Parte 1: O fim da Cortina de Ferro não criou a esperada aldeia global
Por Éder Israel
Disponível em:
<http://imguol.com/c/noticias/e6/2015/09/03/3set2015/600x424.jpg> Acesso
em 06 jan. 2016
A imagem acima rodou o mundo no final de 2015. Tornou-se uma bandeira de grupos ativistas (politizados ou nem tanto) em
praticamente todas as sociedades do mundo que defendiam o respeito básico à
vida das populações, dentro ou fora de seus locais de origem. A morte de
pequeno sírio Aylan kurdi, de 5 anos, após um naufrágio do barco de refugiados em
uma praia turca, mostrou ao mundo o quão grave é a situação de intolerância
religiosa ou penúria econômica que assola as populações de várias partes do
mundo.
Mais que isso, a morte do pequeno Aylan escancarou
de vez a discussão a respeito das barreiras ou muros que se erguem atualmente
no mundo, que tornam cada vez mais díspares as condições de vida das
populações, forçando-as por vezes a migrar em busca de melhores condições de
vida ou simplesmente de garantia da própria vida. As migrações forçadas têm se
tornado cada vez mais visíveis e numerosas no mundo contemporâneo e
praticamente equiparam-se às migrações espontâneas, que se mostravam muito
mais numerosas proporcionalmente no século XX do que neste início de século
XXI.
O que nota-se atualmente é uma ampliação das forças
econômicas na determinação das direções e intensidade dos fluxos migratórios no
mundo, que seja por pessoas abandonando locais pobres ou simplesmente se
direcionando para locais mais ricos do que aqueles onde estão. Na mesma
proporção que se ampliam estes fluxos, nota-se também o aumento das barreiras
imigratórias e das restrições aos fluxos populacionais em direção a essas
tradicionais potências mundiais, ou mesmo às economias emergentes contemporâneas,
o que tem sido visto por muitas nações e organizações como sendo uma
transgressão ao direito essencial de ir e vir destas populações ou grupos
humanos.
O mundo viveu uma doce e passageira ilusão no final da
década de 1980, quando caiu o muro de Berlim e com o conseqüente fim da União
Soviética em 1991. Neste contexto acreditou-se que, as barreiras concretas (como
o referido muro) e as ideológicas (a chamada Cortina de Ferro) estariam para
sempre ultrapassadas e as sociedades poderiam enfim se integrar e formar a tão
discutida e falada Aldeia Global, com todos os lugares e povos plenamente
integrados, em um modelo único de interdependência e cooperação, que não
haveria mais o leste e o oeste, o capitalista e o socialista, o mundo dos
Estados Unidos e o da União Soviética, enfim, todos fariam parte do mesmo
mundo, da mesma sociedade. Como eu disse, doce ilusão...
Disponível em: <http://visaopanoramica.net/wp-content/uploads/2011/05/queda_do_muro_de_berlim.jpg>
Acesso em 06 jan. 2016.
Após a teórica superação da divisão mundial entre
leste e oeste, passou-se a observar, ainda no final do século XX uma nova divisão,
dessa vez não mais ideológica, não mais entre dois sistemas antagônicos, mas
sim entre norte e sul, entre os “ricos” e os “pobres”, dos antagonismos que
existem dentro do próprio sistema capitalista, sendo portanto uma divisão
econômica, que tem como “muro” uma linha imaginária que coloca os países do “norte”
na posição de potências mundiais, e os do “sul” na posição de nações em
desenvolvimento e mais recentemente emergentes, em alguns casos. O que se observaria
de modo natural seria uma ampliação dos fluxos migratórios dessas nações do “sul”
em direção àquelas do “norte”, porém é nesse contexto que surgem e se ampliam
as barreiras imigratórias, impedindo estes fluxos. Surgem, portanto, outros
muros, outros limites para o mundo que se esperava livre após a queda do Muro
de Berlim.
Porém, há de se destacar o fato de que estes muros
estão presentes também em muitos casos dentro dos próprios países do “sul”, que
observaram a ampliação dos fluxos nos seus territórios, muito em decorrência
das limitações impostas pelas nações desenvolvidas à entrada de estrangeiros em
seus territórios. Daí a idéia dos chamados “muros modernos”, que separam cada
vez mais ricos e pobres, tal qual separavam no passado capitalistas de
socialistas. O mapa a seguir ilustra bem as principais barreiras (concretas ou
abstratas) que existem no mundo contemporâneo e limitam (na verdade impedem) o
fluxo de pessoas entre as localidades.
Disponível em: < http://imgsapp.diariodepernambuco.com.br/app/noticia_127983242361/2015/08/21.jpg>
Acesso em 07 jan. 2016
Dentre as barreiras observadas na imagem anterior destacarei, em uma breve análise, quatro delas que julgo ser mais importantes,
sendo aquelas observadas entre as coreias do norte e do sul; entre os Estados
Unidos e México; entre os territórios de Israel e da Cisjordânia; e aquela
erguida nos territórios de Ceuta e Melilla, no Marrocos. Não que as demais barreiras
não sejam importantes na colcha de retalhos que se tornou a geopolítica mundial
hoje, mas esses quatro locais se inserem em um contexto que se relaciona mais os interesses do presente texto.
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