sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

SOBRE OS MUROS QUE EMERGEM HOJE NO MUNDO, CONCRETOS OU ABSTRATOS

Parte 1: O fim da Cortina de Ferro não criou a esperada aldeia global 

Por Éder Israel


Disponível em: <http://imguol.com/c/noticias/e6/2015/09/03/3set2015/600x424.jpg> Acesso em 06 jan. 2016

A imagem acima rodou o mundo no final de 2015. Tornou-se uma bandeira de grupos ativistas (politizados ou nem tanto) em praticamente todas as sociedades do mundo que defendiam o respeito básico à vida das populações, dentro ou fora de seus locais de origem. A morte de pequeno sírio Aylan kurdi, de 5 anos, após um naufrágio do barco de refugiados em uma praia turca, mostrou ao mundo o quão grave é a situação de intolerância religiosa ou penúria econômica que assola as populações de várias partes do mundo.

Mais que isso, a morte do pequeno Aylan escancarou de vez a discussão a respeito das barreiras ou muros que se erguem atualmente no mundo, que tornam cada vez mais díspares as condições de vida das populações, forçando-as por vezes a migrar em busca de melhores condições de vida ou simplesmente de garantia da própria vida. As migrações forçadas têm se tornado cada vez mais visíveis e numerosas no mundo contemporâneo e praticamente equiparam-se às migrações espontâneas, que se mostravam muito mais numerosas proporcionalmente no século XX do que neste início de século XXI. 

O que nota-se atualmente é uma ampliação das forças econômicas na determinação das direções e intensidade dos fluxos migratórios no mundo, que seja por pessoas abandonando locais pobres ou simplesmente se direcionando para locais mais ricos do que aqueles onde estão. Na mesma proporção que se ampliam estes fluxos, nota-se também o aumento das barreiras imigratórias e das restrições aos fluxos populacionais em direção a essas tradicionais potências mundiais, ou mesmo às economias emergentes contemporâneas, o que tem sido visto por muitas nações e organizações como sendo uma transgressão ao direito essencial de ir e vir destas populações ou grupos humanos.

O mundo viveu uma doce e passageira ilusão no final da década de 1980, quando caiu o muro de Berlim e com o conseqüente fim da União Soviética em 1991. Neste contexto acreditou-se que, as barreiras concretas (como o referido muro) e as ideológicas (a chamada Cortina de Ferro) estariam para sempre ultrapassadas e as sociedades poderiam enfim se integrar e formar a tão discutida e falada Aldeia Global, com todos os lugares e povos plenamente integrados, em um modelo único de interdependência e cooperação, que não haveria mais o leste e o oeste, o capitalista e o socialista, o mundo dos Estados Unidos e o da União Soviética, enfim, todos fariam parte do mesmo mundo, da mesma sociedade. Como eu disse, doce ilusão...


Disponível em: <http://visaopanoramica.net/wp-content/uploads/2011/05/queda_do_muro_de_berlim.jpg> Acesso em 06 jan. 2016.

Após a teórica superação da divisão mundial entre leste e oeste, passou-se a observar, ainda no final do século XX uma nova divisão, dessa vez não mais ideológica, não mais entre dois sistemas antagônicos, mas sim entre norte e sul, entre os “ricos” e os “pobres”, dos antagonismos que existem dentro do próprio sistema capitalista, sendo portanto uma divisão econômica, que tem como “muro” uma linha imaginária que coloca os países do “norte” na posição de potências mundiais, e os do “sul” na posição de nações em desenvolvimento e mais recentemente emergentes, em alguns casos. O que se observaria de modo natural seria uma ampliação dos fluxos migratórios dessas nações do “sul” em direção àquelas do “norte”, porém é nesse contexto que surgem e se ampliam as barreiras imigratórias, impedindo estes fluxos. Surgem, portanto, outros muros, outros limites para o mundo que se esperava livre após a queda do Muro de Berlim.

Porém, há de se destacar o fato de que estes muros estão presentes também em muitos casos dentro dos próprios países do “sul”, que observaram a ampliação dos fluxos nos seus territórios, muito em decorrência das limitações impostas pelas nações desenvolvidas à entrada de estrangeiros em seus territórios. Daí a idéia dos chamados “muros modernos”, que separam cada vez mais ricos e pobres, tal qual separavam no passado capitalistas de socialistas. O mapa a seguir ilustra bem as principais barreiras (concretas ou abstratas) que existem no mundo contemporâneo e limitam (na verdade impedem) o fluxo de pessoas entre as localidades.



Disponível em: < http://imgsapp.diariodepernambuco.com.br/app/noticia_127983242361/2015/08/21.jpg> Acesso em 07 jan. 2016

Dentre as barreiras observadas na imagem anterior destacarei, em uma breve análise, quatro delas que julgo ser mais importantes, sendo aquelas observadas entre as coreias do norte e do sul; entre os Estados Unidos e México; entre os territórios de Israel e da Cisjordânia; e aquela erguida nos territórios de Ceuta e Melilla, no Marrocos. Não que as demais barreiras não sejam importantes na colcha de retalhos que se tornou a geopolítica mundial hoje, mas esses quatro locais se inserem em um contexto que se relaciona mais os interesses do presente texto.




Continua...

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