe-Livre, que defende a transferência
dos sistemas de transportes de massa nas cidades da iniciativa privada para a
iniciativa pública, o que traria o fim da cobrança de tarifas para seu uso pela
população; o Movimento Feminista, que luta pelo combate da discriminação e das
desigualdades de gênero na sociedade brasileira, além da superação do modelo
social de base patriarcal, culturalmente enraizado no país; o Movimento
Operário, que se mobiliza em prol da manutenção e ampliação dos benefícios
legais da classe trabalhadora, se posicionando contra as reformas trabalhistas
do modelo neoliberal; dentre outros.
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