terça-feira, 24 de março de 2015

SIMPLIFICANDO O ORIENTE MÉDIO PARA O VESTIBULAR - Parte 5: Grupos políticos, terroristas, extremistas,religiosos da Palestina e territórios vizinhos



Parte 5: Grupos políticos, terroristas, extremistas, religiosos da Palestina e territórios vizinhos

Por Éder Israel

Um pouco alheia às questões ligadas ao Estado Islâmico, porém distante da paz para os povos islâmicos encontra-se a região da Palestina, palco de conflitos ao longo de grande parte da história, embora o acirramento dos combates e das disputas territoriais tenham ocorridos após a Segunda Guerra Mundial, e a consequente criação do Estado de Israel pela Organização das Nações Unidas.

Na região, em especial na Faixa de Gaza situada a sudoeste dos territórios palestinos formou-se ao longo da segunda metade do século XX uma infinidade de grupos extremistas, que embora possuam modos de ações diferentes, seu objetivo maior é sempre o mesmo, que é destruir o Estado de Israel e expulsar a população judia ali instalada a partir de 1947.

Um dos primeiros destes grupos a surgirem nesta região foi o Al-Fatah, fundado em 1959 por palestinos como Yasser Arafat. O Al-Fatah se difere dos outros movimentos da região por dois motivos, o primeiro é o fato de poder ser considerado um movimento laico, e em segundo lugar pelo fato de defender, até certo ponto, o diálogo político com Israel. Essas características tornam o Al-Fatah um movimento muito mais político e militar do que extremista e religioso como os demais.

Em 1964 foi criada a Organização para a Libertação da Palestina – OLP, que pode ser considerada uma espécie de confederação do partidos políticos, os quais têm o objetivo de reaver os territórios da antiga Palestina, ainda durante o período de domínio britânico. É dentro dessa OLP que se insere o Al-Fatah, considerado por analistas políticos como um partido de centro-esquerda dentro desta organização. Embora o Al-Fatah inicialmente defendia o diálogo com Israel, as bases iniciais da OLP defendia ações militares para a expulsão dos judeus dos territórios ditos palestinos.

Posteriormente, Yasser Arafat, que tornou-se uma espécie de presidente da OLP em 1969, reconheceu a existência do Estado de Israel em 1993 no período dos tratados e acordos de Oslo. O Estado de Israel em resposta a isso reconheceu a OLP como legítima representante do povo palestino, dando a entender que a situação dos dois povos tendia a se resolver. Mas sabemos que a história não foi bem essa, e os conflitos ainda eclodem lá até hoje...

Na contramão do teórico diálogo proposto pelo Al-Fatah surge na década de 1970 o grupo batizado de Jihad Islâmica, que de fato prega o extremismo e o radicalismo islâmico, tendo como objetivo principal a destruição plena do Estado judeu nos territórios palestinos. O grupo que se estabeleceu na Faixa de Gaza, assim como a maioria dos movimentos antissemitas do Oriente Médio é acusada de ser financiada pelo governo iraniano. Atualmente a Jihad Islâmica se sedia em Damasco, capital da Síria, e segundo cientistas políticos, diferentemente do Al-Fatah não possui forte ideologia ou propostas de fundo político, caracterizando marcadamente como um movimento de cunho extremista antissemita. Um dos aspectos mais notáveis da Jihad Islâmica é o fato de considerar o confronto com os judeus israelenses como uma guerra santa, que como já informamos em textos anteriores não é a ideia central do termo jihad.
No ano de 1982 foi criado nessa região aquele que seja talvez um dos maiores expoentes dos movimentos políticos e religiosos do Oriente Médio, o Hezbollah, que assim como a Jihad Islâmica é acusado de ter recebido financiamento do governo do Irã. Inicialmente a intenção dos membro do Hezbollah era a expulsão de tropas israelenses que se localizavam no sul do Líbano, as quais ali permaneciam sob a alegação de impedir a realização de ataques contra a porção norte do Estado judeu.

No início dos anos 2000 os soldados israelenses desocuparam o sul do Líbano, e um acordo foi proposto pela ONU para o desarmamento do grupo, o que não foi cumprido pelo Hezbollah. No Líbano o grupo é considerado por uma parcela significativa da população como sendo um movimento social, uma vez que realiza uma série de ações que seriam atribuições do Estado, tais como investimentos sociais e programas de saúde oferecidos às camadas mais pobres do Líbano, o que dificulta a separação da fração política que beneficia ao povo e a terrorista que ataca Israel. Em meados dos anos 2000 o Hezbollah ampliou seu poder político no Líbano quando conseguiu ocupar 14 postos no parlamento do país, porém como já mencionado, por um lado o grupo se torna mais politizado, mas por outro as ações terroristas e militares conta Israel permanecem ocorrendo da mesma forma de antes.

Outro importante grupo desta região é o Hamas, criado em 1987 na Faixa de Gaza, que assim como a maior parte dos demais grupos tem como principal bandeira o fim do Estado de Israel. Assim como o Hezbollah no Líbano, o Hamas na Palestina possui também um importante caráter político, o que não impede suas ações tidas como extremistas pela sociedade internacional. Um dos grandes pontos importantes do Hamas é o fato de realizar uma oposição que por vezes se torna ferrenha contra a OLP, a qual julga ineficiente em solucionar a situação dos povos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia.

Em 2006 o grupo se tornou o grande vitorioso nas eleições para o Parlamento Palestino, o que levou Estados Unidos e União Europeia a suspenderem por tempo indeterminado o envio de ajuda financeira e suprimentos para a Autoridade Palestina, sob alegação de que tais cortes seriam suspensos apenas quando o Hamas revogasse as ações terroristas e aceitasse a existência e reconhecesse a autonomia e a soberania nacional do Estado de Israel, o que convenhamos, não vai acontecer...

Recentemente, como se a situação não estivesse suficientemente complicada na região, o Hamas iniciou uma onda de ataques e conflitos contra o Al-Fatah, que considera condescendente com as ações expansionistas do Estado judeu, e conivente com a opressão que alega sofrer o povo palestino, dentro e fora da Faixa de Gaza.

No ano 2000 surgiu a Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, um braço armado que se separou do Al-Fatah e passou a atuar de modo terrorista contra soldados e populações israelenses, em vingança aos combates ocorridos nesse mesmo ano entre soldados de Israel e colonos da Cisjordânia na Mesquita de Al-Aqsa. Apesar de ser um grupo de menor dimensão que os demais, as Brigadas de Al-Aqsa realizam sistematicamente atentados e ataques terroristas contra alvos civis e militares do Estado judeu, principalmente a partir do momento em que Mahmud Abbas, então presidente da Autoridade Palestina permitiu/determinou que os homens desse grupo passassem a fazer parte das forças de segurança do governo em 2005, fato que agravou ainda mais a situação já delicada entre os povos dessa região.

De modo geral essa é a atual situação dessa porção do Oriente Médio, com grupos e mais grupos querendo o fim do Estado de Israel, governos formados por frações desses grupos que se tornaram partidos políticos e assumiram grande parte dos cargos administrativos de países e territórios importantes, ações terroristas camufladas em ideologias religiosas, extremismos islâmicos acobertando problemas políticos seculares. Enfim, não há de fato luz no fim do túnel, pelo menos em um futuro próximo para esta disputa entre palestinos e judeus...

Continua...

sábado, 21 de março de 2015

SIMPLIFICANDO O ORIENTE MÉDIO PARA O VESTIBULAR - Parte 4: Grupos e organizações extremistas e/ou terroristas



Parte 4: Grupos e organizações extremistas e/ou terroristas

Por Éder Israel

Embora seja o Oriente Médio comparado com um imenso “barril de pólvora” de conflitos e combates entre povos, etnias, religiões e culturas diferentes, o grande erro que se comete, mais uma vez, é estabelecer uma relação direta de causa e consequência entre esses conflitos e a religião islâmica. Trata-se na verdade de uma parte do islamismo, que pode e deve ser chamada de extremista que dá origem à quase totalidade destes conflitos, porém aos olhos ocidentais torna-se mais fácil e prática a idealização de um binômio sem exceções que liga todo o islamismo a toda ação radical na região, e atualmente até fora dela.

Tais indivíduos extremistas e radicais se organizam historicamente em grupos de ações que geralmente tornam-se terroristas, os quais inicialmente se localizavam e atuavam na região do Oriente Médio, porém com a globalização e as maiores interação e interdependência entre povos e locais, suas ações se espalharam pelo mundo, assim como as pessoas que são afeitas a essas ideias extremistas. A ideia aqui é apresentar de modo breve, porém esclarecedor, os principais grupos que se enquadrem nesses aspectos, portanto, vamos a eles.

Um dos mais importantes grupos terroristas compostos por extremistas religiosos, não por ser o mais antigo, mas sim pela amplitude de suas ações fora do Oriente Médio é a Al Qaeda, responsável por grandes ataques realizados principalmente contra alvos estadunidenses, tais como aqueles de 11 de setembro de 2001, ou mesmo as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia em 1998, ou ainda contra o navio USS Cole, pertencente à marinha estadunidense e se encontrava aportado no Iêmen.

O termo Al Qaeda significa em árabe A Base, funcionou literalmente como essa base para as ações terroristas de Osama Bin Laden e seus comandados a partir da década de 1980, porém a grande ironia no aumento da amplitude das ações e da influência da Al Qaeda no mundo se deu com apoio e financiamento dos Estados Unidos, que se tornaria alvo nas ações terroristas acima citadas.

No final da década de 1980 o socialismo da União Soviética apresentava sinais de exaustão, e em plena Guerra Fria era a grande chance para os Estados Unidos finalmente vencerem o conflito ideológico do período da bipolaridade mundial. Para alcançar a referida vitória era necessário estabelecer alianças e minar pelo mundo as ações e últimas tentativas da União Soviética de reerguer o socialismo, tal qual se observava nesse período no Afeganistão, onde tropas soviéticas se sustentava a duras penas nos territórios afegãos desde 1979.

Nesse período o governo estadunidense realizou grandes investimentos e forneceu armamentos e tecnologias militares para que as tropas russas fossem expulsas do Afeganistão, o que criou um acordo entre os Estados Unidos e os extremistas islâmicos que culminariam futuramente nos atentados terroristas contra alvos estadunidenses, principalmente a partir da expulsão das tropas russas e a implantação de bases militares estadunidenses na região da Península Arábica, considerada sagrada em diversas partes para os islâmicos e árabes. Essas bases militares ali instaladas foram vistas pelos radicais islâmicos como uma afronta, semelhante àquela representada pela presença das tropas soviéticas no Afeganistão. Pronto, os Estados Unidos agora eram inimigos da Al Qaeda e as armas enviadas por Washington DC seriam usadas contra as tropas estadunidenses.

Outro grupo extremistas que se insere neste contexto é o Talibã, formado por membros de tribos interioranas, em sua maioria afegã, que surge em meados de 1994 no Afeganistão. O termo Talibã significa Estudante, e foi mais ou menos isso mesmo que aconteceu, pois as experiências extremistas da Al Qaeda serviram em grande parte de base para as ideias deste novo grupo, que tem como grande diferencial do grupo anterior o fato de se embrenhar no mundo político, aspecto que não se observava nas origens da Al Qaeda, que era um grupo baseado principalmente em motivações religiosas.

Os Talibãs assumem o poder no Afeganistão e governam o país de 1996, quando retira do poder outro grupo militar e religioso local, chamado Mujahedins. O “Estudantes” governam o país, porém seu governo e sua “nação” foram reconhecidos apenas pelo Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Os talibãs governaram o Afeganistão, onde impuseram a Lei Islâmica no período de 1996 até 2001, quando o país foi invadido pelos Estados Unidos sob a acusação de que o grupo extremista estava dando abrigo e proteção a Osama Bin Laden, responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro.

Ainda no Oriente Médio se formou um novo grupo fundamentalista recentemente, quando em 2011 no norte da Síria nasceu a Frente al-Nusra um grupo que tem como base ideológica a libertação do povo sírio através de uma aliança islâmica com líderes e homens importantes da Al Qaeda. A Frente al-Nusra tem suas intenções muito próximas daquelas observadas pelo Estado Islâmico, porém a dimensão de seu plano de estabelecimento de um território islâmico se restringe ao norte da Síria e a uma parcela do Iraque, enquanto o Estado Islâmico pretende implantar esse regime por grande parte do Oriente Médio.

Um dos grandes problemas para o mundo na atualidade é o fato de que estes movimentos estejam se tornando cada vez maiores e suas ações ganhando em dimensão e violência, além de estarem se espalhando para regiões dentro e fora do Oriente Médio, como o norte da África e a Ásia, mas isso, além dos grupos que atuam no conflito entre Israel e Palestina é um assunto para outro texto, além do Estado Islâmico, que por conta de suas ações recentes merece uma análise mis aprofundada mais à frente...


Continua...