Parte 1: O que há por trás da aparente
preocupação global em relação às mudanças climáticas?
Por Éder Israel
Disponível
em: <http://menos1lixo.virgula.uol.com.br/wp-content/uploads/2015/12/cop-paris-perspective-cropped.png>
Acesso em 23 jan. 2016
Ainda
sob a comoção criada após os ataques terroristas ocorridos em Paris no final de
2015, foi realizada na capital francesa uma das mais importantes conferências
relativas ao meio ambiente, a qual foi chamada de COP-21. Dentre os principais
pontos debatidos nessa conferência e que passaram "despercebidos", podemos destacar alguns que se configuram como os mais ressonantes para os
próximos anos, tais como o conjunto de propostas realizado pelos países menos
desenvolvidos, assim como a "benevolência" relativa das potências
mundiais em relação a ações ligadas à conservação ambiental. Parece bom demais
para ser verdade...
A
COP-21 pode ser compreendida como uma proposta de revisão dos pontos e
propostas realizados em 1998 no Protocolo de Kyoto, quando se buscava uma
redução de 5,2% das emissões de CO2 para a atmosfera a ser alcançada
pelos países desenvolvidos (chamados na ocasião de Nações do Anexo 1) no
período entre 2008 e 2012. Nesse final de 2015, a meta principal era a
ampliação desta taxa de redução para
além dos 5,2%, bem como a proposta de comprometimento de países fora do grupo
do Anexo 1, para que se chegasse a um consenso global para a retração mundial
dos níveis de poluição atmosférica e consequentemente do aquecimento global.
Disponível
em: <http://gdb.voanews.com/41879063-5408-492D-A460-D04CCB976391_mw1024_s_n.jpg>
Acesso em 23 jan. 2016
Voltando
aos pontos mais importantes e dignos de menção, destacamos a "boa
vontade", principalmente por parte dos Estados Unidos e seu discurso/proposta
de reduzir em 1/3 as suas emissões de CO2 para a atmosfera. Poxa, os
Estados Unidos, que recusavam a reduzir em 5,2% as emissões em 1998 quando não
ratificaram o Protocolo de Kyoto? Muito
estranho isso...
Ora,
qual a razão deste pleno e repentino interesse em ajudar o mundo com o meio
ambiente? Estariam os Estados Unidos se tornando um país altruísta e preocupado
com o bem estar mundial? O que a maior
potência mundial poderia ganhar com essa mudança de atitude ambiental?
Precisamos responder a estas questões, para conseguir compreender minimamente o
contexto global da questão ambiental para este início de século XXI. Vamos a
isso.
Sabemos
que no final do século XX, os Estados Unidos passaram a enfrentar um problema
que não havia enfrentado desde o término da Segunda Guerra Mundial, que é a
concorrência com outra nação que busque tomar sua posição de maior potência capitalista
do mundo, fato que se observa atualmente
com o crescimento econômico e a conversão capitalista cada vez mais
sólida da China. Embora a economia chinesa tenha atravessado recentemente
algumas turbulências, o fato é que o país asiático assume cada vez mais a
posição de destaque entre as nações emergentes do mundo e caminha a passos
largos na direção de competir brevemente com os Estados Unidos de modo mais
efetivo pela posição de Hegemonia capitalista. A China pretende desbancar o
mais rápido possível o controle primaz que os estadunidenses detém desde o
término da Guerra Fria em 1991, e busca isso às custas de uma ampliação da
produção industrial, sem se preocupar com os custos ambientais disso.
A
situação econômica da China atual se sustenta, dentre outras coisas, no fato de
que a nação asiática não faça parte dos países do Anexo 1 do Protocolo de
Kyoto, logo não possuía a obrigatoriedade de reduzir em 5,2% as emissões de CO2
para a atmosfera, o que permitiu ao governo e às indústrias do/no país a livre
queima do carvão mineral existente na Manchúria, produzindo energia fóssil em
nível elevado. Porém os poluentes atmosféricos eram liberados na mesma
proporção do crescimento do PIB chinês. Em 2008, a China ultrapassou os Estados
Unidos como maior emissor global de CO2, e desde então a situação
tornou-se ainda mais severa, pois enquanto o mundo buscava por fontes alternativas
de energia em substituição ao petróleo poluente, os chineses ampliavam a cada
dia a queima do carvão mineral, mais poluente que o próprio petróleo.
Disponível
em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQpLn9nKBan7g2X9jfjSukvcVWrgGIg1KImI4UMONp1_UtgV_payz5tCnx0qOzJg4v90yekFp4igP-9I6rgXUXTdYIL1uAg849byn-muvU0mdeztpshFMjfxfBNEKBJGV3foTaZtqClOw/s1600/polui%25C3%25A7%25C3%25A3o+china+2.jpg>
Acesso em 24 jan. 2016
A
primeira pergunta anteriormente feita, sobre quais os interesses dos Estados
Unidos em "ajudar" ao mundo, é respondida com base nesse aspecto,
pois com a economia chinesa crescendo quase ininterruptamente desde a década de
1980, a continuação da produção industrial do país asiático o levaria a
concorrer, em poucos anos, em pé de igualdade com a economia dos Estados
Unidos, em crise desde 2008. Propor um acordo global de redução das emissões de
CO2 na COP-21, seria ótimo para o governo estadunidense, pois isso
levaria a China a ser obrigada a reduzir a queima do carvão mineral que possui
a custos baixos e a sua substituição por outras fontes (fósseis ou não) que o
país não possui. Aumentar-se-iam os custos produtivos da nação asiática, reduzir-se-ia
seu crescimento econômico, e os Estados Unidos teriam um "suspiro"
maior na tentativa de se manter a posição de maior potência do século XXI.
O
segundo questionamento, seria se os Estados Unidos estariam se revestindo de
altruísmo para com as preocupações globais no que tange ao aquecimento global.
Bobagem... A Primavera Árabe de 2011, trouxe uma profunda instabilidade para o
mundo árabe e consequentemente para a oferta internacional de petróleo (embora
devemos considerar que nesse início de 2016 os preços deste recurso energético
anteriormente tão valorizado nos anos anteriores tenha atingido níveis abaixo
das últimas décadas, mas trata-se de outra discussão a ser feita em outro
momento). Pois bem, a economia estadunidense ainda não se reestabeleceu
plenamente da crise imobiliária de 2008 e vê dificuldades em equilibrar seus
gastos já planejados e o sobregasto com o petróleo, até recentemente caro.
Altruísmo que nada, a questão no caso seria "pindaíba" mesmo, pois a
busca tem sido por outras fontes energéticas em alternativa ao petróleo, não
por considerar este muito poluente, mas sim por considerá-lo muito caro. Está
respondido o segundo questionamento.
E
em terceiro lugar, questionei o que os Estados Unidos estariam ganhando com
essa proposta de redução de 30% de suas emissões de CO2 para a
atmosfera. Em se tratando do maior expoente do capitalismo mundial, é óbvio que
o termo "ganhar" deve ser entendido como ganho econômico, como
acúmulo de riqueza e capital. Ora, um dos grandes debates atuais acerca das
questões energéticas nos Estados Unidos, é a extração e a utilização do gás do
xisto, apresentado como "salvador da pátria" ou "fonte
energética do futuro". Porém, enfrenta severas críticas principalmente por
conta de seu método de extração, chamado de crackin',
que é acusado de causar a contaminação e o comprometimento das águas
subterrâneas, além da emissão de gases mais nocivos ao clima que o CO2.
Disponível
em: <http://fundacaoverde.org.br/wp-content/uploads/2014/01/gas_xisto4.jpg>
Acesso em 24 jan. 2016
Portanto,
o discurso de que estaria disposto a reduzir a dependência histórica em relação
ao petróleo soa, para a opinião pública estadunidense, como uma boa vontade
aparente do Estado em busca da sustentabilidade ambiental e isso poderia
diminuir as críticas e cobranças hoje realizadas à extração do gás do xisto,
que no final das contas é exatamente o que as grandes corporações energéticas do
país, que sustentam as campanhas políticas, querem. Como disse, é bom demais
para ser verdade...
Na
prática, as discussões realizadas na COP-21 serviram muito mais para pavimentar
os caminhos das grandes potências na recuperação econômica da crise global de
2008, do que para solucionar ou mitigar problemas de ordem ambiental do mundo.
Embora houveram pontos e propostas ambientalmente interessantes que debateremos
em outro momento.
Continua...
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