domingo, 24 de janeiro de 2016

"ESQUEMÃO" BACIAS HIDROGRÁFICAS DO BRASIL


CONFERÊNCIA MUNDIAL DO CLIMA 2015 - COP-21

Parte 1: O que há por trás da aparente preocupação global em relação às mudanças climáticas?


Por Éder Israel


Disponível em: <http://menos1lixo.virgula.uol.com.br/wp-content/uploads/2015/12/cop-paris-perspective-cropped.png> Acesso em 23 jan. 2016

Ainda sob a comoção criada após os ataques terroristas ocorridos em Paris no final de 2015, foi realizada na capital francesa uma das mais importantes conferências relativas ao meio ambiente, a qual foi chamada de COP-21. Dentre os principais pontos debatidos nessa conferência e que passaram "despercebidos", podemos destacar alguns que se configuram como os mais ressonantes para os próximos anos, tais como o conjunto de propostas realizado pelos países menos desenvolvidos, assim como a "benevolência" relativa das potências mundiais em relação a ações ligadas à conservação ambiental. Parece bom demais para ser verdade...

A COP-21 pode ser compreendida como uma proposta de revisão dos pontos e propostas realizados em 1998 no Protocolo de Kyoto, quando se buscava uma redução de 5,2% das emissões de CO2 para a atmosfera a ser alcançada pelos países desenvolvidos (chamados na ocasião de Nações do Anexo 1) no período entre 2008 e 2012. Nesse final de 2015, a meta principal era a ampliação  desta taxa de redução para além dos 5,2%, bem como a proposta de comprometimento de países fora do grupo do Anexo 1, para que se chegasse a um consenso global para a retração mundial dos níveis de poluição atmosférica e consequentemente do aquecimento global.


Disponível em: <http://gdb.voanews.com/41879063-5408-492D-A460-D04CCB976391_mw1024_s_n.jpg> Acesso em 23 jan. 2016

Voltando aos pontos mais importantes e dignos de menção, destacamos a "boa vontade", principalmente por parte dos Estados Unidos e seu discurso/proposta de reduzir em 1/3 as suas emissões de CO2 para a atmosfera. Poxa, os Estados Unidos, que recusavam a reduzir em 5,2% as emissões em 1998 quando não ratificaram o Protocolo de Kyoto?  Muito estranho isso...

Ora, qual a razão deste pleno e repentino interesse em ajudar o mundo com o meio ambiente? Estariam os Estados Unidos se tornando um país altruísta e preocupado com o bem estar mundial? O que  a maior potência mundial poderia ganhar com essa mudança de atitude ambiental? Precisamos responder a estas questões, para conseguir compreender minimamente o contexto global da questão ambiental para este início de século XXI. Vamos a isso.

Sabemos que no final do século XX, os Estados Unidos passaram a enfrentar um problema que não havia enfrentado desde o término da Segunda Guerra Mundial, que é a concorrência com outra nação que busque tomar sua posição de maior potência capitalista do mundo, fato que se observa atualmente  com o crescimento econômico e a conversão capitalista cada vez mais sólida da China. Embora a economia chinesa tenha atravessado recentemente algumas turbulências, o fato é que o país asiático assume cada vez mais a posição de destaque entre as nações emergentes do mundo e caminha a passos largos na direção de competir brevemente com os Estados Unidos de modo mais efetivo pela posição de Hegemonia capitalista. A China pretende desbancar o mais rápido possível o controle primaz que os estadunidenses detém desde o término da Guerra Fria em 1991, e busca isso às custas de uma ampliação da produção industrial, sem se preocupar com os custos ambientais disso.

A situação econômica da China atual se sustenta, dentre outras coisas, no fato de que a nação asiática não faça parte dos países do Anexo 1 do Protocolo de Kyoto, logo não possuía a obrigatoriedade de reduzir em 5,2% as emissões de CO2 para a atmosfera, o que permitiu ao governo e às indústrias do/no país a livre queima do carvão mineral existente na Manchúria, produzindo energia fóssil em nível elevado. Porém os poluentes atmosféricos eram liberados na mesma proporção do crescimento do PIB chinês. Em 2008, a China ultrapassou os Estados Unidos como maior emissor global de CO2, e desde então a situação tornou-se ainda mais severa, pois enquanto o mundo buscava por fontes alternativas de energia em substituição ao petróleo poluente, os chineses ampliavam a cada dia a queima do carvão mineral, mais poluente que o próprio petróleo.
  

Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQpLn9nKBan7g2X9jfjSukvcVWrgGIg1KImI4UMONp1_UtgV_payz5tCnx0qOzJg4v90yekFp4igP-9I6rgXUXTdYIL1uAg849byn-muvU0mdeztpshFMjfxfBNEKBJGV3foTaZtqClOw/s1600/polui%25C3%25A7%25C3%25A3o+china+2.jpg> Acesso em 24 jan. 2016

A primeira pergunta anteriormente feita, sobre quais os interesses dos Estados Unidos em "ajudar" ao mundo, é respondida com base nesse aspecto, pois com a economia chinesa crescendo quase ininterruptamente desde a década de 1980, a continuação da produção industrial do país asiático o levaria a concorrer, em poucos anos, em pé de igualdade com a economia dos Estados Unidos, em crise desde 2008. Propor um acordo global de redução das emissões de CO2 na COP-21, seria ótimo para o governo estadunidense, pois isso levaria a China a ser obrigada a reduzir a queima do carvão mineral que possui a custos baixos e a sua substituição por outras fontes (fósseis ou não) que o país não possui. Aumentar-se-iam os custos produtivos da nação asiática, reduzir-se-ia seu crescimento econômico, e os Estados Unidos teriam um "suspiro" maior na tentativa de se manter a posição de maior potência do século XXI.

O segundo questionamento, seria se os Estados Unidos estariam se revestindo de altruísmo para com as preocupações globais no que tange ao aquecimento global. Bobagem... A Primavera Árabe de 2011, trouxe uma profunda instabilidade para o mundo árabe e consequentemente para a oferta internacional de petróleo (embora devemos considerar que nesse início de 2016 os preços deste recurso energético anteriormente tão valorizado nos anos anteriores tenha atingido níveis abaixo das últimas décadas, mas trata-se de outra discussão a ser feita em outro momento). Pois bem, a economia estadunidense ainda não se reestabeleceu plenamente da crise imobiliária de 2008 e vê dificuldades em equilibrar seus gastos já planejados e o sobregasto com o petróleo, até recentemente caro. Altruísmo que nada, a questão no caso seria "pindaíba" mesmo, pois a busca tem sido por outras fontes energéticas em alternativa ao petróleo, não por considerar este muito poluente, mas sim por considerá-lo muito caro. Está respondido o segundo questionamento.

E em terceiro lugar, questionei o que os Estados Unidos estariam ganhando com essa proposta de redução de 30% de suas emissões de CO2 para a atmosfera. Em se tratando do maior expoente do capitalismo mundial, é óbvio que o termo "ganhar" deve ser entendido como ganho econômico, como acúmulo de riqueza e capital. Ora, um dos grandes debates atuais acerca das questões energéticas nos Estados Unidos, é a extração e a utilização do gás do xisto, apresentado como "salvador da pátria" ou "fonte energética do futuro". Porém, enfrenta severas críticas principalmente por conta de seu método de extração, chamado de crackin', que é acusado de causar a contaminação e o comprometimento das águas subterrâneas, além da emissão de gases mais nocivos ao clima que o CO2.



Disponível em: <http://fundacaoverde.org.br/wp-content/uploads/2014/01/gas_xisto4.jpg> Acesso em 24 jan. 2016

Portanto, o discurso de que estaria disposto a reduzir a dependência histórica em relação ao petróleo soa, para a opinião pública estadunidense, como uma boa vontade aparente do Estado em busca da sustentabilidade ambiental e isso poderia diminuir as críticas e cobranças hoje realizadas à extração do gás do xisto, que no final das contas é exatamente o que as grandes corporações energéticas do país, que sustentam as campanhas políticas, querem. Como disse, é bom demais para ser verdade...

Na prática, as discussões realizadas na COP-21 serviram muito mais para pavimentar os caminhos das grandes potências na recuperação econômica da crise global de 2008, do que para solucionar ou mitigar problemas de ordem ambiental do mundo. Embora houveram pontos e propostas ambientalmente interessantes que debateremos em outro momento.

Continua...



sábado, 9 de janeiro de 2016

SOBRE OS MUROS QUE EMERGEM HOJE NO MUNDO, CONCRETOS OU ABSTRATOS


Parte 2: Há muito mais do que defesa de soberania e das populações nacionais na construção destes muros... 



Por Éder Israel



Disponível em: <http://imguol.com/c/noticias/e6/2015/09/03/3set2015/600x424.jpg> Acesso em 06 jan. 2016

No caso das coreias, a divisão é fruto do armistício assinado em 1951 pelas duas partes da península envolvidos em um conflito militar e ideológico que remonta ao contexto da Guerra Fria, quando o norte sob influência do socialismo soviético (e principalmente chinês) entrou em conflito com o sul, que aproximava-se politicamente dos Estados Unidos e posteriormente do Japão. O armistício assinado pelas lideranças do norte e do sul não pôs fim á guerra, mas simplesmente colocou uma pausa nos conflitos. As ações militares cessaram, porém as disputas no contexto político e ideológico seguem seu curso normal, embora o período da Guerra Fria e da bipolaridade mundial tenham se “extinguido” há tempos.

Hoje, o paralelo 30ºN continua sendo uma das regiões mais militarizadas e vigiadas do mundo, impedindo a passagem dos habitantes de ambos os países em qualquer direção. Recentemente haviam sinais de um enfraquecimento da divisão física das duas nações, com diálogos a respeito da possibilidade de liberar o fluxo de pessoas entre as duas regiões, porém as recentes ações e inclinações belicosas do governo do norte da península coreana tem dificultado a continuidade dos diálogos e o estabelecimento de novos acordos entre os dois Estados, acenando para uma possibilidade cada vez mais real de manutenção da divisão entre norte e sul. Cabe mencionar que no caso da barreira erguida no paralelo 30ºN, trata-se de uma divisão ideológica e política, entre o socialismo que tenta sobreviver acima do paralelo e o capitalismo que se estabeleceu e enraizou abaixo dos 30º.

Disponível em: < http://www.luizberto.com/wp-content/cicero56.jpg> Acesso em 07 jan. 2016

Já os limites territoriais dos Estados Unidos e do México que sempre foram economicamente bem divididos de acordo com o nível de desenvolvimento das duas nações e pelo rio Grande em vários quilômetros, tem sua paisagem histórica modificada recentemente pela construção e constante ampliação de uma cerca que limita fisicamente as duas nações norte americanas, com o claro intuito de fechar de vez o acesso de latinos à América Anglo-Saxônica.

A década de 1980 deu origem a uma série de recessões econômicas na América Latina, que aqui no Brasil ficou conhecida como a “década perdida” enquanto no México começou um pouco mais tarde, no início da década de 1990, tendo sido chamado de “efeito tequila”, o que motivou um aumento substancial dos fluxos de imigrantes ilegais para os Estados Unidos, e para conter este fluxo maciço de pessoas do “sul” para o “norte” foi lançada em 1994 a Operation Gatekeeper, que iniciou a construção de um muro físico na fronteira seca entre as duas nações, muro este que tem se ampliado recentemente, e sido usado nos discursos políticos de conservadores ferrenhos como Donald Trump, candidato a candidato à presidência da potência hegemônica americana. Cabe mencionar, portanto eu a fronteira concreta entre Estados Unidos e México corresponde a uma divisão econômica entre duas nações capitalistas americanas. 

Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_7Iu6s1xPt7c/TOFOcqPsdyI/muro+EUAM%25C3%25A9xico.jpg> Acesso em 07 jan. 2016

A análise da fronteira atual entre os territórios dos judeus de Israel de dos árabes da Cisjordânia necessita do entendimento dos processos que motivaram os conflitos nesta região, até porque este entendimento possibilita a compreensão e mesmo a aceitação de que estes conflitos dificilmente se cessarão um dia, pois envolvem um conjunto enorme de variáveis históricas, culturais, territoriais e étnicas, e essas coisas demandam tempo e um “algo mais” que possivelmente árabes e judeus não estão dispostos a cederem em prol da paz e da vivência pacífica (ou pelo menos harmônica) entre israelenses e palestinos.

O calcanhar de Aquiles desta questão no Oriente médio reside na premissa de que judeus e árabes alegam ser “donos” dos territórios da Palestina/Israel, e o agravante é que de acordo com o ponto de vista usado na análise, ambos têm razão em essa alegação, daí a dificuldade de um dos lados ceder à partilha do território e ao mesmo tempo, caso esta partilha fosse realizada, cada um dos envolvidos se contentar com sua parcela desse território, por se considerar dono de toda a região. E é nesse momento que a situação se complica e os tratados de paz intermediados pelo ocidente (que não entende, ou antes finge não entender) todas as variáveis que compõem essa miscelânea de interesses e pretensões dos povos do oriente.

Analisando a situação sob o ponto de vista dos judeus, há de se admitir que eles estão corretos em sua alegação de que estariam apenas voltando para a Terra Prometida a partir da criação do Estado de Israel após a Segunda Guerra Mundial pela ONU (leia-se Estados Unidos), uma vez que os judeus ali estavam até sua expulsão (Segunda Diáspora) em 70 d.C. pela expansão do Império Romano e a conseqüente destruição de Jerusalém. A partir deste momento os judeus se “espalharam” pelo mundo, principalmente norte da África, Europa e Ásia Menor (basicamente a parte asiática da Turquia atualmente).

Pois bem, dando um salto temporal em busca do fio da meada que orienta o presente texto, chegamos ao contexto pós Primeira Guerra Mundial, e de expansão do “nacionalismo” alemão pós Tratado de Versalhes, que encontrou em Adolf Hitler a figura ideal para mover massas em nome do revanchismo dos alemães, assim como no nazismo um ideologia que se encaixava perfeitamente na concepção de que a Alemanha era maior que o resto do mundo e deveria dominar este. Faltava, portanto alguém para ser o “bode expiatório” da questão, sobrando para os judeus que ali (na Europa) estavam desde a Segunda Diáspora judaica. Pronto, estavam prontas as bases para o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. Mas e a questão entre judeus e palestinos, onde entra nosso tudo?

Então, José, quase no final da segunda guerra e com a iminente derrota dos países do Eixo, os Estados Unidos e alguns dos membros da Aliança se reuniram na cidade de Bretton Woods (mais precisamente em 1944) para a realização de uma conferência homônima que traçaria os planos que marcaria os rumos que o mundo seguiria, e conseqüentemente lançaria as bases para a Guerra Fria que viria em 1947. Na Conferência de Bretton Woods foram criados o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BIRD) e o estabelecimento do Padrão Dólar-Ouro, e este último é o que de fato nos interessa, pois os Estados Unidos precisariam de dinheiro para ampliar os seus investimentos nos planos Marshall e Colombo após a Segunda Guerra Mundial, e os judeus teriam bastante dinheiro para investir depois das indenizações pagas pelo Estado Alemão após a derrota que se aproximava. Bom, José pensa! Estados Unidos mandarão na ONU, a ONU tem poder de dividir territórios e criar novos Estados, os judeus receberão indenizações pelo holocausto, o governo estadunidense precisa de muito dinheiro, os judeus de um território... Ligue os pontos aí, é fácil...

Portanto, segundo os judeus a criação do Estado de Israel seria a volta para a terra prometida, da qual foram expulsos pelos romanos em 70 d.C.. Porém, nesse meio tempo, entre a diáspora e a criação de Israel, os muçulmanos (que chamaremos de palestinos, por uma questão de facilidade de entendimento) “dominaram” a região a partir do ano de 638 (aproximadamente) e dali fizeram seu território. Advém daí grande parte da “treta”, pois segundo os palestinos, eles ali estão desde os anos 600 d.C. e não aceitam o retorno dos judeus, sendo que vale em seu ponto de vista a idéia de nossa infância de que “saiu ao vento, perdeu o assento”. Portanto segundo os judeus, os muçulmanos precisam sair para que estes retornem aos seus antigos domínios, ao passo que os palestinos dizem que “daqui não saio e ninguém me tira”...

Com a criação de Israel os territórios que antes eram chamados simplesmente de Palestina foram divididos, dando origem posteriormente a três regiões distintas, das quais duas são árabes (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e uma judaica (Israel), e aí a situação "desandou" pois os judeus alegam que devem ter a posse de toda a Terra Prometida, tendo portanto os palestinos que saírem, e por outro lado os palestinos afirmam que os judeus não têm direito de voltar e dominar a região. Soma-se a isso o expansionismo dos territórios israelenses para além dos limites da partilha de 1948 e principalmente o apoio quase que incondicional dos Estados Unidos (leia ONU e lembre-se da Conferência de Bretton Woods...) às políticas de Israel nas questões territoriais e pronto, começou a fazer sentido aquilo que seu professor chama de "barril de pólvora" no Oriente Médio.

Em 2001 o governo de Israel deu início à construção de um muro que dividia territórios judaicos daqueles ocupados por palestinos na Cisjordânia. Segundo as alegações israelenses a barreira foi idealizada para garantir a segurança de sua população contra os constantes ataques de grupos árabes, assim como garantir a manutenção dos territórios além dos limites de 1948, naquilo que se convencionou a chamar de assentamentos judeus. Segundo os palestinos e a própria ONU a construção do muro fere os acordos da criação de Israel, assim como vai contra os direitos humanos essenciais dos povos da Cisjordânia, mas de nada adiantou o posicionamento da organização supranacional em 2004, pois o muro além de continuar existindo teve seu traçado ampliado.

A intransigência de Israel ao erguer um muro separando a Cisjordânia do restante da antiga Palestina, e a inoperância da ONU em fazer cumprir as determinações de um organismo próprio que julgou ilegal a construção desta barreia, e principalmente a postura de total e irrestrito apoio ao governo israelense por parte dos Estados Unidos criam condições para que os conflitos entre judeus e árabes se arrastem indefinidamente pelos próximos anos e os noticiários continuarão destacando um ataque de algum palestino extremista, que será prontamente respondido pelas forças armadas de Israel, e como sempre as populações civis estarão entre as vítimas desses ataques (de ambos os lados). A partir da análise destes fatos, é plausível inferir que o muro que se ergue entre os territórios judeus e árabes representa claramente uma divisão étnica e religiosa o Oriente Médio.


Disponível em: <http://i55.tinypic.com/14m3o6f.jpg> Acesso em 09 jan. 2016

Recentemente grandes levas de imigrantes do norte da África se direcionaram ao sul da Europa, abrindo um importante debate global a respeito da questão dos refugiados e das fronteiras no mundo contemporâneo, principalmente pelo elevado número de pessoas que morreram na tentativa de realizar a travessia do mar Mediterrâneo. Os destinos principais eram a Itália e a Grécia, por conta da proximidade geográfica com o continente africano.

A pobreza endêmica e o passado colonial da África cria condições para que esses contingentes imigratórios se mantenham ao longo do tempo e se ampliem recentemente, assim como a discussão sobre o direito dos países europeus fecharem ou não suas fronteiras para estes africanos. Porém, o foco de nossa análise nesse texto reside nas localidade de Ceuta e Melilla pertencentes à Espanha, mas localizadas geograficamente no Marrocos, pois a proximidade dessas localidades com o sul da Europa faz com que sejam (ou tenham sido) um caminho preferencial para os africanos que buscavam refúgio no velho continente. Para evitar que ocorram estes fluxos migratórios o governo espanhol investiu na construção de muros (chamados de vallas) ainda no início da década de 1990, com o claro intuito de impedir que populações africanas tivessem acesso ao Mediterrâneo e dali à União Europeia.

As vallas de Ceuta e Melilla acabaram por levar os africanos a buscarem novas rotas para terem acesso ao bloco europeu, o que tem tornado a travessia mediterrânica cada vez mais longa e arriscada, ceifando milhares de vidas nos últimos anos. Principalmente nos últimos meses, quando a chegada de movimentos islâmicos extremistas, como o Boko Haram na Nigéria, tem levada um número cada vez maior de pessoas a buscarem um modo de abandonar a África em prol da garantia de suas vidas. A Espanha resolve (em partes) o seu problema nos domínios africanos frente à União Europeia, que cobra constantemente um controle maior das fronteiras externas dos países membros do bloco, mas cria para as populações africanas condições que em muitos casos as condenam à morte por diferentes meios, em relação à incapacidade de sair do continente ou de chegar às terras europeias.

Observando-se as características e fatores componentes da questão fronteiriça em Ceuta e Melilla, pode-se afirmar que esta barreira configura-se em uma fronteira econômica, uma vez que separa claramente os "pobres" da África da "riqueza" europeia, representando uma nova limitação ao direito essencial de ir e vir das populações, confinando-as a condições precárias de vida (na verdade sobrevivência...), limitando a possibilidade de criação de uma sociedade plenamente integrada e interdependente, que se convencionou a chamar (antes mesmo de sua existência) de sociedade global.



Disponível em: <http://admin.beta.news.linktv.org/wp-content/uploads/2014/04/Spain-African-migration.jpg> Acesso em 09 jan. 2016

Em resumo, podemos concluir que a capacidade do mundo contemporâneo em resolver esse tipo de problema se deve à sua igual capacidade de criar esses mesmos problemas, haja visto que o antagonismos entre um mundo cada vez mais rico e sociedades cada vez mais pobres, dos lugares cada vez mais conectados e as pessoas cada vez mais distantes umas das outras, da plena evolução dos meios de transportes e as limitações ao livre fluxo de pessoas(...) fazem parte de uma sociedade (que as pessoas insistem em chamar de "sistema", mas eu considero o termo reducionista) que se sustenta exatamente pela desigualdade, pelas discrepâncias e pela dicotomia entre s extremos.

Passada a "festa" pela queda do Muro de Berlim em 1989, o mundo viu de fato o nascimento de várias outras barreiras e certamente verá isso por longos anos. Seria meio que admitir que não há ingresso para todo mundo na festa da globalização...


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

SOBRE OS MUROS QUE EMERGEM HOJE NO MUNDO, CONCRETOS OU ABSTRATOS

Parte 1: O fim da Cortina de Ferro não criou a esperada aldeia global 

Por Éder Israel


Disponível em: <http://imguol.com/c/noticias/e6/2015/09/03/3set2015/600x424.jpg> Acesso em 06 jan. 2016

A imagem acima rodou o mundo no final de 2015. Tornou-se uma bandeira de grupos ativistas (politizados ou nem tanto) em praticamente todas as sociedades do mundo que defendiam o respeito básico à vida das populações, dentro ou fora de seus locais de origem. A morte de pequeno sírio Aylan kurdi, de 5 anos, após um naufrágio do barco de refugiados em uma praia turca, mostrou ao mundo o quão grave é a situação de intolerância religiosa ou penúria econômica que assola as populações de várias partes do mundo.

Mais que isso, a morte do pequeno Aylan escancarou de vez a discussão a respeito das barreiras ou muros que se erguem atualmente no mundo, que tornam cada vez mais díspares as condições de vida das populações, forçando-as por vezes a migrar em busca de melhores condições de vida ou simplesmente de garantia da própria vida. As migrações forçadas têm se tornado cada vez mais visíveis e numerosas no mundo contemporâneo e praticamente equiparam-se às migrações espontâneas, que se mostravam muito mais numerosas proporcionalmente no século XX do que neste início de século XXI. 

O que nota-se atualmente é uma ampliação das forças econômicas na determinação das direções e intensidade dos fluxos migratórios no mundo, que seja por pessoas abandonando locais pobres ou simplesmente se direcionando para locais mais ricos do que aqueles onde estão. Na mesma proporção que se ampliam estes fluxos, nota-se também o aumento das barreiras imigratórias e das restrições aos fluxos populacionais em direção a essas tradicionais potências mundiais, ou mesmo às economias emergentes contemporâneas, o que tem sido visto por muitas nações e organizações como sendo uma transgressão ao direito essencial de ir e vir destas populações ou grupos humanos.

O mundo viveu uma doce e passageira ilusão no final da década de 1980, quando caiu o muro de Berlim e com o conseqüente fim da União Soviética em 1991. Neste contexto acreditou-se que, as barreiras concretas (como o referido muro) e as ideológicas (a chamada Cortina de Ferro) estariam para sempre ultrapassadas e as sociedades poderiam enfim se integrar e formar a tão discutida e falada Aldeia Global, com todos os lugares e povos plenamente integrados, em um modelo único de interdependência e cooperação, que não haveria mais o leste e o oeste, o capitalista e o socialista, o mundo dos Estados Unidos e o da União Soviética, enfim, todos fariam parte do mesmo mundo, da mesma sociedade. Como eu disse, doce ilusão...


Disponível em: <http://visaopanoramica.net/wp-content/uploads/2011/05/queda_do_muro_de_berlim.jpg> Acesso em 06 jan. 2016.

Após a teórica superação da divisão mundial entre leste e oeste, passou-se a observar, ainda no final do século XX uma nova divisão, dessa vez não mais ideológica, não mais entre dois sistemas antagônicos, mas sim entre norte e sul, entre os “ricos” e os “pobres”, dos antagonismos que existem dentro do próprio sistema capitalista, sendo portanto uma divisão econômica, que tem como “muro” uma linha imaginária que coloca os países do “norte” na posição de potências mundiais, e os do “sul” na posição de nações em desenvolvimento e mais recentemente emergentes, em alguns casos. O que se observaria de modo natural seria uma ampliação dos fluxos migratórios dessas nações do “sul” em direção àquelas do “norte”, porém é nesse contexto que surgem e se ampliam as barreiras imigratórias, impedindo estes fluxos. Surgem, portanto, outros muros, outros limites para o mundo que se esperava livre após a queda do Muro de Berlim.

Porém, há de se destacar o fato de que estes muros estão presentes também em muitos casos dentro dos próprios países do “sul”, que observaram a ampliação dos fluxos nos seus territórios, muito em decorrência das limitações impostas pelas nações desenvolvidas à entrada de estrangeiros em seus territórios. Daí a idéia dos chamados “muros modernos”, que separam cada vez mais ricos e pobres, tal qual separavam no passado capitalistas de socialistas. O mapa a seguir ilustra bem as principais barreiras (concretas ou abstratas) que existem no mundo contemporâneo e limitam (na verdade impedem) o fluxo de pessoas entre as localidades.



Disponível em: < http://imgsapp.diariodepernambuco.com.br/app/noticia_127983242361/2015/08/21.jpg> Acesso em 07 jan. 2016

Dentre as barreiras observadas na imagem anterior destacarei, em uma breve análise, quatro delas que julgo ser mais importantes, sendo aquelas observadas entre as coreias do norte e do sul; entre os Estados Unidos e México; entre os territórios de Israel e da Cisjordânia; e aquela erguida nos territórios de Ceuta e Melilla, no Marrocos. Não que as demais barreiras não sejam importantes na colcha de retalhos que se tornou a geopolítica mundial hoje, mas esses quatro locais se inserem em um contexto que se relaciona mais os interesses do presente texto.




Continua...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O NOVO TESTE NUCLEAR DA COREIA DO NORTE E SUAS IMPLICAÇÕES NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL

"Houston, we have a bomb..."


Por Éder Israel


Disponível em: < http://operamundi.uol.com.br/arquivos/upload/coreia.jpg > Acesso em 06 jan. 2016

Toda a imprensa mundial destacou, na manhã de 06 de janeiro de 2016, a suposta realização de um teste nuclear pela Coreia do Norte, o que causou um alvoroço geral na geopolítica asiática principalmente em relação aos governos do Japão e da China, opositor e apoiador do regime de Pyongyang, respectivamente. O mundo cobra da China explicações sobre a suposta realização do teste por sua “aliada” asiática, ao mesmo tempo em que espera um posicionamento do Japão a respeito do assunto, uma vez que ao lado da Coreia do Sul este país está no topo da lista de inimigos mais odiados pelo governo norte coreano.

Caso seja confirmada a realização deste teste nuclear pelo governo da Coreia do Norte, seria o quarto realizado nesse início de século XXI, porém, a notícia desta semana chega com um impacto maior ao mundo, pois não se trataria de apenas mais um teste nuclear como os anteriormente realizados, pois desta vez o presidente Kim Jong-un afirma ter conseguido a criação e a detonação de uma bomba de hidrogênio, sabidamente dezenas de vezes mais potente e destrutiva que as bombas atômicas convencionais que produzem energia pela fissão nuclear.

Na bomba de hidrogênio (ou simplesmente Bomba H) o mecanismo de produção/liberação de energia é a fusão nuclear do hidrogênio, sendo considerada portanto, uma bomba termonuclear. Essa tecnologia foi criada pelos Estados Unidos no início da década de 1952, no contexto da corrida armamentista da Guerra Fria contra a União Soviética. Após a construção das bombas do Projeto Manhattan, que seriam posteriormente lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki no final da Segunda guerra Mundial, a necessidade de se criar algo mais destrutivo e belicoso levou o físico Edward Teller a pesquisar uma forma de possibilitar a liberação de uma parcela significativa de energia a partir da fusão de dois isótopos do hidrogênio, o deutério e o trítio, de modo similar ao que ocorrem nas explosões que produzem a energia do sol. Nascia assim a Bomba H, testada com sucesso em 1952 nas Ilhas Marshall, porém nunca utilizada militarmente.

A notícia do teste realizado pelos norte coreanos, trouxe à tona uma temática que havia sido colocada à parte (supostamente) com a assinatura do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), assinado em 1968 e posto em vigor em 1970, embora nações que possuem armas nucleares ainda não o tenham ratificado, como a China por exemplo, aliada da Coreia do Norte... Pois bem, a China tem sido acusada, ainda que de modo velado, de estar investindo na criação de armas nucleares nos últimos anos e de buscar uma ampliação de seu arsenal, o que por si só já fere aos preceitos do TNP e que poderia dar ao governo de Kim Jong-un um apoio interessante frente à opinião mundial, o que tem sido observado factualmente nos últimos anos pela falta de medidas eficazes e incisivas contra a escalada recente da belicosidade do norte da península coreana. Parece que todo mundo quer punir a Coreia do Norte, mas todos têm medo de chatear a China...

Sabidamente, quem tem as maiores preocupações com essa notícia e principalmente com sua confirmação futura são os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão, que são constantemente declarados como grandes inimigos do regime de Pyongyang e que deveriam ser destruídos, nas palavras de Jong-un. Embora a maior parte dos discursos seja de que os Estados Unidos seriam atacados pelos mísseis balísticos carregados com ogivas nucleares da Coreia do Norte, sabemos que a distância geográfica e principalmente a dificuldade tecnológica do país asiático tornariam esse ataque praticamente impossível em um futuro próximo, porém para o Japão e a Coreia do Sul a situação é bem mais tensa, pois estão “ao lado” do inimigo e dentro do raio de alcance dos mísseis já existentes, que poderiam ser carregados com as bombas H.


Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8zMgFV7iJ2r4RyOh7mvzjAeNV_DgSc1hUf3uOwWkCZxoQrazBaWTNJPxeoGrhjnLhlLetxpNMWnhipq_2emDuITkoku8Lm-FO9faUPObKk_SeoPsqIsPrLEvlsMeAyk0s0BDar9Iq998/s1600/mapa_coreia_missil.jpg> Acesso em 06 jan. 2015

Na outra ponta de toda essa discussão encontra-se a ONU, ou simplesmente o Conselho de Segurança da ONU, que é de fato o grupo de cinco países que tomam as decisões finais dentro do organismo. Neste grupo encontram-se Estados Unidos, contrários veementes à escalada bélica da Coreia do Norte, a Rússia e a China, potências nucleares que já declararam inúmeras vezes, recentemente, certo apoio ao regime político dos norte coreanos. Deveria partir deste conselho as sanções e investigações a respeito da violação do TNP pelo presidente Jong-un, mas sabemos que sem o apoio destas outras duas importantes potências geopolíticas será bem difícil para a ONU se posicionar ou decidir algo factual sobre o assunto.

Cabe, portanto, ao Japão e à Coreia do Sul, impor por si mesmos algumas sanções econômicas e comerciais ao governo de Pyongyang, porém dificilmente obterão algum sucesso, pois nem mesmo as sanções impostas anteriormente pela ONU, OMC e outros organismos supranacionais foram capazes de frear o ímpeto bélico e ultrapassado do regime norte coreano, que vive em pleno 2015 a corrida armamentista que o mundo bipolar viveu entre 1947 e 1991, no contexto da Guerra Fria, quando a capacidade militar era mais importante que a capacidade econômica das nações na determinação de seu poderio geopolítico a nível global.

Não se deve, meramente ao acaso, o fato de os Estados Unidos terem colocado a Coreia do Norte ao lado do Irã, do Iraque e do Afeganistão no chamado Eixo do Mal (grupo de inimigos estadunidenses após os atentados de 11 de setembro de 2001). Há de fato algo não resolvido com o término da Guerra Fria para os Estados Unidos, que seriam os insistentes enclaves socialistas que “sobrevivem” em um mundo que deveria ser capitalista no pós 1991. Estes enclaves seriam: Cuba (porém, o afastamento de Fidel Castro do poder e a chegada de Raul Castro ao governo, têm conduzido a uma reaproximação entre as duas nações, sem a necessidade de um conflito), e a Coreia do Norte, que se mostra irredutível aos anseios estadunidenses de expansão capitalista, muito por conta da “ajuda” que recebe da China e da Rússia, além da própria ONU, quando Kim Jong-un blefa que vai abrir o país e recebe a ajuda humanitária que precisa antes de fechar novamente a nação para o restante do mundo.

Em resumo, o que ficará desse 06 de janeiro de 2016 é a torcida para que este tenha sido mais um daqueles dias em que Kim Jong-un acorda com o modo zuera ativado e se põe a falar suas já sabidas asneiras, como fez meses atrás, ao dizer que seu país tinha encontrado a cura para doenças como o câncer, a AIDS e o ebola, ou ainda como na última semana, quando disse que estava disposto a negociar um acordo com Seul e buscar a reunificação da Coreia, ajudando ao sul da península a alcançar um nível aceitável de desenvolvimento. Torçamos para que no calendário inventado por Jong-un o dia 06 de janeiro seja na verdade o 1 de abril, pois se não for, a situação tende a ganhar aspectos dramáticos e preocupantes.


Disponível em: <http://www.slightlyqualified.com/wp-content/uploads/2013/05/un3.jpg> Acesso em 06 jan. 2016

Há dados do serviço de geologia dos Estados Unidos da ocorrência de um terremoto de 5 graus na escala Richter na região em que o governo de Pyongyang afirma ter realizado o teste, e esta região não se encontra em uma área de intensa sismicidade do continente asiático, o que pode permitir uma associação entre a energia liberada pela explosão e a atividade sísmica ali observada, porém ainda existem infinitas possibilidades e verdades escondidas sob a névoa do “talvez”. Resta esperar e torcer para que tudo isso seja apenas um eco, de alguém ouvindo Raul Seixas cantando que “... o russo que guardava o botão da bomba H, tomou um pilequinho e quis jogar tudo pro ar...

 

TERRORISMO NO ORIENTE MÉDIO E CRISE MIGRATÓRIA NA EUROPA EM 2015