Parte 3: Termos e conceitos
essenciais
Por Éder Israel
Após
o entendimento inicial a respeito dos povos que vivem ou são oriundos do
Oriente Médio, devemos buscar a compreensão, mesmo que básica, acerca dos
grupos e movimentos político/sociais que são criados pelos povos dessa região,
que já é conhecida, ocidentalmente, como o grande ‘barril de pólvora’ do mundo,
uma vez que as questões territoriais, culturais e religiosas acabam por
ampliarem as divergências étnicas que permeiam a miscelânea populacional da
região.
Talvez
o maior erro inicial que se cometa ao analisar a dinâmica dos povos do Oriente
Médio e suas relações se encontra quando se cita o termo Jihad. Pronto, sempre tem alguém
que ouviu nos noticiários ou leu alguma notícia dizendo que algum país do Oriente
Médio declarou uma Jihad, ou seja: uma Guerra Santa... Lá se vai você associar
a palavra Jihad a conflito, a atentados terroristas, a guerras religiosas e por
aí vai...
Não
é bem assim gente, essa ideia de que o significado do termo Jihad é ‘Guerra
Santa’ decorre do pensamento europeu acerca dos povos do Oriente Médio, e como
tudo que europeu fazia no passado o restante do mundo imitava... o mundo passou
a cometer esse grave erro conceitual. Na realidade, o termo Jihad tem seu
significado literal, segundo os grupos étnicos que o criaram de representar na
verdade o empenho, a luta e o esforço dos povos Árabes para que a fé islâmica
ultrapassasse todas as barreiras e limites, até tornar-se o pilar religioso do
mundo.
A
visão dos europeus acerca do termo Jihad pode ser consequência das ações árabes
ao longo da história na busca da expansão da fé islâmica pelo mundo, invadindo,
conquistando e ‘civilizando’ povos sob os preceitos dos ensinamentos de Maomé.
Algo “próximo” ao que se observara nas cruzadas dos cristãos pelo mundo, quando
entraram também em conflitos com povos e grupos étnicos não afeitos ao catolicismo,
porém aos olhos ocidentais dos europeus as cruzadas não foram uma espécie de
conflito religioso, porém com a Jihad a coisa foi um pouco diferente. “Esses
europeus...” digo, “esses ocidentais...” Portanto, houveram de fato conflitos
na expansão do islamismo no mundo, e segundo a fé dos Muçulmanos isso é
considerado um esforço ou empenho em nome de Alá, por isso chamaram de Jihad,
mas todas as outras coisas feitas em nome da fé, sejam elas belicosas ou pacíficas,
é considerada uma Jihad.
Há
de se destacar que dentro do próprio Oriente Médio são criadas bases sólidas
para que o mundo ocidental tenha o termo Jihad como sendo um sinônimo de
guerra, conflito e violência, pois na Palestina, desde 1970, um grupo radical
se “apropriou” do termo para dar nome ao seu movimento religioso e político, o
qual é conhecido como Jihad Islâmica, que realiza ações terroristas na Faixa de
Gaza, tendo por intuito a eliminação do Estado do Israel e o estabelecimento de
um Estado Islâmico sob controle dos palestinos. Isso, somada à opinião
equivocada da Europa acerca do termo Jihad, sustenta o erro conceitual que
observamos hoje no ocidente.
Outro
termo utilizado amplamente na atualidade é o Califado, principalmente quando se
relaciona às ações do Estado Islâmico (que discutiremos posteriormente nessa
série de textos), porém muito se fala sobre esse Califado, mas na mesma proporção
que se lê/ouve este termo nas reportagens surgem as dúvidas a respeito do que
ele de fato significa. Pois bem, vamos a ele.
O
termo Califado deriva do sistema que era adotado nos primórdios do islamismo,
quando Maomé ainda era vivo. O Profeta era considerado o líder supremo da fé
islâmica, e portanto era chamado de Califa. Hoje quando o Estado Islâmico
propõe a criação de um Califado, que inicialmente abrangeria áreas conquistadas
por este grupo terrorista no Iraque e na Síria, e esta Califado iria se
expandindo à medida que novos países fosse conquistados/invadidos pelo grupo
extremista, como demonstra o mapa a seguir.
Disponível
em: < http://www.defesanet.com.br/site/upload/news_image/2014/07/21013.jpg>
acesso 22 fev. 2015
O
Califado, segundo o Estado islâmico, traria de volta as bases históricas do
Islamismo, pois criaria um Estado religioso no qual o líder máximo da “fé” dos
muçulmanos, no caso o Califa, governaria o povo segundo o que considera certo
ou errado. Assim, volta-se ao que foi discutido no nosso primeiro texto quando
fora dito que o islamismo tradicional proposto pelo Profeta transcende os
campos políticos, sociais, religiosos e econômicos, pois a figura do Califa tem
poder supremo sobre tudo e sobre todos, mais ou menos o que o Estado Islâmico
tenta implantar atualmente em seu “Califado”.
Cabe
aqui um parêntese de suma importância, para que não nos deixemos levar pela ocidentalização
do pensamento islâmico, posto que não é coerente e muito menos correto que
aquilo que o Estado Islâmico tenta estabelecer naquela porção territorial entre
a Síria e o Iraque seja exatamente o proposto por Maomé no Alcorão. Antes
disso, trata-se apenas de uma leitura feita pelos líderes desse movimento
extremista em relação às escrituras sagradas para os Muçulmanos. O que busco
aqui é apenas uma relação entre o Califado de agora e aquele de outrora, embora
ambos deem ao Califa poderes sobre política economia e religião, porém o modo
como esse Califa usará esse poder é atualmente bem diferente daquele proposto
nas escrituras de Maomé. Vai com calma aí, José...
Com
o teórico estabelecimento de um Califado, embora este seja reconhecido apenas
pelo Estado Islâmico e aceito na marra por aqueles que ele ameaça cortar a
cabeça ou queimar vivo(...) o autoproclamado Califa tem plenos poderes para
estabelecer a Sharia,
que trata-se da Lei Islâmica, ou grosso modo, da lei que surge a partir das
escrituras sagradas para os Muçulmanos. Aí reside o grande problema, pois a
aplicação desta lei depende da interpretação que o Califa faz das escrituras do
Profeta Maomé, portanto, cada interpretação subjetiva dá origem a uma
aplicabilidade totalmente diferente da Lei Islâmica, daí surgem as ações que
chocam não só o ocidente, mas também afasta cada vez mais os próprios Muçulmanos
desse regime extremistas estabelecido por esse grupo.
Resta-nos
saber até onde o poder de ameaça e persuasão dos líderes do Estado Islâmico conseguirá
estender esse (pseudo)Califado para além dos territórios entre a Síria e o
Iraque, e mais que isso, quanto tempo o mundo levará para tomar duas atitudes:
a primeira que seria a mais fácil, de intervir nos conflitos que ceifam vidas
aos milhares no Oriente Médio por conta dessa leitura extremista e desprovida
de racionalidade do Alcorão pelos adeptos do Estado Islâmico, e a segunda (e ao
meu ver a mais difícil) que é superar a ideia de que o Estado Islâmico
representa o Islamismo. Trata-se na verdade de uma visão equivocada daquilo que
as escrituras ditas sagradas trazem/dizem. Me lembro que já queimaram pessoas vivas no
passado pela mesma razão, mas enfim...
Continua...
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