Parte 2: Mais povos
Por Éder Israel
Creio
que Xiitas, Sunitas e Curdos sejam apenas a ponta de um enorme iceberg de
povos, grupos étnicos que vivem ou têm origem nessa região do Oriente Médio.
Porém uma das grandes complicações pode surgir quando se discute a respeito de Árabes,
Islâmicos e Muçulmanos, pois são tratados comumente como sinônimos, mas a coisa
não é bem assim não, José...
Tentemos
portanto colocar os pingos em seus devidos “is”...
Os
Islâmicos são representados por aqueles que seguem a religião criada por volta
do século VII por Maomé, e portanto utilizam o Alcorão como Livro Sagrado e
parâmetro de regra para seu modo de vida. Assim, Xiitas e Sunitas são duas
vertentes distintas dentro do Islamismo, conforme fora discutido no texto anterior.
O povo islâmico porém extravasa os limites territoriais do Oriente Médio, pois
o islamismo se expande de modo acentuado e contínuo para a África
(principalmente sua porção norte) e Ásia (principalmente Índia e Indonésia).
O
termo Muçulmano sim pode ser utilizado como similar ao islâmico, pois
representa o indivíduo que segue os ensinamentos descritos pelo Profeta Maomé
no Alcorão. Em tempo, cabe ainda mencionar que o livro sagrado para os
Muçulmanos também pode ser chamado simplesmente de Corão. Assim, se cria muita
confusão quando os meios de mídia utilizam os termos islâmico e muçulmano muitas
vezes na mesma reportagem/documento, pois nesse caso dá a entender que são
povos diferentes dentro da religião profetizada por Maomé, mas na verdade é
apenas apresentador/repórter/jornalista tentando mostrar que sabe demais e
manja dos termos do Mundo Árabe... nada a ver, mas paciência, eu também fiz
muito isso quando estava começando a dar aula, dava a ideia de que eu sabia mais
sobre o assunto. Besteira...
Entretanto,
nota-se ainda a utilização do termo Árabe como sendo sinônimo de Muçulmano ou
Islâmico, mas aí se recorre em um grande erro conceitual, posto que embora
grande parte dos muçulmanos/Islâmicos sejam Árabes, existe uma grande quantidade
de Árabes que não são Muçulmanos/Islâmicos. Por Árabe se entente o grupo de
pessoas que se originaram ou se encontram estabelecidas em algum país cujo
idioma seja o árabe e/ou seja essa pessoa afeita ou adepta aos costumes típicos
desses países árabes. De modo genérico, o chamado Mundo Árabe se estende desde
países banhados pelo Oceano Atlântico até o Mar da Arábia, tendo como limite
norte o Mar mediterrâneo, área demarcada em amarelo no mapa a seguir.
Disponível
em: < http://c6.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/od5066bfb/8080057_AVzPt.jpeg>
acesso em 22 fev. 2015
Com
isso, deve-se desfazer a ideia equivocada de que o mundo e as populações árabes
se restringem ao Oriente Médio, ou menos ainda ao Golfo Pérsico.
Ou
seja, existem mais Árabes no mundo que Muçulmanos/Islâmicos, embora tenhamos
que reforçar a ideia de que das religiões monoteístas o islamismo é aquela que
mais se expande atualmente, uma vez que conforme dito anteriormente tem se
estabelecido em países asiáticos, como Índia, Bangladesh e Indonésia, e como
estes países possuem populações por demais numerosas, a tendência é que o
islamismo torne-se em pouco tempo uma das maiores religiões do planeta m termo
de seguidores (na verdade já o é, mas entenda aqui que vai se tornar ainda mais
numerosa a população que tem em Alá sua fé depositada).
Desse
modo, há hoje um aumento significativo do número de pessoas consideradas e
tratadas como ‘islamizadas’, que localizam-se em áreas fora do Mundo Árabe, em
locais onde tradicionalmente tinha-se o domínio de outras matrizes religiosas,
como o catolicismo ou o hinduísmo. O que coloca em xeque o predomínio histórico
de outras religiões monoteístas que se expandiram por África e Ásia antes e
durante seus respectivos processos de colonização.
Esta
expansão que se observa do islamismo para além dos limites territoriais do
Mundo Árabe tem promovido embates conflituosos e conflitos étnicos que se
alastram pelo mundo, que dão ainda mais base para a visão equivocada e mal
intencionada que relaciona diretamente o islamismo e as ações
extremistas/terroristas de grupos minoritários, como tem-se observado hoje no
norte da África e Oriente Médio. Considerar pessoas seguidoras da fé islâmica
como sendo invariavelmente terroristas é tão absurdo, mesquinho e errado com o
que se faz por aqui em ‘terras tupiniquins’ ao historicamente considerarmos as
populações pobres das favelas como sendo obrigatoriamente ligadas ao tráfico de
drogas e demais crimes... É considerar a exceção (no caso a minoria de pessoas
das favelas que se inserem na vida do crime) como sendo a regra (no caso todas
as pessoas que por questões sociais, políticas ou econômicas vivem (ou
sobrevivem) nas favelas).
Evite
essa premissa tão defendida e alardeada a partir do início do século XXI, de
que Muçulmanos apoiam o terrorismo e países árabes oferecem sustentação plena
para as ações extremistas de grupos minoritários, pois isso tudo combinava
muito mais com a visão de mundo de George W, Bush, então presidente dos Estados
Unidos, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, que buscava de
todo modo encontrar justificativas para uma ofensiva militar no Oriente Médio
sob o pretexto de eliminar a ameaça terrorista da Al Qaeda, mas que na prática
tinha dentre outros interesses as reservas petrolíferas do Iraque e países
vizinhos...
Continua...
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