segunda-feira, 29 de março de 2021

O IMPACTO COMERCIAL DO BLOQUEIO MARÍTIMO NO EGITO

 

O BLOQUEIO DO CANAL DE SUEZ

- Prof. Éder Israel

O navio Ever Given encalhado diagonalmente no Canal de Suez, impedindo o fluxo marítimo

Disponível em: <https://ogimg.infoglobo.com.br/in/24943155-7cb-29b/FT1086A/xn1.jpg.pagespeed.ic.i9n0L30tkj.jpg> acesso em 27 mar. 2021

No dia 23 de março de 2021 um porta-contêineres operado pela empresa taiwanesa Evergreen Marine ficou atravessado em uma das principais rotas comerciais do mundo contemporâneo, bloqueando completamente o tráfego de navios que normalmente circulam por essa ligação artificial construída na segunda metade do século XIX, que hoje rende cifras bilionárias ao governo egípcio, detentor e operador dessa rota estratégica, que liga, dentre outros, os grandes centros industriais do sudeste da Ásia aos vastos mercados consumidores da Europa e América do Norte. Mas para se entender a importância dessa via comercial e a dimensão dos prejuízos causados por esse acontecimento, faz-se necessária uma análise histórica da região.

O Canal de Suez, como se conhece hoje, foi construído ao longo de uma década, entre 1859 e 1869, fruto de uma “parceria” entre Egito e França, tendo sido essas duas nações as primeiras proprietárias e operadoras dessa rota comercial, que corta o país africano ligando o mar Vermelho ao mar Mediterrâneo. Porém, diferentemente dos franceses, os egípcios não dispunham de capitais para a execução das obras, o que levou o país do Norte africano a contrair vultosos empréstimos estrangeiros, que geraram uma elevada dívida externa à nação.

Em decorrência dessa dívida externa em 1875 o governo egípcio vendeu sua parte do canal para o governo inglês, que passou a partilhar com a França o controle sobre a rota comercial. Assim, embora o canal se localizasse em territórios do Egito, seu controle e os lucros por ele gerados eram de propriedade de nações europeias, e assim permaneceu até a Segunda Guerra Mundial. Ainda no ano de 1888 foi assinada a Convenção de Constantinopla, que versa a respeito da utilização estratégica do Canal de Suez. Segundo o documento a rota deve permanecer aberta e irrestrita à navegação comercial em tempos de paz, ou militar em tempos de guerra, não sendo permitido à nação administradora, seja ela qual for, impedir o livre fluxo das embarcações, desde que respeitadas as questões tributárias.

Manchete de jornal de 1956, retratando a posição do rpresidente Abdel Nasser durante a Guerra do Suez

Disponível em: <https://www.socialist.net/images/new-stories/History/Suez1956/EveningStandard1956.jpg> acesso em 27 mar. 2021

Após a Segunda Guerra Mundial, e principalmente depois da criação do Estado de Israel, houve grandes mudanças na geopolítica do Oriente Médio, e o Canal de Suez não passou à margem dessas transformações. O enfraquecimento político e econômico de França e Inglaterra, aliado à ascensão geopolítica de Estados Unidos e União Soviética promoveram um novo enfrentamento global em busca de áreas de influência ideológica para os sistemas representados por cada uma das duas novas potências na dinâmica da Guerra Fria. Ao mesmo tempo em que se observavam essas mudanças no poderio hegemônico mundial, o então presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, inicia um movimento político de cunho populista e nacionalista, que reacende o ideário do Pan Arabismo, adormecido durante a Segunda Guerra.

O Pan Arabismo de Nasser se baseava em dois preceitos primordiais: primeiramente buscar a retomada do controle do Canal de Suez pelo Estado egípcio, se valendo da diminuição do poderio geopolítico das potências europeias tradicionais, a saber, França e Inglaterra; e em segundo lugar combater a criação de um Estado Judeu nos territórios palestinos, até então ocupados pelos árabes, que foram dali retirados pela Organização das Nações Unidas - ONU a partir de 1947. Enquanto a figura do presidente do Egito ia se tornando mais forte, a influência regional do país crescia atrelada ao apoio, ainda que velado, da União Soviética. Assim, o país árabe estabelece uma mobilização militar em 1956, na qual pretendia além de nacionalizar a rota marítima estratégica, provocar o isolamento econômico e comercial de Israel. Ocorre a partir dessa combinação de fatores a Guerra do Suez. Ao término de uma semana de embates diplomáticos e a formação de uma coalizão militar entre França, Inglaterra e Israel, a ONU (leia-se EUA pressionados pela URSS) declara legítima a reivindicação de Abdel Nasser e o controle do canal passa ao governo do Egito, sob a condição de não bloquear a navegação de/para o país judeu.

Com crescimento da economia estadunidense após a Segunda Guerra Mundial a nação americana ampliou grandemente sua demanda por petróleo, em sua maioria importado de nações do Oriente Médio, e a rota através do Canal de Suez reduz drasticamente os custos de frete e o tempo para que esse estratégico recurso energético chegue ao mercado da potência ocidental. Ao mesmo tempo, o fortalecimento da União Europeia e a retomada do crescimento econômico e produtivo de suas nações após a guerra ampliaram os mercados consumidores regionais, fazendo da rota mediterrânica uma importante via de circulação das importações e exportações. Soma-se a esses processos a instalação de indústrias multinacionais no Sudeste da Ásia, inicialmente no Japão e nos Tigres Asiáticos e posteriormente na China, que deslocou grande parcela do setor produtivo global para aquela região, e a ligação através do Egito se tornou ainda mais estratégica.

Sem a construção do Canal de Suez, a ligação comercial entre Ásia e Europa ainda seria feita pela costa africana

Disponível em: <https://img.r7.com/images/info-desvio-de-rota-suez-boa-esperanca-27032021103829062> acesso em 28 mar. 2021

Atualmente o Canal de Suez é responsável por 12% do tráfego comercial do mundo. Diariamente pelo menos 90 gigantescos navios tanques, graneleiros e porta-contêineres percorrem seus 193 quilômetros de extensão, em uma viagem que dura entre 10 e 15 horas, transitando entre os mares Mediterrâneo e Vermelho, em ambos os sentidos. Antes de sua construção esse deslocamento era realizado através da rota do Cabo da Boa Esperança, que contorna o continente africano, em uma viagem que além da duração de aproximadamente 2 semanas a mais, agrega o severo risco de ataques piratas ao longo da costa africana, o que elevaria de maneira substancial os gastos com combustível e principalmente com as agências seguradoras das cargas e dos navios. No final da cadeia esse custo seria repassado ao consumidor, elevando sobremaneira o valor das mercadorias nos mercados.

Por conta dessas desvantagens econômicas e estratégicas em usar a antiga rota africana um grande número de embarcações optaram por aguardar o desbloqueio de canal, permanecendo ancoradas nas duas extremidades da rota. No domingo, 5 dias após o encalhe do Ever Given, haviam pelo menos 430 navios à espera da liberação do fluxo, e com as perspectivas de ainda serem necessários mais dias para a retirada da embarcação a fila tendia a aumentar de maneira significativa. Por tratar-se de um fluxo constante, os prejuízos desse incidente também são estimados em cifras exorbitantes, que atingem, segundo a Lloyd’s List Intelligence (instituição especializada em informações sobre fluxos marítimos globais), cerca de 400 milhões de dólares a cada hora, totalizando pelo menos 9,6 bilhões de dólares ao dia.

Em um momento em que a economia começa a dar os primeiros passos de recuperação após 1 ano de pandemia, nas nações mais desenvolvidas, onde a vacinação acontece de maneira mais rápida, o comércio inicia a reabertura gradual das atividades, porém o impedimento do fluxo pelo Canal de Suez pode reduzir o abastecimento dessas nações, principalmente de produtos industriais produzidos pelas multinacionais alocadas na China. Outro setor que já sente os primeiros impactos é o dos combustíveis, pois o escoamento de grande parte do petróleo produzido no Golfo Pérsico atravessa essa rota, e no caso dessa commodity o risco de utilizar a rota alternativa pelo Cabo da Boa Esperança se mostra ainda mais severo, pois recentemente grandes petroleiros já foram alvos de piratas africanos e as companhias de seguro possuem fortes restrições em fazer contratos para esse tipo de carga nessa região. Isso aumentaria sobremaneira o preço desse recurso e dificultaria ainda mais a recuperação econômica atual.

Maquinas trabalham na tentativa de abrir espaço para o navio ser manobrado e retirado do canal

Disponível em: <https://gcaptain.com/wp-content/uploads/2021/03/2021-03-28T100403Z_1811002230_RC2AKM9DC1BX_RTRMADP_3_EGYPT-SUEZCANAL-SHIP.jpg> acesso em 28 mar. 2021

O grande problema foi com relação à operação de retirada do navio, e principalmente o tempo que se empregou n isso, posto que os prejuízos somavam-se aos milhões de dólares a cada hora. Em tese a responsabilidade por essa operação recairia sobre a empresa taiwanesa Evergreen Marine, que opera a embarcação, podendo ser compartilhada com a empresa japonesa Shoei Kisen Kaisha, proprietária legal do navio. Porém, um dos maiores interessados no imediato desbloqueio da navegação local era o governo do Egito, país que fatura bilhões de dólares anualmente de tarifas e tributos pelo uso da via pelos cargueiros internacionais. Tanto que o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, ainda durante as tentativas de fazer o navio voltar a flutuar, já planejava uma segunda alternativa para a operação, que consistiria em descarregar o navio, ou parte dos quase 20 mil contêineres que ele transportava, para aliviar seu peso e manobrá-lo no canal.

O próprio governo dos Estados Unidos, assim como governos europeus chegaram a oferecer ajuda tecnológica ao Egito para solucionar o mais breve o problema, uma vez que detinham grandes interesses econômicos nos quase 500 navios que se encontravam enfileirados nas duas extremidades do canal. Em termos práticos a primeira e mais séria urgência era de fato a retirada do navio da via marítima; investigações a respeito das causas do acidente certamente serão investigadas posteriormente, principalmente pelas cifras bilionárias de indenizações que as seguradoras e empresas responsáveis pela embarcação terão que pagar, além dos já elevadíssimos custos do desbloqueio. Até o momento, após a liberação do canal na manhã do dia 23 de março, a principal hipótese apontada como causa, pela própria tripulação foi a ocorrência de uma tempestade de areia sobre o deserto, e um forte vento lateral que empurrou o navio na direção do barranco, colocando-o atravessado nos 300 metros de largura da hidrovia.

O navio Ever Given é rebocado após ser desencalhado na manhã do dia 29 de março de 2021

Disponível em: <https://uploads.metropoles.com/wp-content/uploads/2021/03/24120117/cargueiro-Ever-Given.jpeg> acesso em 29 mar. 2021

Mas, certamente outras possibilidades serão minunciosamente investigadas após a retomada da normalidade dessa que hoje é uma das mais importantes vias de circulação dos mercados globalizados, e que mostrou o quão frágil é o sistema capitalista integrado, onde um acidente no Norte da África traz impacto para toda a economia, desde as nações mais desenvolvidas que reduzem o acesso às commodities importadas, às nações menos desenvolvidas, que reduzem os ganhos com essas mesmas commodities exportadas.

segunda-feira, 22 de março de 2021

O POVO ROHINGYA

A MINORIA ÉTNICA ROHINGYA

- Prof. Éder Israel

O povo Rohingya representa na atualidade o maior grupo étnico de deslocados no mundo

Disponível em: <https://www.vaticannews.va/content/dam/vaticannews/agenzie/images/reuters/2019/08/23/03/1566522471965.JPG> acesso em 21 mar. 2021

No estágio contemporâneo da globalização ao mesmo tempo em que criam condições vantajosas para o desenvolvimento econômico das sociedades, através da ampliação dos fluxos e das interações, produz também situações sociais muito negativas, em decorrência de choques culturais e interações conflituosas entre grupos distintos, até pouco tempo “desconectados”. Desse modo, na mesma medida em que os fluxos de mercadorias e informações são ampliados, ocorre também o aumento dos deslocamentos humanos, tanto aqueles considerados espontâneos, como os turistas e trabalhadores, quanto aqueles tidos como forçados, como os deslocados e refugiados. Os Rohingyas se inserem nesse segundo grupo.

A relação intrínseca entre o processo de globalização e o sistema capitalista promove conflitos de interesses econômicos entre os grupos envolvidos nas interações sociais, e quando os objetivos de acumulação financeira e de domínio territorial estratégico se chocam, as disputas podem promover desde instabilidades diplomáticas até mesmo atos de massacres e limpezas étnicas. A questão Rohingya se encaixa perfeitamente nessa segunda perspectiva.

Assim como se observou até a metade do século XX em relação aos Judeus ou se observa na atualidade em relação aos Curdos, os Rohingyas configuram-se hoje como um povo dotado de valores étnicos e culturais, porém desprovido de um território nacional. Desse modo, habitam há muito tempo espaços pertencentes a outros grupos étnicos, e diferentemente do que se observou no passado, essa coexistência no presente tem promovido crescentes choques culturais e disputas de interesses, e automaticamente potencializado disputas étnicas e conflitos sociais. A maior parte dessas disputas envolvendo esse grupo ocorre atualmente no território de Myanmar, onde vive (ou tenta sobreviver) a maioria dessa etnia sem nação.

Em Myanmar o povo Rohingya se concentra no estado de Rakhine, próximo a Bangladesh

Disponível em: <https://static.dw.com/image/40521460_105.png> acesso em 21 mar. 2021

A origem do povo Rohingya ainda é imprecisa. Segundo uma linha de pesquisa eles seriam originários do próprio estado de Rakhine, em Myanmar, ao passo que para uma segunda linha eles seriam oriundos da Birmânia (hoje Bangladesh), tendo migrado no passado para o território mianmarense. O que se sabe de fato é que se trata de um grupo étnico que professa a fé islâmica e que não é reconhecido, enquanto nação, pelo governo desse país, o que coloca os Rohingyas na situação de povo apátrida, uma vez que não possui participação política ou econômica ao espaço em que se inserem, bem como é marginalizado de suas esferas sociais, e essa situação de apatridia agrava ainda mais a já precária situação de vida dessa minoria.

Nos últimos anos os conflitos étnicos de cunho religioso se ampliaram entre a população predominantemente budista de Myanmar e os muçulmanos Rohingyas que habitam no extremo Oeste do país. Porém, além das divergências étnico-religiosas, interesses econômicos e políticos por parte do Estado mianmarense acentuaram as disputas nacionais, ao ponto de diversas instituições supranacionais, e a própria Organização das Nações Unidas – ONU terem considerado esse povo como sendo a minoria étnica mais perseguida no mundo atualmente.

Em termos numéricos a população Rohingya em Mianmar é estimada em cerca de 3 milhões de pessoas, o que significa 5% da população total daquela nação, a qual conta com pelo menos 160 etnias diferentes em seu território, a maioria aceita e acolhida pelo Estado. Essa nação asiática passou na segunda metade do século XX por sucessivos períodos de instabilidade política, golpes militares e regimes ditatoriais, que em comum tiveram sempre as ações veementemente contra o reconhecimento e tolerância aos Rohingyas, sempre marginalizados e excluídos. Porém, naquele período (1950 – 1990) na medida em que havia a perseguição por parte do Estado Nacional, a população minoritária migrava dentro do próprio território mianmarense. Diferentemente do que se passou a observar a partir do início do século XXI, quando a fuga desse povo se deu na direção de outras nações da região.

No período entre 2016 e 2017 observou-se com maior intensidade tanto a perseguição quanto a fuga em massa de populações Rohingyas, principalmente em direção a Bangladesh, país vizinho a Myanmar, onde que a população é de maioria islâmica. Porém, Bangladesh já atravessa severos problemas internos, em decorrência de sua população numerosa e a falta de capitais para investimentos públicos sociais, o que leva sua população nativa a viver em precárias condições de vida e o Estado a ser incapaz de arcar com os elevados custos de manutenção e ajuda humanitária para a população deslocada do país vizinho. Assim, embora em relativa segurança, os refugiados que se deslocam para Bangladesh permanecem em situação de exclusão social, pois muitas vezes não gozam das já mínimas condições oferecidas às populações daquele país.

O campo de refugiados de Cox Bazar, em Bangladesh, é atualmente o maior no mundo

Disponível em: <http://jeepneyjinggoy.com/wp-content/uploads/2019/05/City-like-refugee-camp-photo-by-Kim-Sanggoo.jpg> acesso em 21 mar. 2021

Diante da incapacidade financeira e operacional do Estado bangladês, a ONU, através do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – ACNUR, estabeleceu na cidade de Cox Bazar o campo de refugiados homônimo, que abriga segundo a instituição aproximadamente 1 milhão de pessoas, em sua quase totalidade deslocadas de Myanmar a partir de 2016, quando se intensificaram no país a perseguição dos islâmicos pelos budistas. Mesmo expostas a condições extremamente precárias, principalmente relativas a saneamento básico, as populações refugiadas que habitam os campos encontram-se em relativa seguridade e amparadas pelos termos e dispositivos legais firmados a partir da Convenção de Genebra.

Ao longo dos últimos anos o campo de refugiados tem recebido crescentes somas de Rohingyas, principalmente pelo agravamento das tensões políticas entre os militares e o governo democrático estabelecido em Myanmar, o que amplia a quantidade de indivíduos apátridas que dependem da ajuda humanitária, custeada pela ONU e por organismos internacionais, bem como por doações de todo o mundo. Porém, trata-se apenas de uma solução temporária e paliativa, que não resolve de fato o problema dessa minoria étnica desprovida de um espaço nacional. Uma medida que poderia surtir resultado mais efetivo seria a delimitação e o estabelecimento de “um país Rohingya”, porém essa proposta esbarra em uma série de entraves diplomático, posto que alguma outra nação deveria abrir mão de uma parte de seu território para que essa nova nação fosse criada. E, assim como acontece com a questão curda no Oriente Médio, há dificuldades colossais para que tal medida seja efetivada.

A situação dessa minoria étnica passou por severo agravamento a partir de 2019, por duas variáveis diferentes que impactaram de maneiras igualmente devastadoras sobre esse povo: Primeiramente a pandemia do novo Coronavírus, que atingiu de modo alarmante o campo de Cox Bazar, onde as condições de saneamento são extremamente precárias e o distanciamento social se faz quase impossível, em decorrência da enorme população habitante e da insalubridade das moradias. E em segundo lugar, um golpe de Estado realizado pelos militares em Myanmar, que derrubou em fevereiro de 2021 o governo da Liga Nacional pela Democracia – LND, sob a liderança de Aung San Suu Kyi. Ambos os eventos tornaram ainda mais precária e ameaçadora a situação desse povo.

No caso do surto do Coronavírus dentro do campo de refugiados, onde vive cerca de 1 milhão de pessoas em sua maioria crianças, a doença se espalhou assintomática, rápida e silenciosamente, atingindo números elevados de infecções, segundo estimativas extraoficiais dos organismos internacionais, posto que dificilmente existam dados totalmente oficiais dadas as dificuldades clínicas de realização de testes, e o intenso fluxo diário de entrada de novos refugiados, provenientes das nações circunvizinhas. Assim como as condições de testagens são insuficientes para a população do campo de refugiados, as instalações médicas de tratamento, como leitos de UTI e equipamentos de ventilação forçada são certamente inadequadas frente a um possível (e possivelmente inevitável) surto da doença. O que será certamente uma demanda a mais para os já sobrecarregados voluntários que operam essa estrutura humanitária.

No caso do golpe de Estado ocorrido em Myanmar no início de 2021 a perseguição aos Rohingyas, que já existia de maneira evidente sob o governo da LND, tende a se tornar ainda mais implacável, em decorrência do autoritarismo político a ser empregado pelos militares que tomaram o poder, os quais justificarão suas políticas de segregação e combate às minorias étnicas com um discurso de suposta defesa do nacionalismo. Desse modo certamente haverá ainda mais êxodo desse povo, principalmente em direção ao já superlotado campo de refugiados em Bangladesh. Em resumo, a situação que já é notadamente de tragédia humanitária deverá ganhar traços ainda mais calamitosos, e essa minoria étnica muçulmana será ainda mais impactada pela realidade e a segregação que a cerca historicamente.

Distante 60 km de Bangladesh, a ilha de Bhashan Char recebe atualmente Rohingyas deslocados

Disponível em: <https://static.dw.com/image/47935072_7.png> acesso em 21 mar. 2021

Em meio a todo o caos que cerca a situação do povo Rohingya, desde dezembro de 2020 um novo fato chama a atenção, que é o plano elaborado pelo governo bangladês para diminuir a superlotação dos campos de refugiados e a pressão sobre os serviços essenciais no país: o governo tem realizado sistematicamente transferências de milhares de refugiados para a ilha Bhashan Char, localizada no Golfo de Bengala. Segundo grupos relacionados à defesa dos Direitos Humanos, a criação de um novo campo de refugiados nessa ilha isolada, com área de pouco mais de 50km2, não seria uma ação humanitária, mas sim um novo processo de segregação e exclusão desse povo. Segundo o plano inicial, o governo daquele país pretende transferir até 100 mil pessoas para essa zona insular.

De modo geral, a ideia que melhor exprime a realidade do povo Rohingya é a incerteza, tanto a respeito de sua possibilidade de retorno ao local de vivência anterior em Myanmar (o que se torna cada vez mais improvável em decorrência do recrudescimento do autoritarismo militar naquele país), quanto a respeito de seu futuro, no que tange à possibilidade de um dia se tornar uma nação com território próprio (algo difícil, assim como para os Curdos, uma vez que esses povos não possuem representatividade em organismos internacionais) ou mesmo a respeito de uma permanência definitiva em Bangladesh (o que se mostra a cada dia mais complicado, como demonstra a transferência não-voluntária de parte desse povo para a ilha de Bhashan Char).

Em suma, o futuro desse grupo só não é mais incerto que o seu próprio presente...

 

 

 

 

                                                                                                                                                             

 

 

quinta-feira, 11 de março de 2021

OS 10 ANOS DO DESASTRE DE FUKUSHIMA

 FUKUSHIMA, 10 ANOS DEPOIS

- Prof. Éder Israel

Japoneses tentam controlar os incêndios na usina nuclear atingida pelo tsunami em 11/03/2011

Disponível em: <https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2019/12/incendio.jpg> acesso em 10 mar. 2021

No dia 11 de março de 2011 a porção nordeste do território japonês foi atingida por uma sucessão de eventos catastróficos, iniciados por um grande maremoto no assoalho do Oceano Pacífico, seguido pela formação de ondas gigantes que atingiram a costa, e por fim explosões na unidade nuclear que produzia energia na cidade de Fukushima. O caos local rapidamente se transformou numa ameaça regional em decorrência do risco iminente de vazamento e dissipação de materiais radioativos altamente contaminantes, em escala vista anteriormente apenas no acidente da Usina de Chernobyl, na Ucrânia em 1986.

É consensual a imprevisibilidade quase absoluta dos grandes abalos sísmicos, bem como é também conhecido o impacto potencial desses eventos geológicos sobre tudo e todos que se encontram sobre a crosta terrestre. Mesmo o Japão, país que detém uma das mais modernas e eficientes tecnologias de monitoramento geológico do mundo, consegue prever esses grandes eventos apenas segundos antes de sua ocorrência. Mas, há aí dois importantes “poréns”: em primeiro lugar, esses aparentemente insignificantes segundos de previsão salvam anualmente milhares de vidas de uma população constantemente treinada para agir nessas circunstâncias; e em segundo lugar, abalos sísmicos de pequena e média magnitude são constantes no Japão, posto que o país se localize na fronteira de placas tectônicas ativas, na região conhecida como Círculo de Fogo do Pacífico.

Porém, esse abalo de 2011 foi diferente dos demais, seja em relação à magnitude alcançada por ele ou por conta das consequências posteriores associadas a ele. A área de ocorrência do choque entre as placas tectônicas Euroasiática, do Pacífico e das Filipinas se deu na bacia oceânica, a cerca de 30 quilômetros da superfície, a uma distância de mais de 100 quilômetros do litoral japonês. A partir desse evento inicial os demais foram desencadeados em sequência. As ondas gigantes se formaram no oceano e começaram a se deslocar na direção das regiões do entorno do oceano Pacífico e ao atingir a costa do Japão as maiores ondas alcançavam alturas superiores a 10 metros, invadindo áreas ali localizadas.


Localização do território japonês em relação às placas tectônicas da crosta terrestre

Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioHxuMvEh9j1J51uLe2g0Uh8ZaByjFv-u8d1J6HTNu5CQ9hSIpAfevd-IRH1BZHbXVQcncF6W9MsaFcAdzrLkxut_JdrsYOlnfyxlBBlC0w2OYAsxaoeTu5iAobM_jiqYY_uKPqnkZrAEQ/s1600/20110311205322116649o.jpg> acesso em 10 mar. 2021

Em decorrência da constância desse tipo de evento tectônico no país as estruturas das construções japonesas são pensadas e executadas de modo que suportem a energia liberada pela movimentação das placas, bem como as regiões costeiras são dotadas de diques (barreiras) que impedem a entrada das águas oceânicas, em decorrência das ondas ou das marés. Porém, tais estruturas se mostraram insuficientes para suportar os impactos da catástrofe de 2011. Na verdade, os diques acabaram por potencializar alguns dos problemas ocorridos posteriormente, pincipalmente a permanência da água nos bairros da orla local.

A entrada das águas, empurradas pelas ondas com mais de 10 metros de altura, inundaram as regiões imediatamente próximas ao oceano, tendo passado por sobre os diques ali construídos, e não tendo condições de retornar para o oceano, como seria natural, uma vez que essas barreiras impediram seu livre fluxo de retorno ao leito marinho. Assim, após o impacto devastador da chegada das ondas do tsunami a cidade de Fukushima passou a sofrer com vários dias de inundação, até que a água fosse bombeada mecanicamente para fora do país. Esse problema acabou por comprometer ainda mais os serviços essenciais e potencializar os riscos à saúde das pessoas.

As ondas de choque criadas pela energia sísmica liberada no epicentro do maremoto chegaram ao Japão, e nem todas as estruturas planejadas foram plenamente capazes de suportar tamanho poder destrutivo. Na Usina Nuclear de Fukushima 3 dos seus 6 reatores foram severamente comprometidos pelo evento, iniciando a liberação de volumes de material radioativo muito acima dos normais e toleráveis, forçando o governo a promover uma acelerada e massiva evacuação da área, realizando o êxodo de pelo menos 170 mil pessoas. Por tratar-se de liberação radioativa, o deslocamento dessas pessoas se torna praticamente permanente, assim como se observa ainda hoje em partes da região ucraniana de Chernobyl.

Como saldo negativo principal dessa combinação de desastres houve a perda direta de pelo menos 18.500 vidas, principalmente de pessoas que habitavam a orla de Fukushima, além de outras mortes indiretas ao longo dos anos, em decorrência da exposição aos efeitos da radiação. Em termos estruturais o Japão se mostrou eficiente na reparação rápida dos impactos materiais da catástrofe, porém em termos ambientais o controle da radiação liberada constantemente ao longo dos anos não pode ser tão facilmente alcançado, mesmo com toda a tecnologia disponível no país asiático. Ainda hoje, muitas áreas de Fukushima, principalmente aquelas do entorno da usina, permanecem inabitáveis e assim devem permanecer por ainda muitos anos.


Apesar da densa vegetação, Fukushima ainda é um ambiente inóspito para os seres humanos

Disponível em: <http://www.podniesinski.pl/portal/wp-content/uploads/vlcsnap-2015-09-13-22h57m10s365.jpg> acesso em 10 mar. 2021

Controlado, segundo os cientistas e o governo, o vazamento do material radioativo para a atmosfera, resta ainda o grave problema da radiação permanente no ambiente e nas estruturas, que impede o retorno seguro das populações que ali residiam. Porém, ao longo dos anos o governo japonês e a Tokyo Eletric Power (Tepco), empresa privada que administrava a usina e consequentemente teve que assumir a gestão das consequências do desastre, passaram a ter que lidar com outro grave problema, posto que os materiais radioativos, com destaque para a água utilizada no resfriamento dos reatores, vazaram e contaminaram o solo e principalmente o lençol freático abaixo da usina, o que poderia impactar diretamente sobre populações distantes que consumissem a água associada a essa reserva subterrânea.

Além de contaminar as águas aprisionadas dentro do solo, muitas nascentes de Fukushima acabam por jorrar constantemente grandes volumes de águas contaminadas, que poderiam chegar aos rios da região, contaminando-os, e posteriormente ao oceano. Assim, os gestores da atual zona de exclusão (região esvaziada após o desastre) precisam constantemente captar essas águas, ou mesmo drenar o solo, e armazená-la para que não contamine o ambiente como um todo. Daí advém um novo problema, que é a falta de espaço latente no Japão, uma vez que são construídos tanques e mais tanques ao mesmo tempo em que a água contaminada não para de jorrar do solo. Em pouco tempo não haverá mais espaço físico para o armazenamento desse arriscado efluente.

Tanques foram (e são) construídos no entorno da usina para armazenar a água contaminada

Disponível em: <https://img.over-blog-kiwi.com/1/04/49/45/20170720/ob_49ace2_fukushima-6.jpg> acesso em 10 mar. 2021

Atualmente existem cerca de 1.000 grandes tanques construídos na região para armazenar a água contaminada, e o espaço físico para a construção de novos reservatórios é cada vez mais escasso. Segundo órgão do governo japonês, diariamente são captadas novas 170 toneladas desse material, que se juntam aos quase 1,8 milhão de litros ali já acumulados. Às vésperas de completar uma década da grande catástrofe na região, o governo do país e a Tepco planejam uma nova estratégia de enfrentamento do problema, que seria o descarte gradual dessa água contaminada no Pacífico, para que ela fosse diluída pelas águas oceânicas, projeto esse que obviamente reacendeu as polêmicas e os debates acerca da questão de Fukushima.

Segundo o plano se iniciaria no final de 2022 (quando não haveria mais espaço para o armazenamento) o descarte de pequenas frações do material contaminado no oceano, depois da realização de processos de “purificação” e tratamento desses efluentes, retirando a maior parte dos contaminantes, e liberando para o ambiente apenas aqueles materiais considerados menos impactantes, como o trítio, que é praticamente impossível de ser retirado da água e teria um decaimento isotópico em torno de 12 anos na natureza, bem menor que os demais compostos presentes no rejeito antes do tratamento. Porém, ambientalistas e principalmente a indústria pesqueira (atividade vital na economia interna japonesa) temem os impactos sobre o meio ambiente e a saúde dos consumidores dos pescados.

O governo japonês propõe o lançamento dos rejeitos tratados ao longo dos próximos 30 anos no oceano Pacífico, o que segundo autoridades estatais seria plenamente passível de diluição no meio marinho. Tendo sido recentemente identificados sucessivos vazamentos nos tanques de acondicionamento desse material, veio novamente à tona o debate acerca da necessidade de se buscar uma alternativa ao armazenamento e destinação desse material, posto que, além desse problema mencionado, há ainda o risco iminente de um novo tremor, algo comum pela posição tectônica do Japão, criar um grande colapso nas estruturas desses tanques e todo esse composto ser liberado e atingir o oceano de uma vez só.

Portanto, uma década após o apocalíptico 11 de março de 2011, o Japão apresenta mais incertezas, acerca do que fazer com os espólios do tsunami, do que certezas acerca do que se apresentará na próxima década. De fato o que se tem é que, assim como ocorre ainda hoje em Chernobyl 35 anos após a explosão do reator, muitas décadas ainda serão necessárias para que os possíveis impactos do desastre de Fukushima sejam plenamente conhecidos, reparados e superados.





terça-feira, 2 de março de 2021

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA - ENEM 2020 (SEGUNDA APLICAÇÃO E PPL)

 

Questão 47

A soja é a cultura agrícola brasileira que mais cresceu nas últimas três décadas e corresponde a 49% da área plantada em grãos do país. O aumento da produtividade está associado aos avanços tecnológicos, ao manejo e à eficiência dos produtores. O grão é componente essencial na fabricação de rações animais e, com uso crescente na alimentação humana, encontra-se em franco crescimento.

Disponível em: www.agricultura.gov.br. Acesso em: 2 ago. 2012.

Uma causa para o crescimento, no Brasil, da produção agrícola especificada no texto é o(a)

a) ampliação da qualidade de vida no campo.

b) priorização do crédito ao pequeno produtor.

c) aumento do emprego de mão de obra informal.

d) aplicação de leis que viabilizam a distribuição de terras.

e) desenvolvimento de métodos que incrementam o cultivo.

Resposta: E

Comentário:

A expansão da sojicultura no Brasil se inicia a partir da década de 1960, através da Revolução Verde, que promoveu a intensificação das tecnologias e modernização das técnicas empregadas nos cultivos. No caso brasileiro, a área cultivada se estendeu na direção do Centro-Oeste, ocupando áreas anteriormente recobertas pelo Cerrado. Essa expansão foi possível a partir do uso do calcário na correção dos latossolos ácidos dessa região, que permitiu a neutralização do alumínio excessivo, que tornava esses solos inférteis.

Questão 49

Grileiro de terra

 

O jagunço falou com o caboclo

Conversando na sua varanda

Meu patrão vai tomar suas terras

Tá cercado por todas as bandas

Acho bom sair quanto antes

Pegue a sua família e se manda

Porque saibas que um mal acordo

É melhor do que boa demanda

TAVIANO & TAVARES. Disponível em: www.kboing.com.br. Acesso em: 16 abr. 2015 (fragmento).

A situação de conflito descrita é característica de espaços rurais onde ocorre o processo de

a) formação de sistema de parceria.

b) homologação de reservas extrativistas.

c) falsificação de títulos de propriedades.

d) terceirização de mão de obra empregada.

e) desagregação de organizações cooperativistas.

Resposta: C

Comentário:

Na estrutura fundiária brasileira, sabidamente concentrada e excludente, a figura do grileiro encontra-se diretamente associada à ocorrência de conflitos e disputas, principalmente nas zonas de expansão da fronteira agrícola, atualmente localizadas nas bordas Leste e Sul da Floresta Amazônica. A grilagem consiste em uma prática criminosa, na qual o indivíduo utiliza-se de documentos falsificados para se passar por proprietário de terras, principalmente aquelas tidas como devolutas. O nome se deve à estratégia de criar documentos novos de propriedade de terras e guardá-los em caixas ou gavetas com grilos para que os excrementos dos insetos deem ao papel novo um aspecto envelhecido.

Questão 53

Esse processo concentra a população de renda mais elevada e maior poder político em áreas mais centrais e privilegiadas em termos de empregos, infraestrutura básica e serviços sociais. Ao mesmo tempo, redistribui a população menos favorecida quanto a esses aspectos, constituindo uma ocupação periférica que se estende até os municípios limítrofes. Neles, as condições de acesso às áreas mais centrais são agravadas pelas grandes distâncias e pelas dificuldades relacionadas à eficiência do sistema de transporte.

CAIADO, M. C. S. Deslocamentos intraurbanos e estruturação socioespacial na metrópole brasiliense. São Paulo em Perspectiva, n. 4, out.-dez. 2005.

O texto caracteriza um estágio do processo de urbanização marcado pela

a) segregação socioespacial.

b) emancipação territorial.

c) conurbação planejada.

d) metropolização tardia.

e) expansão vertical.

Resposta: A

Comentário:

O processo de urbanização tardio observado em nações em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, se deu de modo rápido e mal planejado ao longo do século XX, e produziu como consequência principal as desigualdades sociais entre as diferentes parcelas da população, tendo como parâmetro para sua determinação as condições econômicas das mesmas. Grandes percentuais das populações urbanas nessas nações são excluídas dos benefícios da vida citadina, em um processo conhecido como segregação socioespacial, posto que ao mesmo tempo em que lhes retira o caráter formal de agente social também os exclui dos espaços planejados dentro das cidades.

Questão 56

A produtividade ecológica articula-se com uma produtividade tecnológica, porque não se deve renunciar a todas as possibilidades da ciência e da técnica, e sim reencaminhar muitas delas para a construção desse novo paradigma produtivo. Essa construção social, porém, não pode ser guiada por um planejamento centralizado da tecnologia normatizada pela ecologia. A alma dessa nova economia humana são os valores culturais. Cada cultura dá significado a seus conhecimentos, a sua natureza, recriando-a e abrindo o fluxo de possibilidades de coevolução, articulando o pensamento humano com o potencial da natureza.

LEFF, E. Discursos sustentáveis. São Paulo: Cortez, 2010 (adaptado).

O paradigma produtivo apresentado no texto tem como base a harmonização entre tecnologia e ecologia e propõe uma sustentabilidade pautada no(a)

a) ideia de natureza intocada.

b) lógica de mercado internacional.

c) respeito ao saber local comunitário.

d) desenvolvimento de cultivos orgânicos.

e) retorno às práticas agrícolas arcaicas.

Resposta: C

Comentário:

As sociedades contemporâneas entendem a cada dia mais os impactos que o modelo de vida consumista promove sobre os recursos naturais e o meio ambiente, e por isso proliferam globalmente debates e propostas relacionadas à busca imediata por um modelo baseado em ideais de sustentabilidade, sem a necessidade de se abandonar plenamente as condições do mercado capitalista. O texto faz menção a uma dessas possiblidades, chamada de Economia Humana, a qual valoriza primordialmente os aspectos de escala local, tendo por objetivo alcançar resultados de escala global. Nessa proposta defende-se a valorização das feições culturais de cada grupo social, implantando saberes e conhecimentos das comunidades locais para a integração plena de cada sociedade ao seu próprio meio.

Questão 59

Mapa da Alemanha em 1945

RODRIGUES, R. C. A.; SANTANA, F. T. M.; ERTHAL, L. Aprendendo com filmes. Rio de Janeiro: Faperj; Lamparina, 2012 (adaptado).

A divisão representada do território alemão refletia um contexto geoestratégico de busca por

a) espólio de guerra.

b) áreas de influência.

c) rotas de navegação.

d) controle do petróleo.

e) monopólio do comércio.

Resposta: B

Comentário:

Após o encerramento da Segunda Guerra Mundial e a consequente vitória dos países Aliados sobre os integrantes do Eixo, a Alemanha, tida como maior causadora do conflito, passou a ser administrada pelas nações vencedoras, tendo, sido dividida em quatro zonas de influência geopolíticas, das quais três mantiveram os preceitos capitalistas, sendo controladas por Estados Unidos, França e Inglaterra (batizada de Alemanha Ocidental) e uma implementou os preceitos socialistas, sendo controlada pela União Soviética (nomeada de Alemanha Oriental). O mesmo processo de fragmentação territorial e administração política compartilhada foi realizado na cidade de Berlim, aspecto  que perdurou até 1990 quando o país foi finalmente reunificado.

Questão 62

Gifford Pinchot, engenheiro florestal treinado na Alemanha, criou o movimento de conservação dos recursos, apregoando o seu uso racional. Na verdade, Pinchot agia dentro de um contexto de transformação da natureza em mercadoria. Na sua concepção, a natureza é frequentemente lenta e os processos de manejo podem torná-la eficiente; acreditava que a conservação deveria basear-se em três princípios: o uso dos recursos naturais pela geração presente, a prevenção de desperdício e o uso dos recursos naturais para benefício da maioria dos cidadãos.

DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec; Edusp, 2000. A

A atual concepção de desenvolvimento sustentável diferencia-se da proposta de Gifford Pinchot, do fim do século XIX, pelo foco na

a) precificação das riquezas naturais.

b) desconstrução dos saberes tradicionais.

c) valorização das necessidades futuras.

d) contenção do crescimento econômico.

e) oposição dos ideais preservacionistas.

Resposta: C

Comentário:

Ao longo do tempo as relações entre o homem e a natureza passam por sucessivas mudanças, condicionadas pela combinação entre ampliação dos saberes intelectuais, o crescimento da consciência ambiental e a preocupação com os impactos do esgotamento dos recursos sobre a economia. A atual ideia defendida globalmente para o Desenvolvimento Sustentável se baseia na busca do equilíbrio entre o uso dos recursos pelas gerações presentes e a garantia da disponibilidade de tais recursos para as gerações futuras. Diferentemente da noção proposta e defendida por Gifford Pinchot no século XIX, onde a preocupação era em relação apenas às presentes gerações do período, denotando à época um foco imediatista e um pensamento de curto prazo.

Questão 64

Na América Latina, cerca de 40 milhões de pessoas, ou seja, 7% da população, não possuem água segura para o consumo humano, enquanto mais de 6% da população da região ainda praticam a defecação ao ar livre, com graves consequências sociais e ambientais. Essa problemática é mais frequente e mais complexa, como seria de se esperar, nas áreas semiáridas e desérticas, mas também se faz presente em regiões mais favorecidas em termos hidrológicos: a relação entre a disponibilidade natural de água e a satisfação das necessidades vitais da população não é de maneira alguma mecânica ou direta.

CASTRO, J. E.; HELLER, L.; MORAIS, M. P. O direito à água como política pública na América Latina: uma exploração teórica e empírica. Brasília: Ipea, 2015 (adaptado).

A política pública capaz de solucionar o problema apresentado é:

a) Subsidiar a saúde privada.

b) Tratar os efluentes industriais.

c) Proteger os mananciais de rios.

d) Promover a oferta de empregos.

e) Democratizar o saneamento básico.

Resposta: E

Comentário:

O acesso à água tratada e aos sistemas de coleta e tratamento de esgoto integra um conjunto de serviços públicos essenciais conhecidos como saneamento básico. Esse saneamento deve ser parte integrante e determinante nas políticas de planejamento urbano das nações, para que as populações desses espaços tenham acesso ao essencial para uma vida digna. Porém, nas nações em desenvolvimento, como o Brasil, o planejamento urbano é historicamente negligenciado, e grande parte das populações de baixa renda é excluída e marginalizada de seu acesso, agravando ainda mais as suas já péssimas condições de vida. Portanto, a democratização do saneamento básico, tornando-o acessível a todos os grupos sociais se configura como política pública essencial aos espaços urbanos contemporâneos.

Questão 65

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes.

MARX, K.; ENGELS, F. O manifesto comunista. São Paulo: Paz e Terra, 1998.

Na perspectiva dos autores, os antagonismos entre as classes sociais no capitalismo decorrem da separação entre aqueles que detêm os meios de produção e aqueles que

a) vendem a força de trabalho.

b) exercem a atividade comercial.

c) possuem os títulos de nobreza.

d) controlam a propriedade da terra.

e) monopolizam o mercado financeiro.

Resposta: A

Comentário:

Uma das principais contradições do sistema capitalista reside no fato dele promover a busca incessante pela geração de riquezas e ao mesmo tempo possibilitar uma ampliação massiva das desigualdades financeiras que separam os mais ricos dos mais pobres. O abismo econômico entre essas duas classes não é mera consequência do Capitalismo, mas sim o sustentáculo principal de sua dinâmica natural e a base primaz para a mais-valia. A luta de classes se manifesta exatamente nessa desigualdade, onde a classe dominante, historicamente conhecida como a detentora dos meios de produção explora a classe dominada, composta pelos proletários ou operários, que detém a força de trabalho, e a vende por um valor financeiro chamado de salário. Da diferença entre o valor econômico produzido pelo trabalhador e o valor recebido por ele através do salário é que nasce a mais-valia.

Questão 66

A erosão laminar tem origem na desagregação e movimentação de pequenas partículas do solo causadas pela ação da água. Para evitá-la, deve-se eliminar o desprendimento causado pelas gotas das chuvas que golpeiam o terreno.

ROCHA, J. S. M. Educação ambiental técnica para os ensinos fundamental, médio e superior. Santa Maria: Imprensa Universitária, 1999 (adaptado).

O processo erosivo descrito no texto é minimizado pela

a) inserção de pecuária extensiva.

b) manutenção da cobertura vegetal.

c) alteração da declividade do relevo.

d) construção de barreiras de contenção.

e) instalação de medidores pluviométricos.

Resposta: B

Comentário:

Os processos erosivos fazem parte da dinâmica natural dos solos, sendo caracterizados pela atuação dos elementos climáticos (forças exógenas) sobre a superfície terrestre. Dentre os vários tipos de erosão, aquelas conhecidas como hídricas são as mais impactantes, e tem seus efeitos potencializados pelas atividades antrópicas, que promovem a exposição dos solos à ação direta das gotas de chuva. Essa erosão surge de modo pontual, quando a gotícula de água movimenta partículas minúsculas de solo, sendo chamada de efeito splash, que posteriormente evolui para erosão laminar, quando a enxurrada arrasta a cobertura superficial dos solos. Em um terceiro estágio formam-se sulcos no solo, conhecidos como ravinas e por fim esses sulcos se unem, dando origem às chamadas voçorocas. O modo mais eficaz de minimizar esse processo é manter o solo protegido pela cobertura vegetal, a qual amortece o impacto das gotas de chuva, não permitindo sequer o início do efeito splash.

Questão 69

O horário brasileiro de verão consiste em adiantar em uma hora a hora legal (oficial) de determinados estados. Ele é adotado por iniciativa do Poder Executivo com vistas a limitar a máxima carga a que o sistema fica sujeito no período do ano de maior consumo, aumentando, assim, sua confiabilidade, constituída pelas linhas de transmissão e pelas usinas que atendem as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e parte da Região Norte.

Disponível em: www12.senado.gov.br. Acesso em: 29 jun. 2015 (adaptado).

A ação governamental descrita é possibilitada por meio da seguinte estratégia:

a) Redução do valor das contas de luz.

b) Estímulo à geração de energia limpa.

c) Diminuição de produção da matriz hidrelétrica.

d) Distribuição da eletricidade de modo equitativo.

e) Aproveitamento do fotoperíodo de forma estendida.

Resposta: E

Comentário:

A adoção do horário de verão no Brasil foi realizada pela primeira vez em 1931, tendo sido adotado (não de forma contínua) até 2019. O objetivo principal era promover a redução no consumo de energia elétrica no horário de pico (entre 17:00 e 20:00) no período de primavera-verão no hemisfério Sul. Nesse período a posição aparente do sol encontra-se próxima ao Trópico de Capricórnio, o que permite ao país receber maiores intensidades de insolação diária. Ao se adiantar os relógios em 1 hora amplia o fotoperíodo diário, aumentando a claridade natural e diminuindo a necessidade de iluminação artificial durante o horário de pico, e consequentemente o consumo de eletricidade nas zonas mais afastadas da Linha do Equador, a saber, Sul, Sudeste e Centro-Oeste brasileiros.

Questão 75

SOUSA, M. Disponível em: www.turmadamonica.com.br. Acesso em: 16 abr. 2015.

A ironia expressa na tirinha representa uma crítica à seguinte relação entre sociedade e natureza:

a) Perseguição étnica indígena.

b) Crescimento econômico predatório.

c) Modificação de práticas colonizadoras.

d) Comprometimento de jazidas minerais.

e) Desenvolvimento de reservas extrativistas

Resposta: B

Comentário:

A crítica realizada através da tirinha, com o uso de linguagem irônica pelos personagens, se direcionam ao processo de desmatamento e devastação das vegetações nativas pelo chamado “homem branco”. Ela retrata, de forma alusiva, o choque entre o interesse econômico, no caso brasileiro representado pela expansão das fronteiras agrícolas sobre os biomas, e a necessidade latente de conservação dos recursos naturais. Assim, adota-se atualmente no país um modelo econômico predatório, que utiliza de modo não racional os recursos naturais, criando a possibilidade para um rápido esgotamento de suas reservas. Portanto, faz-se emergencial a busca por um modelo econômico pautado pela sustentabilidade ambiental, em substituição do desenvolvimentismo predatório observado atualmente não apenas no Brasil, mas no mundo como um todo.

Questão 76

Doze mil quilômetros separam Acra, a capital de Gana, do Vale do Silício, Califórnia, Estados Unidos, centro da revolução tecnológica do século XXI. Há, no entanto, outra distância maior do que a geográfica. Acra e o Vale do Silício estão no extremo de um ciclo de vida. Computadores, tablets e celulares nascem da cabeça de nerds sob o sol californiano e morrem e são descompostos no distrito de Agbogbloshie, periferia africana.

LOPES, K. O lixão ponto com da África. Disponível em: www.cartacapital.com.br. Acesso em: 10 abr. 2015.

A situação descrita é um exemplo de um modelo de desenvolvimento tecnológico que revela um processo de

a) diminuição de empregos formais na área de reciclagem.

b) redução do consumo consciente entre as nações envolvidas.

c) negligenciamento da logística reversa por esse setor industrial.

d) desmantelamento das propostas de tratamento dos resíduos sólidos.

e) desestruturação dos serviços de assistência técnica em países emergentes.

Resposta: C

Comentário:

Um dos problemas ambientais modernos mais preocupantes é relativo à produção de lixo eletrônico (e-trash) pela sociedade contemporânea, principalmente por conta da expansão da produção tecnológica das últimas décadas e da ampliação do poder de compra das populações pelo mundo. Outro fator que impacta nesse contexto é a chamada obsolescência programada desses produtos tecnológicos, fabricados para serem substituídos em períodos cada vez mais curtos. O grande problema dessa dinâmica é a destinação desses produtos após o seu curto período de vida útil, posto que podem utilizar em seus componentes elementos de alto poder de contaminação ambiental, como os metais pesados. Portanto, deve-se buscar a implantação de um sistema de logística reversa para que após o uso, esses produtos sejam destinados de volta às empresas fabricantes, para que elas deem a devida destinação de seus restos, minimizando seus impactos potenciais. Quando essa logística reversa é falha ou inexistente, os restos eletrônicos acabam sendo destinados para nações pobres, como no caso mencionado no texto, em Gana, onde se acumulam e promovem severos riscos ao meio ambiente e às populações locais.

Questão 77

A pirâmide de formato triangular da década de 1970 foi dando lugar a uma pirâmide mais retangular de base mais estreita e topo mais largo. Em 1991, a população de 0 a 14 anos correspondia a 34,7% da população brasileira, tendo passado para 24,1% em 2010. A população em idade ativa, entre 15 e 59 anos, por sua vez, passou de 58,0% a 65,1% no mesmo período. IBGE.

Brasil em números. Rio de Janeiro: IBGE, 2014.

As alterações no perfil demográfico brasileiro, descritas no texto, trouxeram como consequência socioeconômica o(a)

a) aumento da mortalidade infantil.

b) crescimento das desigualdades regionais.

c) redução dos gastos na educação superior.

d) restrição no atendimento público hospitalar.

e) expansão na demanda por ocupações laborais.

Resposta: E

Comentário:

As pirâmides etárias das nações representam de modo simbólico a situação econômica dessas localidades, e a análise de seu formato traz informações acerca de como anda o processo de desenvolvimento financeiro e social das mesmas. Assim, pirâmides de nações menos desenvolvidas tendem a apresentar bases mais largas (altas taxas de natalidade) e topos mais estreitos (baixa expectativa de vida). Já aquelas de nações de maior desenvolvimento possuem bases mais estreitas (baixas natalidades) e topos mais largos (elevada expectativa de vida). No caso brasileiro, a pirâmide se encontra na transição entre esses dois formatos, passando por estreitamento da base e alargamento do topo.

Entre as principais consequências para essa mudança se destacam a necessidade de adequações nos sistemas de previdência social e saúde pública, para atender à população idosa crescente, ao passo que permite também menores gastos com educação pública básica, decorrente da diminuição da quantidade de crianças. O meio da pirâmide apresenta um alargamento, demonstrando expansão da população adulta, apta ao emprego, o que promove a ampliação da força de trabalho disponível, aumentando a procura (demanda) pelos postos de trabalho (ocupações laborais) disponíveis.

Questão 78

No fim da década de 1950, a agricultura intensiva começou a ser disseminada nos países em desenvolvimento. Esse fato marcou o início da Revolução Verde — um período de 30 anos de grandes colheitas que permitiram a muitos países pobres tornarem-se autossuficientes em alimentos. Com esse incrível aumento na produção, observado especialmente nos países da América Latina, veio uma crescente dependência dos produtos químicos agrícolas — e também problemas ecológicos em escala global. No Brasil, os resultados dessa revolução são visíveis e colocaram o país entre os mais importantes da agropecuária mundial.

BURNIE, D. Fique por dentro da ecologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2001 (adaptado).

A expansão da capacidade produtiva brasileira, no contexto indicado, também resultou em

a) queda nos níveis de contaminação do solo.

b) retomada das técnicas tradicionais de plantio.

c) desvalorização financeira das propriedades rurais.

d) inibição do fluxo migratório campo-cidade.

e) crescimento da demanda por trabalhadores qualificados.

Resposta: E

Comentário:

A Revolução Verde ocorrida após a Segunda Guerra Mundial promoveu a modernização das atividades agrícolas no mundo, ao mesmo tempo em que aumentou a dominação de grandes empresas ligadas ao agronegócio, que passaram a controlar o mercado global de insumos agrícolas, vitais para a intensificação das atividades rurais a partir de então. Grandes empresas como a Cargill e a Monsanto passaram a exercer forte controle sobre a produção e a comercialização de mercadorias agrícolas no mundo em desenvolvimento, ampliando ainda mais a histórica dependência externa dessas nações.

A crescente mecanização dos processos produtivos, assim como a valorização da biotecnologia e as pesquisas de ponta sobre manipulação genética promoveram a exigência de mão de obra cada vez mais qualificada, capaz de operar maquinários cada vez mais avançados e tomar decisões produtivas cada vez mais centradas em preceitos científicos, e não mais apenas em conhecimentos empíricos tradicionais, conforme se observava na agricultura pré Revolução Verde.

Questão 79

TEXTO I

A intervenção da Rússia na crise no Leste da Ucrânia reacendeu a tensão entre os aliados da Otan e Moscou. Os EUA informaram que pretendem instalar armamento pesado no Leste da Europa, plano criticado pelo governo russo. Em resposta, a Rússia anunciou o reforço de seu arsenal nuclear, novos mísseis balísticos intercontinentais, descritos como “capazes de superar sistemas de defesa mais avançados”.

STEWART, P. Disponível em: http://noticias.uol.com.br. Acesso em: 26 jun. 2015 (adaptado).

 

TEXTO II

Os Estados Unidos e seus aliados não vão deixar a Rússia “nos arrastar de volta ao passado”, disse o secretário de Defesa dos Estados Unidos em um discurso em Berlim, dia 22 de junho de 2015, quando acusou o governo russo de tentar recriar uma esfera de influência da era soviética.

Disponível em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 26 jun. 2015 (adaptado).

Que tema da geopolítica da segunda metade do século XX é o fundamento histórico da referência feita ao passado?

a) Livre comércio.

b) Luta antiditatorial.

c) Corrida armamentista.

d) Conservação ambiental.

e) Terrorismo internacional.

Resposta: C

Comentário:

O recrudescimento dos discursos geopolíticos antagônicos entre os Estados Unidos e a Rússia nesse início de século XXI remonta à dinâmica observada no contexto inaugurado após a Segunda Guerra Mundial, quando instaurou-se no mundo a disputa ideológica entre o discurso capitalista do governo estadunidense e a defesa socialista realizada pelo governo da então União Soviética. Nesse período, intitulado de Guerra Fria, o mundo assistiu atônito à escalada dos poderios bélicos das duas nações hegemônicas, que travaram uma corrida armamentista que levou ao desenvolvimento de arsenais nucleares capazes de destruir o mundo inteiro, caso fossem de fato utilizados.

Questão 80

Em Goiás e Mato Grosso, as modificações dependeram fundamentalmente de novos manejos aplicados às terras. Acima de tudo, porém, o desenvolvimento regional deveu-se a uma articulada transformação dos meios urbanos e rurais, a serviço da produção tanto de alimentos básicos, como o arroz, por exemplo, quanto de grãos para consumo interno e exportação, como a soja.

AB’SABER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê, 2003.

A realidade descrita no texto se estabelece sobre qual domínio morfoclimático?

a) Pradaria.

b) Cerrado.

c) Caatinga.

d) Araucária.

e) Atlântico.

Resposta: B

Comentário:

A expansão da fronteira agrícola brasileira após a Segunda Guerra Mundial esteve diretamente relacionada à ocupação dos latossolos ácidos do Cerrado, corrigidos a partir da calagem, trazida como técnica de manejo pela Revolução Verde nas décadas de 1960 e 1970. Nesse contexto as lavouras de soja, até então restritas à região Sul do país, se expandiram para estados do Centro Oeste, principalmente Goiás e Mato Grosso, tornando o Brasil um dos maiores exportadores globais de grãos, destinados principalmente para os mercados dos Estados Unidos, da Europa, e do Japão.

Questão 83

Tal fenômeno não pode ser reduzido a alguns núcleos urbanos no topo da hierarquia. É um processo que conecta serviços avançados, centros produtores e mercados em rede com intensidade diferente e em diferente escala, dependendo da relativa importância das atividades localizadas em cada área face à rede mundial.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000 (adaptado).

A estrutura descrita depende da ocorrência da seguinte característica espacial:

a) Extensão da malha ferroviária.

b) Presença de centros de pesquisa.

c) Geração de energias renováveis.

d) Automação das unidades produtivas.

e) Qualidade do sistema de telecomunicações.

Resposta: E

Comentário:

O estabelecimento de um sistema mundialmente integrado através de redes, principalmente aquelas ligadas ao setor das telecomunicações conhecidas como infovias, marca o atual estágio do processo de globalização, que é dominado pelo Meio Técnico-Científico-Informacional, trazido pela Terceira Revolução Industrial a partir da década de 1970, quando os meios capazes de promover a interligação foram amplamente impactados pelas novas tecnologias, tornando-se cada vez mais rápidos e eficientes. Assim, a evolução das telecomunicações, com destaque para a internet, possibilitou a proliferação nos fluxos imateriais, trazendo consigo mudanças que vão desde a hierarquia urbana dentro das nações até a Divisão Internacional do Trabalho – DIT, na busca pela chamada sociedade global.

Questão 84

Cientistas do país estudam interação entre a Antártica e a Amazônia

É difícil imaginar que a Antártica possa interferir no clima de um país tropical como o Brasil, mas a verdade é que o continente gelado influencia e é influenciado especialmente pelo que acontece na América do Sul, inclusive na Amazônia, causando secas na região e recebendo a poluição gerada ali.

Disponível em: http://g1.globo.com. Acesso em: 8 dez. 2017 (adaptado).

As interações citadas são efeito de um processo atmosférico marcado por

a) equidade entre índices de refletividade superficial.

b) bloqueios de elevadas barreiras orográficas.

c) preponderância de correntes marinhas frias.

d) fluxos entre faixas de latitudes distintas.

e) alternância da pressão do ar equatorial.

Resposta: D

Comentário:

A dinâmica global da atmosfera terrestre é determinada pelas condições de pressão, que por sua vez promovem a circulação do ar nas baixas camadas dessa massa gasosa que envolve o planeta. O ar circula na atmosfera a partir de centros de alta pressão, conhecidos como zonas anticiclonais ou dispersoras de ventos, indo em direção aos centros de baixa pressão, conhecidos como zonas ciclonais ou receptoras de ventos. As regiões polares atuam como importantes centros de alta pressão atmosférica, ao passo que a zona equatorial atua como a mais importante zona de baixa pressão da Terra. Assim, ocorre a movimentação de ar, através dos ventos, em zonas de latitudes totalmente distintas, desde que haja entre elas diferenças de pressão.

Questão 86

Com a retração do binômio taylorismo/fordismo, vem ocorrendo uma redução do proletariado industrial, fabril, tradicional, manual, estável e especializado, herdeiro da era da indústria verticalizada do tipo taylorista e fordista. Esse proletariado vem diminuindo com a reestruturação produtiva do capital, dando lugar a formas mais desregulamentadas de trabalho, reduzindo fortemente o conjunto de trabalhadores estáveis por meio de empregos formais.

ANTUNES, R. O caracol e sua concha: ensaio sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.

Uma nova característica dos trabalhadores requerida pelas mudanças apresentadas no texto é o(a)

a) formação em nível superior.

b) registro em organização sindical.

c) experiência profissional comprovada.

d) flexibilidade no exercício da ocupação.

e) obediência às normas de segurança laboral.

Resposta: D

Comentário:

Após a crise de 1929 o modelo de produção fordista começa a entrar em colapso, em decorrência da superprodução e dos vastos estoques produzidos, que desregularam completamente a dinâmica do mercado. Assim, as nações passaram a buscar adequações desse modelo e a sua substituição por outro que se mostrasse mais eficiente. Desse modo, após a Segunda Guerra Mundial, surge o Toyotismo, que trouxe a possibilidade de superação dos limites técnicos do Fordismo, tendo sido amplamente adotado nas cadeias produtivas mundiais a partir da década de 1970.

Dentre as principais características desse novo modelo tem-se a eliminação dos estoques, a partir de uma produção mais flexível e controlada pela demanda do mercado, bem como a eliminação da esteira de produção, que robotizava o operariado. Desse modo, o modelo toyotista passa a demandar uma força de trabalho polivalente, que tenha flexibilidade para exercer diferentes funções na cadeia produtiva, diferentemente do trabalhador fordista, estático e mecânico.

Questão 88

A ampliação das áreas urbanizadas, devido à construção de áreas impermeabilizadas, repercute na capacidade de infiltração das águas no solo, favorecendo o escoamento superficial, a concentração das enxurradas e a ocorrência de ondas de cheia. A urbanização afeta o funcionamento do ciclo hidrológico, pois interfere no rearranjo dos armazenamentos e na trajetória das águas.

CHRISTOFOLETTI, A. Aplicabilidade do conhecimento geomorfológico nos projetos de planejamento. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.). Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

Considerando esse contexto, que fator contribui para a diminuição das enchentes em áreas urbanas?

a) Pavimentação das vias.

b) Criação de espaços verdes.

c) Verticalização das moradias.

d) Adensamento das construções.

e) Assoreamento dos canais de drenagem.

Resposta: B

Comentário:

A impermeabilização dos solos nos espaços urbanos, através da pavimentação das ruas ou da utilização de superfícies cimentadas nas moradias, altera completamente o fluxo natural das águas pluviais, comprometendo além do ciclo hidrológico as condições de vida das populações impactadas pelas chuvas e suas consequências. Ao se impermeabilizar o solo, automaticamente se diminui a infiltração das águas que abasteceriam os lençóis freáticos, bem como amplia-se o escoamento superficial (enxurradas), que promovem o transbordamento dos canais hídricos urbanos, já comprometidos pelo assoreamento e pelo descarte de lixo em seus leitos. Uma medida capaz de minimizar esse problema seria o estabelecimento de espaços não impermeabilizados e, portanto com cobertura vegetal, como praças e parques urbanos, onde a água pudesse infiltrar ao invés de escoar superficialmente.