domingo, 24 de janeiro de 2016

CONFERÊNCIA MUNDIAL DO CLIMA 2015 - COP-21

Parte 1: O que há por trás da aparente preocupação global em relação às mudanças climáticas?


Por Éder Israel


Disponível em: <http://menos1lixo.virgula.uol.com.br/wp-content/uploads/2015/12/cop-paris-perspective-cropped.png> Acesso em 23 jan. 2016

Ainda sob a comoção criada após os ataques terroristas ocorridos em Paris no final de 2015, foi realizada na capital francesa uma das mais importantes conferências relativas ao meio ambiente, a qual foi chamada de COP-21. Dentre os principais pontos debatidos nessa conferência e que passaram "despercebidos", podemos destacar alguns que se configuram como os mais ressonantes para os próximos anos, tais como o conjunto de propostas realizado pelos países menos desenvolvidos, assim como a "benevolência" relativa das potências mundiais em relação a ações ligadas à conservação ambiental. Parece bom demais para ser verdade...

A COP-21 pode ser compreendida como uma proposta de revisão dos pontos e propostas realizados em 1998 no Protocolo de Kyoto, quando se buscava uma redução de 5,2% das emissões de CO2 para a atmosfera a ser alcançada pelos países desenvolvidos (chamados na ocasião de Nações do Anexo 1) no período entre 2008 e 2012. Nesse final de 2015, a meta principal era a ampliação  desta taxa de redução para além dos 5,2%, bem como a proposta de comprometimento de países fora do grupo do Anexo 1, para que se chegasse a um consenso global para a retração mundial dos níveis de poluição atmosférica e consequentemente do aquecimento global.


Disponível em: <http://gdb.voanews.com/41879063-5408-492D-A460-D04CCB976391_mw1024_s_n.jpg> Acesso em 23 jan. 2016

Voltando aos pontos mais importantes e dignos de menção, destacamos a "boa vontade", principalmente por parte dos Estados Unidos e seu discurso/proposta de reduzir em 1/3 as suas emissões de CO2 para a atmosfera. Poxa, os Estados Unidos, que recusavam a reduzir em 5,2% as emissões em 1998 quando não ratificaram o Protocolo de Kyoto?  Muito estranho isso...

Ora, qual a razão deste pleno e repentino interesse em ajudar o mundo com o meio ambiente? Estariam os Estados Unidos se tornando um país altruísta e preocupado com o bem estar mundial? O que  a maior potência mundial poderia ganhar com essa mudança de atitude ambiental? Precisamos responder a estas questões, para conseguir compreender minimamente o contexto global da questão ambiental para este início de século XXI. Vamos a isso.

Sabemos que no final do século XX, os Estados Unidos passaram a enfrentar um problema que não havia enfrentado desde o término da Segunda Guerra Mundial, que é a concorrência com outra nação que busque tomar sua posição de maior potência capitalista do mundo, fato que se observa atualmente  com o crescimento econômico e a conversão capitalista cada vez mais sólida da China. Embora a economia chinesa tenha atravessado recentemente algumas turbulências, o fato é que o país asiático assume cada vez mais a posição de destaque entre as nações emergentes do mundo e caminha a passos largos na direção de competir brevemente com os Estados Unidos de modo mais efetivo pela posição de Hegemonia capitalista. A China pretende desbancar o mais rápido possível o controle primaz que os estadunidenses detém desde o término da Guerra Fria em 1991, e busca isso às custas de uma ampliação da produção industrial, sem se preocupar com os custos ambientais disso.

A situação econômica da China atual se sustenta, dentre outras coisas, no fato de que a nação asiática não faça parte dos países do Anexo 1 do Protocolo de Kyoto, logo não possuía a obrigatoriedade de reduzir em 5,2% as emissões de CO2 para a atmosfera, o que permitiu ao governo e às indústrias do/no país a livre queima do carvão mineral existente na Manchúria, produzindo energia fóssil em nível elevado. Porém os poluentes atmosféricos eram liberados na mesma proporção do crescimento do PIB chinês. Em 2008, a China ultrapassou os Estados Unidos como maior emissor global de CO2, e desde então a situação tornou-se ainda mais severa, pois enquanto o mundo buscava por fontes alternativas de energia em substituição ao petróleo poluente, os chineses ampliavam a cada dia a queima do carvão mineral, mais poluente que o próprio petróleo.
  

Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQpLn9nKBan7g2X9jfjSukvcVWrgGIg1KImI4UMONp1_UtgV_payz5tCnx0qOzJg4v90yekFp4igP-9I6rgXUXTdYIL1uAg849byn-muvU0mdeztpshFMjfxfBNEKBJGV3foTaZtqClOw/s1600/polui%25C3%25A7%25C3%25A3o+china+2.jpg> Acesso em 24 jan. 2016

A primeira pergunta anteriormente feita, sobre quais os interesses dos Estados Unidos em "ajudar" ao mundo, é respondida com base nesse aspecto, pois com a economia chinesa crescendo quase ininterruptamente desde a década de 1980, a continuação da produção industrial do país asiático o levaria a concorrer, em poucos anos, em pé de igualdade com a economia dos Estados Unidos, em crise desde 2008. Propor um acordo global de redução das emissões de CO2 na COP-21, seria ótimo para o governo estadunidense, pois isso levaria a China a ser obrigada a reduzir a queima do carvão mineral que possui a custos baixos e a sua substituição por outras fontes (fósseis ou não) que o país não possui. Aumentar-se-iam os custos produtivos da nação asiática, reduzir-se-ia seu crescimento econômico, e os Estados Unidos teriam um "suspiro" maior na tentativa de se manter a posição de maior potência do século XXI.

O segundo questionamento, seria se os Estados Unidos estariam se revestindo de altruísmo para com as preocupações globais no que tange ao aquecimento global. Bobagem... A Primavera Árabe de 2011, trouxe uma profunda instabilidade para o mundo árabe e consequentemente para a oferta internacional de petróleo (embora devemos considerar que nesse início de 2016 os preços deste recurso energético anteriormente tão valorizado nos anos anteriores tenha atingido níveis abaixo das últimas décadas, mas trata-se de outra discussão a ser feita em outro momento). Pois bem, a economia estadunidense ainda não se reestabeleceu plenamente da crise imobiliária de 2008 e vê dificuldades em equilibrar seus gastos já planejados e o sobregasto com o petróleo, até recentemente caro. Altruísmo que nada, a questão no caso seria "pindaíba" mesmo, pois a busca tem sido por outras fontes energéticas em alternativa ao petróleo, não por considerar este muito poluente, mas sim por considerá-lo muito caro. Está respondido o segundo questionamento.

E em terceiro lugar, questionei o que os Estados Unidos estariam ganhando com essa proposta de redução de 30% de suas emissões de CO2 para a atmosfera. Em se tratando do maior expoente do capitalismo mundial, é óbvio que o termo "ganhar" deve ser entendido como ganho econômico, como acúmulo de riqueza e capital. Ora, um dos grandes debates atuais acerca das questões energéticas nos Estados Unidos, é a extração e a utilização do gás do xisto, apresentado como "salvador da pátria" ou "fonte energética do futuro". Porém, enfrenta severas críticas principalmente por conta de seu método de extração, chamado de crackin', que é acusado de causar a contaminação e o comprometimento das águas subterrâneas, além da emissão de gases mais nocivos ao clima que o CO2.



Disponível em: <http://fundacaoverde.org.br/wp-content/uploads/2014/01/gas_xisto4.jpg> Acesso em 24 jan. 2016

Portanto, o discurso de que estaria disposto a reduzir a dependência histórica em relação ao petróleo soa, para a opinião pública estadunidense, como uma boa vontade aparente do Estado em busca da sustentabilidade ambiental e isso poderia diminuir as críticas e cobranças hoje realizadas à extração do gás do xisto, que no final das contas é exatamente o que as grandes corporações energéticas do país, que sustentam as campanhas políticas, querem. Como disse, é bom demais para ser verdade...

Na prática, as discussões realizadas na COP-21 serviram muito mais para pavimentar os caminhos das grandes potências na recuperação econômica da crise global de 2008, do que para solucionar ou mitigar problemas de ordem ambiental do mundo. Embora houveram pontos e propostas ambientalmente interessantes que debateremos em outro momento.

Continua...



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