Disponível em: <https://sandromeira12.files.wordpress.com/2011/04/fidel.jpg> acesso em 02 fev. 2015
Ato 3: ¡Viva
la revolución! ¿Pero porque entonces ella se está muriendo?
Por Éder Israel
Tomado
o poder em 02 de janeiro de 1959 tem início uma nova fase política e econômica
em Cuba, sob comando do grupo capitaneado pelos irmãos Castro. Fidel Castro não
assume imediatamente o poder político da ilha, mas o faz em um momento posterior
à “derrubada” da ditadura de Fulgêncio Batista.
As
primeiras medidas políticas do novo governo foram voltadas para alguns dos
problemas que o grupo considerava mais graves na sociedade cubana, tais como as
desigualdades sociais e a concentração de renda. Cabe mencionar que o novo
governo estava inicialmente longe de tornar-se um antagonismo diametral do
período de Batista, pois os tribunais sumários comandados por Ernesto Guevara
lançava mão do uso rotineiro dos pelotões de fuzilamento como medida cabal aos partidários
do antigo regime e seus apoiadores. A violência não foi plena e instantaneamente
abolida dos parâmetros políticos de Cuba...
Mas
no que tange às reformas propostas pelo novo governo implementado, observou-se
em Cuba uma intensa e factual reforma agrária expropriando muitas das grandes
propriedades da secular oligarquia açucareira (em crise...), nacionalização/estatização
de empresas estrangeiras e nacionais de setores tidos como estratégicos pelo
Estado, além de foco político inegável em setores sociais, como saúde e
educação públicas. Nada mais ‘justo’, dado o apoio da população mais pobre ao pequeno
grupo que se refugiou em Sierra Mestra após o retorno de Fidel e seus camaradas
do México em 1956...
Diferente
do que se pode deduzir ou induzir, Fidel Castro chega ao poder e não dá início
imediato à implantação de um ideário completa marcadamente socialista, embora
houvessem em seus ideais alguns pensamentos relacionados àqueles observados na
União Soviética, porém, o nacionalismo e o anti-imperialismo estadunidense foram
muito mais pontuais em seus atos durante o período da guerrilha, tanto que
inicialmente o presidente Dwight Eisenhower não via o governo cubano como uma
ameaça iminente à hegemonia dos Estados Unidos no mundo capitalista, assim como
seu sucessor, John F. Kennedy, que embora não tenha demonstrado clara afeição
ao governo de Fidel Castro, manifestou (em tom de arrependimento, é bem
verdade...) que a ditadura de Fulgêncio Batista foi um dos capítulos mais
sangrentos e desqualificável da política latino americana, chegando a fazer,
Kennedy, uma meia culpa do governo de Washington DC às atrocidades e corrupção do
ex-ditador cubano.
Entretanto,
as políticas nacionalistas e marcadamente anti-dependência estadunidense começaram
a preocupar os governos da América do Norte, que começaram a acompanhar de
perto as ações do novo governo cubano e a contabilizar as perdas com a
nacionalização econômica por ele realizada, tanto que o próprio Eisenhower
começou a arquitetar um plano estratégico com o intuito de dar o golpe no
governo de Fidel que havia dado o golpe em Fulgêncio Batista que por sua vez
deu um golpe no governo de Socarrás. Seria um golpe ao contragolpe do golpe
(que treta sinistra...).
Eisenhower
não conseguiu colocar em prática sua estratégia, cabendo a John F. Kennedy fazê-lo.
Assim, em abril de 1961 o presidente estadunidense juntamente com a Central Intelligence Agency (CIA)
realizaram a primeira ofensiva factual ao governo de Castro, utilizando alguns aviões
disfarçados para atacar bases militares de Fidel. Um fracasso total... Porém
após o evento as relações entre as nações foram colocadas em cheque, e aos
Estados Unidos não seria conveniente o recuo. Dias depois a CIA lidera um grupo
de exilados/foragidos do governo castrista, que viviam nos Estados Unidos, em
uma nova tentativa de golpe, atacando duas praias na Baía dos Porcos, seria o
segundo fracasso primeiros 4 meses do governo Kennedy. As forças militares de
Fidel conseguiram debelar e liquidar a tentativa de invasão em menos de 3 dias.
Tanto o ataque com as aeronaves, quanto a tentativa frustrada de invasão da
Baía dos Porcos faziam parte da Operação
Mangoose, que tinha o intuito de retirar Fidel do poder e manter a
dominação estadunidense na América Central.
Mas
os tiros acabaram saindo pela culatra, pois a cada tentativa frustrada de
destituir o governo de Fidel Castro os Estados Unidos aproximava ainda mais a
população do presidente que teoricamente estava mantendo longe de Cuba a exploração
e a dependência imperialista que dominava a ilha centro americana desde a independência
espanhola. E como nada é tão ruim que não possa ficar pior (nesse caso para os
Estados Unidos...), a cada nova investida do governo Kennedy que era rechaçada
por Fidel, o governo cubano se aproximava ainda mais da União Soviética e do
Comunismo(sic), exatamente o que os estadunidenses não precisavam no contexto
da Guerra Fria...
Cuba
iniciou uma aproximação factual do regime socialista implantado nos países do
leste europeu, passando a adotar componentes políticas e administrativas cada
vez mais afeitas ao modelo de administração soviético, o que trazia uma
preocupação extra para a administração Kennedy, que via a sombra do
Comunismo(sic) se avultar cada vez mais da porta estadunidense. Era um risco
sem precedentes para a “estabilidade” política da América Latina, que seguia os
preceitos e as políticas ditadas por Washington DC.
A
situação degringolou de vez em outubro de 1962, quando os voos espiões dos
Estados Unidos identificaram em Cuba instalações militares que estariam sendo utilizadas
pelo governo do Kremlin para armazenar mísseis balísticos capazes de
transportar ogivas nucleares. Posteriormente a União Soviética confirmou que
havia de fato encaminhado mísseis nucleares a Cuba em resposta a ação anterior
do governo dos Estados Unidos, que instalara em 1961 bases de lançamento de
mísseis nucleares na Turquia e Itália, próximo portanto das fronteiras
soviéticas. O episódio ficou conhecido como a Crise dos Mísseis, e colocou em
cheque a segurança mundial em relação a um holocausto nuclear, criando um clima
sombrio e angustiante que se arrastou por 13 dias em outubro de 1962.
Nikita
Kruschev, então líder da União Soviética, alegava que a intenção dos mísseis
era estritamente defensiva, mas Washington DC afirmava que ter tais armamentos
a menos de 500 quilômetros de suas fronteiras representava de fato uma ação de
guerra contra os Estados Unidos, e que os impactos e desdobramentos de um conflito
nuclear se alastraria pelo mundo com proporções e consequências incalculáveis e
inimagináveis. A situação levou os Estados Unidos a colocarem Cuba sob quarentena comercial (um modo
politicamente correto de dizer bloqueio), haja visto que mencionar o bloqueio
poderia ser considerado um ato de guerra contra o governo cubano e por
conseguinte ao governo do Kremlin.
Durante
o período da ‘quarentena’ todos os
navios que se dirigiam a Cuba, principalmente os soviéticos, eram escoltados
pela marinha estadunidense e em vários casos vistoriados a procura de
armamentos e recursos militares que poderiam estar sendo enviados para a ilha.
Porém de modo material a estratégia não conseguiu grandes resultados práticos,
pois a maioria dos produtos transportados pelos navios estrangeiros eram
mercadorias industriais simples e legalizadas. Mas inegavelmente isso levava a
uma intensificação da animosidade entre Havana, Washington DC e Moscou.
A
situação se tornava cada vez mais complicada, e não se dissolveu nem quando
Nikita Kruschev chegou a um acordo com Kennedy, que determinara a retirada dos
mísseis balísticos soviéticos de Cuba em troca da desmontagem dos armamentos
estadunidenses que se encontravam na Turquia, porém o estrago político já
estava feito, e a Guerra Fria nunca fora tão quente... Houve o “recuo” militar
de ambos os lados, mas a escalada da divisão do mundo em dois grandes blocos
políticos e econômicos distintos estava materializada e cada vez mais clara aos
olhos de quem quisesse ver!
Esta
conjuntura geopolítica da América, associada a expansão do socialismo a partir
do leste europeu, tornou a situação insustentável entre Cuba e Estados Unidos,
que romperam de vez os últimos e finos fios que mantinham relações políticas
entre as duas nações, culminando na expulsão da ilha caribenha da Organização
dos Estados Americanos – OEA, e ao início de um embargo econômico, que na
prática foi apenas uma espécie de prolongamento e ampliação daquilo que
Washington DC chamava anteriormente de quarentena
comercial.
O
embargo foi imposto em 1962 pelos Estados Unidos, porém converteu-se em um dispositivo
legal (com efeito de lei) em 1992, e estabeleceu regras cada vez mais rígidas
para o comércio externo cubano, entretanto há de se destacar aqui que as
relações econômicas entre a ilha de Fidel e a “América” não foram completamente
rompidas e eliminadas, passaram apenas a obedecer a uma série de
regulamentações e parâmetros técnicos, obviamente sempre estabelecidos em
benefício estadunidense, que tinha como pano de fundo reduzir os ganhos
financeiros do governo de Fidel Castro e consequentemente minar os
investimentos sociais do governo cubano, os quais mantinham uma relação
positiva entre o presidente e a população do país, bem diferentemente do
controle exercido pela potência norte americana em tempos de Fulgêncio Batista...
Os
anos que se seguiram nessa segunda metade do século XX trouxe uma dicotomia
importante para o governo de Havana, pois se por um lado o governo cubano
conseguiu manter cada vez mais longe a influência/dominação política direta dos
Estados Unidos, o que tanto se intencionava nos anos mais severos da ditadura
militar no país, porém por outro lado colocava essa teórica estabilidade
interna cada vez mais suscetível e dependente da nova potência aliada, pois era
cada vez mais marcante o modelo soviético na política e economia na ilha de
Fidel.
Aí
começam as complicações para Cuba, uma vez que a acentuação das normas e as consequências
do embargo comercial imposto pelos Estados Unidos, que diminuía a quantidade de
capitais para o Estado realizar investimentos sociais que pontuaram o início do governo castrista, dava brechas para
o surgimento (ainda que sutil, quem sabe se por falta de interesse interno ou
por pressão e uso da força do aparelho estatal...) de alguns focos de oposição ao
presidente, situação essa que viria a se somar com a crise interna que começava
a implodir o modelo socialista no leste europeu, que já dava sinais de que
caminharia para um processo de transição à economia de mercado, conforme fora
observado mais tarde nas propostas e reformas implementadas por Mikhail
Gorbachev na passagem dos anos 1980 para os anos 1990.
Seria,
aos olhos de observadores afeitos aos interesses estadunidenses ou do sistema
capitalista (que no final das contas dá no mesmo...), sinais claros da
derrocada do modelo socialista e do governo comandado pelos irmãos Castro. Mas
essa visão era por demais otimista e superficial, pois embora inegavelmente as
condições dessem a entender a crise que se aproximava, as bases políticas do
governo cubano ainda ofereceria ao modelo nacional uma sobrevida mais longa que
aquela observada na (quase extinta nesse momento) União Soviética. O governo de
Washington DC deveria lançar mão de alguns subterfúgios políticos e econômicos para
acelerar a crise interna em Cuba e aproveitar a ‘onda’ de crises no mundo
socialista.
No
final da década de 1990 o presidente Bill Clinton ampliou ainda mais as regras
e sanções do embargo econômico a Cuba, estabelecendo que nem mesmo as filiais
de empresas dos Estados Unidos que se localizassem fora do território
estadunidense deveria seguir as regras do embargo, podendo negociar mercadorias
apenas até um valor limite, que ficou estabelecido em US$ 700 milhões anuais.
Cabe mencionar que na transição do século XX para o XXI trouxe também algumas
flexibilizações nas relações comerciais entre as duas nações (embora o embargo tenha
se ampliado entre outros setores...), por exemplo o governo cubano poderia
importar alimentos estadunidenses, desde que o produto fosse pago (a vista) ainda
antes de sair dos portos estadunidenses. A questão humanitária (aqui sem juízo
de valores ou das segundas intenções escamoteadas...) também é contemplada por
esta flexibilização, em casos excepcionais como os furacões e tempestades que
varrem costumeiramente o Caribe e criam situações de calamidade, que podem suscitar
o envio de alimentos, medicamentos ou ajuda dos Estados Unidos.
Ao
mesmo tempo que a União Soviética de dissolvia no tempo e materializava o
fracasso daquela experiência de implantação do socialismo na Europa, o embargo
ampliava a penúria econômica a Cuba e uma oposição (geralmente clandestina)
atuava decisivamente como propaganda externa contrária ao regime adotado por
Fidel Castro. Contudo, a opinião pública começava também a contabilizar o peso
das práticas estadunidenses aos problemas econômicos do governo de Havana,
passando até mesmo a Organização das Nações Unidas (que factualmente apoia as
ações estadunidenses...) a criticar até que ponto o embargo se fazia de fato
necessário em um mundo posterior a bipolaridade da Guerra Fria. Mesmo dentro
dos Estados Unidos havia quem contestasse a eficiência do bloqueio, alegando
que ele dava a Fidel uma justificativa plausível para os questionamentos que
eram feitos sobre suas ideias políticas e econômicas, havia claro o discurso de
que “Camarada, se não houvesse o embargo
as coisas para nós seriam diferentes...”.
Assim,
é passível de dedução e observação o fato de que travava-se uma “guerra” na América,
que embora no seu início tivesse uma relação direta com a Guerra Fria, em seus
capítulos finais se arrastava para além dessa disputa bipolar do período
posterior a Segunda Guerra mundial, e que do ponto de vista econômico não mais
se sustentava... Nesse contexto, a saída (ainda que de modo teórico e técnico)
de Fidel Castro do governo cubano em 2008 pode ser considerado um marco
histórico para a mudança de opinião do governo de Washington DC sobre a
validade do embargo. Embora Fidel tenha renunciado ao poder presidencial (se
bem que tenha colocado seu irmão, Raul Castro de 77 anos de idade, na presidência,
afirmando que iria iniciar-se uma renovação política no país... Ah, menos né
Fidel...) em um primeiro momento o governo dos Estados Unidos não deu claras demonstrações
de eliminar o bloqueio ou retomar as relações diplomáticas com os cubanos, isso
viria depois de se ter um certo conhecimento sobre as políticas de Raul.
Foi
na campanha eleitoral de 2008 que os Estados Unidos materializaram de fato as
intenções de reaproximar diplomaticamente da ilha de Fidel (ou Raul...), quando
o então candidato Barack Obama prometeu, entre outras coisas, que iria promover
o fechamento da Base Naval de Guantánamo, que funciona atualmente como um
prisão (embora fosse mais apropriado o termo depósito...) de criminosos
suspeitos ou condenados por terrorismo após os ataques de 11 de setembro de
2001. Obama está atualmente em seu segundo mandato, e nem sinal de fechamento
da base/prisão... Embora Raul Castro tenha assumido uma postura bem mais “gente
boa” com relação ao governo de Washington DC do que o fazia Fidel.
Soma-se
a isso o estabelecimento de uma aproximação política e econômica cada vez maior
entre Cuba e a América do Sul, muito por conta da convergência ideológica entre
o governo de Havana e os governos de Venezuela e Bolívia, assim como a ampliação
das relações econômicas e comerciais do governo cubano e o governo brasileiro
nos últimos anos, tornando o embargo comercial da potência norte americana cada
vez menos eficaz contra o país caribenho. Em resumo, Cuba depende cada vez
menos de Washington DC, enquanto a economia estadunidense depende cada vez mais
de si mesma e das economias externas, principalmente após a explosão da bolha imobiliária em 2008/2009.
Obama
dizer em 2014 que vai pôr fim ao embargo econômico a Cuba pode trazer impactos
(positivos, principalmente) muito maiores na economia estadunidense do que na
cubana, haja visto que os investimentos externos, principalmente sul americanos,
ainda em fase inicial pode estar criando melhores condições de consumo interno
em Cuba, e sim, Obama está de olho não só nesse, mas em qualquer mercado
consumidor que se apresente ao seu país.
Em
momentos de crise, amigos são aqueles que nos estão mais 'próximos'...
Em
tempo, quanto o Oriente Médio, creio que o governo estadunidense esteja
esperando uma solução daquelas miraculosas com relação ao Estado Islâmico, pois
intervir lá agora pode ser perigoso, eles têm facas... Já o Iraque, depois do
petróleo a gente vê o que faz. Por enquanto foquemos em Cuba, pois charutos
estão na moda!
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