segunda-feira, 4 de novembro de 2019

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA - ENEM 2019





Questão 46

A pegada ecológica gigante que estamos a deixar planeta está a transformá-lo de tal forma que os especialistas consideram que já entramos numa nova época geológica, o Antropoceno. E muitos defendem que, se não travarmos a crise ambiental, mais rapidamente transformaremos a Terra em Vênus do que iremos a Marte. A expressão “Antropoceno” é atribuída químico e prêmio Nobel Paul Crutzen, que a propôs durante uma conferência em 2000, ao mesmo tempo que anunciou o fim do Holoceno — a época geológica em que os seres humanos se encontram há cerca de mil anos, segundo a União Internacional das Ciências Geológicas (UICG), a entidade que define as unidades tempo geológicas.

SILVA, R. D. Antropoceno: e se formos os últimos seres vivos a alterar a Terra?  Disponível em: www.publico.pt. Acesso em: 5 dez. 2017 (adaptado).

A concepção apresentada considera a existência de uma nova época geológica concebida a partir da capacidade influência humana nos processos

a) eruptivos.

b) exógenos.

c) tectônicos.

d) magmáticos.

e) metamórficos

Resposta: B

Comentário:

O conceito de pegada ecológica se relaciona literalmente ao “rastro” que a atividade antrópica produz na medida em que se apropria dos recursos e os transforma de acordo com seus interesses, principalmente econômicos. Desse modo, quando cientistas cunham o conceito do “Período Antropoceno” eles estão na verdade se referindo a um momento na história em que o agente principal é o indivíduo humano, e a realidade é o resultado direto das ações por ele praticadas. Grande parte dos períodos e eras geológicos pretéritas foram ditadas e construídas pela ação das forças endógenas da Terra (tectonismo, vulcanismo e abalos sísmicos), porém, como na atualidade o principal agente é o homem, trata-se assim de uma força que atua externamente na transformação da superfície terrestre, que integra as chamadas forças exógenas.


Questão 47


Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em 11 dez. 2018 (adaptado)

A geração de imagens por meio da tecnologia ilustrada depende da variação do(a):

a) Albedo dos corpos físicos.

b) Profundidade do lençol freático.

c) Campo de magnetismo terrestre.

d) Qualidade dos recursos minerais.

e) Movimento de translação planetária.

Resposta: A

Comentário:

Na atualidade os processos cartográficos encontram-se diretamente relacionados com as novas tecnologias, desenvolvidas principalmente a partir da segunda metade do século XX, muitas vezes associadas ao contexto da Guerra Fria e a corrida aeroespacial entre Estados Unidos e União Soviética. Grande parte desse avanço se relaciona com desenvolvimento dos satélites e sistemas de aviação, que possibilitaram o estabelecimento do sensoriamento remoto.

Dentro do sensoriamento remoto se destaca o imageamento por satélite, que consiste na captação, por sensores que orbitam a Terra, da energia solar refletida pela superfície e pelos objetos nela presentes. Desse modo, o que define a possibilidade de formação de imagem de um objeto qualquer é a sua capacidade de refletir a radiação solar de volta para o espaço, que é chamada de albedo.


Questão 49

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (lbama) está investigando o extermínio de abelhas por intoxicação por agrotóxicos em colmeias de São Paulo e Minas Gerais. Os estudos com inseticidas do tipo neonicotinoides devem estar concluídos no primeiro semestre de 2015. Trata-se de um problema de escala mundial, presente, inclusive, em países do chamado primeiro mundo, e que traz, como consequência, grave ameaça aos seres vivos do planeta, inclusive ao homem.

IBAMA. Polinizadores em risco de extinção são ameaça à vida do ser humano. Disponível em: www.mma.gov.br. Acesso em: 10 mar. 2014.

Qual solução para o problema apresentado garante a produtividade da agricultura moderna?

a) Preservação da área de mata ciliar.

b) Adoção da prática de adubação química.

c) Utilização da técnica de controle biológico.

d) Ampliação do modelo de monocultura tropical.

e) Intensificação da drenagem do solo de várzea.

Resposta: C

Comentário:

O contexto da questão remete aos impactos ambientais decorrentes de práticas agrícolas intensivas, ampliadas principalmente após a Segunda Guerra Mundial, em virtude da ocorrência da Revolução Verde, que trouxe consigo a modernização dos processos produtivos no campo, inicialmente nas potências mundiais e posteriormente nas nações menos desenvolvidas. Nesse caso trata-se do uso de agrotóxicos e pesticidas, que visam à eliminação das pragas que afligem os cultivos, mas que podem ocasionar a eliminação de indivíduos (fauna e flora) que não prejudicam tais cultivos.

Desse modo, uma ação que seria capaz de minimizar o problema da eliminação de abelhas polinizadoras, conforme mencionado no texto, seria a redução do uso dos agrotóxicos, e a consequente busca de outros métodos de combate às pragas, que não agridam animais que são inofensivos e por vezes benéficos aos cultivos. A prática mais viável econômica e ambientalmente seria o controle biológico dessas pragas, introduzindo no ambiente infestado uma espécie predadora, desde que se evite também o estabelecimento de um desequilíbrio da cadeia alimentar com esse mecanismo.


Questão 50

A hospitalidade pura consiste em acolher aquele que chega antes de lhe impor condições, antes de saber e indagar o que quer que seja, ainda que seja um nome ou “documento” de identidade. Mas ela também supõe que se dirija a ele, de maneira singular, chamando-o portanto e reconhecendo-lhe um nome próprio: “Como você se chama?” A hospitalidade consiste em fazer tudo para se dirigir ao outro, em lhe conceder, até mesmo perguntar seu nome, evitando que essa pergunta se torne uma “condição”, um inquérito policial, fichamento ou um simples controle das fronteiras. Uma arte e uma poética, mas também toda uma política dependem disso, toda uma ética se decide aí.

DERRIDA, J. Papel-máquina. São Paulo: Estação Liberdade, 2004 (adaptado).

Associado ao contexto migratório contemporâneo, conceito de hospitalidade proposto pelo autor impõe a necessidade de

a) anulação da diferença.

b) cristalização da biografia.

c) incorporação da alteridade.

d) supressão da comunicação.

e) verificação da proveniência.

Resposta: C

Comentário:

Atualmente a globalização dos lugares e das sociedades tem ampliado as possibilidades de interação e relacionamento entre os indivíduos de culturas e etnias cada vez mais distintas e anteriormente desconhecidas entre si. Nesse contexto os fluxos migratórios tornam-se forças definidoras do modo e da intensidade dos relacionamentos estabelecidos, trazendo consigo duas possibilidades igualmente reais e complexas: por um lado há a possibilidade rica de intercâmbio cultural entre indivíduos, que possibilita inegável ganho social, mas por outro, há a possibilidade (cada vez mais crescente) de choques culturais, não raramente desencadeando processos de xenofobia e confrontos.

Em uma sociedade em que a competitividade e o individualismo ditam o ideário do sucesso econômico e social, o “outro” é por vezes visto como uma ameaça ao “eu estabelecido”, o que torna a aceitação daquele que vem de fora uma tarefa complicada, principalmente nas nações mais desenvolvidas, e muitas vezes mais competitivas. Assim, torna-se imperativo que ao mesmo tempo em que as conexões viárias tornam os indivíduos mais próximos fisicamente, haja a adoção de valores como a empatia e a alteridade, capazes de tornar os envolvidos mais próximos cultural e socialmente.


Questão 53

Brasil, Alemanha, Japão e Índia pedem reforma do Conselho de Segurança

Os representantes do G4 (Brasil, Alemanha, Índia e Japão) reiteraram, em setembro de 2018, a defesa pela ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) durante reunião em Nova York (Estados Unidos). Em declaração conjunta, de dez itens, os chanceleres destacaram que o órgão, no formato em que está, com apenas cinco membros permanentes e dez rotativos, não reflete o século 21. “A reforma do Conselho de Segurança é essencial para enfrentar os desafios complexos de hoje. Como aspirantes a novos membros permanentes de um conselho reformado, os ministros reiteraram seu compromisso de trabalhar para fortalecer o funcionamento da ONU e da ordem multilateral global, bem como seu apoio às respectivas candidaturas”, afirma a declaração conjunta.

Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 7 dez. 2018 (adaptado).

Os países mencionados no texto justificam sua pretensão com base na seguinte característica comum:

a) Extensividade de área territorial.

b) Protagonismo em escala regional.

c) Investimento em tecnologia militar.

d) Desenvolvimento de energia nuclear.

e) Disponibilidade de recursos minerais.

Resposta: B

Comentário:

A Organização das Nações Unidas – ONU, criada após a Segunda Guerra Mundial com o intuito de funcionar como um fórum supranacional de discussão e debate entre as nações, visando o bem comum e a minimização de possibilidades de conflitos armados entre os Estados integrantes, possui em sua divisão organizacional um aspecto que dificulta seu princípio básico de neutralidade, que é o estabelecimento do Conselho de Segurança, formado por Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China, únicas nações que possuem o poder de veto sobre as decisões dos demais. A existência desse grupo restrito desfaz por si só o ideário de igualdade e simetria entre as nações.

No contexto da segunda metade do século XX, principalmente na nova ordem mundial emergida após o término da Guerra Fria, outras nações despontaram como potências econômicas ou candidatas a novas potências, as quais tem buscado a ampliação de seu poderio geopolítico, tal qual ocorrera com as nações do Conselho de Segurança no pós Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, Alemanha, Índia, Brasil e Japão despontam como novos centros de poder e influência nas realidades regionais a que se inserem, e buscam transformar essa influência regional em poderio global, integrando o grupo de nações mais fortes dentro da ONU.


Questão 56

A reestruturação global da indústria, condicionada pelas estratégias de gestão global da cadeia de valor dos grandes grupos transnacionais, promoveu um forte deslocamento do processo produtivo, até mesmo de plantas industriais inteiras, e redirecionou os fluxos de produção e de investimento. Entretanto, o aumento da participação dos países em desenvolvimento no produto global deu-se de forma bastante assimétrica quando se compara o dinamismo dos países do leste asiático com o dos demais países, sobretudo os latino-americanos, no período 1980-2000.

SARTI, F.; HIRATUKA, C. Indústria mundial: mudanças e tendências recentes. Campinas: Unicamp, n. 186, dez. 2010.

A dinâmica de transformação da geografia das indústrias descrita expõe a complementaridade entre dispersão espacial e

a) autonomia tecnológica.

b) crises de abastecimento.

c) descentralização política.

d) concentração econômica.

e) compartilhamento de lucros.

Resposta: D

Comentário:

O contexto econômico associado à Terceira Revolução Industrial (1970) possibilitou o processo de desconcentração industrial das grandes potências hegemônicas, que viram na evolução dos meios de transportes e telecomunicações mundiais (meio técnico-científico-informacional) a possibilidade de multiplicação de seus lucros através da busca de novos fatores locacionais (mão de obra barata, impostos reduzidos, sindicatos fracos, leis ambientais frágeis (...) em nações ainda não industrializadas. Nesse processo, nações da América Latina e sudeste da Ásia passaram por um acelerado processo de industrialização, possibilitado, em grande parte, pela chegada de investimentos externos através da chegada das multinacionais.

Porém, mesmo havendo uma desconcentração das cadeias produtivas, o controle e a administração dessas cadeias permaneceram centralizados nas nações mais desenvolvidas (donas das multinacionais agora dispersadas). Assim, ao mesmo tempo em que se observa uma desconcentração industrial em direção às nações mais pobres, nota-se também a manutenção da concentração econômica histórica nas nações mais desenvolvidas, uma vez que os lucros das filiais industriais retornam para as sedes escritórios que não acompanharam o movimento de desconcentração.


Questão 57

Regiões áridas e semiáridas do mundo


SALGADO-LABOURIAL, M. L. História ecológica da Terra. São Paulo: Edgard Blucher, 1994 (adaptado).

No Hemisfério Sul, a sequência latitudinal dos desertos representada na imagem sofre uma interrupção no Brasil devido à seguinte razão:

a) Existência de superfícies de intensa refletividade.

b) Preponderância de altas pressões atmosféricas.

c) Influência de umidade das áreas florestais.

d) Predomínio de correntes marinhas frias.

e) Ausência de massas de ar continentais.

Resposta: C

Comentário:

O processo de formação dos grandes desertos quentes da Terra é determinado por uma combinação de fatores naturais, com destaque para as altas pressões atmosféricas, típicas das proximidades das faixas tropicais, ação de correntes marinhas frias e a presença de barreiras orográficas. Desse modo dá-se o processo de desertização. Por outro lado, algumas áreas podem desenvolver feições desérticas através de impactos ambientais causados por ações antrópicas, tais como o desmatamento, a monocultura e o uso indevido da irrigação. Nesse caso o processo é chamado desertificação.

No mapa apresentado pela questão, no hemisfério sul, nota-se o posicionamento dos grandes desertos tropicais (Atacama, na América do Sul; Kalahari, na África; e Grande Deserto Australiano, na Oceania). Porém no território brasileiro, nessa mesma faixa latitudinal não se observa a formação de uma zona desértica, em decorrência da abundância de chuvas provenientes da evapotranspiração das zonas florestais da América do Sul, que no caso do nosso país dá origem a um fenômeno regional conhecido como “Rios Voadores”, que garante o fluxo de ar úmido da floresta equatorial em direção à porção tropical do país, impedindo o processo de desertização.


Questão 59


Disponível em: https://hypescience.com.Acesso em: 1 dez. 2018 (adaptado).

A divisão política do mundo como apresentada na imagem seria possível caso o planeta fosse marcado pela estabilidade do(a)

a) ciclo hidrológico.

b) processo erosivo.

c) estrutura geológica.

d) índice pluviométrico.

e) pressão atmosférica.

Resposta: C

Comentário:

Em Eras Geológicas passadas, em decorrência do processo de resfriamento da superfície terrestre, todas as terras emersas estavam unidas em um único grande bloco continental batizado de Pangeia, o qual era circundado por um único grande oceano chamado Pantalassa. Porém, em decorrência das diferenças de temperaturas e pressões das partes interna e externa da Terra deu-se início a uma série de processos estruturais, que desencadearam grandes perturbações e instabilidades na estrutura interna do planeta, iniciando o processo de divisão da Pangeia e deriva dos continentes.

Desse modo, o continente pré-histórico se dividiu inicialmente em duas partes, sendo a Laurásia composta pelas terras do norte (posteriormente dividida em América do Norte e Eurásia) e a Gondwana, compreendendo as terras do sul (futuramente fragmentada em América do Sul, África, Índia, Oceania e Antártida). Logo, pode-se afirmar que se houvesse uma estabilidade geológica (sem as diferenças de pressões e temperaturas internas da Terra), ainda hoje as terras emersas estariam agrupadas na forma de Pangeia, conforme retrata a imagem da questão.


Questão 61

TEXTO I

Ouve o barulho do rio, meu filho
Deixa esse som te embalar
As folhas que caem no rio, meu filho
Terminam nas águas do mar
Quando amanhã por acaso faltar
Uma alegria no seu coração
Lembra do som dessas águas de lá
Faz desse rio a sua oração.


MONTE, M. et al. O rio. In: Infinito particular. Rio de Janeiro: Sony; Universal Music, 2006 (fragmento).


TEXTO II

O atrativo ecoturístico não é somente o banho de cachoeira, sentar e caminhar pela praia, cavalgar, mas conhecer a biodiversidade, às vezes supostamente em extinção. Observar baleias, nadar com o golfinho, tocar em corais, sair ao encontro de dezenas de jacarés em seu hábitat natural são símbolos que fascinam um ecoturista. A natureza é transformada em espetáculo diferente da vida urbana moderna.

SANTANA, P. V. Ecoturismo: uma indústria sem chaminé? São Paulo: Labur Edições, 2008.


São identificadas nos textos, respectivamente, as seguintes posturas em relação à natureza:

a) Exploração e romantização.

b) Sacralização e profanação.

c) Preservação e degradação.

d) Segregação e democratização.

e) Idealização e mercantilização.

Resposta: E

Comentário:

Os dois textos apresentados pela questão trazem duas visões completamente distintas dos espaços naturais, sob duas perspectivas completamente diferentes. No primeiro texto nota-se uma exaltação dos aspectos naturais de um rio, assim como a exposição de seu valor afetivo para o indivíduo, em uma análise romântica do valor simbólico idealizado para um simples curso de água.

Já no segundo texto, nota-se a valorização dos elementos constituintes de um determinado meio natural, associando-os não mais a aspectos afetivos, simbólicos ou romantizados, mas sim se apropriando deles de maneira mercantilista, através da exploração turística das paisagens (convertidas em atrações), demonstrando a transição da visão naturalista do primeiro fragmento para uma visão mais consumista no segundo excerto, vendo os recursos como instrumento de acumulação financeira.


Questão 68

A comunidade de Mumbuca, em Minas Gerais, tem uma organização coletiva de tal forma expressiva que coopera para o abastecimento de mantimentos da cidade do Jequitinhonha, o que pode ser atestado pela feira aos sábados. Em Campinho da Independência, no Rio de Janeiro, o artesanato local encanta os frequentadores do litoral sul do estado, além do restaurante quilombola que atende aos turistas.

ALMEIDA, A. W. B. (Org.). Cadernos de debates nova cartografia social: Territórios quilombolas e conflitos. Manaus: Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia; UEA Edições, 2010 (adaptado).

No texto, as estratégias territoriais dos grupos de remanescentes de quilombo visam garantir:

a) Perdão de dívidas fiscais.

b) Reserva de mercado local.

c) Inserção econômica regional.

d) Protecionismo comercial tarifário.

e) Benefícios assistenciais públicos.

Resposta: C

Comentário:

O fragmento apresentado na questão faz menção a duas comunidades tradicionais de povos quilombolas no sudeste do Brasil. No texto apresenta-se um aspecto econômico desses grupos descendentes de escravos, visando sua inserção no mercado regional, através da produção e comercialização de mercadorias no espaço de entorno, como em Jequitinhonha (no caso da comunidade Mumbuca - MG) ou associado às atividades turísticas regionais (como no caso da comunidade de Campinho da Independência - RJ).

Em ambos os casos o que se denota é o fato de que além da visibilidade regional, o que esses grupos buscam é a afirmação econômica e social na realidade que os circundam, através da independência econômica e da liberdade social que a inserção mercadológica pode trazer, Trata-se, portanto de uma combinação de afirmação cultural e manutenção de raízes locais, sem que haja o isolamento para as relações externas, sejam elas em âmbito econômico ou social.


Questão 69

Localizado a 160 km da cidade de Porto Velho (capital do estado de Rondônia), nos limites da Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Terra Indígena Karipunas, o povoado de União Bandeirantes surgiu em 2000 a partir de movimentos de camponeses, madeireiros, pecuaristas e grileiros que, à revelia do ordenamento territorial e diante da passividade governamental, demarcaram e invadiram terras na área rural fundando a vila. Atualmente, constitui-se na região de maior produção agrícola e leiteira do município de Porto Velho, fornecendo, inclusive, alimentos para a Hidrelétrica de Jirau.

SILVA, R. G. C. Amazônia globalizada – o exemplo de Rondônia. Confins, n. 23, 2015 (adaptado).

A dinâmica de ocupação territorial descrita foi decorrente da

a) mecanização do processo produtivo.

b) adoção da colonização dirigida.

c) realização de reforma agrária.

d) ampliação de franjas urbanas.

e) expansão de frentes pioneiras.

Resposta: E

Comentário:

A região retratada no texto compreende a chamada “Franja da Amazônia”, definida com área de ocupação e apropriação recente do território ao meio econômico nacional, através da expansão da fronteira agrícola do país entre as regiões Norte (vasta extensão ainda por ocupar) e Centro-Oeste (quase que plenamente ocupada desde a expansão da sojicultura na Revolução Verde da década de 1970).

É natural que na região de recente incorporação econômica se localizem a maior parte dos impactos ambientais ligados ao desmatamento, e problemas sociais relacionados a conflitos de terras entre latifundiários, pequenos proprietários e povos tradicionais. Assim, nessa região de ocupação recente da Amazônia, também chamada de frente pioneira de desenvolvimento, o conflito mais marcante se dá entre os povos indígenas, os invasores de terras (grileiros) e os latifundiários, ampliando ainda mais a histórica tensão no campo brasileiro.


Questão 71

No sistema capitalista, as muitas manifestações de crise criam condições que forçam a algum tipo de racionalização. Em geral, essas crises periódicas têm o efeito de expandir a capacidade produtiva e de renovar as condições de acumulação. Podemos conceber cada crise como uma mudança do processo de acumulação para um nível novo e superior.

HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005 (adaptado).

A condição para a inclusão dos trabalhadores no novo processo produtivo descrito no texto é a

a) associação sindical.

b) participação eleitoral.

c) migração internacional.

d) qualificação profissional.

e) regulamentação funcional.

Resposta: D

Comentário:

No processo de evolução e desenvolvimento de sociedades baseadas no modelo de produção capitalista nota-se a presença de crises cíclicas, que alguns teóricos chamam de “destruição criativa”, onde após um período de auge, o sistema vigente começa a entrar em decadência necessitando ser substituído por outro mais evoluído, embora seja focado igualmente na acumulação de riquezas. Assim foi na crise do sistema colonial no século XVIII, bem como na crise do modelo fordista em 1929 e mais recentemente a crise do sistema financeiro estadunidense em 2008.

Embora tais crises sejam esperadas, e mesmo necessárias, toda a dinâmica social precisa ser adaptada ao novo que surge, e as relações produtivas precisam ser ajustadas em todos os aspectos para que o modelo que emerge seja capaz de superar de modo eficiente o anterior que entrou em crise. Em 1939 Joseph Schumpeter definiu que toda evolução capitalista se dá em quatro fases distintas, iniciando-se pelo boom (quando a novidade surge), seguida pela recessão (quando atinge seu ápice máximo de acumulação), vindo depois a depressão (quando o sistema começa a sucumbir e deixa de funcionar) abrindo espaço para a recuperação (quando o novo surge e supera a crise do antigo).

É inegável que toda fase de evolução e ampliação do desenvolvimento produtivo no capitalismo é acompanhada por saltos tecnológicos e desenvolvimentos técnicos, o que traz consigo a necessidade que a mão de obra se condicione a essa nova realidade (geralmente associada a novas máquinas) através do aumento de seu nível de qualificação profissional, evitando assim processos massivos de desemprego estrutural, que afetaria o mercado de consumo e consequentemente o processo de acumulação de riquezas.


Questão 82

Tratava-se agora de construir um ritmo novo. Para tanto, era necessário convocar todas as forças vivas da Nação, todos os homens que, com vontade de trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer, num tempo novo, um novo Tempo. E, à grande convocação que conclamava o povo para a gigantesca tarefa, começaram a chegar de todos os cantos da imensa pátria os trabalhadores: os homens simples e quietos, com pés de raiz, rostos de couro e mãos de pedra, e no calcanho, em carro de boi, em lombo de burro, em paus-de-arara, por todas as formas possíveis e imagináveis, em sua mudez cheia de esperança, muitas vezes deixando para trás mulheres e filhos a aguardar suas promessas de melhores dias; foram chegando de tantos povoados, tantas cidades cujos nomes pareciam cantar saudades aos seus ouvidos, dentro dos antigos ritmos da imensa pátria... Terra de sol, Terra de luz... Brasil! Brasil! Brasília!

MORAES, v.; JOBIM,A. C. Brasília, sinfonia da alvorada. III — A chegada dos candangos. Disponível em: www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado).

No texto, a narrativa produzida sobre a construção de Brasília articula os elementos políticos e socioeconômicos indicados, respectivamente, em:

a) Apelo simbólico e migração inter-reqional.

b) Organização sindical e expansão do capital.

c) Segurança territorial e estabilidade financeira.

d) Consenso partidário e modernização rodoviária.

e) Perspectiva democrática e eficácia dos transportes.

Resposta: A

Comentário:

O texto apresentado pela questão traz parte de uma canção/poema escrita em menção ao processo de construção da cidade de Brasília no período de governo do presidente Juscelino Kubitschek. Nesse contexto, o chamado Plano de Metas sob o slogan “50 anos em 05”, trouxe consigo a busca pela interiorização da economia brasileira seguindo o modelo da “marcha para o oeste” estadunidense, assim como a tentativa de se estabelecer a integração nacional através do sistema rodoviário radial, planejado para superar a fase do ferroviarismo cafeeiro das bordas do litoral atlântico.

Tratava-se, portanto de um período de busca pela afirmação do ideário desenvolvimentista no país, assim como o apelo nacionalista para a criação de um grandioso símbolo do progresso de um Brasil moderno que surgia. A nova capital a ser construída em 1000 dias seria esse marco simbólico da passagem definitiva de um estado de atraso econômico para uma fase de pleno avanço nacional. Porém a envergadura da obra demandaria o uso maciço de mão de obra que não se dispunha no até então ermo Centro Oeste. Assim, a migração inter-regional principalmente de trabalhadores nordestinos (batizados de “Candangos”) foi vital para que as aspirações de JK fossem alcançadas.


Questão 83

Saudado por centenas de militantes de movimentos sociais de quarenta países, o papa Francisco encerrou no dia 09/07/2015 o 2° Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Segundo ele, a “globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e a indiferença”.

Disponível em: http://cartamaior.com.br. Acesso em: 15 jul. 2015 (adaptado).

No texto há uma crítica ao seguinte aspecto do mundo globalizado:

a) Liberdade política.

b) Mobilidade humana.

c) Conectividade cultural.

d) Disparidade econômica.

e) Complementaridade comercial.

Resposta: D

Comentário:

O processo de globalização, emergido a partir do período das Grandes Navegações (séculos XV e XVI) trouxe consigo a ampliação das interações entre os espaços e os povos, assim como a maximização dos fluxos materiais e imateriais entre esses espaços. Porém, a globalização conforme se observa hoje se tornou uma importante ferramenta de expansão do modelo capitalista de produção, servindo primeiramente aos interesses dos capitais e economias e não propriamente aos interesses sociais dos indivíduos.

Assim, nota-se que o crescimento dos ganhos e das relações econômicas é diretamente proporcional à ampliação das desigualdades socioeconômicas entre povos e nações, uma vez que a acumulação capitalista depende diametralmente das relações desiguais para que haja a mais-valia máxima e consequentemente a lucratividade e acumulação plenas. Assim, as disparidades econômicas entre nações ricas, que ocupam postos hegemônicos no sistema mundo e nações pobres, que ocupam posições subalternas na atualidade se mostram cada vez mais claras e latentes, agravando problemas históricos e tornando um ideário que defende um modelo global inclusivo em uma ferramenta altamente excludente.


Questão 87

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) realizou 248 ações fiscais e resgatou um total de 590 trabalhadores da situação análoga à de escravo, 2014, em todo o país. A análise do enfrentamento trabalho em condições análogas às de escravo materializa a efetivação de parcerias inéditas no trato da questão, podendo ser referenciadas ações fiscais realizadas com o Ministério da Defesa, Exército Brasileiro, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Disponível em: http://portal.mte.gov.br. Acesso em: 4 fev. 2015 (adaptado).

A estratégia defendida no texto para reduzir o problema social apontado consiste em:

a) Articular os órgãos públicos.

b) Pressionar o Poder Legislativo.

c) Ampliar a emissão das multas.

d) Limitar a autonomia das empresas.

e) Financiar as pesquisas acadêmicas.

Resposta: A

Comentário:

O processo atual de pleno desenvolvimento econômico das nações traz consigo a busca incessante dos sistemas produtivos pela lucratividade exponencial, e para tal procura-se sempre minimizar o quanto for possível os custos de produção, representados principalmente pela mão de obra e carga tributária. Assim, locais e situações onde os salários sejam os menores se tornam altamente atrativos para diversos ramos da produção, o que pode ocasionar processos legais ou ilegais de exploração da força de trabalho, criando relações que se mostram análogas à escravidão.

No caso brasileiro, tem se tornado cada vez mais comum nos noticiários informações acerca de trabalhadores em condições degradantes de trabalho, similares aos regimes que foram legalmente extintos do país pela Lei Áurea em 1888. As duas regiões onde esse tipo de prática é mais notada são as áreas de expansão de fronteira agrícola na Amazônia, onde trabalhadores migrantes são submetidos a condições totalmente fora dos pressupostos estabelecidos por lei, e no sudeste, onde corriqueiramente são encontrados grupos de trabalhadores, geralmente imigrantes sul-americanos ilegais, sendo explorados em confecções e pequenas fábricas no estado de São Paulo.

Por se tratar de um problema atual, ainda há pouca eficiência dos meios legais de combate a esse tipo de prática, porém nos últimos anos, diversos órgãos do governo iniciaram um processo de cooperação e cruzamento de dados que tem possibilitado maior eficiência no combate a essa exploração ilegal da mão de obra. Assim, a combinação entre a criação de um banco de dados nacional e a articulação entre órgãos públicos pode auxiliar efetivamente na responsabilização e penalização daqueles que exploram no Brasil o trabalho análogo à escravidão.


Questão 88

O bônus demográfico é caracterizado pelo período em que, por causa da redução do número de filhos por mulher, a estrutura populacional fica favorável ao crescimento econômico. Isso acontece porque há proporcionalmente menos crianças na população, e o percentual de idosos ainda não é alto.

GOIS, A. O Globo, 5 abr. 2015 (adaptado).

A ação estatal que contribui para o aproveitamento do bônus demográfico é o estímulo à

a) atração de imigrantes.

b) elevação da carga tributária.

c) qualificação da mão de obra.

d) admissão de exilados políticos.

e) concessão de aposentadorias.

Resposta: C

Comentário:

O processo de transição demográfica consiste em uma mudança da estrutura etária da população de uma dada localidade, na qual ocorre a redução da taxa de natalidade e consequente estreitamento da base da pirâmide, seguida pela ampliação da longevidade, que provoca o alargamento do topo dessa pirâmide. Assim, passa-se de uma situação onde a alta natalidade e a alta mortalidade produziam um pequeno crescimento vegetativo, para um estágio em que a combinação entre baixa natalidade e baixa mortalidade criam novamente um baixo crescimento vegetativo.

No intervalo desses dois momentos as nações atravessam um período chamado de bônus demográfico, que consiste em uma situação onde a menor natalidade diminui a proporção de crianças e jovens no país, porém ainda não ocorrendo uma ampliação maciça da expectativa de vida, assim o número de idosos ainda não compromete as contas do Estado. Deste modo, o momento do bônus é propício para que os investimentos públicos possam ser direcionados para a população jovem e adulta, principalmente em serviços de educação, possibilitando o aumento da qualificação da mão de obra local, que futuramente pode aumentar o desenvolvimento técnico da nação.


Questão 89

Os moradores de Utqiagvik passaram dois meses quase totalmente na escuridão

Os habitantes desta pequena cidade no Alasca — o estado dos Estados Unidos mais ao norte — já estão acostumados a longas noites sem ver a luz do dia. Em 18 de novembro de 2018, seus pouco mais de 4 mil habitantes viram o último pôr do sol do ano. A oportunidade seguinte para ver a luz do dia ocorreu no dia 23 de janeiro de 2019, às 13h04min (horário local).

Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 16 maio 2019 (adaptado).

O fenômeno descrito está relacionado ao fato de a cidade citada ter uma posição geográfica condicionada pela

a) continentalidade.

b) maritimidade.

c) longitude.

d) latitude.

e) altitude.

Resposta: D

Comentário:

A combinação entre o formato esférico da Terra e o movimento de translação que ela realiza em torno do sol faz com que haja ângulos deferentes de incidência da radiação solar em diferentes zonas da superfície do planeta, partindo-se de ângulos totalmente perpendiculares no Equador, chegando a ângulos completamente oblíquos nas regiões polares, como na região do Alasca, mencionada no texto da questão.

Desse modo, poder-se inferir que o aumento das latitudes (distância em graus a partir da linha do Equador em direção aos polos) aumenta a angulação da incidência do sol, reduzindo automaticamente a geração de calor e luz, o que faz com que haja a diminuição da temperatura e da luminosidade, possibilitando que nos meses de inverno haja o fenômeno da “grande noite polar” (período em que não se recebe nenhuma incidência de iluminação solar), e durante o verão o fenômeno oposto, chamado de “sol da meia noite” (período em que não escurece em nenhum momento nas calotas polares).


Questão 90

A fome não é um problema técnico, pois ela não se deve à falta de alimentos, isso porque a fome convive hoje com as condições materiais para resolvê-la.

PORTO-GONÇALVES, C. W. Geografia da riqueza, fome e meio ambiente. In: OLIVEIRA, A. U.; MARQUES, M. I. M. (Org.). O campo no
 século XXI: território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela; Paz e Terra, 2004 (adaptado).

O texto demonstra que o problema alimentar apresentado tem uma dimensão política por estar associado ao(à)

a) escala de produtividade regional.

b) padrão de distribuição de renda.

c) dificuldade de armazenamento de grãos.

d) crescimento da população mundial.

e) custo de escoamento dos produtos.

Resposta: B

Comentário:

Ainda no século XVIII, quando Thomas Malthus propôs seu estudo acerca das questões demográficas do mundo naquele contexto histórico, a questão da relação entre a quantidade ofertada de alimentos e o tamanho da demanda desses recursos pela população era tida como a base para qualquer entendimento acerca do nível de desenvolvimento econômico das nações e combate às situações de fome no mundo. Malthus propôs que definitivamente não seria possível produzir comida para toda a população, e a fome seria um mal inevitável, caso não houvesse um controle rígido das taxas de natalidade e consequentemente do crescimento vegetativo.

O século XX veio e com ele a modernização agrícola através da Revolução Verde, que trouxe a maximização da produção no campo, aumentando exponencialmente a oferta de alimentos para as populações, o que segundo o ideário de Malthus seria por si só capaz de eliminar completamente a fome do mundo. Mas, o que se observou foi algo bem diferente, pois, ao mesmo tempo em que as taxas de natalidade tem reduzido globalmente, a oferta de alimentos tem se ampliado a cada safra agrícola, sem contudo haver a erradicação da fome, que ao contrário, cresce a cada ano.

Assim, pode-se concluir que a problemática da fome no mundo encontra-se na atualidade, bem como em todos os períodos históricos anteriores, atrelada à falta de acesso por uma grande parcela da população aos meios que possibilitem a aquisição desses alimentos. De modo que é inegável que a condição básica para a erradicação da fome no mundo não passa pelo simples aumento da produção agrícola, mas sim pela mudança no padrão de distribuição da renda, de uma forma tal que faça com que as populações mais pobres possam acessar meios financeiros de adquirir seu sustento básico.

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