O mundo
foca no Oriente Médio, enquanto no Oriente Distante as tretas seguem a todo
vapor
Por Éder Israel
Disponível
em: < http://tv.recordjp.com/wp-content/uploads/2012/09/ilhas-Jap%C3%A3o.jpg>
acesso em 11 abril 2015
Grande
parte dos debates e discussões acerca da geopolítica contemporânea encontra-se
polarizada na expansão do Estado Islâmico e conseqüentemente no extremismo
religioso que se observa no Oriente Médio, ao passo que a China segue a passos largos o seu
projeto para se tornar a grande potência mundial nos século XXI; por
outro lado os Estados Unidos tentam a todo custo chamar a atenção do mundo para
essa problemática, muito mais pelo temor de perder a posição que os chineses
pleiteiam do que pela preocupação dos impactos globais que a expansão da
economia chinesa e a afirmação do país asiático como potência hegemônica poderia trazer ao mundo.
Seria
meio que os Estados Unidos tentando a todo custo evitar o inevitável...
Navio
de ativistas chineses sendo “convidado a se retirar” das proximidade das Ilhas
Senkaku por navios militares japoneses.
Disponível
em: < http://www.wantchinatimes.com/newsphoto/2012-08-17/450/E815YK04H_2012%E8%B3%87%E6%96%99%E7%85%A7%E7%89%87_copy1.JPG>
acesso em 11 abr. 2015
Porém
a preocupação estadunidense é recente e motivada por interesses próprios. Na
prática o Titio Obama tem muito medo de que os chineses ampliem seu poderio no
continente asiático, como se o atual poderio já não fosse assustador (...), uma
vez que o crescimento da capacidade geopolítica da China choca-se diretamente
com os interesses dos Estados Unidos em manter a sua hegemonia. As tretas no Mar
da China são anteriores até mesmo ao fato de a economia da potência norte
americana ter se tornado a maior do planeta, fato materializado de fato somente após a
Segunda Guerra Mundial, e concretizado no período posterior à Guerra Fria.
Pois
bem, o problema na Ásia sempre envolveu China e Japão. Por um lado o país que
possui um dos maiores territórios do mundo, mas que demorou muito tempo para
começar a se desenvolver, e por outro o “nanico” territorial, composto por um enorme
arquipélago de minúsculas ilhas que começou a se desenvolver ainda no século
XIX. Isso não poderia dar muito certo naquela região tão isolada do mundo até o
início o século XX, porém somente nos ‘idos de 1900 e tantos’ o mundo teve ideia de fato dessas disputas territoriais do sudeste asiático.
É
inegável que a retomada do poder imperial no Japão do século XIX e o conseqüente início do período áureo da economia japonesa que convencionalmente é chamado de
Era Meiji, quando o Imperador Matsuhito deu início a um intenso processo de
modernização da economia japonesa, que traria ao minúsculo país asiático a
superação do período do Xogunato, o qual deixava o Japão sob a sombra de um
modelo similar ao feudalismo europeu, porém no país asiático esse "feudalismo" perdurou até o final do século XIX.
Assim
começam os problemas para a sustentação do desenvolvimento econômico do Japão,
uma vez que a dimensão territorial do país, somada à falta de recursos
energéticos e reservas mineralógicas no espaço japonês, conduziu o país a um
processo de expansão territorial pelo sudeste asiático, tomando para si os
recursos e insumos industriais que tão necessários eram para as primeiras
indústrias japonesas criadas pelos ex Senhores Feudais (conhecidos como Xoguns)
e que foram batizadas de Zaibatsu. Pronto, estava iniciada a mais intensa fase
de disputas territoriais do Extremo Oriente que convergiriam para as notícias
de 2015 e que despertam tanto interesse e preocupação do governo estadunidense.
Atualmente
o conflito se dá em uma região de litígio entre os governos do Japão e da China,
em um conjunto de ilhas totalmente desabitadas que juntas não possuem uma área pouco superior a 7 quilômetros quadrados. Essas ilhas são conhecidas pelo Japão como Senkaku,
ao passo que para a China são chamadas Diaoyu.
Mas o que há de fato por trás desse ínfimo pedaço insular de terras do litoral
do sudeste asiático? O que o Japão tem a ganhar nessas minúsculas ilhas? O que
a China tem de interesse nessa área?
Então,
José...
Durante
o período expansionista do Japão do imperador Matsuhito essas ilhas foram
alcançadas pelas forças armadas japoneses, e nesse caso valeu aquela máxima de
que quem chegar primeiro é o dono do lugar. Pois foi mais ou menos isso que
aconteceu em 1885, e como o governo do Japão afirmara que não se
observava qualquer sinal de que houvera algum tipo de vestígio de ocupação ou
habitação chinesa no local, pois bem, segundo os japoneses: “ninguém quer,
eu quero...”.
Essas
ilhas configuram em uma das mais intensas disputas geopolíticas do continente
asiático, superando até mesmo o conflito velado entre Coréia do Norte e a Coréia
do Sul. Segundo o governo chinês esta zona lhe pertence, segundo o governo
japonês na verdade pertence a eles. E assim se desenrola a disputa geopolítica.
Mas respondendo às perguntas anteriores, por que tanta briga por 7 quilômetros
quadrados no meio do nada? Ora, José, veja bem:
Em
2012 o governo japonês anunciou que pretendia estatizar as referidas ilhas, uma
vez que as mesmas pertenciam a um proprietário privado que tem direitos, segundo
a legislação nipônica de uso e exploração do território. Segundo fontes do
próprio governo japonês o negócio será realizado a valores próximos a 21 milhões
de euros. Mas e aí, quais os interesses? Simples, o Japão apesar de ter sua economia
amplamente desenvolvida no setor industrial e ser um dos maiores exportadores
mundiais de produtos de alta tecnologia do mundo, tem na atividade pesqueira uma das bases para o abastecimento interno de alimentos de um país que sofre
cronicamente de falta de terras para a agricultura. Além, obviamente, do fato
desse pequeno arquipélago localizar-se entre a Malásia e o Vietnã, uma das “portas
de entrada” do extremo oriente, o que garantiria ao Japão um controle próximo e
eficiente de uma das maiores rotas comercias do mundo contemporâneo, desde o
estabelecimento das plataformas de exportação, batizadas de Tigres Asiáticos.
Localização das Ilhas Spratly
/ Diaoyu
Disponível
em: <http://atimes.com/atimes/China/images/spratly-islands.gif> acesso em
11 abril 2015
Por
outro lado existem os interesses chineses, e esses sim parecem mais
geopoliticamente interessantes, uma vez que se baseia em um acordo
internacional firmado em 1982, quando a Convenção das Nações Unidas estabeleceu
o Direito do Mar, que determina que uma faixa territorial de 200 milhas
náuticas (pouco mais de 300 quilômetros) do fundo oceânico pertença ao país que
detém o litoral de uma dada região. Ora, se a China for dona das Ilhas Diaoyu, será dona também de
uma faixa de 300 km ao seu redor e conseqüente todos os recursos que nessa área
existam.
Estima-se
que no entorno desse arquipélago existam grandes reservas de petróleo e/ou gás
natural. Então, José, a China possui anseios cada vez mais reais de se tornar a
maior potência econômica do mundo, e tem caminhado nessa direção desde a chegada
de Deng Xiao Ping ao poder, após a morte de Mao tse-Tung na década de 1970, e a
falta de recursos energéticos fósseis no país poderia comprometer esse
propósito. O governo chinês já se deu conta de que mais cedo ou mais tarde as
reservas de carvão mineral da Manchúria devem se exaurir, e por isso precisa de
novas provisões energéticas para manter o ritmo de produção de suas indústrias.
Logo,
José, se liga! O governo chinês não está investindo à-toa no continente africano.
Há interesses econômicos altíssimos em jogo nessa política externa do Partido
Comunista Chinês, uma vez que países como a Nigéria, que receberam vultosos
investimentos do país asiático são na verdade grandes produtores de petróleo...
Assim, podemos inferir que caso a China se torne dona destas ilhas poderá
realizar prospecções e possivelmente encontrará ali o petróleo que tanto
precisa, muito mais próximo e acessível que na África...
Estas
disputas se tornaram tão intensas e preocupantes, que enquanto nós estamos aqui
achando toda essa discussão nova e reveladora, Kurt M. Campbell, que foi Secretário
do Governo dos Estados Unidos para Assuntos do Leste Asiático entre 2008 e 2013
afirmou no ano de 2014 que “Nós nos preocupamos com
eventos imprevisíveis e acidentais. Ambos os países têm forças – guarda
costeira e militares – no local. […] Pedimos que ambos os lados retornem ao
diálogo e à discussão”, o que nos dá uma ideia do quão grave é a
situação de disputa por estas ilhas minúsculas do Extremo Oriente...
Continua...
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