segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O FIM DO EMBARGO ECONÔMICO DE CUBA EM TRÊS ATOS - Ato 3: ¡Viva la revolución! ¿Pero porque entonces ella se está muriendo?


Disponível em: <https://sandromeira12.files.wordpress.com/2011/04/fidel.jpg> acesso em 02 fev. 2015


Ato 3: ¡Viva la revolución! ¿Pero porque entonces ella se está muriendo?

Por Éder Israel

Tomado o poder em 02 de janeiro de 1959 tem início uma nova fase política e econômica em Cuba, sob comando do grupo capitaneado pelos irmãos Castro. Fidel Castro não assume imediatamente o poder político da ilha, mas o faz em um momento posterior à “derrubada” da ditadura de Fulgêncio Batista.

As primeiras medidas políticas do novo governo foram voltadas para alguns dos problemas que o grupo considerava mais graves na sociedade cubana, tais como as desigualdades sociais e a concentração de renda. Cabe mencionar que o novo governo estava inicialmente longe de tornar-se um antagonismo diametral do período de Batista, pois os tribunais sumários comandados por Ernesto Guevara lançava mão do uso rotineiro dos pelotões de fuzilamento como medida cabal aos partidários do antigo regime e seus apoiadores. A violência não foi plena e instantaneamente abolida dos parâmetros políticos de Cuba...

Mas no que tange às reformas propostas pelo novo governo implementado, observou-se em Cuba uma intensa e factual reforma agrária expropriando muitas das grandes propriedades da secular oligarquia açucareira (em crise...), nacionalização/estatização de empresas estrangeiras e nacionais de setores tidos como estratégicos pelo Estado, além de foco político inegável em setores sociais, como saúde e educação públicas. Nada mais ‘justo’, dado o apoio da população mais pobre ao pequeno grupo que se refugiou em Sierra Mestra após o retorno de Fidel e seus camaradas do México em 1956...

Diferente do que se pode deduzir ou induzir, Fidel Castro chega ao poder e não dá início imediato à implantação de um ideário completa marcadamente socialista, embora houvessem em seus ideais alguns pensamentos relacionados àqueles observados na União Soviética, porém, o nacionalismo e o anti-imperialismo estadunidense foram muito mais pontuais em seus atos durante o período da guerrilha, tanto que inicialmente o presidente Dwight Eisenhower não via o governo cubano como uma ameaça iminente à hegemonia dos Estados Unidos no mundo capitalista, assim como seu sucessor, John F. Kennedy, que embora não tenha demonstrado clara afeição ao governo de Fidel Castro, manifestou (em tom de arrependimento, é bem verdade...) que a ditadura de Fulgêncio Batista foi um dos capítulos mais sangrentos e desqualificável da política latino americana, chegando a fazer, Kennedy, uma meia culpa do governo de Washington DC às atrocidades e corrupção do ex-ditador cubano.

Entretanto, as políticas nacionalistas e marcadamente anti-dependência estadunidense começaram a preocupar os governos da América do Norte, que começaram a acompanhar de perto as ações do novo governo cubano e a contabilizar as perdas com a nacionalização econômica por ele realizada, tanto que o próprio Eisenhower começou a arquitetar um plano estratégico com o intuito de dar o golpe no governo de Fidel que havia dado o golpe em Fulgêncio Batista que por sua vez deu um golpe no governo de Socarrás. Seria um golpe ao contragolpe do golpe (que treta sinistra...).

Eisenhower não conseguiu colocar em prática sua estratégia, cabendo a John F. Kennedy fazê-lo. Assim, em abril de 1961 o presidente estadunidense juntamente com a Central Intelligence Agency (CIA) realizaram a primeira ofensiva factual ao governo de Castro, utilizando alguns aviões disfarçados para atacar bases militares de Fidel. Um fracasso total... Porém após o evento as relações entre as nações foram colocadas em cheque, e aos Estados Unidos não seria conveniente o recuo. Dias depois a CIA lidera um grupo de exilados/foragidos do governo castrista, que viviam nos Estados Unidos, em uma nova tentativa de golpe, atacando duas praias na Baía dos Porcos, seria o segundo fracasso primeiros 4 meses do governo Kennedy. As forças militares de Fidel conseguiram debelar e liquidar a tentativa de invasão em menos de 3 dias. Tanto o ataque com as aeronaves, quanto a tentativa frustrada de invasão da Baía dos Porcos faziam parte da Operação Mangoose, que tinha o intuito de retirar Fidel do poder e manter a dominação estadunidense na América Central.

Mas os tiros acabaram saindo pela culatra, pois a cada tentativa frustrada de destituir o governo de Fidel Castro os Estados Unidos aproximava ainda mais a população do presidente que teoricamente estava mantendo longe de Cuba a exploração e a dependência imperialista que dominava a ilha centro americana desde a independência espanhola. E como nada é tão ruim que não possa ficar pior (nesse caso para os Estados Unidos...), a cada nova investida do governo Kennedy que era rechaçada por Fidel, o governo cubano se aproximava ainda mais da União Soviética e do Comunismo(sic), exatamente o que os estadunidenses não precisavam no contexto da Guerra Fria...

Cuba iniciou uma aproximação factual do regime socialista implantado nos países do leste europeu, passando a adotar componentes políticas e administrativas cada vez mais afeitas ao modelo de administração soviético, o que trazia uma preocupação extra para a administração Kennedy, que via a sombra do Comunismo(sic) se avultar cada vez mais da porta estadunidense. Era um risco sem precedentes para a “estabilidade” política da América Latina, que seguia os preceitos e as políticas ditadas por Washington DC.

A situação degringolou de vez em outubro de 1962, quando os voos espiões dos Estados Unidos identificaram em Cuba instalações militares que estariam sendo utilizadas pelo governo do Kremlin para armazenar mísseis balísticos capazes de transportar ogivas nucleares. Posteriormente a União Soviética confirmou que havia de fato encaminhado mísseis nucleares a Cuba em resposta a ação anterior do governo dos Estados Unidos, que instalara em 1961 bases de lançamento de mísseis nucleares na Turquia e Itália, próximo portanto das fronteiras soviéticas. O episódio ficou conhecido como a Crise dos Mísseis, e colocou em cheque a segurança mundial em relação a um holocausto nuclear, criando um clima sombrio e angustiante que se arrastou por 13 dias em outubro de 1962.

Nikita Kruschev, então líder da União Soviética, alegava que a intenção dos mísseis era estritamente defensiva, mas Washington DC afirmava que ter tais armamentos a menos de 500 quilômetros de suas fronteiras representava de fato uma ação de guerra contra os Estados Unidos, e que os impactos e desdobramentos de um conflito nuclear se alastraria pelo mundo com proporções e consequências incalculáveis e inimagináveis. A situação levou os Estados Unidos a colocarem Cuba sob quarentena comercial (um modo politicamente correto de dizer bloqueio), haja visto que mencionar o bloqueio poderia ser considerado um ato de guerra contra o governo cubano e por conseguinte ao governo do Kremlin.

Durante o período da ‘quarentena’ todos os navios que se dirigiam a Cuba, principalmente os soviéticos, eram escoltados pela marinha estadunidense e em vários casos vistoriados a procura de armamentos e recursos militares que poderiam estar sendo enviados para a ilha. Porém de modo material a estratégia não conseguiu grandes resultados práticos, pois a maioria dos produtos transportados pelos navios estrangeiros eram mercadorias industriais simples e legalizadas. Mas inegavelmente isso levava a uma intensificação da animosidade entre Havana, Washington DC e Moscou.

A situação se tornava cada vez mais complicada, e não se dissolveu nem quando Nikita Kruschev chegou a um acordo com Kennedy, que determinara a retirada dos mísseis balísticos soviéticos de Cuba em troca da desmontagem dos armamentos estadunidenses que se encontravam na Turquia, porém o estrago político já estava feito, e a Guerra Fria nunca fora tão quente... Houve o “recuo” militar de ambos os lados, mas a escalada da divisão do mundo em dois grandes blocos políticos e econômicos distintos estava materializada e cada vez mais clara aos olhos de quem quisesse ver!

Esta conjuntura geopolítica da América, associada a expansão do socialismo a partir do leste europeu, tornou a situação insustentável entre Cuba e Estados Unidos, que romperam de vez os últimos e finos fios que mantinham relações políticas entre as duas nações, culminando na expulsão da ilha caribenha da Organização dos Estados Americanos – OEA, e ao início de um embargo econômico, que na prática foi apenas uma espécie de prolongamento e ampliação daquilo que Washington DC chamava anteriormente de quarentena comercial.

O embargo foi imposto em 1962 pelos Estados Unidos, porém converteu-se em um dispositivo legal (com efeito de lei) em 1992, e estabeleceu regras cada vez mais rígidas para o comércio externo cubano, entretanto há de se destacar aqui que as relações econômicas entre a ilha de Fidel e a “América” não foram completamente rompidas e eliminadas, passaram apenas a obedecer a uma série de regulamentações e parâmetros técnicos, obviamente sempre estabelecidos em benefício estadunidense, que tinha como pano de fundo reduzir os ganhos financeiros do governo de Fidel Castro e consequentemente minar os investimentos sociais do governo cubano, os quais mantinham uma relação positiva entre o presidente e a população do país, bem diferentemente do controle exercido pela potência norte americana em tempos de Fulgêncio Batista...

Os anos que se seguiram nessa segunda metade do século XX trouxe uma dicotomia importante para o governo de Havana, pois se por um lado o governo cubano conseguiu manter cada vez mais longe a influência/dominação política direta dos Estados Unidos, o que tanto se intencionava nos anos mais severos da ditadura militar no país, porém por outro lado colocava essa teórica estabilidade interna cada vez mais suscetível e dependente da nova potência aliada, pois era cada vez mais marcante o modelo soviético na política e economia na ilha de Fidel.

Aí começam as complicações para Cuba, uma vez que a acentuação das normas e as consequências do embargo comercial imposto pelos Estados Unidos, que diminuía a quantidade de capitais para o Estado realizar investimentos sociais que pontuaram o  início do governo castrista, dava brechas para o surgimento (ainda que sutil, quem sabe se por falta de interesse interno ou por pressão e uso da força do aparelho estatal...) de alguns focos de oposição ao presidente, situação essa que viria a se somar com a crise interna que começava a implodir o modelo socialista no leste europeu, que já dava sinais de que caminharia para um processo de transição à economia de mercado, conforme fora observado mais tarde nas propostas e reformas implementadas por Mikhail Gorbachev na passagem dos anos 1980 para os anos 1990.

Seria, aos olhos de observadores afeitos aos interesses estadunidenses ou do sistema capitalista (que no final das contas dá no mesmo...), sinais claros da derrocada do modelo socialista e do governo comandado pelos irmãos Castro. Mas essa visão era por demais otimista e superficial, pois embora inegavelmente as condições dessem a entender a crise que se aproximava, as bases políticas do governo cubano ainda ofereceria ao modelo nacional uma sobrevida mais longa que aquela observada na (quase extinta nesse momento) União Soviética. O governo de Washington DC deveria lançar mão de alguns subterfúgios políticos e econômicos para acelerar a crise interna em Cuba e aproveitar a ‘onda’ de crises no mundo socialista.

No final da década de 1990 o presidente Bill Clinton ampliou ainda mais as regras e sanções do embargo econômico a Cuba, estabelecendo que nem mesmo as filiais de empresas dos Estados Unidos que se localizassem fora do território estadunidense deveria seguir as regras do embargo, podendo negociar mercadorias apenas até um valor limite, que ficou estabelecido em US$ 700 milhões anuais. Cabe mencionar que na transição do século XX para o XXI trouxe também algumas flexibilizações nas relações comerciais entre as duas nações (embora o embargo tenha se ampliado entre outros setores...), por exemplo o governo cubano poderia importar alimentos estadunidenses, desde que o produto fosse pago (a vista) ainda antes de sair dos portos estadunidenses. A questão humanitária (aqui sem juízo de valores ou das segundas intenções escamoteadas...) também é contemplada por esta flexibilização, em casos excepcionais como os furacões e tempestades que varrem costumeiramente o Caribe e criam situações de calamidade, que podem suscitar o envio de alimentos, medicamentos ou ajuda dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo que a União Soviética de dissolvia no tempo e materializava o fracasso daquela experiência de implantação do socialismo na Europa, o embargo ampliava a penúria econômica a Cuba e uma oposição (geralmente clandestina) atuava decisivamente como propaganda externa contrária ao regime adotado por Fidel Castro. Contudo, a opinião pública começava também a contabilizar o peso das práticas estadunidenses aos problemas econômicos do governo de Havana, passando até mesmo a Organização das Nações Unidas (que factualmente apoia as ações estadunidenses...) a criticar até que ponto o embargo se fazia de fato necessário em um mundo posterior a bipolaridade da Guerra Fria. Mesmo dentro dos Estados Unidos havia quem contestasse a eficiência do bloqueio, alegando que ele dava a Fidel uma justificativa plausível para os questionamentos que eram feitos sobre suas ideias políticas e econômicas, havia claro o discurso de que “Camarada, se não houvesse o embargo as coisas para nós seriam diferentes...”.

Assim, é passível de dedução e observação o fato de que travava-se uma “guerra” na América, que embora no seu início tivesse uma relação direta com a Guerra Fria, em seus capítulos finais se arrastava para além dessa disputa bipolar do período posterior a Segunda Guerra mundial, e que do ponto de vista econômico não mais se sustentava... Nesse contexto, a saída (ainda que de modo teórico e técnico) de Fidel Castro do governo cubano em 2008 pode ser considerado um marco histórico para a mudança de opinião do governo de Washington DC sobre a validade do embargo. Embora Fidel tenha renunciado ao poder presidencial (se bem que tenha colocado seu irmão, Raul Castro de 77 anos de idade, na presidência, afirmando que iria iniciar-se uma renovação política no país... Ah, menos né Fidel...) em um primeiro momento o governo dos Estados Unidos não deu claras demonstrações de eliminar o bloqueio ou retomar as relações diplomáticas com os cubanos, isso viria depois de se ter um certo conhecimento sobre as políticas de Raul.

Foi na campanha eleitoral de 2008 que os Estados Unidos materializaram de fato as intenções de reaproximar diplomaticamente da ilha de Fidel (ou Raul...), quando o então candidato Barack Obama prometeu, entre outras coisas, que iria promover o fechamento da Base Naval de Guantánamo, que funciona atualmente como um prisão (embora fosse mais apropriado o termo depósito...) de criminosos suspeitos ou condenados por terrorismo após os ataques de 11 de setembro de 2001. Obama está atualmente em seu segundo mandato, e nem sinal de fechamento da base/prisão... Embora Raul Castro tenha assumido uma postura bem mais “gente boa” com relação ao governo de Washington DC do que o fazia Fidel.

Soma-se a isso o estabelecimento de uma aproximação política e econômica cada vez maior entre Cuba e a América do Sul, muito por conta da convergência ideológica entre o governo de Havana e os governos de Venezuela e Bolívia, assim como a ampliação das relações econômicas e comerciais do governo cubano e o governo brasileiro nos últimos anos, tornando o embargo comercial da potência norte americana cada vez menos eficaz contra o país caribenho. Em resumo, Cuba depende cada vez menos de Washington DC, enquanto a economia estadunidense depende cada vez mais de si mesma e das economias externas, principalmente após a explosão da bolha imobiliária em 2008/2009.

Obama dizer em 2014 que vai pôr fim ao embargo econômico a Cuba pode trazer impactos (positivos, principalmente) muito maiores na economia estadunidense do que na cubana, haja visto que os investimentos externos, principalmente sul americanos, ainda em fase inicial pode estar criando melhores condições de consumo interno em Cuba, e sim, Obama está de olho não só nesse, mas em qualquer mercado consumidor que se apresente ao seu país.

Em momentos de crise, amigos são aqueles que nos estão mais 'próximos'...

Em tempo, quanto o Oriente Médio, creio que o governo estadunidense esteja esperando uma solução daquelas miraculosas com relação ao Estado Islâmico, pois intervir lá agora pode ser perigoso, eles têm facas... Já o Iraque, depois do petróleo a gente vê o que faz. Por enquanto foquemos em Cuba, pois charutos estão na moda!

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