terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

SIMPLIFICANDO O ORIENTE MÉDIO PARA O VESTIBULAR - Parte 1: Povos




Parte 1: Povos
Por Éder Israel

Aos nossos olhos, ocidentais e etnocêntricos, falar sobre o Oriente Médio torna-se algo confuso e cheio de meandros que geralmente desencadeiam uma onda de preconceitos e pré-julgamentos que acabam por colocar no mesmo grupo de análise as pessoas que simplesmente seguem suas vidas com base nas escrituras do Alcorão e aquelas que fazem dele a leitura deturpada que melhor lhe convém e espalham pelo mundo o terrorismo e o extremismo religioso, o que torna aos “olhos do mundo” um seguidor do Islã em um terrorista suicida e facínora.

Para complicar ainda mais a situação, chega-nos informações desencontradas acerca de Xiitas, Sunitas, Curdos, Árabes, Muçulmanos, Islâmicos... Quem é quem nisso tudo?? Quem são os bandidos e quem são os mocinhos?? Há de fato bandidos e mocinhos?? Ainda nos chegam notícias de um tal de Estado Islâmico, misturado com Al qaeda, com Talibã, com Califado, seguidores de uma tal Suna, pregando uma Sharia, declarando uma Jihad... Meu Deus! (ou Ala!, ou Buda!...) é coisa demais para uma cabeça só...

Mas vamos lá, tentar entender ao menos um pouco disso tudo...

Uma das primeiras coisas que se faz necessária para a discussão é entender a diferença entre os Xiitas e os Sunitas, isso vai ajudar bastante a compreender a secular disputa que existe entre esses dois grupos religiosos antagônicos e rivais dentro da religião Islâmica.

As disputas entre esses dois grupos, e sua separação propriamente dita, se deu após a morte do Profeta Maomé, autor do Alcorão, o livro sagrado para a religião islâmica. Com a morte do líder desta religião, que na verdade se confundia com política e economia, deu-se início uma disputa interna para decidir quem deveria suceder o Profeta no “controle” da religião. Nesse contexto de transição do poder a ideia inicial era que Abu Bakr e Omar, sogros de Maomé, escolhessem o novo líder do Islã, uma vez que detinham o posto de Califa e naturais sucessores do Profeta. Em meados do século VII os califas decidiram que o genro de Maomé, Othman, deveria assumir o posto de líder supremo da religião, o que descontentou árabes recém convertidos ao Islã. Othman durou pouco no cargo, sendo assassinado após assumir o lugar de Maomé...

Com a morte de Othman, assumiu o poder outro Califa, chamado Ali, que era por sua vez primo de Maomé. Ali foi acusado posteriormente de tramar o assassinato de Othman e acabou sendo assassinado também por grupos que eram contrários ao seu califado. Com a morte de Ali, quem assume o poder no Islã é Muhawya, que não tinha laços sanguíneos diretos com Maomé, fato que gerou a criação de um grupo contrário ao seu direito de ser Califa e outro favorável, estabelecendo assim os Xiitas e Sunitas respectivamente.

Entende-se (de modo simples e direto) como sendo Xiitas os membros de um grupo minoritário dentro do Islã que defende que a sucessão de Maomé deva ser realizada apenas por indivíduos que possuam laços sanguíneos com o Profeta, e que as escrituras sagradas do Islã devem ser seguidas do modo tradicional, através de uma leitura com base naquela que era feita ainda nos tempos de Maomé. Assim, para os Xiitas, deve-se seguir na vida a Lei Islâmica acima de todas as demais coisas e leis, e a vida dos islâmicos deve obedecer a um código de regras e dogmas supremos propostos ainda pelo Profeta no Alcorão, o que estabelece a Sharia.

Esta Sharia, tão discutida, comentada e afirmada atualmente nos meios de mídia de massa significa “ao pé da letra” fazer da sua vida algo muito próximo à vida que se levava no período em que Maomé escrevera o Alcorão. Trata-se de uma leitura tradicional, ortodoxa e literal das escrituras sagradas, que acaba por retomar as bases clássicas do Islã, uma vez que esta religião encontra-se intimamente ligada à vida política das populações. Assim, a Sharia seria a obediência às leis sagradas estabelecidas pelo Profeta em suas escrituras.

Por outro lado existe um grupo majoritário que pratica o Islamismo sob uma ótica “mais moderna” (sei que não é uma ideia interessante essa de religião mais moderna, mas enfim...) este grupo representa os Sunitas, cujo nome deriva da Suna, um livro sagrado no qual são narradas histórias de grandes ações realizadas por Maomé e um conjunto de regras morais a serem seguidas segundo as lições do criador do Islã. Mas vamos com calma, pois os sunitas não abandonaram o Alcorão para seguir a Suna; esse grupo segue as leis islâmicas, porém se valem também da leitura desse segundo livro sagrado, diferentemente dos Xiitas que baseiam-se apenas na leitura do Alcorão.

Juntamente aos Xiitas e Sunitas, os Curdos são sempre citados quando o assunto é Oriente Médio e conflitos étnicos nessa região. Mas afinal, quem são e o que querem os Curdos?

Os Curdos correspondem hoje ao maior grupo étnico que não tem uma terra para chamar de sua. Se autodeclaram oriundos e proprietários de um território que chamam Curdistão, o qual se estende por uma série de países tais como a Turquia, Irã, Iraque. Síria, dentre outros. Segundo consta existem hoje mais de 25 milhões de pessoas no mundo que se declaram curdas, sendo que a quase totalidade se encontra nos países onde afirmam localizar-se sua “terra natal”.

O grande problema com relação aos Curdos se dá exatamente aí, no que se relaciona a seu território, pois reivindicam para si uma área que abrange parcelas dos territórios de várias outras nações autônomas. No Iraque por exemplo os Curdos ocupam historicamente uma área localizada em uma das maiores jazidas de petróleo do país, o que levou no passado o governo do líder Sunita, Saddam Hussein, a lançar mão de ataques com armas químicas com o intuito de eliminar a população curda e ter acesso pleno às reservas do combustível fóssil.

Após os ataques químicos e o enfraquecimento do governo de Hussein o Iraque se viu obrigado a criar uma zona de segurança e “permitir” a permanência dos Curdos nessa região, pelo menos enquanto a mídia internacional estiver de olho... Assim, em grande parte dos países da região, os Curdos são considerados invasores e uma ameaça à estabilidade e ao direito soberano das nações sobre seu território nacional. Falaremos um pouco mais sobre os Curdos em breve quando estivermos discutindo Estado Islâmico.

Por hora, sinto apenas uma vontade enorme de fazer uma relação entre o povo curdo em sua busca por território e os judeus após a Segunda Guerra Mundial, mas vou tentar me conter por dois motivos: primeiro por que são povos diferentes e em situações completamente diferentes, e segundo por que a solução para o primeiro caso não foi tão bem feita assim...

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário