quarta-feira, 13 de julho de 2016

A SAÍDA DA INGLATERRA DA UNIÃO EUROPEIA (Parte 1)


Por Éder Israel




Disponível em: <SssrGSLyvODRqJsRsNAoNtnMyTGPKiddk26rp6hlU9v6KJwLbj4pAcvRpz87Ks1V> Acesso em 12 jul. 2016

O resultado do referendo realizado na Inglaterra no dia 24 de julho desse ano de 2016 vai muito além dos mais de 1,2 milhão de votos favoráveis à saída de uma das principais economias do bloco, que esteve presente no mercado regional europeu desde 1973. Os desdobramentos da apertada vitória dos favoráveis à saída, com 51,9% dos votos válidos, podem trazer um novo suspiro econômico para os ingleses, mas podem também trazer-lhes um fracasso mais rápido do que aquele temido caso permanecesse no bloco, assim como pode fortalecer a integração entre os membros remanescentes da União Europeia, ou sepultar de vez o sonho de criação de um megamercado, vislumbrado em 1952, na assinatura do Plano Schuman por alemães e franceses.

Mas o que estaria por trás das ações e propostas da ala mais conservadora do parlamento inglês? O que tanto teme o grupo que tentou frear a vontade de deixar o bloco europeu? Por que a União Europeia temeu tanto a saída da Inglaterra do mercado regional? Por qual motivo a cúpula das nações constituintes do bloco tem tanta pressa da saída pós referendo? São questões ainda sem resposta, mas cheias de possibilidades e de “achismos”, as quais serão desdobradas nesse breve texto.

É sabido que o bloco europeu foi assolado profundamente pela crise global de 2008, a qual se somou a uma crise interna e crescente, fruto do envelhecimento populacional e suas consequências. No caso europeu, o envelhecimento tem até nome e RG, sendo chamado de “Euroesclerose” por demógrafos contemporâneos. A qualidade de vida elevada associada às facilidades da vida moderna, cada vez mais acessíveis à população das nações mais desenvolvidas, possibilitou nos países da União Europeia (ou em grande parte deles) um crescimento da longevidade, aumentando substancialmente a população idosa, o que sobrecarrega os setores de previdência social e outros mecanismos remanescentes do Estado do Bem Estar Social (EBES) de outros tempos.

Em complementação a esse envelhecimento populacional, ocorre uma contínua redução nas taxas de natalidade e fecundidade nos países do mercado regional, o que causa na atualidade uma redução da população economicamente ativa e da arrecadação pública dos Estados. E lá vem outra vez a sombra do EBES, nos países onde grande parte dos serviços essenciais à população ainda possuem e dependem dos investimentos públicos. Em resumo, nos últimos anos muitos países da União Europeia passaram a gastar mais para sustentar o elevado percentual de idosos, do que arrecadando com o, cada vez menor, percentual de jovens e adultos economicamente ativos.

Segundo a visão da referida ala conservadora do parlamento inglês, esse conjunto de problemas fruto da “euroesclerose” ainda não afetou pesadamente a realidade econômica da Inglaterra. Por enquanto, os países mais afetados são: Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, que estão pejorativamente agrupados em um conjunto chamado PIIGS (na sigla em Inglês) e na visão desse agrupamento de políticos do país, os ingleses não têm obrigações econômicas com o socorro para nações em crise, tal qual a Alemanha tem feito com a questão grega. Para os partidários do BREXIT, o dinheiro da Inglaterra deve ser investido em políticas econômicas do próprio país que se se vê à beira do limite de entrar para os PIIGS...



Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVaMUsVb9z3J73H81bpTs_d2idwq3XVC8-pKQ08Xlft-NtqV3g15skQld44bfFr9my9W4KorFxhDqXtejyIJKowp-QUaA8C9ao-7cgHuyiSvHAuN4GTP0SeQ_yg9gXe5Lw_VR0cE9QerI/s1600/Piigs.jpg> Acesso em 12 jul. 2016

Há ainda a questão clássica dos imigrantes, e da xenofobia, que configura-se hoje como a base principal do discurso daqueles que se mostram contrários à saída inglesa do bloco, sejam os responsáveis por tais discursos ingleses ou não... A alegação de que o país foi motivado pelo interesse de não ter que abrir suas fronteiras para os imigrantes, provenientes do norte da África e do Oriente Médio, tem força a cada dia no noticiário e no “conhecimento” disseminado massivamente pelas redes sociais diariamente, em posts e mais posts de imagens de pessoas morrendo nos países de origem, enquanto barreiras são erguidas nas fronteiras das nações desenvolvidas do continente europeu. Mas faz sentido a ideia de que a xenofobia foi o combustível para o BREXIT? Em minha opinião, não. Mas como dissemos, é um momento de muitos “achismos” e poucas certezas.

Os principais indicativos são de que os partidários do BREXIT vêm os imigrantes como um peso econômico para o já fragilizado sistema inglês, assustado (com razão) pelo buraco financeiro que a “euroesclerose” trouxe aos PIIGS. A saída da União Europeia representa aos olhos dos favoráveis à saída uma única chance de salvação própria para uma futura crise que se alastra pelo continente, fruto das mudanças demográficas contemporâneas. Porém, aos olhos daqueles que se opõem a essa saída, pode selar a decadência econômica do país, pois este estará oficialmente e irremediavelmente desprovido da ajuda financeira das demais nações do bloco, a qual pode ter sido capaz de amenizar os impactos da crise nos PIIGS, principalmente na Grécia.


... Continua


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