domingo, 3 de novembro de 2019

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA - UFPR - 2019 / 2020



Questão 69

A respeito das projeções cartográficas, considere as seguintes afirmativas:

1. O emblema da Organização das Nações Unidas (ONU) consiste numa projeção azimutal equidistante centrada no Polo Norte.

2. É impossível transferir a superfície curva da Terra para um plano sem desfigurá-la ou alterá-la, motivo pelo qual a representação que mais se aproxima da realidade permanece sendo o globo.

3. Na projeção de Mercator, as distâncias entre os paralelos aumentam à medida que se afastam da linha equatorial, inviabilizando seu uso para a navegação.

4. As projeções polares são apropriadas para representar regiões de altas latitudes, além de terem grande utilidade na navegação aérea e na análise geopolítica.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.

b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

Resposta: D

Comentário:

O formato esférico e tridimensional da Terra torna a tarefa de criação de uma representação plana, em um mapa, impossível de ser realizada com total precisão e fidelidade aos dados reais da superfície do planeta. É impossível, apesar de toda a tecnologia do sensoriamento remoto na atualidade, a criação de um plano bidimensional perfeito (mapa) a partir de uma realidade tridimensional (Terra). Assim, na cartografia deve-se partir da ideia de que nenhum tipo de mapa é livre de distorções ou deformações, sendo o globo terrestre a única maneira de apresentar o planeta de modo mais próximo à realidade.

Dentre as possibilidades de representação terrestre em um plano bidimensional se destacam as três principais projeções cartográficas, que são a cilíndrica, a cônica e a azimutal; cada uma delas com as suas vantagens e suas respectivas implicações e deformações. Na projeção cilíndrica tem-se a melhor maneira de confecção de um mapa-múndi, porém apesar da fidelidade dos dados nas baixas latitudes (onde o papel toca no globo), nas zonas polares há grandes deformações, devido ao distanciamento entre o papel e a superfície esférica do globo terrestre. Dentro das projeções cilíndricas se destaca a Projeção Cilíndrica Conforme de Mercator, elaborada no século XVI, sendo fiel nos contornos dos continentes, ao passo que distorce as áreas e as distâncias relativas. Tendo sido elaborada durante o colonialismo, essa projeção tem importante uso na navegação marítima. Assim como a Projeção Cilíndrica Equivalente de Peters, criada em meados do século XX, dando ênfase para os territórios da África e América Latina, sendo considerada uma projeção das desigualdades sociais. Esse mapa é fiel nas áreas relativas dos continentes, mas distorce suas formas e distâncias.

No caso da projeção cônica, tem-se que seu principal problema é o fato de abarcar apenas um hemisfério terrestre de cada vez, sendo portanto impossível a criação de um mapa-múndi a partir dessa técnica. O fato de utilizar um papel dobrado em forma de cone, as deformações são observadas na zona equatorial e nas zonas polares, enquanto nas médias latitudes (zonas temperadas) o papel toca no globo e as informações são mantidas com fidelidade. O uso desse tipo de projeção é restrito aos setores militares, principalmente no estabelecimento de estratégias de guerra, sendo o uso civil pouco eficiente.

Por outro lado, há a projeção azimutal, também chamada de polar ou plana. Trata-se de uma técnica na qual o papel é posicionado em um ponto pré-escolhido do globo terrestre (azimute) sendo que naquele ponto as informações serão completamente fiéis à realidade. Porém à medida que se afasta desse azimute, o papel se distancia do globo e as informações se tornam cada vez mais deformadas. Esse tipo de mapa tem como principal vantagem o fato de ser equidistante, ou seja, conserva as distâncias entre os pontos, apesar de distorcer suas formas e tamanhos, sendo, portanto muito utilizada para o estabelecimento de rotas aéreas. O principal exemplo de uso dessa projeção é na representação de mundo na bandeira da Organização das Nações Unidas – ONU, tendo como objetivo uma representação mundial centrada no polo norte (zona supranacional neutra) com todos os continentes alinhados ao seu redor, trazendo consigo a ideologia de que essa instituição seja neutra no cenário geopolítico mundial.


Questão 70

Em 1º de julho de 1997, Hong Kong, uma ex-colônia britânica, passou a fazer parte da China, sob o acordo “um país, dois sistemas”, que assegura certa autonomia ao território de cerca de 7,4 milhões de habitantes. Considerada uma Região Administrativa Especial, Hong Kong possui seu próprio sistema de leis, diversos partidos políticos e direitos essenciais garantidos. 

A respeito do assunto, considere as seguintes afirmativas:

1. Hong Kong foi cedida ao Reino Unido em 1842, após a Primeira Guerra do Ópio, quando se tornou uma colônia britânica.

2. Pelo acordo, ficou assegurado que nenhuma alteração poderá ser feita no sistema de governo de Hong Kong e em seu estilo de vida até o ano de 2047.

3. O governo central chinês tem afirmado de maneira recorrente sua jurisdição sobre Hong Kong, mas evitando atritos políticos entre os dois sistemas.

4. O passaporte utilizado pelos habitantes das duas regiões é o mesmo, porém o cidadão honconguês possui visto livre em vários países.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.

b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

Resposta: B

Comentário:

Durante a Primeira Guerra do Ópio a Inglaterra pressionava militarmente a China pela abertura do país asiático para o ópio produzido pelos ingleses em sua colônia indiana, o qual era bloqueado pelo governo chinês. Como resultado da pressão britânica o governo da China acabou cedendo e permitindo a abertura de vários portos do país aos produtos da potência europeia, além do pagamento de indenização aos ingleses e da entrega do território de Hong Kong à Grã Bretanha, através do Tratado de Nanquim. Desse modo, a cidade chinesa se torna inicialmente colônia e posteriormente protetorado europeu até 1997, quando foi devolvida ao governo da China, sob a condição de manter-se politicamente autônoma e economicamente capitalista pelos próximos 50 anos, sendo que apenas a partir de 2047 o Estado chinês voltaria a ter total domínio sobre o território.

Na medida em que se aproxima o término dos 50 anos de autonomia de Hong Kong, estabelecidos no acordo de devolução à china em 1997, tanto o governo chinês quanto o governo autônomo do antigo protetorado britânico tem buscado planos para o futuro. Nas últimas décadas o território alcançou grande desenvolvimento econômico, decorrente principalmente do recebimento de investimentos industriais japoneses a partira da década de 1970, quando se tornou um Tigre Asiático, passando por uma rápida e moderna industrialização, colocando-se à frente do nível do restante da China. Por outro lado, a economia chinesa também passa hoje por um intenso crescimento decorrente da conversão gradual ao capitalismo, a partir da abertura econômica do país nas chamadas Zonas Econômicas Especiais, criadas pelo Partido Comunista Chinês. Assim, é imperioso para a China reconquistar o controle de Hong Kong, posto que isso auxiliaria na modernização tecnológica e econômica da nação, ao mesmo tempo que para Hong Kong, voltar ao domínio chinês tiraria da região qualquer chance de crescimento autônomo e expansão econômica, além da perda das liberdades civis, uma vez que na China ainda vigora o autoritarismo dos tempos da Guerra Fria.

Hoje Hong Kong vive uma onda de violentos protestos populares decorrentes da combinação de uma aproximação política entre o governo local e o governo chinês e do aumento da pressão política da China, propondo reformas que facilitem a retomada do domínio do território em 2047. O que coloca em choque diametral o regime político chinês (baseado no autoritarismo) e a legislação honconguêsa (baseado na autonomia política e em liberdades maiores que as da China). Dentre as liberdades gozadas pela população de Hong Kong pode-se citar o posse de um passaporte diferenciado, que permite livre acesso a outros países, diferente do passaporte portado pelo restante da população chinesa, assim como a liberdade econômica e o direito à propriedade privada. A raiz dos atuais protestos encontra-se na proposta política do governo da região de uma Lei de Extradição, que permitiria que pessoas acusadas pela China fossem julgadas não segundo as leis de Hong Kong, mas sim segundo as leis chinesas, o que demonstraria claramente uma perda de autonomia local e consequente aumento do poder da do governo de Pequim na ex-colônia inglesa, “livre” até 2047.


Questão 71

No dia 26 de abril de 1986, à 1h23min58s, uma série de explosões destruiu o reator e o prédio do quarto bloco da Central Elétrica Atômica de Tchernóbil, na fronteira de Belarus. A catástrofe de Tchernóbil se converteu no mais grave acidente tecnológico do século XX. Para a pequena Belarus, o acidente representou uma desgraça nacional, levando-se em conta que ali não havia nenhuma central atômica.

(Adaptado de Svetlana Aleksiévitch, Vozes de Tchernóbil, p. 9-10.)

O evento ocorrido em Tchernóbil atesta e reforça incertezas, problemas e incongruências acerca do uso da energia nuclear. A esse respeito, assinale a alternativa correta.

a) Dado seu uso recente no Brasil, não há registro de acidentes com substâncias radiativas no país, seja no âmbito da produção de energia, seja no uso em equipamentos radiológicos.

b) O domínio tecnológico para a geração de energia nuclear pode possibilitar a produção de armas nucleares, razão pela qual os Estados Unidos exercem uma forte pressão sobre o projeto nuclear do Irã.

c) A construção de novas usinas nucleares no Brasil encontra-se restrita, dada sua dependência tecnológica em relação ao enriquecimento do urânio.

d) A reduzida participação da energia nuclear na matriz energética japonesa é decorrente da preocupação quanto à capacidade de as usinas suportarem atividades sísmicas no país.

e) O acidente de Tchernóbil influenciou a opinião pública acerca da aceitação da energia nuclear, repercutindo na queda de sua produção nos países industrializados.

Resposta: B

Comentário:

Ao longo do século XX, principalmente em sua segunda metade houve grande ampliação na produção e consumo de energia nuclear no mundo, aspecto diretamente associado ao contexto geopolítico desse período, onde se travava a corrida armamentista e aeroespacial entre Estados Unidos (capitalismo) e União Soviética (socialismo). O objetivo da corrida armamentista era criar armamentos cada vez mais destrutivos e utilizá-los como dissuasão do lado oposto, sendo as bombas atômicas o auge desse desenvolvimento.

Um dos principais aspectos diferenciadores dos EUA e da URSS das demais nações era exatamente o domínio da atomística e a posse desses armamentos, o que levava as outras nações a buscar o mesmo poder geopolítico dessas potências hegemônicas, através do desenvolvimento dos mesmos armamentos. Assim, várias nações do mundo iniciaram programas atômicos supostamente para fins civis (geração de energia elétrica) que na prática serviam para esconder as reais intenções militares de suas pesquisas. Assim o mundo assistiu durante a Guerra Fria a ampliação das unidades de geração de energia a partir de minerais radioativos (urânio e plutônio), principalmente nas grandes potências econômicas.

Uma das exceções a essa estratégia de “disfarçar” um programa militar com usinas de geração de energia foi o Japão, pois o país asiático praticamente não dispõe de opções energéticas tradicionais, e se vale de fato das termelétricas movidas principalmente a plutônio, sendo essa ainda uma das principais fontes energéticas do país na atualidade, embora o acidente nuclear na usina de Fukushima em 2011 tem levado a potência oriental a investir em alternativas, como a maremotriz, para a redução gradativa do uso de fontes nucleares.

No caso brasileiro, nosso programa nuclear data do período de governos militares, onde os comandantes do país tinham de fato a intenção de realizar pesquisas relativas à atomística com fins bélicos, e para isso se valeram do programa nuclear de Angra dos Reis. Nesse contexto o país avançou largamente nas pesquisas relativas ao enriquecimento de urânio, mineral abundante no território brasileiro, tendo desenvolvido uma tecnologia extremamente eficiente e barata de enriquecimento, além da autossuficiência de combustível nuclear, apesar de não ter conseguido desenvolver equipamentos bélicos a partir dessa tecnologia. O país foi marcado no ano de 1987 por um acidente com composto radioativo (Césio-137) na cidade de Goiânia, embora não haja qualquer relação desse acontecimento com o programa nuclear do Brasil, uma vez que acidente aconteceu com a desmontagem de uma máquina de raios-x abandonada em um ferro velho, que acabou por vitimar fatalmente 4 pessoas, além de contaminar várias outras.

Atualmente o grande impasse no âmbito da energia nuclear se dá pelo embate entre os governos dos Estados Unidos e do Irã, por conta da manutenção de um programa nuclear no país árabe, supostamente para o enriquecimento de urânio para a geração de energia, mas que segundo a potência americana tem o intuito de criar uma “cortina de fumaça” sobre as reais intenções da nação do Oriente Médio, que visaria o desenvolvimento de bombas atômicas, o que traria ainda mais instabilidade para a já instável região asiática. Desse modo os Estados Unidos recorrem à imposição de sanções econômicas ao Irã, visando dissuadir o país do prosseguimento de seu programa nuclear.

Questão 72

“Vou construir um grande muro – e ninguém constrói muros melhor que eu, acreditem. Para além disso, vou fazer com que o México pague esta construção”. Esta frase de Donald Trump revelou-se como uma medida que chocou milhares de pessoas e agradou a outras tantas.

(Disponível em: https://sol.sapo.pt/artigo/617127/como-surgiu-o-problema-das-fronteiras-entre-os-eua-e-o-mexico-)

Essa fala do presidente dos Estados Unidos remete a uma região de conflito. A respeito do assunto, assinale a alternativa correta.

a) O Rio Grande limita os EUA e o México e se configura num tipo de fronteira, a natural, com uma significativa carga simbólica, por servir de passagem entre a cidade mais violenta do mundo – Ciudad Juárez – e a segura cidade de El Paso.

b) Embora o maior controle da fronteira dos Estados Unidos com o México reforce tensões políticas e humanitárias na região, não reflete na capacidade de interação regional do NAFTA.

c) O controle da fronteira com o México teve início na década de 1980, na tentativa de se combater o tráfico de drogas proveniente da Colômbia.

d) A política migratória dos Estados Unidos é paradoxal, visto que, a um só tempo, incentiva a “importação de cérebros” e é rigorosa com os refugiados políticos provenientes da América Latina.

e) Embora seja crescente o número de cidadãos da Guatemala, Honduras e El Salvador na fronteira, ainda persiste um maior número de cidadãos mexicanos a serem detidos.

Resposta: A

Comentário:

Durante os atos de campanha na corrida presidencial nos Estados Unidos, o então candidato Donald Trump prometeu erguer um muro na fronteira sul da potência americana com o México, tendo como intuito frear o fluxo migratório de latinos, que usam o país norte americano como rota de entrada na América Anglo-saxônica. Outro argumento utilizado pelo candidato foi o intenso tráfico de armas e drogas, entre cidades no norte mexicano e o sul estadunidense.

Na realidade a construção do referido muro seria apenas a materialização de uma divisão já existente há décadas na região, uma vez que militares dos Estados Unidos já patrulham ostensivamente a região limítrofe das duas nações, sendo que em alguns trechos da fronteira já existem há anos cercas e muros, além de locais onde a divisa se estabelece de maneira natural pelas águas do Rio Grande.

Porém, a rigidez no controle fronteiriço vai contra os pressupostos de criação e estabelecimento do bloco econômico das nações da América do Norte – NAFTA, uma vez que restringe os fluxos materiais entre duas das nações constituintes desse mercado. Desse modo, tanto as relações políticas entre os governos dos Estados Unidos e do México, quanto os acordos comerciais entre as duas nações ficam estremecidas pelas disputas, o que pode complicar ainda mais a já controversa política externa do governo estadunidense, que alguns teóricos já batizaram de “desglobalização”.

Cabe mencionar que o controle de fronteira nos Estados Unidos acontece sempre de maneira seletiva, uma vez que há um intenso processo de importação de mão de obra altamente qualificada ou de elevado potencial técnico de nações menos desenvolvidas, intitulado de “fuga de cérebros”, assim como a aceitação facilitada de dissidentes políticos de governos não aliados da América Latina, como no caso de Cuba e mais recentemente Venezuela. 

Outro aspecto marcante na atual situação fronteiriça dos Estados Unidos é o fato de que nesse início de século XXI uma série de crises sistêmicas na América do Sul e na América Central fez subir de modo substancial a quantidade de imigrantes provenientes de outras nações, além do tradicional fluxo mexicano, com destaque para as grandes massas de pessoas que tentaram entrar recentemente na potência americana, provenientes de Honduras, Guatemala e El Salvador, superando em muitos momentos o número de pessoas nativas e provenientes do México.


Questão 73

A problemática da poluição diz respeito à qualidade de vida das aglomerações humanas, visto que a degradação ambiental causa uma deterioração dessa qualidade.

A esse respeito, assinale a alternativa correta.

a) A degradação ambiental passou a se constituir como um problema para a humanidade a partir do lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.

b) A Terra reclama uma estratégia ambiental que atribua responsabilidades individuais, para cada nação, no sentido de desenvolver pesquisas e estudos acerca das implicações das atividades humanas sobre o sistema natural e vice-versa.

c) As questões ambientais se circunscrevem aos países de alto grau de desenvolvimento econômico e elevado consumo, em que os problemas são mais graves e complexos.

d) A resistência à manutenção do maior número de espécies para assegurar o futuro do ser humano se dá pelo fato de ela se constituir em proposição que contraria o desenvolvimento econômico.

e) A problemática ambiental não se limita ao mundo físico, integrando, em escalas diversas, as questões socioespaciais.

Resposta: E

Comentário:

Embora a discussão acerca da problemática ambiental seja recente, tendo se iniciado apenas na segunda metade do século XX, principalmente após a realização da Conferência de Estocolmo em 1972, as origens dos problemas enfrentados atualmente pela sociedade remonta a séculos anteriores, estando relacionados principalmente ao consumo de combustíveis fósseis pelas nações e também pela expansão do modo de vida urbano e do modelo capitalista de produção e consumo.

A Primeira Revolução Industrial, no final do século XVIII na Inglaterra introduziu o carvão mineral como fonte energética para a recém-criada atividade manufatureira, o que ocorreu em combinação com a aceleração do processo de urbanização do mundo desenvolvido. Portanto, a queima de hidrocarbonetos encontra-se diretamente associada aos impactos ambientais do mundo contemporâneo, embora as raízes dos problemas ambientais possam de fato ser associadas a Eras anteriores, quando do surgimento do homem...

Embora inicialmente a queima dos combustíveis fósseis tenha sido restrita às grandes potências mundiais, assim como os primeiros sinais de impactos decorrentes disso, na atualidade as consequências das ações danosas deixaram de circunscrever apenas aos limites territoriais dessas nações, tornando-se cada vez mais globais as suas afetações, o que demanda ações conjuntas de todas as nações e não mais apenas responsabilizações e ações individualizadas. Não se pode resolver um problema global apenas por meio de práticas locais.

O período posterior à Segunda Guerra Mundial trouxe consigo a mundialização da economia, através principalmente da desconcentração industrial das grandes potências econômicas, possibilitada pela Terceira Revolução Industrial e pelo advento das indústrias multinacionais, que foram atraídas para as nações menos desenvolvidas em busca de mão de obra barata, isenções fiscais e mercados consumidores. Porém, essas multinacionais levaram consigo o consumo de combustíveis fósseis a essas nações, até então pouco poluidoras, mas que passaram a produzir em seus territórios impactos ambientais até então restritos às grandes potências hegemônicas.

Um dos grandes problemas que a sociedade moderna deve resolver hoje é a combinação de um modelo econômico pautado no desenvolvimentismo e na produção máxima de excedentes comercializáveis com a necessidade de manter os recursos naturais que possibilitam a produção desses excedentes. Portanto, o dilema da problemática ambiental hoje é saber se vale a pena gerar lucros exponenciais na atualidade exaurindo os recursos e se tornar incapaz de gera-los no futuro, ou se compensa buscar o uso racional desses recursos, reduzindo o ritmo de produção e consumo, mas garantindo sua disponibilidade para que no futuro possa-se ainda produzir e gerar lucros. Assim, não se trata apenas de uma questão ligada aos aspectos físicos e ambientais do mundo, posto que envolva também a cultura, a sociedade, a economia, a política (...), enfim, envolve todas as variáveis possíveis da vida moderna.


Questão 74

A compra da remota Ilha da Groenlândia proposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, pode soar estranha. Afinal, trata-se do território menos povoado da Terra, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados – mais ou menos um quarto da área do Brasil – e apenas 57 mil habitantes.

(Disponível em: noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/08/22/por-que-remota-groenlandia-interessa-tanto-aos-eua-e-a-china.htm.)

Ponderando a dimensão e o alcance geopolítico do tema, considere as seguintes afirmativas:

1. A região ártica inclui territórios pertencentes ao Canadá, Finlândia, Groenlândia, Islândia, Noruega, Rússia, Suécia e Estados Unidos.

2. Os Estados Unidos possuem uma estratégia já consagrada de atuação na região ártica, construída a partir da aquisição do Alasca junto ao Império Russo em 1867.

3. A Rússia é o país com maior presença no Ártico e o melhor preparado para enfrentar as severidades da região.

4. Os efeitos do aquecimento global se manifestam no Ártico e o derretimento do gelo está permitindo um acesso mais fácil à região, chamando a atenção das nações árticas sobre ganhos e perdas potenciais a alcançar.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.

b) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

Resposta: C

Comentário:

Recentemente em uma de suas várias declarações polêmicas, o presidente estadunidense Donald Trump disse que pretendia abrir negociação com a Dinamarca para uma possível compra do território da Groelândia, alegando que a expansão territorial da potência americana para a região do Ártico reforçaria a hegemonia política e econômica de seu país no cenário global.

Embora em outro contexto histórico e com outras motivações, a intenção do mandatário dos Estados Unidos suscitou a lembrança do episódio de 1856 quando o país americano adquiriu junto ao Império Russo o território do Alasca. Naquele período não havia qualquer interesse em uma possível expansão dos domínios americanos na região do Ártico, como se observa na atualidade. Foi muito mais uma combinação de um momento complicado para a economia do Império Russo na época e uma maneira encontrada de “agradecer” ao apoio recebido dos russos durante a Guerra Civil, uma vez que o império europeu se posicionou a favor da União e contra os Confederados (apoiados pelos Ingleses). Portanto, em um primeiro momento não havia qualquer intenção econômica estadunidense de conquistar ou explorar o Ártico.

Mas na atualidade, os Estados Unidos possuem a maior presença na região Ártica, muito em decorrência de sua disputa geopolítica com a Rússia e a China, principalmente pelo acesso a novas rotas comerciais que tem sido abertas na região em decorrência do degelo da calota polar norte por consequência do aquecimento global e da elevação das temperaturas médias da Terra. Tais rotas comerciais seriam estratégicas para o comércio entre América e Europa, e entre Europa e Ásia nas próximas décadas. Soma-se a isso a descoberta recente de grandes jazidas petrolíferas e de gás natural sob a camada de gelo da região, cujo derretimento tornariam acessíveis e mais facilmente exploráveis.

Embora a maior presença militar seja hoje estadunidense, em termos territoriais a região do Ártico se estende pelos limites territoriais do Canadá, Groelândia (Dinamarca), Suécia, Islândia, Noruega, Rússia e também Estados Unidos (através do Alasca). Porém, o domínio e a exploração econômica das riquezas naturais e das rotas comerciais estratégicas dessa região dependerão de como as peças do tabuleiro geopolítico do século XXI serão movimentadas. Pode-se dizer que o discurso, aparentemente desloucado de “comprar a Groelândia” tenha sido o primeiro ato dessa disputa.

Questão 75

A organização do espaço diz respeito à divisão espacial do trabalho, à disposição e distribuição espacial da infraestrutura técnica e social, bem como ao padrão de segregação e autossegregação residencial, entre outros aspectos. 

A respeito da organização do espaço geográfico brasileiro, assinale a alternativa correta.

a) As adaptações e transformações do espaço geográfico são dependentes do planejamento urbano e regional e resultam numa organização espacial menos injusta, menos desigual, menos assimétrica.

b) O processo de organização espacial resultou em dois brasis: um novo e moderno, constituído por Sul e Sudeste, e outro velho e arcaico, representado pelo Norte, Nordeste e Centro Oeste.

c) A rede urbana da Amazônia obedece a uma orientação dada pela rede hidrográfica da região.

d) A formação territorial brasileira obedeceu à sucessão de ciclos econômicos, iniciando pela exploração do pau-brasil e culminando na atividade industrial, promotora de desenvolvimento e equanimidade regionais.

e) A divisão territorial do trabalho vigente no Brasil apresenta um centro dinâmico e industrializado – eixo Rio-São Paulo – e várias periferias especializadas no fornecimento de matérias-primas e mão de obra barata.

Resposta: C

Comentário:

O processo de urbanização e modernização das cidades, tanto no Brasil como em quaisquer outros países está diretamente ligado ao desenvolvimento industrial e à modernização das atividades agrícolas, posto que esses são os motores principais do processo de êxodo rural e desenvolvimento da economia das áreas urbanas ou urbanizadas.

Na atualidade os problemas relacionados à vida urbana tem se proliferado e aumentado a intensidade com que afeta a vida das pessoas nessas áreas, pois mesmo que as cidades se modernizem de maneira contínua e rápida, ao invés dessa modernização eliminar o quadro de desigualdades e de segregação da maioria da população dos benefícios oferecidos pela dinâmica citadina, essas mazelas tem se tornado mais amplas e cada vez ais visíveis, tornando muitas vezes as grandes metrópoles uma “terra de oportunidades inalcançáveis”.

Embora seja inegável que na contemporaneidade as ligações entre os espaços (próximos ou distantes) estejam mais intensas e eficientes, as desigualdades regionais persistem, mesmo que em muitos casos diminutas, jamais são completamente eliminadas. No caso do Brasil, historicamente a região sudeste se destaca como principal centro econômico e industrial da nação, porém esse destaque tem sido irradiado para outras regiões como o Sul, através do processo de desconcentração industrial, e o Centro-Oeste, por conta da expansão da fronteira agrícola após a Revolução Verde em 1970. Hoje, apesar de menos dinâmicos, Norte e Nordeste tem recebido grandes investimentos econômicos, sendo que na primeira região ocorre a expansão da fronteira agrícola do Centro-Oeste, ao passo que na segunda tem-se a chegada de muitas unidades fabris do Sudeste, em busca de menores custos produtivos e de fatores locacionais favoráveis. Assim, mais do que arcaicas, as regiões Norte e Nordeste tem sido vistas como regiões potenciais para uma expansão econômica futura.

No caso da região Norte há um potencial maior para o desenvolvimento nas próximas décadas, seja por conta de sua extensão territorial, por conta da diversidade dos recursos naturais existentes ou das condições climáticas menos severas. Porém, estruturalmente a região apresenta importantes dificuldades a um movimento de ocupação e desenvolvimento, principalmente no que tange aos sistemas de transportes, uma vez que é carente de redes rodoviárias e ferroviárias, tendo basicamente a opção hidroviária, associada à Bacia do Amazonas e aos rios constantemente caudalosos da região. Essa limitação estrutural reflete diretamente no modelo de urbanização da região, posto que a maioria das cidades esteja relacionada aos rios navegáveis, o que cria uma rede urbana chamada de “espinha de peixe”, por conta do desenho ligado aos cursos hídricos.

O processo de desconcentração industrial foi capaz de promover a redefinição das regiões periféricas ao sudeste, que antes eram vistas apenas como fornecedoras simples de matérias primas e mão de obra barata que se deslocava na direção dos centros metropolitanos do sudeste, mas que no presente tem (essas periferias) recebido unidades fabris que se desconcentram das áreas já saturadas do Centro-Sul em busca de custos produtivos mais baratos que fossem capazes de garantir sua lucratividade. Porém, mesmo com a chegada dessas indústrias, mesmo com a reconfiguração da posição hierárquica das regiões brasileiras, as desigualdades regionais não são completamente eliminadas, uma vez que mesmo perdendo quantitativamente fábricas, o sudeste segue qualitativamente à frente do restante do país em termos de desenvolvimento tecnológico e acumulação econômica.


Questão 76

Do México ao Chile, a áreas da África e a pontos turísticos no sul da Europa e no Mediterrâneo, o nível de ‘estresse hídrico’ – a quantidade de água extraída de fontes terrestres e superficiais em comparação com o total disponível – está atingindo níveis preocupantes.

(Disponível em: bbc.com/portuguese/amp/geral-49243195.)

Sobre estresse hídrico, assinale a alternativa correta.

a) Regiões de grande concentração populacional na Ásia, como o Sudeste asiático, apresentam maior estresse hídrico do que as áreas do continente de baixa densidade populacional.

b) O Brasil possui, segundo a Agência Nacional de Águas, aproximadamente 12% da disponibilidade de água doce do planeta e, à exceção do semiárido nordestino, as demais áreas do país apresentam baixo risco de estresse hídrico.

c) O estresse hídrico no continente africano é uma decorrência do excessivo uso de suas águas subterrâneas.

d) No sul da Europa, onde predominam verões quentes e secos, o turismo representa uma pressão adicional sobre os sistemas de águas.

e) Nos países andinos, a atividade industrial é responsável pela maior parte do consumo hídrico, superando o consumo agrícola e o residencial.

Resposta: D

Comentário:

A questão da água foi apontada durante grande parte do século XX como possível raiz de grandes conflitos armados e de situações prejudiciais às populações de regiões onde a escassez se mostra mais latente. E, durante esse início de século XXI essa previsão tem se confirmado e os recursos hídricos (principalmente a pressão sobre eles) tem se relacionado diretamente com situações negativas, que academicamente passaram a ser conhecidas como “estresse hídrico”, que na verdade podemos vulgarmente chamar de “falta de água”.

Porém, esse estresse hídrico não está relacionado apenas ao tamanho das populações de uma localidade e o consequente consumo de água realizado por essa população. Antes, se associa também (e principalmente) às condições naturais do clima, levando a regimes de chuvas irregulares e insuficientes, assim como geomorfológicas, relacionadas às reservas subterrâneas de água, por vezes insuficientes ou não potáveis. No caso brasileiro, naturalmente o sertão semiárido apresenta estresse hídrico ligado à escassez e irregularidade de chuvas ao longo do ano, além da alta salinidade das reservas subterrânea das águas, por vezes salobras e impróprias ao consumo convencional. Mas há no país também estresse hídrico em regiões mais chuvosas, como o sudeste, onde a grande concentração populacional, somada à ineficiência da distribuição e acesso pelas populações de mais baixa renda torna esse recurso insuficiente, configurando com isso estresse hídrico onde naturalmente teria água.

Em outras regiões do mundo, como no continente africano há regiões que sofrem esse problema ligado à combinação de fatores ambientais, por conta do clima árido e semiárido das proximidades dos desertos do Saara e do Kalahari, e fatores históricos, como a utilização maciça das águas dos rios em projetos de irrigação de monoculturas voltadas à exportação para mercados de grandes potências, principalmente europeias. Assim como na América d Sul, na região dos Andes, onde a conformação do relevo atua como uma importante barreira orográfica que barra a umidade proveniente do Oceano Pacífico, tornando muitas áreas interiores secas, como observa-se no deserto do Atacama no Chile, onde tem-se um quadro grave de estresse hídrico.

No continente europeu as condições naturais não são tão desfavoráveis à ocorrência de chuvas regulares e de pleno abastecimento hídrico das regiões, uma vez que praticamente todos os países se encontram na zona temperada, naturalmente úmida. Porém, na porção sul do continente, na borda do Mar Mediterrâneo, o clima apresenta verões mais quentes e secos, reduzindo as médias pluviométricas gerais. Por ser uma região costeira e quente em um continente geralmente frio, a costa mediterrânica atrai grandes massas de turistas de outras áreas europeias, o que aumenta a pressão sobre os recursos hídricas da área, desencadeando (principalmente nos períodos de alta temporada) um quadro local de estresse hídrico em uma região de elevado desenvolvimento socioeconômico.

Questão 77

A epidemia de sarampo é um fenômeno global. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, em 2017, a doença foi responsável por 110 mil mortes. Segundo essas entidades, os casos notificados no mundo triplicaram nos sete primeiros meses na comparação com igual período de 2018. O Brasil, segundo o Ministério da Saúde, vinha de um histórico de não registrar casos adquiridos dentro do país desde o ano 2000. Em 2018, contudo, a doença reapareceu a partir de casos importados, disseminando-se, sobretudo, no estado:

a) de São Paulo.

b) do Amazonas.

c) de Roraima.

d) de Minas Gerais.

e) da Bahia.

Resposta: A

Comentário:

Após receber o certificado de erradicação do sarampo em 2016, o Brasil vive desde 2018 um novo surto da doença em seu território, levando o país a uma corrida pela imunização da população e a reconquista do certificado de erradicação da doença. Porém, no caso dessa recente manifestação do sarampo no território brasileiro, deve-se analisar não apenas questões internas ao país, uma vez que se a doença havia sido posterior erradicada, esses casos estão relacionado à importação desse vírus proveniente de alguma outra nação, onde a erradicação ainda não havia ocorrido.

Inicialmente, em 2018, o principal foco da epidemia era a Região Norte do país, principalmente os estados do Amazonas e de Roraima, diretamente associado ao intenso fluxo de venezuelanos que atravessaram a fronteira com o Brasil no auge da crise econômica e política do país bolivariano. Porém em 2019 uma segunda leva de casos importados (segundo o Ministério da Saúde, principalmente de Israel, Malta e Noruega) foi confirmada e se espalhou rapidamente, dessa vez principalmente no estado de São Paulo, que concentrou mais de 95% dos casos (confirmados e suspeitos) da doença nos últimos meses.

Cabe mencionar que o fato de São Paulo ainda figurar na posição de maior centro econômico e comercial do país, o estado é a “porta de entrada” da maior parte dos estrangeiros que chegam ao Brasil, tornando, por conseguinte a “porta de entrada” dos casos de infecção por doenças muitas vezes já erradicadas no país. Embora em momentos atípicos (como na crise venezuelana) a região norte passe a ser essa “via de acesso” para estrangeiros infectados ou não.

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