domingo, 31 de julho de 2016

TURQUIA: LEVANTE POPULAR, GOLPE MILITAR OU ARMAÇÃO MIDIÁTICA? (Parte 1)


Parte 1/2: De um modo ou de outro, a população turca sofreu um duro golpe em 2016...

Por Éder Israel



Disponível em: <https://pbs.twimg.com/media/CndwdRLW8AACJxb.jpg>  Acesso em 31 jul. 2016.

Começarei esse texto de um modo um pouco diferente dos demais, na verdade o próprio modo de escrita será diferente em si. Deixarei de lado a suposta e impossível imparcialidade que tento colocar nos meus escritos, e farei dessa vez uma análise pautada exclusivamente no meu ponto de vista, e em tempo, deixo claro que se os ventos que sopram ultimamente sobre a Turquia mudarem de rumo, este texto também o fará, porém o que será aqui expressado representa minhas impressões iniciais sobre os acontecimentos recentes e seus desdobramentos neste país.

Em 15 de julho de 2016 a mídia mundial noticiou e transmitiu ao vivo (na medida do possível...) o que foi chamado e vendido ao público como uma tentativa de golpe militar na Turquia, em que o alto comando de uma base aérea estaria tentando derrubar o presidente Recep Tayyip Erdogan. Segundo testemunhas houveram bombardeios ao palácio presidencial, tiros e tanques nas ruas e ocupação de locais públicos, como aeroportos e prédios do governo. Erdogan imediatamente dirigiu-se para o epicentro dos conflitos e saiu à mídia convocando o povo turco a ir às ruas em defesa da democracia.


Disponível em:< http://bemblogado.com.br/site/wp-content/uploads/2016/07/Turquia-golpe-689x294.jpg> Acesso em 31 jul. 2016

Na mesma noite foram divulgados vídeos em que supostamente os golpistas usavam aeronaves militares para atirar contra civis que protestavam nas ruas em defesa do presidente Erdogan, e ao mesmo tempo o presidente e seu gabinete de defesa afirmaram que derrubariam as aeronaves que eram usadas pelos supostos golpistas. E de repente na manhã seguinte o governo tinha milagrosamente retomado o poder, ou segundo palavras do próprio Erdogan, nunca tinha perdido o controle da nação. E começaram as retaliações aos comandantes e envolvidos na suposta ação antidemocrática. Precisávamos agora de um culpado, de um mentor intelectual para a tentativa de se derrubar o presidente turco...

Erdogan acusou imediatamente o clérigo Fethullah Gulen, que vive em um autoexílio nos Estados Unidos desde 1999, mesmo ano em que foi acusado, por seu antigo aliado Erdogan, de favorecer grupos terroristas e extremistas na Turquia. Pronto, o governo turco encontrou um acusado pela tentativa do golpe de 15 de julho, e agora começaria uma “caça às bruxas” no país, tentando neutralizar todos os aliados de Gulen e consequentemente desafetos de Erdogan. O governo turco estava disposto a debelar o golpe e reafirmar a defesa do povo e da democracia, e todo aquele discurso já batido que se conhece bem de políticos que “amam” o seu povo e “respeitam” todos eles (as aspas se fazem muito necessárias em todos os aspectos...).

Fethullah Gulen é na verdade uma importante liderança política, econômica e religiosa na Turquia, fundador de um movimento de oposição ao governo (após sua saída do mesmo) chamado de Movimento Gulen ou Movimento Hizmet, o qual era bem visto em grandes partes do mundo, por defender uma aproximação entre as três grandes religiões monoteístas do mundo, incentivando o diálogo de turcos com Israel e o Vaticano, além da clara aproximação com o governo dos Estados Unidos, que se demonstrou na permissão de seu autoexílio e na pronta negativa de sua extradição / deportação pedida por Erdogan após a tentativa de golpe.

Gulen é na realidade apenas um dos problemas do governo Erdogan, pois há ainda o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou simplesmente PKK. Esta organização política criada no final da década de 1970, porém inimigo declarado do governo turco desde meados da década de 1980, valendo-se até mesmo da luta armada em prol de um Curdistão livre e da ampliação da autonomia e dos direitos do povo curdo na sociedade turca. A busca pelo criação do Curdistão já causa grandes disputas na região, não apenas com o governo turco, mas também com os governos de Síria, Iraque e Irã, por onde se distribui os territórios requisitados pelos curdos. Ou seja, o PKK forte pode significar a perda de territórios pela Turquia, portanto uni-lo ao Movimento Hizmet e eliminá-los simultaneamente seria ótimo para Erdogan...


Disponível em: <http://midiaamais.com.br/lib_fotos/451338f0dd404f160e0e4ec39dd90cd1.jpg> Acesso em 31 jul. 2016

Some a essa confusão toda o Estado Islâmico – ISIS, que apesar de não atuar intensamente na Turquia, é combatido por curdos na Síria e no Iraque, apoiados pelos bombardeios russos e usando armas sabidamente fornecidas pelos Estados Unidos, onde está Fethullah Gulen. Ou seja, é coisa demais acontecendo ao mesmo tempo em lugar apenas, e as possibilidades são infinitas. Tempere essa mistura com o fato de a Turquia estar no meio do caminho dos refugiados do Oriente Médio que partem em direção à União Europeia, bloco em que a Turquia sempre quis entrar, e que não tem aceitado bem esses povos que ali passariam. Pois bem, em resumo é isso...

Erdogan é acusado de não fazer muita coisa para conter o Estado Islâmico (muita gente diz que ele até defende o grupo extremista, mas isso carece de mais provas e de uma dose bem maior de loucura...) principalmente após o incidente de 24 de novembro de 2015, quando um avião russo foi derrubado por caças do exército turco, acusado de invadir o espaço aéreo do país durante um bombardeio contra o ISIS ou contra civis opositores de Bashar al-Assad segundo o restante do mundo. Portanto, a Turquia teria (segundo a visão de russos) dado uma demonstração de apoio ao Estado Islâmico, que combate as minorias étnicas e religiosas da região onde pretende estabelecer um Califado, dentre estas minorias estão, obviamente, os curdos, que brigam com o governo Erdogan pela independência do Curdistão. Se formos aprofundar demais a bagunça vai ficando cada vez pior nesse “balaio de gatos”.


Disponível em: <http://media.cagle.com/58/2015/07/28/166900_600.jpg> Acesso em 31 jul. 2016

Há rumores cada vez maiores de que Erdogan tenha forjado o suposto golpe de Estado no país, para que usasse as condições favoráveis, quando passasse a se visto como uma vítima dos militares golpistas, para o enrijecimento de seu governo e a atuação mais severa conta grupos políticos e sociais que poderiam, segundo ele, ameaçar eu governo. E na verdade é exatamente isso que se observa hoje na Turquia, após o fracasso do suposto levante, pois o governo tem se tornado cada vez mais intransigente com a população e seus direitos, em uma luta pela defesa da democracia, segundo as palavras do próprio Erdogan.

Continua...

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