segunda-feira, 15 de agosto de 2016

TURQUIA: LEVANTE POPULAR, GOLPE MILITAR OU ARMAÇÃO MIDIÁTICA? (Parte Final)


Parte 2/2: De um modo ou de outro, a população turca sofreu um duro golpe em 2016...

Por Éder Israel


Disponível em:<https://pbs.twimg.com/media/CndwdRLW8AACJxb.jpg> Acesso em 15 ago. 2016

Imediatamente após o mal sucedido “golpe de Estado”, o presidente Erdogan começa a conduzir uma série de transformações e alterações na Turquia, que segundo ele, visavam manter a governabilidade e o pleno exercício da democracia no país. Porém, na prática, as ações políticas de Erdogan possuem mais traços ditatoriais do que liberdades civis à população.

As primeiras vítimas das ações após o suposto levante foram os altos comandos militares do país, que declaradamente discordavam dos rumos que o presidente dava às questões de segurança interna e principalmente externa do país, no que tange o combate e a repressão ao terrorismo que avança sobre a nação.

Dezenas de militares foram presos, acusados de traição e conspiração contra o povo turco, retirando imediatamente do controle das forças armadas aqueles que publicamente discordavam dos rumos que o país estava seguindo. O comando militar foi trocado em regime de emergência, e a intenção de Erdogan é tornar este setor subjugado e submisso ao Estado político, o que iria por si só retirar toda a autonomia destes órgãos.

Após “o limpa” nas forças armadas, a imprensa turca sentiu o peso da reformulação política do país. Quase duas dezenas de redes de TV e de radio, que atacavam o governo, foram fechadas e retiradas do ar, pois foram consideradas traidoras da pátria e conspiradoras contra o governo. A liberdade de expressão foi a primeira a ser revogada como resposta à tentativa de golpe, e a partir de agora apenas os meios que defendessem o Estado poderiam continuar no ar, o que garantiria a vital propaganda para qualquer Estado que queira se legitimar e conduzir profundas transformações.

Possivelmente, uma das próximas ações de Erdogan poderá se referir a questões políticas, com o intuito claro de minimizar o papel e o poder da oposição turca, principalmente aquela ligada ao PKK, que luta em favor da causa curda e tem crescido exponencialmente no país. Erdogan, como anteriormente mencionado, posiciona-se contra a criação de um Estado curdo, o qual implicaria obrigatoriamente na perda territorial e na redução de poder e autonomia da Turquia nesta estratégica região.


Disponível em <https://www.armenpress.am/static/tyyy/ghh/1111/txerq/789/jam/tg/qqqqq/ek/turk/halep/tarvankar/l/123/785/hhggg/rrr/cuyc/oscar/sargis_stepanyan/ddd/despanutyun/armenuhi/qax/nato/ser/gyumri/c1.jpg> Acesso em 15 ago. 2016

Com a redução do poder da oposição e a consequente ampliação dos poderes soberanos do Estado, o presidente turco tende a começar a buscar mudanças profundas na legislação do país, que já ficou bem delineado no fato de que Erdogan manifestou publicamente a intenção de retomar a aplicação da pena de morte na Turquia, que foi revogada oficialmente em 2004, embora nenhuma execução tenha sido realizada desde 1984. A abolição da pena capital no país foi um dos requisitos exigidos pela União Europeia para que fosse mantido e ampliado o diálogo entre turcos e membros do bloco econômico para uma possível adesão futura. 

A premissa deixada no ar pelo governo da Turquia, de que poderia retomar as execuções, e o entendimento de que a aplicação da pena seria direcionada por interesses políticos, levaram o Parlamento Europeu a parar o debate sobre a entrada do país no bloco, distanciando ainda mais a nação do maior bloco econômico do mundo. O que foi entendido pelo Parlamento Europeu é na verdade um consenso mundial, de que a aplicação da pena de morte na Turquia faria como vítimas principalmente membros da oposição política ao governo Erdogan, ou seja, a pena de morte apenas legitimaria a eliminação daqueles que já são hoje perseguidos e/ou eliminados pelas forças, militares ou não, a serviço do Estado.



Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFAbzgGxfWgjWbO3DQltmvjKHfWYt_zP1q6AXw2Tw2vmSErj4_plZGI5dbtKWDssv2tnwXz5KQTo6BmOaT3nz9y8ObHdBiN0Fn9ynTgyXaEgdOWDoq-VVw-gLOl4lj_njq7CmUvxtgzB7R/s1600/Cartoon.jpg> Acesso em 15 ago. 2016

Por um lado a Turquia alega que a União Europeia não tem demonstrado reais intenções de que o país entre de fato no bloco europeu, uma vez que nos últimos anos o governo turco realizou uma série de mudanças políticas e sociais, exigidas para a adesão ao bloco, ao passo que pelo lado dos países europeus mais desenvolvidos, as recentes ações políticas do Estado turco têm distanciado a nação dos pilares democráticos que seriam exigidos para que um novo membro fizesse parte da organização econômica. Sabe-se que no fundo, muitas nações da União Europeia não veem com bons olhos a possibilidade de uma nação com mais de 90% de sua população muçulmana, embora isso seja negado com veemência pelo discurso “politicamente correto” típico das nações do euro...

Na realidade os maiores derrotados por esse suposto levante popular/militar em território turco em 2016 será a própria população, privada que será de seus direitos civis mais essenciais, que serão subtraídos em nome de um combate a golpe de Estado, que na prática visa à legitimação de um governo que se mostra há anos autoritário contra minorias políticas, religiosas e sociais no país, porém a partir de agora toda a opressão será “justificável” pelo discurso de estar defendendo as liberdades da população que oprime. (Contraditório o mundo...).



Disponível em: <http://a-specto.bg/wp-content/uploads/2016/07/cszaqjwwwaalz_j.png> Acesso em 15 ago. 2016

Entre mortos e feridos sobrarão os turcos, olhando a União Europeia por sobre o muro das diferenças econômicas e sociais, e quem sabe sonhando o quão bom seria estar nesse agrupamento de nações pintado como um “país das maravilhas”, embora a razão desse olhar apaixonado e utópico seja em sua grande maioria o desconhecimento da voraz crise financeira que devora o bloco econômico, e já fez com que os ingleses pegassem o boné e partissem no BREXIT. As perdas turcas são muito mais sociais e políticas do que econômicas, pois falida a Europa já está  quase que por completo...


domingo, 31 de julho de 2016

TURQUIA: LEVANTE POPULAR, GOLPE MILITAR OU ARMAÇÃO MIDIÁTICA? (Parte 1)


Parte 1/2: De um modo ou de outro, a população turca sofreu um duro golpe em 2016...

Por Éder Israel



Disponível em: <https://pbs.twimg.com/media/CndwdRLW8AACJxb.jpg>  Acesso em 31 jul. 2016.

Começarei esse texto de um modo um pouco diferente dos demais, na verdade o próprio modo de escrita será diferente em si. Deixarei de lado a suposta e impossível imparcialidade que tento colocar nos meus escritos, e farei dessa vez uma análise pautada exclusivamente no meu ponto de vista, e em tempo, deixo claro que se os ventos que sopram ultimamente sobre a Turquia mudarem de rumo, este texto também o fará, porém o que será aqui expressado representa minhas impressões iniciais sobre os acontecimentos recentes e seus desdobramentos neste país.

Em 15 de julho de 2016 a mídia mundial noticiou e transmitiu ao vivo (na medida do possível...) o que foi chamado e vendido ao público como uma tentativa de golpe militar na Turquia, em que o alto comando de uma base aérea estaria tentando derrubar o presidente Recep Tayyip Erdogan. Segundo testemunhas houveram bombardeios ao palácio presidencial, tiros e tanques nas ruas e ocupação de locais públicos, como aeroportos e prédios do governo. Erdogan imediatamente dirigiu-se para o epicentro dos conflitos e saiu à mídia convocando o povo turco a ir às ruas em defesa da democracia.


Disponível em:< http://bemblogado.com.br/site/wp-content/uploads/2016/07/Turquia-golpe-689x294.jpg> Acesso em 31 jul. 2016

Na mesma noite foram divulgados vídeos em que supostamente os golpistas usavam aeronaves militares para atirar contra civis que protestavam nas ruas em defesa do presidente Erdogan, e ao mesmo tempo o presidente e seu gabinete de defesa afirmaram que derrubariam as aeronaves que eram usadas pelos supostos golpistas. E de repente na manhã seguinte o governo tinha milagrosamente retomado o poder, ou segundo palavras do próprio Erdogan, nunca tinha perdido o controle da nação. E começaram as retaliações aos comandantes e envolvidos na suposta ação antidemocrática. Precisávamos agora de um culpado, de um mentor intelectual para a tentativa de se derrubar o presidente turco...

Erdogan acusou imediatamente o clérigo Fethullah Gulen, que vive em um autoexílio nos Estados Unidos desde 1999, mesmo ano em que foi acusado, por seu antigo aliado Erdogan, de favorecer grupos terroristas e extremistas na Turquia. Pronto, o governo turco encontrou um acusado pela tentativa do golpe de 15 de julho, e agora começaria uma “caça às bruxas” no país, tentando neutralizar todos os aliados de Gulen e consequentemente desafetos de Erdogan. O governo turco estava disposto a debelar o golpe e reafirmar a defesa do povo e da democracia, e todo aquele discurso já batido que se conhece bem de políticos que “amam” o seu povo e “respeitam” todos eles (as aspas se fazem muito necessárias em todos os aspectos...).

Fethullah Gulen é na verdade uma importante liderança política, econômica e religiosa na Turquia, fundador de um movimento de oposição ao governo (após sua saída do mesmo) chamado de Movimento Gulen ou Movimento Hizmet, o qual era bem visto em grandes partes do mundo, por defender uma aproximação entre as três grandes religiões monoteístas do mundo, incentivando o diálogo de turcos com Israel e o Vaticano, além da clara aproximação com o governo dos Estados Unidos, que se demonstrou na permissão de seu autoexílio e na pronta negativa de sua extradição / deportação pedida por Erdogan após a tentativa de golpe.

Gulen é na realidade apenas um dos problemas do governo Erdogan, pois há ainda o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ou simplesmente PKK. Esta organização política criada no final da década de 1970, porém inimigo declarado do governo turco desde meados da década de 1980, valendo-se até mesmo da luta armada em prol de um Curdistão livre e da ampliação da autonomia e dos direitos do povo curdo na sociedade turca. A busca pelo criação do Curdistão já causa grandes disputas na região, não apenas com o governo turco, mas também com os governos de Síria, Iraque e Irã, por onde se distribui os territórios requisitados pelos curdos. Ou seja, o PKK forte pode significar a perda de territórios pela Turquia, portanto uni-lo ao Movimento Hizmet e eliminá-los simultaneamente seria ótimo para Erdogan...


Disponível em: <http://midiaamais.com.br/lib_fotos/451338f0dd404f160e0e4ec39dd90cd1.jpg> Acesso em 31 jul. 2016

Some a essa confusão toda o Estado Islâmico – ISIS, que apesar de não atuar intensamente na Turquia, é combatido por curdos na Síria e no Iraque, apoiados pelos bombardeios russos e usando armas sabidamente fornecidas pelos Estados Unidos, onde está Fethullah Gulen. Ou seja, é coisa demais acontecendo ao mesmo tempo em lugar apenas, e as possibilidades são infinitas. Tempere essa mistura com o fato de a Turquia estar no meio do caminho dos refugiados do Oriente Médio que partem em direção à União Europeia, bloco em que a Turquia sempre quis entrar, e que não tem aceitado bem esses povos que ali passariam. Pois bem, em resumo é isso...

Erdogan é acusado de não fazer muita coisa para conter o Estado Islâmico (muita gente diz que ele até defende o grupo extremista, mas isso carece de mais provas e de uma dose bem maior de loucura...) principalmente após o incidente de 24 de novembro de 2015, quando um avião russo foi derrubado por caças do exército turco, acusado de invadir o espaço aéreo do país durante um bombardeio contra o ISIS ou contra civis opositores de Bashar al-Assad segundo o restante do mundo. Portanto, a Turquia teria (segundo a visão de russos) dado uma demonstração de apoio ao Estado Islâmico, que combate as minorias étnicas e religiosas da região onde pretende estabelecer um Califado, dentre estas minorias estão, obviamente, os curdos, que brigam com o governo Erdogan pela independência do Curdistão. Se formos aprofundar demais a bagunça vai ficando cada vez pior nesse “balaio de gatos”.


Disponível em: <http://media.cagle.com/58/2015/07/28/166900_600.jpg> Acesso em 31 jul. 2016

Há rumores cada vez maiores de que Erdogan tenha forjado o suposto golpe de Estado no país, para que usasse as condições favoráveis, quando passasse a se visto como uma vítima dos militares golpistas, para o enrijecimento de seu governo e a atuação mais severa conta grupos políticos e sociais que poderiam, segundo ele, ameaçar eu governo. E na verdade é exatamente isso que se observa hoje na Turquia, após o fracasso do suposto levante, pois o governo tem se tornado cada vez mais intransigente com a população e seus direitos, em uma luta pela defesa da democracia, segundo as palavras do próprio Erdogan.

Continua...

domingo, 17 de julho de 2016

A SAÍDA DA INGLATERRA DA UNIÃO EUROPEIA (Parte 3)



Por Éder Israel e Yasmin Vieira



Disponível em: https://pixabay.com/static/uploads/photo/2015/11/03/08/57/puzzle-1019847_960_720.jpg Acesso em 16 jul. 2016

Para este encerramento dos textos a respeito da saída da Inglaterra da união Europeia, decidida por voto popular em uma demonstração plena de democracia e respeito à vontade da maioria (deveríamos aprender um pouco mais sobre isso e aplicar aqui no Brasil, mas enfim...), farei uma espécie de texto a quatro mãos, que será balizado por perguntas escritas pela Yasmin Vieira e que tentarei responder nos parágrafos que se seguem. Esta ideia veio do meu próprio questionamento de quais poderiam ser as dúvidas dos alunos/leitores dos textos que aqui posto. Pois bem, este será um piloto de algo que pretendo melhorar e manter para as próximas discussões nesse espaço.

Nessa perspectiva, o texto que se segue será construído a partir das respostas (ou tentativas disso...) para quatro perguntas, que a meu ver refletem em grande parte a maioria dos questionamentos que ouço durante as aulas ou discussões com alunos. Creio que seja essa a maneira mais próxima do ideal de colocar os leitores deste blog mais próximos dos assuntos que aqui são debatidos e discutidos, visando uma maior compreensão, assim como entendimento, do contexto geopolítico do mundo contemporâneo, pautada na elucidação de dúvidas a respeito de tensões e acontecimentos atuais. Sem mais delongas, iniciemos.

Yasmin -Diante da legislação da União Europeia, sabe-se que diversos são os regulamentos e os contratos que envolvem os britânicos na busca por benefícios para o bloco. Por essa razão, é evidente a importância do Reino Unido como membro. Sendo assim, há alguma proposta entre os outros membros do bloco para a manutenção do Reino Unido? Quais seriam os possíveis efeitos do BREXIT para o bloco?

Éder - Bem, na verdade, assim como nós, os membros da União Europeia sabem o quão valiosa é a permanência da Inglaterra no bloco (não necessariamente o Reino Unido, mais a frente entenderemos isso), porém na legislação europeia não há dispositivos legais capazes de “obrigar” ou “forçar” um país a permanecer integrado a ele ou coisa do gênero. Na prática, o que era possível e foi tentado pelos membros do bloco, foi alertar ao governo inglês sobre os riscos e perdas passíveis de ocorrerem caso houvesse um desligamento entre as nações como previa o BREXIT.

Trata-se portanto de um jogo de convencimento, em que cada lado tenta mostrar suas vantagens e apontar as desvantagens do lado oposto, nesse caso a União Europeia e o BREXIT, respectivamente. Mas no final das contas, a vontade popular acaba por ser ouvida através do voto (ainda que por uma diferença mínima), e nesse caso não cabe mais qualquer recurso ou artimanha do bloco econômico a não se lamentar a saída de um dos mais antigos membros e temer pelos desdobramentos desta saída. O grande problema é que não houve uma alegação clara dos ingleses sobre as razões que motivassem a saída, o que acabou por dificultar alguma tentativa de apaziguamento do parlamento europeu que pudesse amenizar a intenção de abandono pelo BREXIT, haja vista que não houve em momento algum uma clareza plena dos fatores motivacionais para tal saída.

Com relação aos efeitos do BREXIT para a União Europeia, podemos destacar o risco de novos países passarem a abandonar o bloco em massa e começarem a sair de acordos como a Zona do Euro ou o Espaço Shengen, referentes à moeda comum e à livre circulação de pessoas, respectivamente. Estes impactos poderiam ter consequências devastadoras sobre o bloco europeu e aos organismos internacionais relacionados a este agrupamento de nações. Poderia se observar por exemplo, a perda de valor do Euro, motivada por uma desconfiança internacional sobre a solidez da moeda internacional e investimentos estrangeiros poderiam ser retirados do bloco, temendo uma maior dificuldade de acesso a mão de obra ou mercados consumidores, dentre outros processos. A capacidade europeia de manter e ampliar acordos externos poderia também ser restringida, posto que a desconfiança acerca dos rumos do bloco estaria ampliada, face a crise iniciada (ou esperada).

Yasmin - De acordo com os noticiários, a possível saída do Reino Unido da União Europeia pode levá-lo a transformar-se em: “Reino Desunido”, uma vez que alguns países pertencentes ao reino, como a Escócia, buscariam a independência. Diante disso, quais seriam as consequências da desintegração do Reino Unido? Quais outros motivadores fazem os países que compõem o Reino Unido buscarem a separação?

Éder - Um dos desdobramentos imediatos da vitória do BREXIT no plebiscito realizado foi a ampliação dos discursos separatistas dentro do Reino Unido, principalmente por parte da Escócia, que imediatamente após o resultado da votação se manifestou interessada na permanência na União Europeia, mesmo com a saída dos ingleses do bloco. Para facilitar o entendimento destas questões, devemos antes realizar, didaticamente, a diferenciação entre Inglaterra, Reino Unido e Grã-Bretanha, pois só assim poderemos compreender como a saída inglesa afetaria a Escócia e outras nações da região.

A Inglaterra corresponde a um único país, onde o regime político baseia-se sobre uma monarquia parlamentarista, ou seja, existe a rainha Elizabeth II, mas na prática quem realmente manda é o Primeiro Ministro, que até o resultado do plebiscito era David Cameron, porém o mesmo renunciou após o resultado favorável à saída inglesa do bloco econômico europeu. Por outro lado, a Grã-Bretanha refere-se ao agrupamento entre a Inglaterra, o País de Gales e a Escócia. Nestes dois últimos pratica-se uma espécie de governo federalista, no qual há poderes políticos “nacionais” embora estes são submetidos ao governo britânico (em suma, o governo inglês...). Destes, o que goza de maior autonomia é a Escócia, que meses atrás chegou a votar um plebiscito para decidir sua permanência ou não no grupo, sendo que a permanência acabou vencendo e não houve alterações nas relações. Já o Reino Unido é formado pela Grã-Bretanha e mais a Irlanda do Norte, e segue o mesmo regime próximo ao federalismo observado no agrupamento anterior. Ou seja, não interessa se falamos sobre Inglaterra, Grã-Bretanha ou Reino Unido, o poder estará quase sempre concentrado unicamente sobre o parlamento inglês.

Pois bem, como foi dito, no caso da Escócia há o claro e manifesto interesse de permanecer na União Europeia, pois se vê que os acordos e tratados econômicos vindos desta associação lhe são mais benéficos que aqueles realizados diretamente com os ingleses, portanto reside aí a principal justificativa para a reportagem falar em “Reino Desunido”, posto que possivelmente a Escócia marque ou peça a realização de um novo plebiscito acerca da saída do Reino Unido, pois agora, com a decisão definitiva (ou quase isso...) do BREXIT, a relação com os ingleses não parece mais tão benéfica e vantajosa quanto antes. No que tange à Irlanda do Norte, as relações tendem a não mudar pois a dependência frente aos ingleses é maciça, assim como as relações são por demais próximas para serem rompidas, prova disso é o conflito histórico entre Irlanda e Irlanda do Norte, no qual a porção norte da ilha se posiciona completamente ao lado da Inglaterra, seja por aceitar o regime monárquico ou a religião protestante como balizas mestras para este “país”, tal qual o é na Inglaterra. Assim como ocorre com a Irlanda do Norte se observa com o País de Gales, que dificilmente se desmembrará da Inglaterra e do Reino Unido, uma vez que tem com o país vizinho acordos muito mais vantajosos do que com o bloco econômico em sua plenitude.

Portanto, a menção a um “Reino Desunido” refere-se muito mais à Escócia do que o restante do “reino”, a qual possivelmente se verá nos próximos meses em um dilema, que será a manutenção dos acordos bilaterais com os ingleses, apoiando o BREXIT, ou a manutenção dos acordos com a União Europeia, “caindo fora” do BREXIT e do próprio Reino Unido. Porém, apenas os primeiros resultados ingleses pós separação em relação ao bloco europeu poderão mostrar se vale a pena aos escoceses continuar ou sair do grupo de súditos de Elizabeth II, assim como, estes mesmos primeiros resultados nos mostrarão o quão ruim (ou bom) para os ingleses seria essa desunião do reino.

Yasmin - O Reino Unido, embora membro da União Europeia, possui a libra como moeda oficial e não o Euro, como a maioria dos membros do bloco. A decisão histórica dos britânicos, por meio do referendo, em deixar a União Europeia gerou queda no valor da Libra Esterlina afetando as bolsas de valores. A respeito dessa realidade, se efetivada a saída do Reino Unido do bloco, quais seriam as possíveis ações internas (conjunturais e estruturais) que o Reino Unido poderia vir a adotar para a superação dos impactos econômicos provenientes de tal decisão?

Éder - O fato de os ingleses nunca terem de fato aceitado o Euro como moeda comum a partir do ano 2000 como a maioria dos membros do bloco, ou mesmo terem parecidos tão contentes e esperançosos com a assinatura do Tratado de Maastricht em 1992, que lançava as bases para a criação da referida moeda, já demonstrava que faltava uma fé um pouco maior na moeda comum e no Banco Central Europeu por parte da Inglaterra. Mas convenhamos, para uma nação acostumada a dominar a economia mundial desde (ou antes mesmo) do colonialismo, aceitar no mundo atual uma posição secundária em um agrupamento europeu não deve ser uma tarefa fácil, principalmente quando o sonho de voltar a ser a maior de todas as potências mundiais, ou mesmo a soberba por tê-la sido, ainda não morreu nos corações regados a “five o’clock tea” dos súditos da rainha...

Sendo a Libra Esterlina a única lembrança inglesa de plena superioridade (embora haja nisso muito mais nacionalismo do que racionalismo...) sobre os demais países europeus, a Inglaterra resistiu forte e austeramente em manter sua moeda, mais valorizada que o Euro, e na verdade mais valorizada que todas as demais moedas nacionais do mundo. Porém o fato é que a libra só consegue manter tal valorização amparada no fato de circular restritamente em um número exíguo de países, o que a torna menos suscetível a rompantes financeiros globais. Ok, mas o real circula apenas no Brasil e é menos valorizado que a libra! Sim, mas aí teríamos que analisar uma conjuntura muito maior de variáveis, que foge ao tema central do texto... Mas enfim, manter a libra como moeda nacional garantiu aos ingleses a ideia de que ainda têm algo que vale mais que aquilo existente no restante da Europa. Com eu disse, muito nacionalismo e pouco realismo...

Dentre as medidas passíveis de serem tomadas pela Inglaterra/Reino Unido para tentar superar a crise de desvalorização da libra, podemos mencionar as próprias medidas a serem tomadas para retomar a economia nessa nova jornada distante (em tese) da União Europeia. A própria desvalorização é fruto da incerteza da efetividade destas medidas, pois em grande parte, a baixa das ações nas bolsas de valores e da moeda inglesa se devem exatamente à incerteza e ao temor de que os laços econômicos entre Inglaterra e o restante da Europa sejam rompidos de vez, o que de maneira nenhuma é verdade ou “pensável”.

Na verdade, assim que formalizar a saída e iniciar a realização de acordos bilaterais, com nações da união europeia ou não, os investimentos externos na Inglaterra serão retomados, assim como a capacidade de investir em outras nações será planejada e redimensionada pela base econômica do governo inglês, e as coisas voltarão aos trilhos normais. Obviamente que os investimentos provenientes do Banco Central Europeu e as políticas econômicas do bloco hão de reduzir e, quem sabe, cessar. Porém, se a capacidade inglesa de fazer acordos proveitosos dentro e fora do mercado europeu for mantida, a tendência natural é o retorno da confiança, o aumento das ações de indústrias do país ou daquelas que nele investem, assim como a retomada da valorização do euro, dando novo fôlego ao nacionalismo, travestido de realismo dos lordes e ladies britânicos.

Yasmin - Evidentemente, a saída do Reino Unido da União Europeia não impede que se venha a realizar acordos bilaterais com membros do bloco e com outros países, na busca por benefícios. Sendo assim, é possível considerar que o Brasil teria alguma vantagem com essa decisão? Ou seja, poderia Brasil tornar-se um parceiro comercial do Reino Unido de significativa importância e influência?

Éder - No que tange as possibilidades futuras de negociações para países como o Brasil as possibilidades são excelentes em todos os aspectos, pois um mercado consumidor que priorizava as mercadorias advindas dos países do bloco europeu poderá abrir-se mais fortemente a mercadorias provenientes de nações externas à União Europeia. Há ainda a questão dos acordos de comércio externo, que acabam por formalizar e institucionalizar o protecionismo comercial, restringindo a entrada de mercadorias externas aos acordos multilaterais.

Nesse contexto o Brasil, que possui hoje uma posição de Global Trader, negociando com uma infinidade de países em todos os continentes, seja como fornecedor de commodities e produtos de médio valor tecnológico, ou ainda absorvendo tecnologias destes parceiros, poderia se valer da experiência de negociações externas para realizar acordos vantajosos com a Inglaterra, seja no papel de fornecedor ou de comprador de mercadorias do país europeu.

Para as exportações brasileiras de produtos agrícolas em direção à União Europeia, um dos grandes entraves é o protecionismo tarifário, que sobretaxa as mercadorias do país ao entrar em qualquer país do bloco. Esse protecionismo, manifestado através da chamada Política Agrícola Comum (ou simplesmente PAC), que faz com que as nações signatárias dos acordos multilaterais europeus adotem uma Tarifa Externa Comum – TEC – para esse tipo de mercadoria, o que é mantido e ampliado desde acordos assinados em 1962, quando o bloco contava ainda com apenas seis países e se chamava Comunidade Econômica Europeia... Pois bem, a saída da Inglaterra da União Europeia desobriga o país a seguir essas regulamentações referentes ao comércio externo, logo, pode tornar-se mais fácil aos produtos brasileiros adentrarem aos mercados consumidores do Reino Unido ou mesmo da própria Inglaterra, aumentando o potencial exportador de nosso país.

Os acordos passíveis de serem firmados entre as duas nações seriam muito mais de importância econômica para o Brasil, do que de influência internacional do país, pois assim como todos os acordos comerciais observados hoje se baseiam no princípio da interdependência e do benefício mútuo e desigual dos envolvidos. Em resumo, nosso país possivelmente venderá mais produtos primários aos ingleses, e talvez tenhamos até um pouco mais de acesso a mercadorias provenientes do país europeu, porém esperar que isso signifique que ficarão mais baratos no Brasil, com nosso famigerado sistema tributário seria sonhar demais.


sábado, 16 de julho de 2016

A SAÍDA DA INGLATERRA DA UNIÃO EUROPEIA (Parte 2)


Por Éder Israel



Disponível em: http://www.castlereport.us/wp-content/uploads/2016/07/Brexit-cutting-the-ties.jpgAcesso em 15 jul. 2016

Antes mesmo do anúncio oficial sobre o resultado da votação, feito por David Cameron, as redes sociais e mídias de massa davam como certa a vitória do BREXIT, e a saída dos ingleses da União Europeia parecia apenas questão de horas. De fato as horas se passaram, e o grupo que defendia a saída do bloco se sagrou vitoriosa do plebiscito realizado. Naquele momento era oficial, a União Europeia perdia um de seus mais antigos membros em um momento em que o terrorismo e a crise econômica redesenham o traçado geopolítico do mundo. A Inglaterra deu o primeiro passo na direção de mostrar que o conto de fadas por trás do superbloco europeu começa, de fato, a ruir...

Assim que o resultado fora sabido, os comandantes do bloco europeu mudaram diametralmente seu discurso de que era necessário alcançar um meio para que o governo e a população inglesa permanecessem no mercado regional. Agora, o discurso de líderes da França e da Alemanha, era de que a saída deveria ser conduzida o mais rápido o possível, e que os ingleses (através de seu governo) se apressassem a comunicar o bloco e formalizar o “abandono do barco” o quanto antes.



Disponível em: http://www.ctvnews.ca/polopoly_fs/1.2951048.1466205347!/httpImage/image.jpg_gen/derivatives/landscape_620/image.jpg Acesso em 15 jul. 2016

Um dos grandes temores do da União Europeia pode ter se confirmado com a decisão dos ingleses em deixar o agrupamento regional e retomar a “individualidade” política e econômica dentro da Europa, posto que isso possa dar início a uma plena evasão de outros membros, descontentes, há tempos, com os rumos econômicos e principalmente políticos do bloco. A manifestação favorável dos ingleses de que “antes só do que com o Parlamento Europeu” pode se tornar um discurso uníssono dentro da antiga Europa Ocidental, e jogar por terra os acordos e avanços adquiridos desde a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço – CECA, em 1952.

É inegável a preocupação de outras nações do bloco acerca da crise latente nos PIIGS e da dificuldade de sanar os problemas econômicos deste grupo de apenas 5 países. Em resumo, o que se tem hoje é uma dupla visão dentro do bloco europeu, a visão dos PIIGS: “até quando a crise vai assolar nossas economias?”, e a dos demais países: “até quando a crise ficará restrita a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha?”. Enquanto estas duas questões, ou nesse caso pontos de vista, não forem sanadas, a incerteza do futuro europeu irá persistir.

Nesse ponto reside o temor do bloco  que intitula esse segundo texto, uma vez que, uma nação ainda não assolada profundamente pela crise, como de fato é hoje a Inglaterra, pode motivar que outros países na mesma situação façam o mesmo, e optem por “abandonar o barco” antes que ele afunde por completo. Isso seria a ruína plena da economia do mercado regional, pois a debandada maciça de associados poderia causar uma fuga importante de divisas e dividendos, afetando pesadamente o Banco Central Europeu e consequentemente impactar negativamente as políticas de socorro das economias que já estão em crise e daquelas que estão à beira do fracasso.



Disponível em: http://www.freewords.com.br/wp-content/gallery/crise-economica-na-uniao-europeia/crise-economica-na-uniao-europeia-pais-dinheiro6.jpg Acesso em 15 jul. 2016

Há tempos a União Europeia se vê as turras com uma dúvida enorme: “Por que não excluir a Grécia do bloco?”, e a resposta a isso é muito simples e prática: “Expulsar a Grécia no meio de uma crise poderia motivar países que ainda não estão em crise a sair antes que ela os atinja!”. Pois bem, a saída da Inglaterra pode e possivelmente vai motivar um “salve-se quem puder” no mercado regional e para o continente, toda a recuperação do pós Segunda Guerra Mundial poderia se esvair ao vento feito a fumaça dos bombardeios no conflito. Talvez, a desistência inglesa de permanecer no bloco signifique aquela dura constatação de que os governos da França e da Alemanha, sabidamente e reconhecidamente os líderes do bloco, não queriam admitir que os gastos com o socorro da Grécia e demais PIIGS pode ter sido em vão caso haja uma saída em massa do bloco.

O fato de que as lideranças europeias estejam apressando ao máximo a saída formal dos ingleses reside na torcida de que, embora não seja algo muito bonito de se ver ou torcer, (...) o abandono da União Europeia traga uma profunda recessão e uma maciça crise de “isolamento” econômico para os ingleses que seja capaz de frear os ímpetos de outras nações em saírem do bloco. Nesse momento as grandes economias europeias estão se agarrando a tudo o que podem, mesmo que a salvação do agrupamento econômico signifique torcer pelo fracasso daqueles que optaram por abandoná-lo. Resume-se nisso a nada moral, porém necessária, tábua de salvação para os aliados econômicos de França e Alemanha. Ao mesmo tempo é um “divirta-se ao nosso lado” e um “ferre-se aí sozinho”...


Continua...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A SAÍDA DA INGLATERRA DA UNIÃO EUROPEIA (Parte 1)


Por Éder Israel




Disponível em: <SssrGSLyvODRqJsRsNAoNtnMyTGPKiddk26rp6hlU9v6KJwLbj4pAcvRpz87Ks1V> Acesso em 12 jul. 2016

O resultado do referendo realizado na Inglaterra no dia 24 de julho desse ano de 2016 vai muito além dos mais de 1,2 milhão de votos favoráveis à saída de uma das principais economias do bloco, que esteve presente no mercado regional europeu desde 1973. Os desdobramentos da apertada vitória dos favoráveis à saída, com 51,9% dos votos válidos, podem trazer um novo suspiro econômico para os ingleses, mas podem também trazer-lhes um fracasso mais rápido do que aquele temido caso permanecesse no bloco, assim como pode fortalecer a integração entre os membros remanescentes da União Europeia, ou sepultar de vez o sonho de criação de um megamercado, vislumbrado em 1952, na assinatura do Plano Schuman por alemães e franceses.

Mas o que estaria por trás das ações e propostas da ala mais conservadora do parlamento inglês? O que tanto teme o grupo que tentou frear a vontade de deixar o bloco europeu? Por que a União Europeia temeu tanto a saída da Inglaterra do mercado regional? Por qual motivo a cúpula das nações constituintes do bloco tem tanta pressa da saída pós referendo? São questões ainda sem resposta, mas cheias de possibilidades e de “achismos”, as quais serão desdobradas nesse breve texto.

É sabido que o bloco europeu foi assolado profundamente pela crise global de 2008, a qual se somou a uma crise interna e crescente, fruto do envelhecimento populacional e suas consequências. No caso europeu, o envelhecimento tem até nome e RG, sendo chamado de “Euroesclerose” por demógrafos contemporâneos. A qualidade de vida elevada associada às facilidades da vida moderna, cada vez mais acessíveis à população das nações mais desenvolvidas, possibilitou nos países da União Europeia (ou em grande parte deles) um crescimento da longevidade, aumentando substancialmente a população idosa, o que sobrecarrega os setores de previdência social e outros mecanismos remanescentes do Estado do Bem Estar Social (EBES) de outros tempos.

Em complementação a esse envelhecimento populacional, ocorre uma contínua redução nas taxas de natalidade e fecundidade nos países do mercado regional, o que causa na atualidade uma redução da população economicamente ativa e da arrecadação pública dos Estados. E lá vem outra vez a sombra do EBES, nos países onde grande parte dos serviços essenciais à população ainda possuem e dependem dos investimentos públicos. Em resumo, nos últimos anos muitos países da União Europeia passaram a gastar mais para sustentar o elevado percentual de idosos, do que arrecadando com o, cada vez menor, percentual de jovens e adultos economicamente ativos.

Segundo a visão da referida ala conservadora do parlamento inglês, esse conjunto de problemas fruto da “euroesclerose” ainda não afetou pesadamente a realidade econômica da Inglaterra. Por enquanto, os países mais afetados são: Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, que estão pejorativamente agrupados em um conjunto chamado PIIGS (na sigla em Inglês) e na visão desse agrupamento de políticos do país, os ingleses não têm obrigações econômicas com o socorro para nações em crise, tal qual a Alemanha tem feito com a questão grega. Para os partidários do BREXIT, o dinheiro da Inglaterra deve ser investido em políticas econômicas do próprio país que se se vê à beira do limite de entrar para os PIIGS...



Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVaMUsVb9z3J73H81bpTs_d2idwq3XVC8-pKQ08Xlft-NtqV3g15skQld44bfFr9my9W4KorFxhDqXtejyIJKowp-QUaA8C9ao-7cgHuyiSvHAuN4GTP0SeQ_yg9gXe5Lw_VR0cE9QerI/s1600/Piigs.jpg> Acesso em 12 jul. 2016

Há ainda a questão clássica dos imigrantes, e da xenofobia, que configura-se hoje como a base principal do discurso daqueles que se mostram contrários à saída inglesa do bloco, sejam os responsáveis por tais discursos ingleses ou não... A alegação de que o país foi motivado pelo interesse de não ter que abrir suas fronteiras para os imigrantes, provenientes do norte da África e do Oriente Médio, tem força a cada dia no noticiário e no “conhecimento” disseminado massivamente pelas redes sociais diariamente, em posts e mais posts de imagens de pessoas morrendo nos países de origem, enquanto barreiras são erguidas nas fronteiras das nações desenvolvidas do continente europeu. Mas faz sentido a ideia de que a xenofobia foi o combustível para o BREXIT? Em minha opinião, não. Mas como dissemos, é um momento de muitos “achismos” e poucas certezas.

Os principais indicativos são de que os partidários do BREXIT vêm os imigrantes como um peso econômico para o já fragilizado sistema inglês, assustado (com razão) pelo buraco financeiro que a “euroesclerose” trouxe aos PIIGS. A saída da União Europeia representa aos olhos dos favoráveis à saída uma única chance de salvação própria para uma futura crise que se alastra pelo continente, fruto das mudanças demográficas contemporâneas. Porém, aos olhos daqueles que se opõem a essa saída, pode selar a decadência econômica do país, pois este estará oficialmente e irremediavelmente desprovido da ajuda financeira das demais nações do bloco, a qual pode ter sido capaz de amenizar os impactos da crise nos PIIGS, principalmente na Grécia.


... Continua


domingo, 12 de junho de 2016

GABARITO COMENTADO DE GEOGRAFIA UNIUBE/MEDICINA - 2016/1


Questão 49

O DESABAFO DO RIO SÃO FRANCISCO
Raimundo Nascimento


Eu sou apenas um rio
Porém não posso falar
Mas vou fazer um alerta
Através deste poeta
Que se pois, no meu lugar.
E vai passar pra vocês
Que me trás  a poluição
Sem ter nenhuma noção
Do que isso causará.

Eu me chamo Rio São Francisco,
Venho da serra da canastra
Vou levando a irrigação
Por onde minhas águas passam
Vou percorrendo o  sertão
Molhando toda essa massa.

Uns me chamam velho Chico
Outros me chamam chicão
Mas também sou conhecido
Como o rio da integração
Por banhar vários estados
Da nossa federação.

Pois, venho aqui, meu amigo,
Fazer o meu desabafo
Aqueles que me polui
Que tira de mim pedaço,
E pra aqueles que me preservam
Já deixo um forte abraço.

Faço aqui um apelo
Prá quem desmata o meu leito
Eu peço por caridade
um pouco mais de respeito
e se tu queres viver,
eu tenho o mesmo direito.

Tenho direito a viver
Sem haver poluição
Levar água pra beber
A toda população
E pra isso é preciso
Sua colaboração.

A o amigo agricultor,
Eu peço para você
Não jogue o lixo em mim
Isso só me faz sofrer…
Jogando o lixo no rio
Os peixes podem morrer.

Faço um apelo também;
Você aí da cidade…
Que faz de mim um refém
Da sua real crueldade
Tratem bem os seus esgotos,
Me faça essa caridade…
[...]
Isso é um grande pedido
Que faço a população
Desde as minas gerais
Até aqui, no sertão,
Pois é preciso começar
Minha revitalização .

E a sua compreensão
Agradeço desde já
Antes de chegar meu fim
Antes deu vim a secar
Pois, se é de mim poluir
É MELHOR ME PRESERVAR.



O poema acima refere-se aos preocupantes problemas enfrentados pelo rio São Francisco, carinhosamente chamado de Velho Chico. O rio São Francisco é fundamental para as populações que residem ao longo de seu curso, atravessa alguns estados e por isso é denominado rio da integração. Considerando o poema acima, analise as afirmações seguintes.

I) A transposição do rio São Francisco busca sanar a deficiência hídrica de regiões do semiárido, para abastecer as áreas mais castigadas pela seca.

O item está correto, uma vez que o déficit hídrico do semiárido nordestino é causado pela somatória da escassez de chuvas, elevado índice de evaporação e pela sazonalidade de grande parte dos seus rios. A chegada das águas do São Francisco poderia amenizar essa problemática histórica.

II) O rio São Francisco nasce em Minas Gerais e banha os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, desaguando no Oceano Atlântico.

O item está correto, uma vez que o rio São Francisco nasce na porção central de Minas Gerais, na Serra da Canastra e dirige-se para o nordeste brasileiro, sendo o único grande rio perene a cortar áreas do sertão semiárido, principalmente no sertão pernambucano.

III) Na bacia do rio São Francisco, localizam-se algumas das principais usinas hidrelétricas do Brasil, dentre elas podemos citar a de Três Marias e Sobradinho.

O item está correto. Apesar da histórica redução de seu volume de água, o rio São Francisco, que apresenta percurso planáltico, é amplamente utilizado para a geração de eletricidade, em projetos hidrelétricos como Paulo Afonso, Sobradinho, Xingó, Itaparica, Sobradinho, Moxotó e Três Marias.

IV) Um dos vários problemas ambientais enfrentados é o controle da poluição de muitos núcleos urbanos que lançam esgotos diretamente no rio.

O item está correto, uma vez que assim como acontece nas demais bacias hidrográficas brasileiras, que cortam zonas urbanas, o lançamento de efluentes sem tratamento configura-se como importante impacto ambiental, a ser minimizado por políticas públicas.

V) O Projeto de Transposição do rio São Francisco pode ocasionar risco de salinização dos solos e eventual alteração da flora e fauna da região atingida.

O item está correto, pois a chegada das águas do São Francisco poderia fomentar a expansão das práticas agrícolas às margens dos novos canais e consequentemente a prática de irrigação, a qual quando mal planejada pode influenciar no aumento das concentrações salinas na superfície do solo, tornando salinizado ou até mesmo ácido.

É CORRETO o que se afirma em:

A) I e II apenas
B) I, II, III, IV e V
C) II, III e IV apenas
D) III, IV e V apenas
E) II e III apenas

Questão 50
Cada zona da Terra recebe os raios solares de forma não uniforme, em função de sua forma aproximadamente esférica e do movimento que a Terra executa em torno do Sol. Em alguns locais, os raios solares incidem quase perpendicularmente durante todo o ano, já em outros os raios solares são mais oblíquos.

Considerando a figura abaixo, analise e identifique a alternativa CORRETA.



Obs: Considere 2 como sendo o Sol ao meio-dia


A) A casa está localizada no Círculo Polar Ártico, porque recebe a luz solar de forma muito inclinada.

B) A casa está localizada próxima ao Trópico de Capricórnio, porque a trajetória do Sol está inclinada.

C) A casa está localizada nas proximidades da linha do Equador, porque o sol possui trajetória vertical.

D) A casa está localizada no Trópico de Câncer, porque os raios solares estão oblíquos.

E) A casa está localizada próximo à linha do Equador, porque os raios solares são oblíquos.

Pela trajetória descrita pelo sol, no sentido direto leste-oeste, e pela observação de que a sombra da casa projeta-se para oeste antes do meio-dia (posição 1) e não se forma sombra ao meio-dia (posição 2), é possível inferir que o deslocamento do sol se faz praticamente em linha reta, o que se observa apenas nas zonas localizadas próximas à linha equatorial. O fato de não haver sombra na posição 2 indica que o sol está exatamente no seu zênite equatorial.

Questão 51

A noção de Cartografia enquanto um conjunto de técnicas utilizadas com finalidade de representar elementos e fenômenos evidenciados no espaço geográfico é tão antiga quanto a própria humanidade. À medida que os grupos humanos passaram a se organizar coletivamente, as representações espaciais foram criadas para demarcar os núcleos de povoamento e os próprios territórios de caça dessas sociedades mais antigas. Ao longo dos séculos, essas representações, os mapas, foram evoluindo, bem como seus fins foram se tornando mais complexos.
Fonte: https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/ofitexto.arquivos/degustacao-rc.pdf

Assim, conhecer o espaço, tanto natural quanto geográfico, através da utilização dos mapas, bem como dominar as noções de astronomia, torna-se fundamental para o amplo entendimento da ciência Geografia. Para tanto, inúmeros conceitos tornam-se primordiais nesse processo de aprendizado.

Dessa forma, em uma aula de Cartografia, o professor fazendo uso de um mapa-múndi na escala 1:30.000.000, apresenta aos alunos o ponto P1 (0o, 15oE) e, sem seguida faz as seguintes afirmações:

I) Se no ponto P1 forem 22h, instantaneamente, na posição antípoda de P1 serão 10h do dia anterior.

O item está incorreto, uma vez que a antípoda de um ponto qualquer seria a diferença em graus entre esse ponto e 180º, no hemisfério oposto. Assim, a antípoda de 15ºE seria representada por 180º - 15ºE = 165ºW. A diferença horária entre um ponto e sua antípoda é sempre de 12 horas, e como nesse caso a antípoda encontra-se a Oeste, seriam 12 horas a menos, portanto 10h da manhã do mesmo dia.

II) O mapa apresentaria um melhor nível de detalhamento se elaborado na escala 1:40.000.000.

O item está incorreto, pois nas escalas cartográficas a regra é que quanto menor a escala, maior a área representada, porém menor será o detalhamento das informações contidas neste mapa. Como a escala de 1:40.000.000 é menor que a de 1:30.000.000, esta apresentaria menor nível de detalhamento.

III) Um ponto P2 (0o; 75o W) tem 5 fusos de diferença relativamente ao ponto P1 e atrasados em relação ao Meridiano de referência GMT.

O item está incorreto, pois cada fuso horário equivale a 15º de longitude, e estando o ponto P1 a 15ºE e o ponto P2 a 75ºW, a diferença entre eles seria de 90º e portanto de 6 fusos, todos atrasados em relação a P1.

IV) Nos equinócios de primavera e outono, o Sol estará a pino, às 12h, tanto na posição P1, quanto na posição P2.

O item está correto, pois os pontos P1 e P2 localizam-se sobre alinha do Equador, por onde o sol descreve uma trajetória vertical nos dias de equinócios de outono e primavera, estando a pino (ou no zênite) exatamente às 12h desses dias.

V) Em um percurso retilíneo de P1 a P2, atravessaríamos o Brasil em sua porção setentrional.

O item está correto, pois a região setentrional (norte) do território brasileiro encontra-se nas proximidades da linha do Equador, latitudes de P1 e P2. Com relação às longitudes, o Brasil se estende pelos fusos de 30ºO nas ilhas oceânicas até 75ºO no estado do Acre, dentro portanto do trecho de deslocamento entre P1 e P2.

Estão CORRETAS as afirmações contidas em:

A) IV e V, apenas
B) II, III e V, apenas
C) I e III, apenas
D) I, II e IV, apenas
E) I, II, III, IV e V

Questão 52

San Andreas: O perigo real de uma das falhas geológicas mais temidas do mundo

A terra treme e os arranha-céus do distrito financeiro de Los Angeles desmoronam, prendendo milhares sob os escombros.


Um tsunami de proporções bíblicas adentra a baía de São Francisco, engolindo, por sua vez, a famosa ponte Golden Gate, antes de arrasar a cidade californiana.

Esses são dois dos cenários terríveis que mostram o filme catástrofe Terremoto - A Falha de San Andreas (2015). A falha de San Andreas, que atravessa a Califórnia de norte a sul ao longo de 1,3 mil quilômetros e delimita a parte norte-americana da placa do Pacífico, é uma das mais estudadas no mundo, uma vez que está quase inteiramente na superfície da terra. Ela foi a causa do devastador terremoto de magnitude 7,8 que destruiu grande parte de São Francisco em 1906, matando mais de 3 mil pessoas.

Há três principais tipos de movimentos de placas tectônicas, considerando a direção do deslocamento de uma placa em relação à outra. No caso da costa oeste dos Estados Unidos, o movimento que envolve as placas denomina-se:

A) Convergente
B) Transformante
C) Subducção
D) Divergente
E) Dorsal Oceânica

A Falha de San Andreas localizada na Costa Oeste dos Estados Unidos é formada pelo contato entre as placas Norte Americana e do Pacífico. Neste limite de placas ocorre um movimento paralelo entre as duas placas que é conhecido como movimento tangencial, conservativo ou transformante, no qual são comuns os abalos sísmicos de grande magnitude.

Questão 53

Leia com atenção:

Primeiramente devemos ressaltar como as sociedades igualitárias engendraram formas de preconceito muito claras, porque sua ideologia negava o intermediário, a gradação e a relação entre grupos que deveriam permanecer separados, embora pudessem ser considerados teoricamente iguais. Tal fato não existiu na sociedade brasileira e até hoje tem débil aceitação social. Realmente, estou convencido de que a sociedade brasileira ainda não se viu como sistema altamente hierarquizado, onde a posição de negros, índios e brancos está ainda tragicamente de acordo com a hierarquia das raças. Numa sociedade onde não há igualdade entre as pessoas, o preconceito velado é forma muito mais eficiente de discriminar pessoas de cor, desde que elas fiquem no seu lugar e “saibam” qual é ele.

(DA MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 46).

O autor tece uma crítica à forma como a sociedade brasileira lida com a discriminação. Entre os conceitos abaixo, assinale o que melhor se relaciona a essa crítica:

A) Etnocentrismo
B) Relativismo cultural
C) Segregação racial
D) Democracia racial
E) Xenofobia

A crítica realizada pelo autor se refere à chamada Democracia Racial instituída no Brasil, a qual desvincula a discriminação e o racismo das relações cotidianas das pessoas. Segundo a ideia da Democracia Racial todas as pessoas são de fato iguais e têm direitos também iguais. Nota-se na crítica do autor a preocupação de como essa ideia de democracia acaba por esconder ou mascarar o preconceito e o racismo velado no país, que faz parte da vivência cotidiana da nossa sociedade.

Questão 54

“As águas superficiais constituem parte da riqueza dos recursos hídricos de um país. No caso brasileiros, país de extensão continental, a rede fluvial é importante recurso natural, contando em seu território com a maior bacia fluvial do mundo em extensão e em volume de água. [...] Com diferentes regimes, muitos dos rios são barrados para, em especial, produzir energia, abastecer de água as populações e irrigar terras. As sucessivas quedas de água, características dos planaltos, associados ao volume de água dos rios oferecem ao país um elevado potencial hidráulico situando-o entre os cinco países de mais elevado potencial hidráulico instalado”.

(CUNHA, Sandra B.; GUERRA, Antônio José Teixeira (Org.). Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998, p. 229).


Considerando a bacia hidrográfica identificada no mapa como I, analise as afirmativas seguintes.

I) Atravessa áreas de clima semiárido, sendo fundamental para populações ribeirinhas.

O item está correto, pois na região semiárida nordestina predominam os rios intermitentes ou temporários, e uma parcela significativa das populações desta área buscam residir e desempenhar suas atividades econômicas e de subsistência se valendo das águas deste rio.

II) A criação de gado sempre foi atividade tradicional em suar margens, desde o Brasil colônia.

O item está correto, pois ainda no período colonial o rio São Francisco ficou conhecido como o “rio dos currais”, haja visto o intenso uso de suas margens para atividades pecuárias. Estes rebanhos ali se estabeleceram por conta da oferta permanente de água, fato que não é observado em toda a região nordestina.

III) O seu rio principal é tipicamente de planalto, possuindo alto potencial energético.

O item está correto, pois no rio São Francisco destacam-se inúmeros projetos hidrelétricos, tais como Paulo Afonso, Sobradinho, Xingó, Itaparica, Sobradinho, Moxotó e Três Marias.

IV) A bacia hidrográfica apresentada é tipicamente brasileira e atravessa o estado de São Paulo.

O item está incorreto, uma vez que a Bacia do São Francisco inicia-se no estado de Minas Gerais e segue em sentido ao nordeste, atravessando os estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.

É CORRETO o que se afirma em:

A) I e II, apenas
B) I e III, apenas
C) I, II e III, apenas
D) III e IV, apenas
E) I, II e IV, apenas

Questão 56

Leia com bastante atenção:

Um levantamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) obtido pela BBC Brasil por meio da Lei de Acesso à Informação revela que indicadores da qualidade do serviço de saúde prestado aos índios estão em patamar muito inferior aos do resto da população.

Os dados detalham todas as mortes de índios registradas desde 2007 em cada um dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), que englobam uma população de cerca de 700 mil índios. As informações de 2013 estão incompletas.

O levantamento mostra que nos últimos sete anos 2.365 índios morreram por causas externas (acidentes ou violência), dos quais 833 foram vítimas de homicídio. Outras 228 mortes por lesões não tiveram sua intenção determinada. Não há informações sobre a autoria dos crimes.

O DSEI Mato Grosso do Sul responde pelo maior número de assassinatos de índios: 137 nos últimos sete anos. Na reserva de Dourados, área indígena visitada pela BBC Brasil, moradores evitam circular à noite por medo de ataques.

Reportando-se à produção historiográfica brasileira mais recente sobre os conflitos sociais no centro-oeste brasileiro, é possível afirmar que uma das razões para o triste quadro de homicídios descrito pela BBC Brasil refere-se à:

A) Intervenção armada e constitucional do Exército que, geralmente, é acionado pela FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária).

B) Ação violenta dos narcotraficantes contra os índios que rejeitam a proteção oferecida pelos grandes pecuaristas locais.

C) Ação violenta de alguns latifundiários e madeireiros, incomodados com a demarcação das reservas indígenas e estabelecimento das áreas de preservação ambiental.

D) Defesa dos pecuaristas locais que podem, segundo a Constituição, organizar milícias capazes de conter o crescimento da população indígena.

E) Peleja entre pecuaristas e índios que, na tentativa de barrar a expansão da fronteira agrícola nacional, inventaram o conceito institucional de Reserva Indígena.

A partir da década de 1970 houve a ampliação da fronteira agrícola brasileira em direção ao cerrado no centro-oeste, o que foi possibilitado pela Revolução Verde e a modernização das técnicas de cultivo da terra. Com a chegada dos agricultores, em sua maioria sulistas, inicia-se o conflito pela posse e propriedade das terras, entre os índios que ali estavam e os agricultores que ali chegavam. Atualmente esses conflitos tem como motivação a demarcação de terras indígenas, que garantam aos povos nativos a permanência em seus locais de vivência, assim como do estabelecimento de áreas de preservação ambiental, principalmente após a recente alteração do Código Florestal Brasileiro.

Questão 57

Leia com atenção o trecho seguinte. Nele o sociólogo Fernando Henrique Cardoso pensa o populismo.

...como o elo através do qual se vinculam as massas urbanas mobilizadas pela industrialização – ou expulsas do setor agrário como consequência de suas transformações ou de sua deterioração – ao novo esquema de poder; e converter-se-á na política de massas, que tratará de impulsionar a manutenção de um esquema de participação política relativamente limitado e baseado em uma débil estrutura sindical que não afetou as massas rurais nem o conjunto do setor popular urbano.
Considerando o comentário exposto, responda: Como poderíamos vincular os elementos conceituais presentes no texto às estratégias de governo adotadas por Getúlio Vargas? Em outras palavras: que medidas varguistas expressam a ideia de populismo aqui mencionada?

Assinale a alternativa CORRETA

A) Combate contra a fome por meio de programas sociais e educação básica de ótima qualidade.

B) Nacionalização da indústria de base e manutenção de “pelegos” entre as lideranças da classe operária.

C) Programas de redistribuição do patrimônio fundiário que se encontra nas mão de grandes proprietários.

D) Fomento para a escola e viabilização de componentes culturais e artísticos necessários a uma vida social menos provinciana.

E) Parcerias com Organizações Não Governamentais afinadas com o programa de governo e apoio dado ao campesinato militante.

O governo de Getúlio Vargas foi marcado pelo foco dos investimentos estatais nas atividades secundárias, com a criação de indústrias de base que pertenciam ao governo, que visava com isso dominar e controlar a vida econômica do país, implantando um modelo de substituição de importações. Os movimentos sociais que se contrapusessem ao projeto nacionalista e populista de Vargas também eram controlados pelo Estado, seja através da perseguição política, seja pelo controle sindica, atrelado aos interesses do governo, sendo com isso chamado de “pelego”.

Questão 58

Kay Johnson, professora de estudos asiáticos do Hampshire College (Massachusetts) mergulhou, nos últimos 20 anos, na polêmica do filho único da China, mas por um viés pouco divulgado: o dos pais biológicos sob coerção de uma dura política de natalidade. Após 35 anos em vigor, o governo chinês trocou, em 2015, o padrão de apenas um filho por casal pela autorização para dois filhos. Cálculo oficial indica uma redução de 400 milhões de nascimentos em três décadas - críticos da medida, porém, acreditam que o número seja menor. Johnson e uma rede de pesquisadores chineses entrevistaram, no interior do país, centenas de casais que abandonaram seus filhos, pais chineses que adotaram parte dessas crianças e famílias que criaram escondidos seus segundos e terceiros herdeiros para não enfrentar as pesadas punições - multa alta e até esterilizações forçadas. O resultado, consolidado no livro "China's Hidden Children" (As Crianças Escondidas da China).

Desde os anos de 1970, o governo chinês implantou um rigoroso controle de natalidade. O principal objetivo era reduzir as taxas de crescimento demográfico da população chinesa. 

Considerando a reportagem acima e o controle de natalidade chinês, analise as afirmativas abaixo.

I) Os impactos do controle de natalidade chinês são percebidos pelo envelhecimento da população, o que faz o governo modificar sua política populacional.

O item está correto, uma vez que a redução das taxas de natalidade na China ocasionou a ampliação do percentual de idosos na composição total da população chinesa, o que aumenta a idade média e consequentemente ocasiona o envelhecimento.

II) Um efeito da política de filho único chinesa é o contraste numérico entre homens e mulheres, havendo uma predominância masculina, devido a abortos e mortes de meninas.

O item está correto, pois como a inserção social e econômica de homens é muito mais fácil do que de mulheres, levando a população a optar por crianças do sexo masculino, que teriam mais condições econômicas de sustentar os genitores na velhice.

III) A China terá, segundo estimativas, 30 milhões de homens em idade de se casar em 2020. Tal fato é decorrente do abandono e do infanticídio de bebês do sexo feminino.

O item está correto, posto que a opção econômica por crianças do sexo masculino leva a um déficit de mais de 10 milhões de pessoas do sexo masculino na China, o que tende a se agravar nas próximas décadas, quando o volume de homens será maior que o de mulheres no país.

IV) O controle de natalidade gerou milhões de filhos únicos, batizados de “pequenos imperadores”, em razão da atenção que recebem de seus pais e avós.

O item está correto, pois os filhos únicos, geralmente meninos, são vistos pelas suas famílias como a única possibilidade de acesso a renda e a qualidade de vida da família no futuro, daí o tratamento preferencial a eles dispensado no grupo familiar.

É CORRETO o que se afirma em:

A) I e II, apenas
B) I e III, apenas
C) II e III, apenas
D) I, II, III e IV
E) IV e V apenas (Não há item V na questão...)