Por Éder Israel
Disponível
em: <SssrGSLyvODRqJsRsNAoNtnMyTGPKiddk26rp6hlU9v6KJwLbj4pAcvRpz87Ks1V>
Acesso em 12 jul. 2016
O
resultado do referendo realizado na Inglaterra no dia 24 de julho desse ano de
2016 vai muito além dos mais de 1,2 milhão de votos favoráveis à saída de uma
das principais economias do bloco, que esteve presente no mercado regional
europeu desde 1973. Os desdobramentos da apertada vitória dos favoráveis à
saída, com 51,9% dos votos válidos, podem trazer um novo suspiro econômico para
os ingleses, mas podem também trazer-lhes um fracasso mais rápido do que aquele
temido caso permanecesse no bloco, assim como pode fortalecer a integração
entre os membros remanescentes da União Europeia, ou sepultar de vez o sonho de
criação de um megamercado, vislumbrado em 1952, na assinatura do Plano Schuman
por alemães e franceses.
Mas
o que estaria por trás das ações e propostas da ala mais conservadora do
parlamento inglês? O que tanto teme o grupo que tentou frear a vontade de
deixar o bloco europeu? Por que a União Europeia temeu tanto a saída da
Inglaterra do mercado regional? Por qual motivo a cúpula das nações
constituintes do bloco tem tanta pressa da saída pós referendo? São questões
ainda sem resposta, mas cheias de possibilidades e de “achismos”, as quais serão
desdobradas nesse breve texto.
É
sabido que o bloco europeu foi assolado profundamente pela crise global de
2008, a qual se somou a uma crise interna e crescente, fruto do envelhecimento
populacional e suas consequências. No caso europeu, o envelhecimento tem até
nome e RG, sendo chamado de “Euroesclerose” por demógrafos contemporâneos. A
qualidade de vida elevada associada às facilidades da vida moderna, cada vez
mais acessíveis à população das nações mais desenvolvidas, possibilitou nos
países da União Europeia (ou em grande parte deles) um crescimento da longevidade,
aumentando substancialmente a população idosa, o que sobrecarrega os setores de
previdência social e outros mecanismos remanescentes do Estado do Bem Estar
Social (EBES) de outros tempos.
Em
complementação a esse envelhecimento populacional, ocorre uma contínua
redução nas taxas de natalidade e fecundidade nos países do mercado regional, o
que causa na atualidade uma redução da população economicamente ativa e da
arrecadação pública dos Estados. E lá vem outra vez a sombra do EBES, nos
países onde grande parte dos serviços essenciais à população ainda possuem e
dependem dos investimentos públicos. Em resumo, nos últimos anos muitos países
da União Europeia passaram a gastar mais para sustentar o elevado percentual de
idosos, do que arrecadando com o, cada vez menor, percentual de jovens e
adultos economicamente ativos.
Segundo
a visão da referida ala conservadora do parlamento inglês, esse conjunto de
problemas fruto da “euroesclerose” ainda não afetou pesadamente a realidade
econômica da Inglaterra. Por enquanto, os países mais afetados são: Portugal,
Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, que estão pejorativamente agrupados em um
conjunto chamado PIIGS (na sigla em Inglês) e na visão desse agrupamento de
políticos do país, os ingleses não têm obrigações econômicas com o socorro para
nações em crise, tal qual a Alemanha tem feito com a questão grega. Para os
partidários do BREXIT, o dinheiro da Inglaterra deve ser investido em políticas
econômicas do próprio país que se se vê à beira do limite de entrar para os
PIIGS...
Disponível
em:
<https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVaMUsVb9z3J73H81bpTs_d2idwq3XVC8-pKQ08Xlft-NtqV3g15skQld44bfFr9my9W4KorFxhDqXtejyIJKowp-QUaA8C9ao-7cgHuyiSvHAuN4GTP0SeQ_yg9gXe5Lw_VR0cE9QerI/s1600/Piigs.jpg>
Acesso em 12 jul. 2016
Há
ainda a questão clássica dos imigrantes, e da xenofobia, que configura-se hoje
como a base principal do discurso daqueles que se mostram contrários à saída
inglesa do bloco, sejam os responsáveis por tais discursos ingleses ou não... A
alegação de que o país foi motivado pelo interesse de não ter que abrir suas
fronteiras para os imigrantes, provenientes do norte da África e do Oriente
Médio, tem força a cada dia no noticiário e no “conhecimento” disseminado
massivamente pelas redes sociais diariamente, em posts e mais posts de imagens
de pessoas morrendo nos países de origem, enquanto barreiras são erguidas nas
fronteiras das nações desenvolvidas do continente europeu. Mas faz sentido a
ideia de que a xenofobia foi o combustível para o BREXIT? Em minha opinião,
não. Mas como dissemos, é um momento de muitos “achismos” e poucas certezas.
Os
principais indicativos são de que os partidários do BREXIT vêm os imigrantes
como um peso econômico para o já fragilizado sistema inglês, assustado (com
razão) pelo buraco financeiro que a “euroesclerose” trouxe aos PIIGS. A saída
da União Europeia representa aos olhos dos favoráveis à saída uma única chance
de salvação própria para uma futura crise que se alastra pelo continente, fruto
das mudanças demográficas contemporâneas. Porém, aos olhos daqueles que se
opõem a essa saída, pode selar a decadência econômica do país, pois este estará
oficialmente e irremediavelmente desprovido da ajuda financeira das demais
nações do bloco, a qual pode ter sido capaz de amenizar os impactos da crise
nos PIIGS, principalmente na Grécia.
... Continua
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