Parte 2: Há muito mais do que defesa de soberania e das populações nacionais na construção destes muros...
Por Éder Israel
Disponível em: <http://imguol.com/c/noticias/e6/2015/09/03/3set2015/600x424.jpg> Acesso em 06 jan. 2016
No caso das coreias, a divisão é fruto do armistício
assinado em 1951 pelas duas partes da península envolvidos em um conflito
militar e ideológico que remonta ao contexto da Guerra Fria, quando o norte sob
influência do socialismo soviético (e principalmente chinês) entrou em conflito
com o sul, que aproximava-se politicamente dos Estados Unidos e posteriormente
do Japão. O armistício assinado pelas lideranças do norte e do sul não pôs fim
á guerra, mas simplesmente colocou uma pausa nos conflitos. As ações militares
cessaram, porém as disputas no contexto político e ideológico seguem seu curso
normal, embora o período da Guerra Fria e da bipolaridade mundial tenham se
“extinguido” há tempos.
Hoje, o paralelo 30ºN continua sendo uma das regiões
mais militarizadas e vigiadas do mundo, impedindo a passagem dos habitantes de
ambos os países em qualquer direção. Recentemente haviam sinais de um
enfraquecimento da divisão física das duas nações, com diálogos a respeito da
possibilidade de liberar o fluxo de pessoas entre as duas regiões, porém as
recentes ações e inclinações belicosas do governo do norte da península coreana
tem dificultado a continuidade dos diálogos e o estabelecimento de novos
acordos entre os dois Estados, acenando para uma possibilidade cada vez mais
real de manutenção da divisão entre norte e sul. Cabe mencionar que no caso da
barreira erguida no paralelo 30ºN, trata-se de uma divisão ideológica e política, entre o socialismo que tenta sobreviver
acima do paralelo e o capitalismo que se estabeleceu e enraizou abaixo dos 30º.
Disponível em: < http://www.luizberto.com/wp-content/cicero56.jpg>
Acesso em 07 jan. 2016
Já os limites territoriais dos Estados Unidos e do
México que sempre foram economicamente bem divididos de acordo com o nível de
desenvolvimento das duas nações e pelo rio Grande em vários quilômetros, tem
sua paisagem histórica modificada recentemente pela construção e constante
ampliação de uma cerca que limita fisicamente as duas nações norte americanas,
com o claro intuito de fechar de vez o acesso de latinos à América
Anglo-Saxônica.
A década de 1980 deu origem a uma série de recessões
econômicas na América Latina, que aqui no Brasil ficou conhecida como a “década
perdida” enquanto no México começou um pouco mais tarde, no início da década de
1990, tendo sido chamado de “efeito tequila”, o que motivou um aumento
substancial dos fluxos de imigrantes ilegais para os Estados Unidos, e para
conter este fluxo maciço de pessoas do “sul” para o “norte” foi lançada em 1994
a Operation Gatekeeper, que iniciou a
construção de um muro físico na fronteira seca entre as duas nações, muro este
que tem se ampliado recentemente, e sido usado nos discursos políticos de
conservadores ferrenhos como Donald Trump, candidato a candidato à presidência
da potência hegemônica americana. Cabe mencionar, portanto eu a fronteira
concreta entre Estados Unidos e México corresponde a uma divisão econômica entre duas nações
capitalistas americanas.
Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_7Iu6s1xPt7c/TOFOcqPsdyI/muro+EUAM%25C3%25A9xico.jpg>
Acesso em 07 jan. 2016
A análise da fronteira atual entre os territórios dos
judeus de Israel de dos árabes da Cisjordânia necessita do entendimento dos
processos que motivaram os conflitos nesta região, até porque este entendimento
possibilita a compreensão e mesmo a aceitação de que estes conflitos
dificilmente se cessarão um dia, pois envolvem um conjunto enorme de variáveis
históricas, culturais, territoriais e étnicas, e essas coisas demandam tempo e
um “algo mais” que possivelmente árabes e judeus não estão dispostos a cederem
em prol da paz e da vivência pacífica (ou pelo menos harmônica) entre
israelenses e palestinos.
O calcanhar de Aquiles desta questão no Oriente médio
reside na premissa de que judeus e árabes alegam ser “donos” dos territórios da
Palestina/Israel, e o agravante é que de acordo com o ponto de vista usado na
análise, ambos têm razão em essa alegação, daí a dificuldade de um dos lados
ceder à partilha do território e ao mesmo tempo, caso esta partilha fosse
realizada, cada um dos envolvidos se contentar com sua parcela desse
território, por se considerar dono de toda a região. E é nesse momento que a
situação se complica e os tratados de paz intermediados pelo ocidente (que não
entende, ou antes finge não entender) todas as variáveis que compõem essa
miscelânea de interesses e pretensões dos povos do oriente.
Analisando a situação sob o ponto de vista dos judeus,
há de se admitir que eles estão corretos em sua alegação de que estariam apenas
voltando para a Terra Prometida a partir da criação do Estado de Israel após a
Segunda Guerra Mundial pela ONU (leia-se Estados Unidos), uma vez que os judeus
ali estavam até sua expulsão (Segunda Diáspora) em 70 d.C. pela expansão do
Império Romano e a conseqüente destruição de Jerusalém. A partir deste momento
os judeus se “espalharam” pelo mundo, principalmente norte da África, Europa e
Ásia Menor (basicamente a parte asiática da Turquia atualmente).
Pois bem, dando um salto temporal em busca do fio da
meada que orienta o presente texto, chegamos ao contexto pós Primeira Guerra
Mundial, e de expansão do “nacionalismo” alemão pós Tratado de Versalhes, que
encontrou em Adolf Hitler a figura ideal para mover massas em nome do revanchismo
dos alemães, assim como no nazismo um ideologia que se encaixava perfeitamente
na concepção de que a Alemanha era maior que o resto do mundo e deveria dominar
este. Faltava, portanto alguém para ser o “bode expiatório” da questão,
sobrando para os judeus que ali (na Europa) estavam desde a Segunda Diáspora
judaica. Pronto, estavam prontas as bases para o Holocausto e a Segunda Guerra
Mundial. Mas e a questão entre judeus e palestinos, onde entra nosso tudo?
Então, José, quase no final da segunda guerra e com a
iminente derrota dos países do Eixo, os Estados Unidos e alguns dos membros da
Aliança se reuniram na cidade de Bretton Woods (mais precisamente em 1944) para
a realização de uma conferência homônima que traçaria os planos que marcaria os
rumos que o mundo seguiria, e conseqüentemente lançaria as bases para a Guerra
Fria que viria em 1947. Na Conferência de Bretton Woods foram criados o Fundo
Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e o estabelecimento do
Padrão Dólar-Ouro, e este último é o que de fato nos interessa, pois os Estados
Unidos precisariam de dinheiro para ampliar os seus investimentos nos planos
Marshall e Colombo após a Segunda Guerra Mundial, e os judeus teriam bastante
dinheiro para investir depois das indenizações pagas pelo Estado Alemão após a
derrota que se aproximava. Bom, José pensa! Estados Unidos mandarão na ONU, a
ONU tem poder de dividir territórios e criar novos Estados, os judeus receberão
indenizações pelo holocausto, o governo estadunidense precisa de muito
dinheiro, os judeus de um território... Ligue os pontos aí, é fácil...
Portanto, segundo os judeus a criação do Estado de
Israel seria a volta para a terra prometida, da qual foram expulsos pelos
romanos em 70 d.C.. Porém, nesse meio tempo, entre a diáspora e a criação de
Israel, os muçulmanos (que chamaremos de palestinos, por uma questão de
facilidade de entendimento) “dominaram” a região a partir do ano de 638
(aproximadamente) e dali fizeram seu território. Advém daí grande parte da
“treta”, pois segundo os palestinos, eles ali estão desde os anos 600 d.C. e
não aceitam o retorno dos judeus, sendo que vale em seu ponto de vista a idéia
de nossa infância de que “saiu ao vento, perdeu o assento”. Portanto segundo os
judeus, os muçulmanos precisam sair para que estes retornem aos seus antigos
domínios, ao passo que os palestinos dizem que “daqui não saio e ninguém me
tira”...
Com a criação de Israel os territórios que antes eram
chamados simplesmente de Palestina foram divididos, dando origem posteriormente
a três regiões distintas, das quais duas são árabes (Faixa de Gaza e
Cisjordânia) e uma judaica (Israel), e aí a situação "desandou" pois
os judeus alegam que devem ter a posse de toda a Terra Prometida, tendo
portanto os palestinos que saírem, e por outro lado os palestinos afirmam que
os judeus não têm direito de voltar e dominar a região. Soma-se a isso o
expansionismo dos territórios israelenses para além dos limites da partilha de
1948 e principalmente o apoio quase que incondicional dos Estados Unidos (leia
ONU e lembre-se da Conferência de Bretton Woods...) às políticas de Israel nas
questões territoriais e pronto, começou a fazer sentido aquilo que seu
professor chama de "barril de pólvora" no Oriente Médio.
Em 2001 o governo de Israel deu início à construção de
um muro que dividia territórios judaicos daqueles ocupados por palestinos na
Cisjordânia. Segundo as alegações israelenses a barreira foi idealizada para
garantir a segurança de sua população contra os constantes ataques de grupos
árabes, assim como garantir a manutenção dos territórios além dos limites de
1948, naquilo que se convencionou a chamar de assentamentos judeus. Segundo os
palestinos e a própria ONU a construção do muro fere os acordos da criação de
Israel, assim como vai contra os direitos humanos essenciais dos povos da
Cisjordânia, mas de nada adiantou o posicionamento da organização supranacional
em 2004, pois o muro além de continuar existindo teve seu traçado ampliado.
A intransigência de Israel ao erguer um muro separando
a Cisjordânia do restante da antiga Palestina, e a inoperância da ONU em fazer
cumprir as determinações de um organismo próprio que julgou ilegal a construção
desta barreia, e principalmente a postura de total e irrestrito apoio ao
governo israelense por parte dos Estados Unidos criam condições para que os
conflitos entre judeus e árabes se arrastem indefinidamente pelos próximos anos
e os noticiários continuarão destacando um ataque de algum palestino extremista,
que será prontamente respondido pelas forças armadas de Israel, e como sempre
as populações civis estarão entre as vítimas desses ataques (de ambos os
lados). A partir da análise destes fatos, é plausível inferir que o muro que se
ergue entre os territórios judeus e árabes representa claramente uma divisão étnica e religiosa o Oriente Médio.
Disponível em: <http://i55.tinypic.com/14m3o6f.jpg>
Acesso em 09 jan. 2016
Recentemente grandes levas de imigrantes do norte da
África se direcionaram ao sul da Europa, abrindo um importante debate global a
respeito da questão dos refugiados e das fronteiras no mundo contemporâneo,
principalmente pelo elevado número de pessoas que morreram na tentativa de
realizar a travessia do mar Mediterrâneo. Os destinos principais eram a Itália
e a Grécia, por conta da proximidade geográfica com o continente africano.
A pobreza endêmica e o passado colonial da África cria
condições para que esses contingentes imigratórios se mantenham ao longo do
tempo e se ampliem recentemente, assim como a discussão sobre o direito dos
países europeus fecharem ou não suas fronteiras para estes africanos. Porém, o
foco de nossa análise nesse texto reside nas localidade de Ceuta e Melilla pertencentes
à Espanha, mas localizadas geograficamente no Marrocos, pois a proximidade
dessas localidades com o sul da Europa faz com que sejam (ou tenham sido) um
caminho preferencial para os africanos que buscavam refúgio no velho
continente. Para evitar que ocorram estes fluxos migratórios o governo espanhol
investiu na construção de muros (chamados de vallas) ainda no início da década
de 1990, com o claro intuito de impedir que populações africanas tivessem
acesso ao Mediterrâneo e dali à União Europeia.
As vallas de Ceuta e Melilla acabaram por levar os
africanos a buscarem novas rotas para terem acesso ao bloco europeu, o que tem
tornado a travessia mediterrânica cada vez mais longa e arriscada, ceifando milhares
de vidas nos últimos anos. Principalmente nos últimos meses, quando a chegada
de movimentos islâmicos extremistas, como o Boko Haram na Nigéria, tem levada
um número cada vez maior de pessoas a buscarem um modo de abandonar a África em
prol da garantia de suas vidas. A Espanha resolve (em partes) o seu problema nos
domínios africanos frente à União Europeia, que cobra constantemente um
controle maior das fronteiras externas dos países membros do bloco, mas cria
para as populações africanas condições que em muitos casos as condenam à morte
por diferentes meios, em relação à incapacidade de sair do continente ou de
chegar às terras europeias.
Observando-se as características e fatores componentes
da questão fronteiriça em Ceuta e Melilla, pode-se afirmar que esta barreira
configura-se em uma fronteira econômica,
uma vez que separa claramente os "pobres" da África da
"riqueza" europeia, representando uma nova limitação ao direito
essencial de ir e vir das populações, confinando-as a condições precárias de
vida (na verdade sobrevivência...), limitando a possibilidade de criação de uma
sociedade plenamente integrada e interdependente, que se convencionou a chamar
(antes mesmo de sua existência) de sociedade global.
Disponível em: <http://admin.beta.news.linktv.org/wp-content/uploads/2014/04/Spain-African-migration.jpg>
Acesso em 09 jan. 2016
Em resumo, podemos concluir que a capacidade do mundo
contemporâneo em resolver esse tipo de problema se deve à sua igual capacidade
de criar esses mesmos problemas, haja visto que o antagonismos entre um mundo
cada vez mais rico e sociedades cada vez mais pobres, dos lugares cada vez mais
conectados e as pessoas cada vez mais distantes umas das outras, da plena
evolução dos meios de transportes e as limitações ao livre fluxo de
pessoas(...) fazem parte de uma sociedade (que as pessoas insistem em chamar de
"sistema", mas eu considero o termo reducionista) que se sustenta
exatamente pela desigualdade, pelas discrepâncias e pela dicotomia entre s
extremos.
Passada a "festa" pela queda do Muro de
Berlim em 1989, o mundo viu de fato o nascimento de várias outras barreiras e
certamente verá isso por longos anos. Seria meio que admitir que não há ingresso
para todo mundo na festa da globalização...
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obrigada. texto excepcional.
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