segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

SIMPLIFICANDO O ORIENTE MÉDIO PARA O VESTIBULAR - Parte 3: Termos e conceitos essenciais


Parte 3: Termos e conceitos essenciais
Por Éder Israel

Após o entendimento inicial a respeito dos povos que vivem ou são oriundos do Oriente Médio, devemos buscar a compreensão, mesmo que básica, acerca dos grupos e movimentos político/sociais que são criados pelos povos dessa região, que já é conhecida, ocidentalmente, como o grande ‘barril de pólvora’ do mundo, uma vez que as questões territoriais, culturais e religiosas acabam por ampliarem as divergências étnicas que permeiam a miscelânea populacional da região.

Talvez o maior erro inicial que se cometa ao analisar a dinâmica dos povos do Oriente Médio e suas relações se encontra quando se cita o termo Jihad. Pronto, sempre tem alguém que ouviu nos noticiários ou leu alguma notícia dizendo que algum país do Oriente Médio declarou uma Jihad, ou seja: uma Guerra Santa... Lá se vai você associar a palavra Jihad a conflito, a atentados terroristas, a guerras religiosas e por aí vai...

Não é bem assim gente, essa ideia de que o significado do termo Jihad é ‘Guerra Santa’ decorre do pensamento europeu acerca dos povos do Oriente Médio, e como tudo que europeu fazia no passado o restante do mundo imitava... o mundo passou a cometer esse grave erro conceitual. Na realidade, o termo Jihad tem seu significado literal, segundo os grupos étnicos que o criaram de representar na verdade o empenho, a luta e o esforço dos povos Árabes para que a fé islâmica ultrapassasse todas as barreiras e limites, até tornar-se o pilar religioso do mundo.

A visão dos europeus acerca do termo Jihad pode ser consequência das ações árabes ao longo da história na busca da expansão da fé islâmica pelo mundo, invadindo, conquistando e ‘civilizando’ povos sob os preceitos dos ensinamentos de Maomé. Algo “próximo” ao que se observara nas cruzadas dos cristãos pelo mundo, quando entraram também em conflitos com povos e grupos étnicos não afeitos ao catolicismo, porém aos olhos ocidentais dos europeus as cruzadas não foram uma espécie de conflito religioso, porém com a Jihad a coisa foi um pouco diferente. “Esses europeus...” digo, “esses ocidentais...” Portanto, houveram de fato conflitos na expansão do islamismo no mundo, e segundo a fé dos Muçulmanos isso é considerado um esforço ou empenho em nome de Alá, por isso chamaram de Jihad, mas todas as outras coisas feitas em nome da fé, sejam elas belicosas ou pacíficas, é considerada uma Jihad.

Há de se destacar que dentro do próprio Oriente Médio são criadas bases sólidas para que o mundo ocidental tenha o termo Jihad como sendo um sinônimo de guerra, conflito e violência, pois na Palestina, desde 1970, um grupo radical se “apropriou” do termo para dar nome ao seu movimento religioso e político, o qual é conhecido como Jihad Islâmica, que realiza ações terroristas na Faixa de Gaza, tendo por intuito a eliminação do Estado do Israel e o estabelecimento de um Estado Islâmico sob controle dos palestinos. Isso, somada à opinião equivocada da Europa acerca do termo Jihad, sustenta o erro conceitual que observamos hoje no ocidente.

Outro termo utilizado amplamente na atualidade é o Califado, principalmente quando se relaciona às ações do Estado Islâmico (que discutiremos posteriormente nessa série de textos), porém muito se fala sobre esse Califado, mas na mesma proporção que se lê/ouve este termo nas reportagens surgem as dúvidas a respeito do que ele de fato significa. Pois bem, vamos a ele.

O termo Califado deriva do sistema que era adotado nos primórdios do islamismo, quando Maomé ainda era vivo. O Profeta era considerado o líder supremo da fé islâmica, e portanto era chamado de Califa. Hoje quando o Estado Islâmico propõe a criação de um Califado, que inicialmente abrangeria áreas conquistadas por este grupo terrorista no Iraque e na Síria, e esta Califado iria se expandindo à medida que novos países fosse conquistados/invadidos pelo grupo extremista, como demonstra o mapa a seguir.


Disponível em: < http://www.defesanet.com.br/site/upload/news_image/2014/07/21013.jpg> acesso 22 fev. 2015

O Califado, segundo o Estado islâmico, traria de volta as bases históricas do Islamismo, pois criaria um Estado religioso no qual o líder máximo da “fé” dos muçulmanos, no caso o Califa, governaria o povo segundo o que considera certo ou errado. Assim, volta-se ao que foi discutido no nosso primeiro texto quando fora dito que o islamismo tradicional proposto pelo Profeta transcende os campos políticos, sociais, religiosos e econômicos, pois a figura do Califa tem poder supremo sobre tudo e sobre todos, mais ou menos o que o Estado Islâmico tenta implantar atualmente em seu “Califado”.

Cabe aqui um parêntese de suma importância, para que não nos deixemos levar pela ocidentalização do pensamento islâmico, posto que não é coerente e muito menos correto que aquilo que o Estado Islâmico tenta estabelecer naquela porção territorial entre a Síria e o Iraque seja exatamente o proposto por Maomé no Alcorão. Antes disso, trata-se apenas de uma leitura feita pelos líderes desse movimento extremista em relação às escrituras sagradas para os Muçulmanos. O que busco aqui é apenas uma relação entre o Califado de agora e aquele de outrora, embora ambos deem ao Califa poderes sobre política economia e religião, porém o modo como esse Califa usará esse poder é atualmente bem diferente daquele proposto nas escrituras de Maomé. Vai com calma aí, José...

Com o teórico estabelecimento de um Califado, embora este seja reconhecido apenas pelo Estado Islâmico e aceito na marra por aqueles que ele ameaça cortar a cabeça ou queimar vivo(...) o autoproclamado Califa tem plenos poderes para estabelecer a Sharia, que trata-se da Lei Islâmica, ou grosso modo, da lei que surge a partir das escrituras sagradas para os Muçulmanos. Aí reside o grande problema, pois a aplicação desta lei depende da interpretação que o Califa faz das escrituras do Profeta Maomé, portanto, cada interpretação subjetiva dá origem a uma aplicabilidade totalmente diferente da Lei Islâmica, daí surgem as ações que chocam não só o ocidente, mas também afasta cada vez mais os próprios Muçulmanos desse regime extremistas estabelecido por esse grupo.

Resta-nos saber até onde o poder de ameaça e persuasão dos líderes do Estado Islâmico conseguirá estender esse (pseudo)Califado para além dos territórios entre a Síria e o Iraque, e mais que isso, quanto tempo o mundo levará para tomar duas atitudes: a primeira que seria a mais fácil, de intervir nos conflitos que ceifam vidas aos milhares no Oriente Médio por conta dessa leitura extremista e desprovida de racionalidade do Alcorão pelos adeptos do Estado Islâmico, e a segunda (e ao meu ver a mais difícil) que é superar a ideia de que o Estado Islâmico representa o Islamismo. Trata-se na verdade de uma visão equivocada daquilo que as escrituras ditas sagradas trazem/dizem. Me lembro que já queimaram pessoas vivas no passado pela mesma razão, mas enfim...


Continua...







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