quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA - UNICAMP 2021 (CARREIRAS DE EXATAS, HUMANAS E ARTES)

Questão 65

(The state of agricultural commodity markets. Agricultural trade, climate change and foot security. Roma: FAO, 2018. Disponível em http://www.fao.org/3/I954 2EN/i9542en.pdf.)

Muitos autores anunciam o fim da globalização econômica e indicam que parte do comércio global de mercadorias pode estar com seus dias contados depois da pandemia da Covid19. Contudo, o comércio internacional de mercadorias, especialmente agrícolas, é ainda hoje relevante para o abastecimento de muitos mercados nacionais.

Com base nos gráficos acima e em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.

a) A União Europeia não depende do mercado mundial de mercadorias, porque o valor total de suas exportações é aproximadamente igual ao valor total de suas importações.

b) A economia brasileira não tem nas commodities agrícolas importante ponto de sua pauta de exportação, porque 5,7% das exportações mundiais representam uma cifra muito pequena.

c) A economia chinesa é, em grande parte, dependente das importações de commodities agrícolas, sendo o Brasil importante parceiro comercial de suas importações.

d) Apesar de sua extensão territorial relativamente pequena, o Japão é um dos maiores produtores de commodities agrícolas, destacando-se a produção voltada para o mercado latino-americano.

Resposta: C

Comentário:

O desenvolvimento da produção industrial, a partir do final do século XVIII, não suprimiu ou anulou a importância do setor primário na economia das nações. Na verdade a ampliação da demanda por commodities em decorrência da secundarização das economias do mundo ampliou em muitos países a participação da exportação de produtos não industrializados na composição das suas respectivas balanças comerciais.

No gráfico apresentado na questão pode-se observar que a União Europeia atua como grande exportadora e importadora de commodities agrícolas na atualidade. Porém, a distinção entre o que é vendido e comprado por esses países não possibilita a suposta autossuficiência ou independência global do bloco, pois as nações exportam determinados produtos agrícolas, mas necessitam importar outros gêneros básicos que não produzem.

No caso brasileiro, a exportação de commodities (principalmente agrícolas e minerais) responde por cerca de 2/3 da composição do PIB nacional, possibilitando anualmente balanças comerciais superavitárias para a economia do país, sendo o mercado chinês, em forte expansão recente, um dos principais destinos para a agroexportação brasileira. A assinatura de acordos bilaterais com a nação asiática a partir do estabelecimento dos BRICS ampliou as relações comerciais entre os dois países e consequentemente as trocas comerciais entre ambos.

Questão 66

Dados do World Inequality Database, atualizados de 2015. Acessado em 10/04/2019. (Disponível em https://temas.folha.uol.com.br/desigualdade-global/brasil/super-ricosno-brasil-lideram-concentracao-de-renda-global.shtml).

O gráfico anterior apresenta a concentração de renda no topo da pirâmide social. No Brasil, o 1% de super-ricos (aproximadamente 1,4 milhão de adultos) captura 28,3% dos rendimentos brutos totais do país, e recebe individualmente, em média, R$ 106,3 mil por mês pelo conjunto de todas suas rendas (dados de 2015).

Com base no gráfico e em seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.

a) O Brasil é o segundo país no ranking e único país latino-americano entre os dez primeiros, fato explicado por ter a maior população entre esses dez países.

b) A concentração da renda indica a capacidade de geração de riqueza em um país e sua distribuição entre todas as camadas de renda.

c) A Índia apresenta alta concentração de renda, contudo, por ter a segunda maior população absoluta do mundo, a renda é bem distribuída.

d) A concentração da renda indica que uma pequena parcela da população de um país absorve a maior parte daquilo que é socialmente produzido.

Resposta: D

Comentário:

A concentração de renda e um dos principais indícios para o entendimento das desigualdades econômicas e a exclusão social das populações nos países. Ela é medida a partir do chamado Coeficiente de Gini, e mostra o percentual da riqueza total produzida por uma nação que é controlada por uma pequena parcela de seus habitantes, e demonstra claramente o quadro de marginalização de parcelas significativas dessa mesma população.

No gráfico apresentado na questão aparecem as dez nações onde uma parcela de 1% da população total concentra as maiores fatias das riquezas nacionais. Entre esses dez países encontram-se nações europeias (Rússia e Turquia), latino americanas (Brasil e Chile) e, principalmente asiáticas (Qatar, Líbano, Emirados Árabes, Iraque, Índia e Kwait). Dessas nações apenas Rússia e Kwait estão abaixo da média mundial de concentração de renda nas mãos de 1% das pessoas (20,6%).

O desenvolvimento social de uma nação é medido, entre outros indicadores, pela equidade econômica entre as diversas camadas que compõem a sua população, sendo a ausência de tal condição o principal problema que afeta hoje as nações em desenvolvimento e emergentes, posto que embora produzam muita riqueza, esse ganho é extremamente mal distribuído na sociedade.

Questão 67

Em nosso planeta em rápida urbanização, a vida cotidiana da crescente população de urbanoides é cada vez mais sustentada por sistemas vastos e incrivelmente complexos de infraestrutura e tecnologia. Ainda que muitas vezes passem despercebidos – pelo menos quando funcionam –, esses sistemas permitem que a vida urbana moderna exista. Seus encanamentos, dutos, servidores, fios e túneis sustentam os fluxos, as conexões e os metabolismos que são intrínsecos às cidades contemporâneas.

(Adaptado de Stephen Graham, Cidades sitiadas. O novo urbanismo militar. São Paulo: Editora Boitempo, 2016, p. 345.)

Depreende-se do texto que

a) a vida na cidade é composta por um conjunto de individualidades autossuficientes, sem a necessidade de interconexões e solidariedades.

b) as cidades contemporâneas são dependentes de sistemas técnicos infraestruturais, mas cada vez menos dependentes do trabalho técnico e social.

c) os bastidores infraestruturais e sociais da vida urbana cotidiana, em geral ocultos, tornam-se claros e palpáveis em momentos de interrupções sistêmicas.

d) a dependência das infraestruturas em rede existe apenas em cidades modernas e tecnologicamente avançadas, as chamadas cidades high-tech.

Resposta: C

Comentário:

Inegavelmente são visíveis e perceptíveis as diferenças nos estágios de desenvolvimento técnico das sociedades e dos espaços urbanos na atualidade. Em qualquer nível em que se encontre esse processo ele está “amarrado” aos mesmos pressupostos e dependente dos mesmos requisitos para seu pleno desenvolvimento. O que muda é o padrão em que esses atributos estão disponíveis e a intensidade em que eles se tornam acessíveis para os indivíduos que compõem e dependem desses espaços urbanizados.

Existe em todo tipo de cidade, desde as mais modernas às mais simples interioranas, uma rede de infraestruturas ligadas ao meio técnico, escondida na multiplicidade de relações sociais diárias, que rege o funcionamento das áreas urbanas. Estando tal sociedade em condições de normalidade esses aspectos estruturais passam despercebidos ou assumem um caráter aparentemente secundário na vida urbana. Mas basta essa suposta normalidade ser interrompida para que o real valor dessas infraestruturas seja notado.

Por exemplo, quando se tem o corte no fornecimento de energia elétrica para uma determinada cidade imediatamente seus habitantes se dão conta do quão importante é esse recurso que é quase imperceptível na normalidade cotidiana. O mesmo vale para água, internet, transporte público, enfim toda infraestrutura citadina. Não há cidade independente de suas bases materiais, assim como não há indivíduo urbano independente dos outros indivíduos que compõem a sociedade.

Questão 68

Brasil – Produção Agrícola Municipal – 2016

Atlas Escolar do IBGE. Disponível em https://mapas.ibge.gov.br/escolares/ensi no-medio/brasil.html.) Acessado em 17/09/2020.)

Os mapas anteriores apresentam três culturas temporárias de extrema importância para os mercados interno e externo. Com base na sua espacialização, podemos afirmar que os mapas 1, 2, e 3 representam, respectivamente, as culturas de

a) mandioca, trigo e laranja.

b) trigo, laranja e mandioca.

c) laranja, mandioca e trigo.

d) mandioca, laranja, trigo.

Resposta: A

Comentário:

Os mapas apresentados pela questão destacam a produção de gêneros alimentícios em diferentes regiões do Brasil, ao passo que nas alternativas são mencionadas as produções de mandioca, trigo e laranja. Como um dos maiores produtores agrícolas do mundo, dispondo de uma grande extensão territorial bem como de vasta variabilidade climática entre as regiões, o Brasil produz diferentes tipos de cultivos em distintas zonas territoriais, sempre associados às condições edáficas de cada porção do espaço.

Ao Sul se destacam cultivos mais adaptados ao clima subtropical e às baixas temperaturas nos invernos mais frios, como a soja e o trigo, conforme mostram as áreas demarcadas no estado do Paraná, no mapa número 2. No Sudeste se destaca a agricultura mais moderna e tecnológica, com ênfase em cultivos adaptados aos climas tropicais e voltados à exportação, como a soja (após a Revolução Verde), o milho e a laranja, conforme mostram as áreas demarcadas no mapa número 3, com ênfase no interior do estado de São Paulo.

Já nas regiões Norte e Nordeste a menor integração à dinâmica econômica da nação, bem como o baixo grau de desenvolvimento técnico da produção, permitem a manutenção de práticas agrícolas de subsistência, voltadas ao abastecimento dos mercados internos, com destaque para produtos de primeira necessidade dos próprios consumidores locais, como por exemplo a mandioca e o feijão, conforme mostram as áreas demarcadas no mapa número 1.

Questão 69

A região denominada Golfo Pérsico abrange, além do próprio golfo, os países que se situam inteira ou parcialmente no seu litoral, a saber: Kuwait, Bahrein, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Omã. A Arábia Saudita também é considerada parte da região, pois, embora a maior parte de seu território seja continentalizada e as principais cidades se situem no interior ou próximas ao Mar Vermelho, ela tem mais de 600 quilômetros de litoral voltado para o Golfo, com algumas cidades costeiras (AdDammam, Al-Jubail) e complexas ligações viárias com Qatar, Bahrein e Kuwait.

(L. A. B. Venturi, Água no Oriente Médio: o fluxo da paz. São Paulo: Editora Sarandi, 2015, p. 93.)

Litoral é uma faixa de terra emersa, banhada pelo mar, que pode apresentar diferentes configurações. Para os países mencionados no texto, a presença do litoral em formato de Golfo é fundamental para o escoamento por via marítima do petróleo, a principal commodity do Oriente Médio.

Assinale a alternativa que define corretamente “Golfo”.

a) Reentrância do mar sobre o continente, possuindo grandes dimensões e com uma forma mais aberta para o mar.

b) Parte do continente que avança para o oceano, com grandes extensões e cercada de água por quase todos os lados.

c) Barreira formada no mar e localizada próxima da praia, podendo ser formada por rochas, corais e restos de animais marinhos.

d) Canais que ligam rios com o mar, onde ocorre muita sedimentação, com a formação de bancos de areia e a deposição de detritos.

Resposta: A

Comentário:

As porções litorâneas dos territórios continentais apresentam múltiplas feições, esculpidas pela ação dos elementos climáticos e das águas oceânicas, se diferenciando entre si segundo as condições naturais de cada localidade. Além das tradicionais Praias, que correspondem ao acúmulo de sedimentos transportados pelos oceanos, e das Falésias, que correspondem a barreiras verticais esculpidas na costa pela ação das ondas e marés ao longo do tempo, outras formações típicas dessas áreas podem ser destacadas.

Tais como as Baias, que representam estruturas similares a lagos marinhos de pequena extensão, quase fechados, onde a água oceânica adentra em espaços continentais. Similares às Baías são os Golfos, porém diferem por possuir maior extensão territorial além do canal de reentrância de água ser mais aberto. Por outro lado a Península representa um prolongamento das terras emersas continentais para dentro do oceano, sendo cercada por águas por quase todos os lados, porém mantendo conexão com o continente.

Já o Recife corresponde a uma barreira estabelecida nas águas rasas próximas ao continente, formada por areia, corais, sedimentos e restos animais. Em grandes extensões algumas dessas estruturas são chamadas de Barreiras de Corais. Existem ainda as Barras, que se formam onde os rios se conectam com os oceanos, despejando tanto as águas continentais quanto os sedimentos carreados por esses cursos hídricos, dando origem às fozes em delta, estuário ou mista.

Questão 70

A região Nordeste brasileira é marcada por contrastes climáticos: áreas úmidas e áreas com longos períodos de estiagem. O mapa a seguir mostra a variação da umidade por meses em relação à distribuição das chuvas.

(Adaptado de Mapa de Clima do Brasil. Coordenação De Recursos Naturais e Estudos Ambientais – CREN. Diretoria de Geociências – DGC, IBGE. Rio de Janeiro, 2006.)

Sobre as características climáticas e a distribuição das chuvas na região Nordeste, é correto afirmar:

a) Todas as áreas sem seca ou subsecas recebem umidade da zona de convergência intertropical, além do incremento de vapor d’água do processo de evapotranspiração das florestas tropicais.

b) No centro do Estado da Bahia localiza-se a principal área no interior da região Nordeste com 1 a 3 meses secos, devido ao efeito orográfico da Chapada Diamantina na formação de chuvas.

c) O período de estiagem das áreas com 4 a 5 meses secos ocorre no verão, enquanto o das áreas com 6 a 8 meses secos ocorre no outono e inverno na Bahia, e na primavera e verão nos demais Estados.

d) A distribuição da umidade na região Nordeste tem estreita relação com o tipo de vegetação: nas áreas com 9 a 11 meses secos ocorre a vegetação de caatinga; nas áreas com 6 a 8 meses secos, a vegetação de cerrado.

Resposta: B

Comentário:

A região Nordeste apresenta internamente grandes diversidades relativas às condições ambientais, ligadas principalmente ao clima e às formações vegetais, assim como aquelas ligadas aos estágios de desenvolvimento socioeconômico entre suas distintas localidades. Pode-se desse modo subdividir a região em quatro sub-regiões, sendo elas Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte.

A Zona da Mata corresponde à porção litorânea, com climas mais úmidos e vegetação composta por densas florestas latifoliadas. O Agreste corresponde à faixa de transição entre as florestas litorâneas e as formações xerófilas do interior semiárido, apresentando esse modo clima relativamente úmido. O interior é caracterizado pelo Sertão semiárido, onde a vegetação típica são as caatingas e o clima é seco a maior parte do ano. Por fim, o Meio-Norte se localiza na transição entre o Sertão e a Floresta Amazônica, apresentando formação vegetal conhecida como Mata dos Cocais e clima úmido em decorrência da evapotranspiração proveniente da floresta da região Norte.

Grande parte da estiagem e da seca predominantes na porção mais interior da região se relaciona à presença de barreiras orográficas, estabelecidas por elevações do relevo, que impedem a livre passagem da umidade proveniente do Oceano Atlântico. Destacam-se como barreiras orográficas regionais o Planalto da Borborema, nos estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, e a Chapada Diamantina, no estado da Bahia, que limitam as precipitações nas áreas localizadas em seus respectivos sotaventos.

Questão 71

Os mapas temáticos são elaborados com a utilização de técnicas que objetivam a melhor visualização e comunicação, distinguindo-se essencialmente dos topográficos, que representam fenômenos de qualquer natureza, geograficamente distribuídos sobre a superfície terrestre. O nível de organização dos dados, qualitativos, ordenados ou quantitativos, de um mapa está diretamente relacionado ao método de mapeamento e à utilização de variáveis visuais adequadas à sua representação.

(Rosely Sampaio Archela e Hervé Théry, Orientação metodológica para construção e leitura de mapas temáticos. Revista Confins. n.3. 2008, p. 1-36.)

(Disponível em https://covid.saude.gov.br/) (Acessado em 08/07/2020)

Os mapas temáticos anteriores mostram o cenário brasileiro da pandemia em 7 de julho de 2020. O mapa 1 apresenta o número de casos confirmados de Covid19 por ente federativo e o mapa 2, a taxa de incidência da Covid19 por Estado brasileiro. No que se refere à análise dos dados representados nos mapas, é correto afirmar:

a) O objetivo do mapa 1 é apresentar os dados de forma quantitativa, enquanto o mapa 2 prioriza uma apresentação qualitativa dos dados.

b) Os mapas 1 e 2 apresentam dados absolutos qualitativos referentes à Covid19 obtidos em órgãos oficiais do governo federal.

c) O mapa 1 apresenta os dados absolutos dos casos confirmados de Covid19, enquanto o mapa 2 apresenta a proporção de casos por milhão de habitantes.

d) Os mapas 1 e 2 apresentam dados proporcionais referentes à Covid19, pois não é possível apresentar com exatidão dados da área de saúde.

Resposta: C

Comentário:

Na cartografia a confecção de mapas depende do interesse do cartógrafo responsável por sua realização, podendo esses mapas apresentar dados absolutos, relativos, quantitativos ou qualitativos, segundo as intenções para seu uso. Ambos os mapas apresentados na questão tem a mesma temática, que é o impacto da pandemia do Covid19 no Brasil, porém apresenta os dados de modo diferente.

No primeiro mapa tem-se apenas os dados absolutos a respeito do número bruto de casos apresentados em cada estado da federação, não se levando em consideração a extensão territorial de cada estado ou a dimensão de sua população. Já o segundo mapa traz dados relativos à proporção entre o número de casos confirmados e a população local, tendo como referência 1 milhão de habitantes. Assim, trata-se também de um mapa quantitativo, mas não absoluto, mas sim relativo ou proporcional. 

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