quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA - SEGUNDA FASE FUVEST 2021

 

Questão 01

Considerado um dos programas de infraestrutura mais ambiciosos já concebidos, a Nova Rota da Seda chinesa foi anunciada pelo presidente Xi Jinping, em 2013. O programa inclui diversos projetos de desenvolvimento e investimento e envolve regiões da Ásia, Europa, África e América Latina. Lauren Johnston, pesquisadora da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, acredita que a maioria dos acordos de investimento da Nova Rota da Seda tem beneficiado as partes envolvidas. "Para os governos que precisam de acesso ao financiamento, seja para novas infraestruturas ou para o desenvolvimento social, os benefícios continuam superando os custos potenciais".

BBC News Brasil: http://www.bbc.com/.Adaptado e https://super.abril.com.br/.Adaptado

A partir dos elementos apresentados, responda:

a) O que foi, originalmente, a chamada Rota da Seda?

Comentário:

Originalmente a chamada Rota da Seda era um conjunto de rotas terrestres e marítimas que escoavam, a partir do século II d.C., o produto homônimo desde a China até o continente europeu. Caravanas e embarcações atravessavam as regiões atualmente chamadas de Sul da Ásia, Ásia Central, Oriente Médio, e Norte da África para levar a seda, muito valorizada no comércio da época, aos consumidores do Ocidente.

b) Cite e explique um objetivo econômico da China com a implementação desse projeto.

Comentário:

O megaprojeto estrutural planejado pelo governo chinês na transição dos séculos XX e XXI tem como principal intuito promover a conexão da China moderna, cada vez mais industrial e capitalista, aos mercados globais, sejam aqueles fornecedores de commodities, que sustentem a produção fabril da nação asiática, ou aqueles destacados como grandes mercados consumidores, capazes de absorver as mercadorias produzidas maciçamente pelas Zonas Econômicas Especiais – ZEEs do pais.

Os principais investimentos da “Nova Rota da Seda” são voltados para infraestruturas de transportes e telecomunicações, com o objetivo de inserir de vez a China à globalização, após décadas de relativo isolamento promovido pelo regime socialista comandado por Mao Tsé-Tung, que governou o país desde a Revolução Chinesa de 1949 até a sua morte em 1976. Portanto, são planejadas extensas rodovias e ferrovias, construção de portos e aeroportos, bem como a implantação de sistemas de geração e distribuição de energia, e ainda infovias que conectem os sistemas de comunicação.

Em termos geopolíticos a China pretende com esse projeto alcançar de vez os mercados ocidentais, e disputar com os Estados Unidos e a União Europeia a hegemonia do mundo capitalista no século XXI, bem como assumir a posição de maior potência econômica asiática, ocupada atualmente pelo Japão. Trata-se, portanto do grande projeto chinês de conversão plena ao sistema capitalista e de estabelecimento factual como potência mundial, iniciado ainda sob o governo de Deng Xiao Ping, na década de 1970, através da implantação de um modelo conhecido como Socialismo de Mercado.

c) Explique um impacto econômico negativo e um impacto social positivo em apenas um dos seguintes projetos: 2- Ferrovia Laos; 7- Corredor de Infraestrutura- Paquistão; 8- Ferrovia Etiópia - Djibuti.

Comentário:

No que tange ao projeto número 2 - Ferrovia Laos, tem-se um impacto econômico negativo relacionado aos elevados custos de estabelecimento dessa obra (cerca de 5,9 bilhões de dólares), principalmente pelo fato desse ser essa uma das nações mais pobres da região. Portanto esse custo geraria ampla dependência financeira de investimentos chineses e consequentemente endividamento externo do país, que seria condicionante para uma longa e profunda dependência comercial com a potência asiática. Por outro lado esses investimentos trariam consigo benefícios sociais, principalmente relacionados à integração do Laos à globalização, facilitando acesso a mercadorias e tecnologias externas, bem como possibilitando maior circulação de pessoas, capitais e mercadorias no país.

No que tange ao projeto número 7 – Corredor de Infraestrutura - Paquistão, tem-se um impacto econômico negativo relacionado primeiramente aos 54 bilhões de dólares de custo (o maior entre todos os mencionados na tabela), que assim como nos demais projetos iria ampliar a necessidade de investimentos externos e consequentemente o endividamento e dependência financeira em relação à China. Em termos geopolíticos esse projeto poderia aumentar ainda mais as tensões no Oriente Médio, colocando em choque direto os interesses de Estados Unidos e China na região. Por outro lado esses investimentos trariam consigo benefícios sociais, principalmente relacionados à integração do Paquistão às regiões circunvizinhas, bem como acesso facilitado aos produtos e tecnologias importadas.

No que tange ao projeto número 8 – Ferrovia Etiópia - Djibuti, tem-se um impacto econômico negativo relacionado primeiramente aos 4 bilhões de dólares de custo das obras, inalcançáveis por essas nações pobres da conflituosa região do Chifre da África. Portanto, os investimentos seriam orçados a partir de empréstimos externos provenientes da China, que aumentariam o endividamento e a dependência dessas nações já miseráveis. Além disso, a chegada de maciços investimentos chineses poderia gerar um fluxo migratório massivo para essas duas nações, já incapazes de sustentar financeiramente suas próprias populações. Por outro lado esses investimentos trariam consigo benefícios sociais, principalmente pela maior possibilidade de integração global dessas nações isoladas, bem como a possibilidade de início do processo de industrialização, por conta dos fatores locacionais ali oferecidos a partir de então.

De modo geral, independente da situação escolhida pelo aluno, seja 2, 7 ou 8, os problemas econômicos estariam sempre associados à dependência financeira externa em relação à China e ao amplo endividamento das economias; ao passo que em termos sociais, as duas maiores vantagens seriam relacionadas à integração desses espaços a outros mercados e regiões, bem como a oferta de postos de trabalho para a execução das respectivas obras estruturais ali planejadas.

Questão 02


Censo IBGE 2010 e Google Earth 2020. Adaptado.

A imagem e os mapas mostram diferenças na ocupação do espaço urbano em uma área da cidade de São Paulo, cujos limites estão destacados em laranja.

a) Baseado nos pontos cardeais, onde ocorre a maior concentração de domicílios na área destacada?

Comentário:

Na imagem de satélite apresentada pela questão observam-se diferentes processos de ocupação do espaço urbano da cidade de São Paulo, podendo-se dividir a imagem longitudinalmente ao meio e estabelecer que na porção à esquerda tem-se uma ocupação marcada principalmente pelas populações de mais baixa renda, como na região de Paraisópolis. Ao passo que na porção à direita tem-se a ocupação por populações de maior poder aquisitivo, como na região do Morumbi.

Sabe-se que na região de mais baixa renda o processo de ocupação se deu de modo espontâneo, sem a presença marcante de políticas públicas e de planejamento habitacional, o que condiciona essa porção a ter uma urbanização mais desordenada e uma população muito mais numerosa. Diferentemente do que se observa nos bairros de classe mais elevada, onde o planejamento e as políticas públicas foram mais eficientes, criando uma urbanização mais coerente e controlada, e consequentemente com menos habitantes nesses bairros.

Assim, conforme a imagem apresentada, e os pontos cardeais definidos a partir da Rosa dos Ventos, pode-se inferir que a maior concentração espacial de domicílios se localiza na porção Oeste da imagem (note que a questão menciona Ponto Cardeal. Caso mencionasse Ponto Colateral, a região em questão estaria no Sudoeste da imagem).

b) Explique por que no mapa prismático há uma grande área rebaixada (em vermelho), enquanto uma pequena área ao sul caracteriza-se como uma forma elevada (em azul).

Comentário:

No mapa prismático (terceira imagem) utiliza-se uma técnica cartográfica que visa mostrar de modo visual aspectos socioeconômicos que escapariam em uma cartografia meramente física. Desse modo, busca fazer uma analogia comparativa entre dois valores distintos, representando aquele mais baixo como sendo uma área mais profunda no mapa, ao passo que o valor mais elevado seria representado como uma área mais alta no mesmo mapa.

Assim, nota-se que a região de Paraisópolis, representada em vermelho no mapa, apresenta os indicadores mais baixos de renda (renda média de R$ 200,00 a R$ 2.700,00 para cada setor censitário), tendo sido representada de modo rebaixado em analogia ao baixo acesso das pessoas à renda. No mesmo mapa, na porção Sul, tem-se a área representada em azul, com os bairros de classe alta, onde os indicadores de renda são mais altos (renda média de R$ 10.200,00 a R$ 12.500,00 para cada setor censitário), tendo sido representada de modo elevado em analogia ao maior acesso dessas pessoas à renda.

c) Cite dois problemas de infraestrutura urbana presentes nas áreas representadas em vermelho.

Comentário:

Nas áreas de mais baixa renda, representadas nos mapas na cor vermelha, observa-se a maioria dos mesmos problemas socioeconômicos e estruturais notados em todas as porções periféricas das grandes metrópoles brasileiras, tendo em comum esses problemas a sua causa principal, que é, invariavelmente, a ineficiência do Estado enquanto gestor da urbanização, e as desigualdades sociais que impedem a plena cidadania urbana para parcelas cada vez mais significativas das populações ali residentes.

Em termos estruturais pode-se citar a falta de saneamento básico, que dificulta o acesso da população a recursos essenciais como água tratada, coleta de esgoto e lixo, ligações de eletricidade e meios de comunicações formalizados. Daí nasce um segundo problema estrutural, que é a proliferação de ligações clandestinas, principalmente de energia e telecomunicações, que além de diminuir a arrecadação pública, favorece aos grupos criminosos que atuam nesse nicho de mercado ilegal.

Outro problema estrutural latente nessas localidades é a precariedade das moradias irregulares construídas pelas populações, o que eleva de modo substancial os riscos de tragédias, principalmente nos períodos mais chuvosos, assim como a ineficiência dos sistemas de transportes urbanos, que afetam diretamente a ligação dessa periferia com as áreas centrais, dificultando como isso a circulação diária dessas populações.

Questão 03

Para diversos cientistas da atualidade, as modificações provocadas no planeta pelas atividades humanas nos últimos séculos são irreversíveis e justificariam a criação de um novo tempo geológico, denominado Antropoceno. Neste, haveria mudanças significativas na superfície, na atmosfera, na quantidade e na distribuição dos seres vivos no globo. No entanto, ao longo da história geológica da Terra, em especial no Fanerozóico, já ocorreram grandes reduções do número de espécies em episódios chamados de extinções em massa. Um desses episódios, por exemplo, ocorreu no final da Era Mesozoica, há 65 milhões de anos, e fez desaparecer os dinossauros.

Luiz Eduardo Anelli. O Guia Completo dos Dinossauros do Brasil. 2010. Adaptado.

a) Na figura da Folha de Respostas, indique por meio de um círculo o pico de extinção dos dinossauros.

Comentário:

O processo de extinção dos dinossauros se deu há cerca de 65 milhões de anos atrás, na transição entre o período Cretáceo e o Paleógeno, demarcado pelo círculo azul na imagem a seguir.


b) Cite duas condições naturais adversas à vida que poderiam levar a extinções em massa no planeta, conforme demonstrado no gráfico.

Comentário:

No contexto contemporâneo existem múltiplas variáveis que combinadas ou isoladas poderiam contribuir para processos de extinção em massa, similares àquelas observadas no gráfico. Dentre elas podem-se citar aquelas de origem atmosférico-climática, geológica, hídrica ou ainda astronômica.

Em termos atmosféricos as mudanças climáticas contemporâneas, ligadas principalmente ao aquecimento global, poderiam criar condições de temperaturas muito elevadas, comprometendo direta ou indiretamente fauna e flora terrestres. Com relação às causas geológicas pode-se mencionar o tectonismo, que pode provocar, além da movimentação dos continentes e a criação de barreiras geográficas, a liberação de grande quantidade de energia sísmica através de terremotos e maremotos devastadores, bem como a liberação de materiais fluidos (magma) ou particulados (gases) pelo vulcanismo a partir do manto terrestre, comprometendo decisivamente as condições de vida no planeta.

No que tange às origens hídricas pode-se mencionar o esgotamento ou comprometimento das reservas de água potável na superfície terrestre, recurso fundamental para a existência e manutenção da vida animal e vegetal na Terra. E, em relação às causas astronômicas, pode-se citar o processo de precessão terrestre, capaz de promover períodos de glaciações que trazem temperaturas extremamente baixas ao planeta, podendo interferir diretamente nos ciclos biogeoquímicos e consequentemente a manutenção da vida tal qual a conhecemos; ou ainda a queda de grandes meteoros atraídos pela gravidade terrestre, que poderiam afetar a vida tanto pelas ondas de impacto quanto pelas nuvens de poeira após o choque inicial.

c) Explique uma evidência na superfície terrestre e uma na atmosfera que colabora para a proposição do Antropoceno como um novo tempo geológico.

Comentário:

Existem incontáveis exemplos e provas da alteração do sistema terra - ar por conta das atividades antrópicas contemporâneas. Com base nesse significativo quadro de mudança provocada e instabilidade estabelecida, cientistas propuseram a criação do chamado Antropoceno, que seria um período dominado e transformado pelo homem e suas ações, cujos impactos seriam já irreversíveis e passíveis de conduzir a própria espécie humana à extinção.

Em termos atmosféricos a maior mudança perceptível é a elevação na concentração de dióxido de carbono - CO2 na troposfera, o que atua diretamente no aprisionamento de calor pelo efeito estufa e condiciona à ocorrência do aquecimento global. Além do CO2 existem também gases totalmente antropogênicos, com destaque para o Clorofluorcarbono – CFC, cujas moléculas de cloro degradam o ozônio atmosférico, comprometendo a filtragem das radiações nocivas UVA e UVB provenientes dos raios solares.

Na superfície terrestre também há sinais claros do quão grande é o impacto das ações antrópicas sobre o meio ambiente, com destaque para o degelo das calotas polares em decorrência do aquecimento global, que compromete as reservas de água doce da Terra, que já são impactadas diretamente pelo despejo de esgoto doméstico e industrial nos mananciais. Há ainda os processos de desertificação em curso, decorrentes do desmatamento das vegetações nativas, ou da expansão dos cultivos monocultores que promovem a exaustão do solo, ou ainda por conta de processos de irrigação mal planejados, que ampliam a salinidade ou acidez desses solos.

Pode-se ainda mencionar os impactos observados nas bacias oceânicas, com destaque para o acúmulo de lixo proveniente das áreas continentais, que acaba por se acumular nos grandes oceanos, onde afretam diretamente os habitats de sua fauna e flora, ou ainda os vazamentos de petróleo em plataformas de extração ou em navios petroleiros, que provocam grandes desequilíbrios ambientais nesse ecossistema naturalmente frágil. Nas regiões costeiras os oceanos são ainda impactados pelo despejo crescente de esgoto doméstico irregular nessas áreas de intensa atividade turística.

Questão 04

Agosto de 2020 mostrou-se favorável à geração de energia eólica no Brasil. Em uma mesma semana, o Operador Nacional do Sistema Elétrico registrou três recordes de geração média de energia e, no dia 6 de agosto, os sistemas chegaram a produzir 9.049 MWmed. Este montante é suficiente para abastecer 94,4% da demanda elétrica de todos os estados da região Nordeste.

Disponível em http://www.ons.org.br/Paginas/Noticias/. Adaptado.

 Sobre a produção de energia eólica, responda:

 a) Cite qual é o elemento do clima que dá origem à energia eólica.

Comentário:

A energia eólica é produzida a partir da força motriz dos ventos, os quais se deslocam a partir das diferenças de pressão atmosférica, tendo como origem as zonas de altas pressões (também chamadas de zonas anticiclonais) se direcionando para as zonas de baixas pressões (também chamadas de zonas ciclonais). As turbinas eólicas são dispositivos dotados de grandes pás, que atuam como moinhos de vento, convertendo a força motriz em eletricidade.

b) Explique um aspecto ambiental positivo e um negativo associado à produção de energia eólica.

Comentário:

A produção de energia eólica se mostra vantajosa na atualidade por apresentar aspectos positivos tanto relacionados a fatores ambientais, quanto a fatores econômicos e ainda sociais. Dentre as principais vantagens ambientais de sua geração se destacam o fato de ser uma fonte energética renovável, dispensando a necessidade de extrair recursos naturais esgotáveis do ambiente; ainda o fato de ser uma fonte que não libera gases poluentes para a atmosfera, não contribuindo, portanto para o agravamento do efeito estufa.

Por outro lado, existem nessa fonte aspectos negativos assim como nas demais formas de geração de energia, dentre os quais se destacam a oscilação na produtividade, uma vez que depende da movimentação dos ventos; além dos elevados índices de poluição sonora em decorrência da movimentação frequente das pás eólicas; havendo ainda impactos diretos sobre os fluxos migratórios de aves, que são dispersoras naturais de sementes, o que afeta indiretamente na flora regional.

c) Explique um impacto social positivo e um negativo associado à produção de energia eólica.

Comentário:

Do mesmo modo que a produção de energia eólica impacta de maneiras diferentes sobre o meio ambiente, ela também promove alterações positivas ou negativas nas sociedades inseridas nos seus ambientes de geração. Dentre os principais impactos sociais positivos se destacam o desenvolvimento tecnológico relacionado à geração energética; além da geração de empregos diretos e indiretos no setor; a possibilidade de produção de eletricidade em locais desabastecidos de outras opções energéticas, como as regiões semiáridas e desérticas; e ainda menor dependência externa em relação ao mercado internacional do petróleo ou outras fontes não renováveis.

Por outro lado, existem impactos negativos para a sociedade de modo geral, dentre os quais se destacam a desvalorização de áreas habitacionais em decorrência da poluição sonora gerada nos campos eólicos; também a desvalorização de importantes áreas turísticas, com destaque para regiões litorâneas como no Nordeste brasileiro; ainda o deslocamento de populações tradicionais para a criação de campos eólicos, como no caso dos caiçaras em regiões costeiras ou dos indígenas e quilombolas em regiões interioranas; além do aumento da dependência tecnológica externa, posto que por ser uma modalidade energética nova é dominada ainda pelas grandes potências econômicas.

Questão 05

Leia o texto e observe o mapa.

Nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Tocantins, Pará e Maranhão, algumas áreas classificadas como Cerrado são, na verdade, partes da Floresta Amazônica. Em outras, ocorre o inverso. Há, ainda, blocos de mata que são uma combinação dos dois tipos de vegetação. Utilizando imagens de satélite atuais, pesquisadores examinaram uma área de 613 mil km2 e reconheceram que a diversidade de formas de vegetação na região dificulta diferenciar Amazônia de Cerrado. Mostraram também que o limite é mais sinuoso e complexo do que os definidos anteriormente entre 1970 e 1985. Como resultado, identificaram-se 151 áreas de Cerrado em áreas anteriormente classificadas como Amazônia e 152.182 km2 de áreas de transição, principalmente no Cerrado. Essas áreas de transição, com os dois tipos de vegetação, podem se estender por até 250 quilômetros de um lado ou de outro da linha atual.


Disponível em https://revistapesquisa.fapesp.br/. Adaptado.

 Acerca do texto e do mapa, responda:

a) Qual o conceito biogeográfico que caracteriza as áreas de transição entre dois biomas?

Comentário:

O conceito biogeográfico que serve para designar as áreas de transição entre dois ou mais biomas circunvizinhos é o ecótono, o qual apresenta como principal aspecto vegetacional a ausência de um padrão botânico definido, posto que apresente ao mesmo tempo feições de ambas as formações adjacentes.

b) Explique como essa transição complexa pode ter impactado as áreas a serem preservadas na floresta Amazônica. Dê um exemplo.

Comentário:

A imprecisão nos limites entre biomas em decorrência dessas faixas de transição vegetacional impacta diretamente sobre a legislação ambiental vigente nas localidades, posto que no caso brasileiro cada bioma apresenta especificidades jurídicas, principalmente no que tange às áreas que devem ser destinadas às reservas legais e aos limites percentuais permitidos para o desmatamento e a ocupação econômica.

Na região especificada pela imagem tem-se os dois maiores biomas do Brasil, sendo o Cerrado uma grande savana tropical e a Amazônia uma densa floresta latifoliada. No caso do Cerrado a Legislação Ambiental estabelece a manutenção de pelo menos 35% da área das propriedades como reserva ambiental, onde não se pode haver o desmatamento ou a implantação de atividades produtivas predatórias. Já no caso da Amazônia essa mesma legislação estipula a manutenção de pelo menos 80% da área como reserva permanente, sendo permitido o desmatamento legal de apenas 20% das propriedades.

Nas faixas de transição demarcadas no mapa, nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão vastas áreas sabidamente pertencentes à Floresta Amazônica são ocupadas segundo a legislação destinada ao Cerrado, o que faz dessas bordas Sul e Leste da Amazônia uma das áreas de maiores índices de desmatamento e queimadas na atualidade, em grande parte por conta da combinação entre a imprecisão cartográfica no mapeamento dessas áreas e da má fé histórica que rege muitas situações fundiárias no Brasil;

c) Os limites entre os biomas brasileiros, vistos a partir dos mapas produzidos entre 1970 e 1985, apresentam diferenças quando comparados com a cartografia dos limites atuais. Descreva a tecnologia utilizada em cada um dos momentos para a produção cartográfica.

Comentário:

Ao longo do tempo as tecnologias passam por sucessivos períodos de avanços técnicos e aprimoramento de suas eficiências, e a Cartografia não passou à margem desse processo de desenvolvimento ao longo do século XX, principalmente após Segunda Guerra Mundial e com o advento a Terceira Revolução Industrial na década de 1970. Sabidamente essa revolução implanta o chamado Meio Técnico-Científico-Informacional e os meios de transportes e telecomunicações sofrem um grande salto evolutivo e a Cartografia se beneficia desse momento desenvolvendo o chamado Sensoriamento Remoto.

Nos mapeamentos citados no texto, ocorridos entre as décadas de 1970 e 1980, foram utilizadas tecnologias e ferramentas introduzidas naquele período histórico, como a aerofotogrametria, que permitiu a produção de um mapeamento do território brasileiro a partir de câmeras acopladas a aviões que sobrevoavam as regiões do país. Para a época foi um avanço considerável, pois era muito mais eficiente que as observações empíricas usadas até então, mas se comparado com as tecnologias atuais ficam muito aquém em termos de precisão.

No período atual, com novos avanços tecnológicos e científicos, novas metodologias de mapeamento foram introduzidas e aperfeiçoadas, e a delimitação das áreas vegetacionais na transição entre os séculos XX e XXI empregam principalmente o imageamento por satélites que orbitam a Terra, produzindo imagens com elevados níveis de detalhamento e atualização muito rápida dos dados, permitindo o acompanhamento da dinâmica ambiental e da ocupação antrópica quase que em tempo real, o que possibilita uma Cartografia muito mais precisa e dados muito mais confiáveis que aqueles de outrora.

Questão 06

O crescimento populacional a partir da década de 1950, no entender da teoria _______________ determinaria a existência de uma população excedente às possibilidades do desenvolvimento econômico nos países do 3º Mundo e, assim, explicaria seu subdesenvolvimento. Ficavam evidentes o receio de comprometer os recursos naturais mundiais e a pressão e ameaça política representadas por essa população excedente. Nessa teoria estava presente o pavor da prolificidade de 'raças inferiores'.

Amélia Damiani. População e Geografia, 1991. Adaptado.

 A partir do excerto,

a) preencha, na Folha de Respostas, qual palavra denomina a teoria.

Comentário:

A teoria demográfica que tem como base conceitual a ideia mencionada no trecho da questão é chamada de Neomalthusiana, e foi formulada durante a Guerra Fria pela Escola de Economia de Chicago, nos Estados Unidos, tendo sido usada como ferramenta de expansão e fortalecimento para o Capitalismo no mundo ocidental.

b) explique dois argumentos que contrariam a teoria citada.

Comentário:

A ideia central defendida pelos neomalthusianos, de que a superpopulação seria a causa primaz da pobreza das nações, é invalidada por uma série de argumentos e aspectos factuais das sociedades, dentre eles pode-se destacar o fato de que a pobreza na verdade decorre das desigualdades sociais e da má distribuição de renda entre as nações e mesmo dentro das próprias nações; ou ainda o fato de a devastação dos recursos naturais não ser consequência direta do crescimento demográfico das nações pobres, mas sim dos elevados graus de produção e consumo observado nas nações mais desenvolvidas.

Pode-se citar ainda o fato de que o combate à pobreza passa, invariavelmente, por políticas e medidas de acesso a renda para as populações mais pobres, e não simplesmente pelo estabelecimento de políticas antinatalistas; e por fim pode-se ainda questionar o fato de os Estados Unidos possuírem à época uma das maiores populações do mundo e ao mesmo tempo ser a economia mais rica do planeta, o que ia totalmente contra a teoria criada e divulgada por eles mesmos.

c) cite e explique uma política social influenciada por essa teoria.

Comentário:

Durante a Guerra Fria muitas nações, principalmente aquelas aliadas aos Estados Unidos, aderiram ao pensamento demográfico neomalthusiano, que foi “vendido” ao mundo ocidental como a receita infalível para se alcançar o desenvolvimento socioeconômico e chegar à posição ocupada pela potência americana, quando na verdade era mais um instrumento de dominação dos aliados geopolíticos no contexto da bipolaridade, na tentativa de conter o avanço do socialismo soviético.

Como exemplo de política social neomalthusiana pode-se citar o caso brasileiro, que durante os anos de regime militar implementou uma política antinatalista, baseada na esterilização em massa, seja pelo acesso facilitado aos métodos contraceptivos, que em alguns momentos chegaram a fazer parte da “cesta básica” do brasileiro ou ainda pela popularização de procedimentos clínicos contraceptivos, com destaque para as laqueaduras, realizadas em larga escala no sistema público de saúde.

Outro exemplo prático da aplicação dos preceitos antinatalistas do pensamento neomalthusiano foi observado na China (mesmo o país não sendo aliado dos Estados Unidos durante a Guerra Fria...), onde o Estado autoritário comandado pelo Partido Comunista Chinês – PCCh implementou a chamada Política do Filho Único, com o objetivo de conter o crescimento populacional no país, aplicando severas multas aos casais que tivessem mais de um filho. Essa política vigorou na nação asiática entre o final da década de 1970 e 2013, quando foi parcialmente abolida (flexibilizada) pelo governo nacional.

Questão 02 (Prova de História)

No dia 18 de setembro de 1850, o Parlamento brasileiro aprovou a lei nº 601 que ficou conhecida como a "Lei de Terras".

a) Indique uma alteração no regime da propriedade fundiária no Brasil, prevista pela lei.

Comentário:

A mudança mais significativa em relação ao regime de propriedade fundiária no Brasil a partir da Lei de Terras de 1850 foi o estabelecimento jurídico de que as terras devolutas (que são aquelas pertencentes ao Estado e ainda não utilizadas economicamente por ele), só poderiam ser adquiridas mediante sua compra, através do seu pagamento a vista e em dinheiro.

b) Quais os beneficiários desse dispositivo jurídico no século XIX?

Comentário:

Os maiores beneficiários desse dispositivo jurídico a partir da segunda metade do século XIX foram o Estado Imperial, que conseguiu adquirir capitais financeiros através da comercialização de terras, pois apesar de deter a sua propriedade formal não obtinha delas quaisquer dividendos financeiros naquela época; e também, e principalmente, as elites oligárquicas do período, relacionadas marcadamente ao Ciclo do Café, que na prática eram as únicas camadas sociais do país com capitais disponíveis para realizar o pagamento pelas terras segundo era estabelecido pela referida lei.

c) Mencione dois efeitos dessa legislação sobre as formas de organização do trabalho na economia cafeeira.

Comentário:

Em relação às formas de organização do trabalho na economia cafeeira a Lei de Terras promoveu significativas mudanças, principalmente relacionadas ao impedimento factual do acesso à terra, inicialmente para a mão de obra imigrante europeia, que não dispunha de capitais acumulados para sua aquisição nos moldes estabelecidos pela lei, e posteriormente para os escravos recém libertos, que igualmente não tinham condições de acumular o capital financeiro para adquiri-las.

Assim houve ao mesmo tempo uma valorização do trabalho assalariado da população imigrante, pois via nesse sistema a única maneira de acumular o dinheiro para futuramente conquistarem sua propriedade fundiária, e também um prolongamento temporal do regime escravocrata, posto que não fosse mais tão atrativo aos europeus vir ao Brasil e não conseguirem comprar imediatamente suas terras; por isso (dentre outras razões) o trabalho escravo foi mantido por ainda 38 anos após a promulgação da Lei Eusébio de Queiros.

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário