terça-feira, 28 de setembro de 2021

HAITI (parte 1)

O QUADRO HISTÓRICO DE CRISES NO HAITI






Prof. Éder Israel

 

Localizado na América Central, fazendo fronteira com a República Dominicana, o Haiti encontra-se na rota dos furacões e na zona de ocorrência de grandes abalos sísmicos.

Disponível em: <https://www.blendspace.com/lessons/IpHyJgp24nxWhQ/tap-tap-bus> acesso em 28 Set. 2021

Por ser o país mais pobre das américas o Haiti se apresenta historicamente como um grande polo de repulsão de migrantes para outras nações do continente, tanto no que e refere aos fluxos migratórios espontâneos (com pessoas em busca de melhores condições de vida, através de emprego, educação, saúde...), bem como no que se refere aos fluxos migratórios forçados (com pessoas fugindo do país assolado por catástrofes naturais, violência de grupos criminosos, repressão de governos autoritários...). O pequeno país da América Central encontra-se há décadas em um quadro de profunda convulsão social, decorrente da crise política e da falência econômica, e agravado pelo atual quadro pandêmico, que amplia os já alarmantes problemas internos que assolam sua população.

Economicamente o país enfrenta severas limitações, decorrentes da quase inexistência de recursos minerais exploráveis/exportáveis, o que torna a agricultura a atividade mais importante da nação, ocupando mais da metade de sua mão de obra. Porém, mesmo com esse amplo foco nas atividades agrícolas, o país é incapaz de produzir alimentos o suficiente para sua população, de pouco mais de 11 milhões de habitantes, sendo obrigado a trazer de fora (muitas vezes através de doações internacionais ou programas humanitários) grande parcela dos recursos alimentares necessários. O Haiti “importa” cerca de 80% do arroz consumido, o que é possível apenas com os programas internacionais de transferência de capitais para a nação, os quais representam cerca de 40% de todo o PIB haitiano.

Socialmente o país enfrenta crises sistêmicas decorrentes do quadro de miséria e escassez permanentes, em grande parte herdadas do processo histórico de colonização. Internamente observa-se uma clara estratificação social da população, similar a um sistema de castas, onde as populações mulatas (descendentes dos colonizadores europeus) formaram durante o período de dominação uma camada mais abastada (ou menos miserável) e que se autodetermina superior à população negra majoritária. Mesmo após a independência dessa pequena colônia francesa, no início do século XIX, e as grandes expectativas iniciais de avanço social após ter sido uma das primeiras nações do mundo a abolir à escravidão, o Haiti manteve fortemente as amarras sociais do período colonial, sendo amplamente dependente das potências mundiais e apresentando internamente um quadro de marcante segregação racial.

Politicamente o país atravessou sucessivos períodos de governos autoritários e ditatoriais, principalmente ao longo do século XX, com destaque para os regimes violentos implementados na segunda metade daquele século, com o apoio dos Estados Unidos, sob o pretexto de conter o avanço das ideias comunistas na América. Assim se deu, a partir de 1957, com o governo de François Duvalier, conhecido como “Papa Doc”, que implantou um regime feroz de perseguição a seus opositores políticos e sociais, tendo o amparo indireto do governo estadunidense. Após a morte de “Papa Doc” em 1971 o poder foi transferido de maneira hereditária a seu filho, Jean Claude Duvalier, conhecido como “Baby Doc”, que manteve o viés ditatorial de seu pai até 1986, quando fugiu para a França durante a eclosão de revoltas populares que o derrubariam do poder.

François Duvalier (Papa Doc) e seu filho, Jean-Claude Duvalier (Baby Doc), mantiveram com apoio estadunidense uma violenta ditadura no Haiti, entre os anos de 1957 e 1986.

Adaptado de: <https://fikklefame.com/baby-docs-back/> acesso em 28 Set. 2021

Após a fuga de “Baby Doc” o Haiti passaria por uma sucessão de golpes políticos e militares até o início dos anos de 1990, quando enfim foram realizadas as primeiras eleições livres da nação e Jean-Bertrand Aristide foi eleito presidente. Já em 1991 Aristide foi derrubado por um novo golpe e fugiu do país, tendo os militares retomado o poder. Nesse cenário o caos social dominava o país centro-americano e uma primeira grande leva de refugiados haitianos se dirigia aos Estados Unidos, levando a potência americana a pressionar o governo militar a devolver o poder ao presidente Aristide. Frente à recusa do governo haitiano em retomar o Estado democrático o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas - ONU (leia-se Estados Unidos) impuseram um completo bloqueio econômico ao Haiti entre 1991 e 1994, o que aprofundou ainda mais a catástrofe socioeconômica na qual a nação era mergulhada. Enfim, em 1994 Aristide retorna ao país e volta a governar a nação até 1996.

Porém, o quadro político do Haiti nunca se tornou de fato democrático e livre. Jean-Bertrand Aristide se tornou uma influente liderança nacional, e se valeu desse fator para passar a manipular o sistema eleitoral haitiano, tendo sido acusado de fraudar as eleições de 2000 para retornar ao poder, dando início a uma nova convulsão interna, que culminaria em uma grande revolta popular liderada pela oposição ao presidente. Em 2004, visando conter uma nova onda de violência e uma nova crise de refugiados na região, os Estados Unidos retiraram (supostamente de modo forçado) o presidente Aristide do país, levando-o para o asilo político na África do Sul. Nesse contexto a ONU determina a intervenção militar no Haiti, sob comando do exército brasileiro, para a retomada da democracia e da estabilidade interna, missão essa que durou até 2017.

O exército brasileiro esteve à frente da missão de paz da Organização das Nações Unidas- ONU no Haiti, que buscou estabilizar politicamente o país entre os anos de 2004 e 2017.

Adaptado de: <https://www.revistaoperacional.com.br/o-brasil-e-as-operacoes-de-paz-da-onu/> acesso em 28 Set. 2021

Em 2015 foram convocadas eleições diretas no país para a escolha de um novo presidente. Porém, após acusações de fraude eleitoral no primeiro turno daquele pleito, a realização do segundo turno foi adiada às pressas, e o então presidente do Senado, Jocelerme Privert assumiu temporariamente governo ao término do mandato do então presidente Michel Martelly, na tentativa de restaurar a estabilidade política e dar sequência à transição presidencial democrática. Ainda em 2016 novas eleições diretas foram realizadas e Jovenel Moïse foi eleito o novo presidente nacional, tendo permanecido no cargo até ser assassinado em julho de 2021, o que desencadeou uma nova crise política que perdura até os dias atuais, e é potencializadora dos intensos fluxos imigratórios de haitianos em direção aos Estados Unidos.

Em meio a todo esse caos político que se estabeleceu no país desde o fim do século XX, o Haiti foi ainda assolado por catástrofes naturais, que agravaram ainda mais o quadro dantesco enfrentado pela população. Em 2010 um grande terremoto devastou parte da cidade de Porto Príncipe, a capital da nação, tendo ceifado a vida de mais de 200 mil pessoas, em decorrência das consequências diretas do abalo e principalmente da devastação das infraestruturas básicas, o que possibilitou a proliferação de doenças, além de ampliar os quadros históricos de fome. Sem ainda ter se recuperado do terremoto de 2010, outra catástrofe se abate sobre o país, quando em 2016 o Furacão Matthew devastou grandes regiões próximas à costa, provocando mortes e piora nas condições sociais, já precárias da população.

Em janeiro de 2010 um devastador terremoto de 7,2 graus na Escala Richter atingiu o Haiti. Estima-se mais de 300 mil mortes e 1,5 milhão de desabrigados.

Adaptado de: <https://www.revistaoperacional.com.br/o-brasil-e-as-operacoes-de-paz-da-onu/> acesso em 28 Set. 2021

O ano de 2021 tem sido especialmente trágico para os haitianos, pois além da crise política decorrente do assassinato do presidente Moïse, houve ainda um novo terremoto que devastou a já precária infraestrutura e o saneamento básico do país, e em seguida o Furacão Grace atingiu regiões pontuais na nação, ampliando ainda mais a devastação ali observada. Tudo isso em um contexto de pandemia do Covid-19, que sem vacinação efetiva se alastra rapidamente e sem serviços médicos essenciais provoca elevadas taxas de letalidade. O Haiti é hoje esse turbilhão de problemas e crises, e isso está na raiz das questões migratórias contemporâneas. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA UNITINS 2021/2 (MEDICINA)

 

Questão 21

Um dos principais roteiros para quem pratica o ecoturismo e o turismo de aventura, o Jalapão é um lugar de descobertas surpreendentes. Em plena mata de transição entre o Cerrado e a Caatinga, onde predomina uma vegetação rasteira similar às savanas, há cachoeiras, rios de águas cristalinas, corredeiras, grandes chapadas e formações rochosas de cores e formas variadas. Nesse cenário, destacam-se dunas de areias douradas, com até 30 metros de altura, o que levou o lugar a ser chamado deserto do Jalapão. Seria um deserto, se a região não fosse também um paraíso das águas e um lugar onde a presença de flores e animais exóticos salta aos olhos. Um convite à contemplação e à aventura.

Sobre o processo de formação das dunas do Jalapão é correto afirmar que:

a) Há predominância da erosão eólica.

b) Há atuação direta e constante dos agentes endógenos.

c) O intemperismo biológico é o principal agente formador.

d) Ocorre somente a partir da ação do intemperismo químico.

e) Há atuação simultânea de todos os agentes exógenos.

Resposta: A

Comentário

A região que é turisticamente conhecida como “Deserto do Jalapão” encontra-se encrustada nos limites das regiões Norte e nordeste do Brasil, apresentando uma fitofisionomia única, que mescla espécies típicas das Estepes (Caatinga) e das Savanas tropicais (Cerrado). A paisagem é dominada por grandes acumulações de areia em elevadas dunas, que assim como acontece nos verdadeiros desertos são movimentadas constantemente pela ação dos ventos que varrem a região. Porém, apesar da propaganda comercial baseada no termo “deserto”, a riqueza de vida e de águas nessa região determina características de biodiversidade muito diferentes daquelas de áreas verdadeiramente desérticas como o Saara africano. Assim, essa área deve ser entendida como um rico ecótono entre dois grandes biomas brasileiros, e não simplesmente um deserto desprovido de condições favoráveis à vida.

Correção

a) Correto, pois as grandes dunas são formadas e movimentadas a partir da erosão eólica que varre a região, a qual é ditada pela força dos ventos alísios de Sudeste, que sopram constantemente na direção da zona equatorial.

b) Incorreto, pois os agentes endógenos ou forças internas da Terra são aqueles que atuam de dentro para fora no planeta, representados pelo tectonismo, o vulcanismo e os abalos sísmicos, todos ausentes na região do Jalapão.

c) Incorreto, pois o intemperismo biológico age mais fortemente em regiões próximas à linha do equador, onde o ambiente quente e úmido favorece à proliferação de formas animais e vegetais, que atuam sobre as rochas destruindo-as. As dunas não são formadas pelo intemperismo, mas sim pelo transporte eólico da areia.

d) Incorreto, pois, assim como o intemperismo biológico, o intemperismo químico é responsável pelo processo de degradação e destruição de rochas na superfície terrestre, ao passo que as dunas decorrem do transporte eólico das partículas de areia que foram anteriormente desagregadas dessas rochas.

e) Incorreto, pois embora muitos agentes exógenos ou forças externas atuem sobre a região do Jalapão, a formação das dunas depende apenas de um desses agentes, que é o vento, responsável pelo transporte das partículas que se acumulam em elevados montes arenosos, que se destacam nas feições da paisagem regional.

Questão 22

Analise as pirâmides etárias do estado do Tocantins referentes aos anos de 2000 e 2010.

Segundo as informações apresentadas pelas pirâmides, é correto afirmar que:

a) A pirâmide etária do ano de 2000 apresenta crescimento da população economicamente ativa, superior ao crescimento da população economicamente ativa do ano de 2010.

b) Os dados apresentados na pirâmide etária do ano de 2010 indicam redução das taxas de natalidade e aumento da expectativa de vida em relação aos dados apresentados na pirâmide etária do ano de 2000.

c) A taxa de natalidade da pirâmide etária no ano de 2010 é imediatamente superior a mesma taxa observada na pirâmide etária do ano de 2000.

d) A população do sexo feminino superou a população do sexo masculino nas duas pirâmides etárias, nos anos de 2000 e de 2010, em todas as faixas de idade.

e) As duas pirâmides etárias representam, simultaneamente, as mesmas taxas de fecundidade e de natalidade.

Resposta: B

Comentário

As pirâmides etárias de uma determinada localidade apresentam de maneira gráfica os dados referentes à idade e ao gênero das populações ali residentes. Assim, tem-se que a base dessas pirâmides representam as populações mais jovens e se associa diretamente com as taxas de natalidade, ao passo que o topo dessas pirâmides é referente às populações idosas, e consequentemente se associa à longevidade ou expectativa de vida. Pirâmides de regiões mais pobres e menos desenvolvidas tendem a ter bases muito largas e topos muito estreitos, o que se altera a partir do desenvolvimento das localidades, pois nesse processo a natalidade tende a diminuir (estreitamento da base) e a expectativa de vida tende a aumentar (alargamento do topo).

Correção

a) Incorreto, pois a População Economicamente Ativa corresponde a uma parcela da população adulta, que é representada pelo meio da pirâmide. Observando-se os dois gráficos nota-se que na pirâmide de 2010 essa porção mediana é mais larga (mais pessoas) do que o observado na pirâmide do ano 2000.

b) Correto, pois comparativamente nota-se que na pirâmide de 2010 a base encontra-se mais estreita que aquela de 2000, o que indica uma redução no número de crianças e consequentemente na taxa de natalidade; bem como o topo da pirâmide de 2010 é mais alargado do que o da pirâmide de 2000, indicando um aumento da população idosa e consequentemente da longevidade ou expectativa de vida.

c) Incorreto, pois o estreitamento da base na pirâmide de 2010 indica que houve uma desaceleração do número de nascimentos e por conseguinte uma taxa de natalidade inferior àquela observada em 2000, quando a base do gráfico era mais alargada.

d) Incorreto, pois nota-se um grande equilíbrio entre os números relativos às populações masculina e feminina do estado nos dois períodos, porém nenhum dos gêneros foi predominante em todas as faixas de idades apresentadas pelo gráfico, havendo alternância dentro das faixas etárias entre maiorias masculinas ou femininas, apesar de um certo predomínio de grupos masculinos em certas faixas.

e) Incorreto, pois a taxa de fecundidade representa o número médio de filhos por casal, ao passo que a taxa de natalidade representa o número de nascidos em relação à população total. Em uma pirâmide etária é possível analisar a taxa de natalidade observando a sua base, mas ela não permite fazer inferências conclusivas sobre a taxa de fecundidade. E ainda as natalidades não são as mesmas nas duas pirâmides.

Questão 23

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um projeto de integração fundado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, em 1991, a partir do Tratado de Assunção. Embora o nome do bloco econômico remeta à ideia de mercado comum, o Mercosul se caracteriza por uma união aduaneira, pois, na prática, possui como principais características:

I. Consolidação da integração política, econômica e social entre os países que compõem o bloco, além de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

II. Articulação de políticas regionais em temas como a universalização da educação, da saúde e erradicação da pobreza.

III. Os países membros trabalham pela busca de implantação de políticas que permitam a livre circulação de pessoas e a promoção de direitos civis, sociais, culturais e econômicos nos Estados do bloco.

IV. Livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, além da adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC).

V. Livre circulação de pessoas, bens, serviços e fatores de produção, além de união econômica e monetária.

Está correto apenas o que se afirma em:

a) II e IV.

b) I, II e IV.

c) I, II, III e IV.

d) I, II, III e V.

e) II, III, IV e V.

Resposta: SEM RESPOSTA

OBS: Não há alternativa que contemple à análise da assertivas presentes na questão, pois a única que se encontra correta (e de modo parcial) é a de número IV, não aparecendo nenhuma opção para se marcar entre as possibilidades de resposta. Portanto a questão está furada.

Comentário

A formação do Mercosul no início da década de 1990 remete à reorganização e reordenamento da geopolítica mundial ao término da Guerra Fria e à retomada da hegemonia global pelo Sistema Capitalista. Nesse contexto a aproximação entre os mercados nacionais, com o intuito de criação de mercados regionais, tem por objetivo a ampliação dos fluxos transfronteiriços e consequentemente da geração e acumulação de riquezas pelas nações associadas a esses mercados. Inicialmente, na fase de Zona de Livre Comércio, tem-se apenas a liberalização dos fluxos de mercadorias entre os parceiros; num momento posterior evolui-se para a fase de União Aduaneira, e busca-se a associação com países que não fazem parte do bloco, através da criação de uma Tarifa Externa Comum (TEC). Em seguida avança-se para a fase de Mercado Comum, onde a livre circulação se estende para pessoas, capitais e serviços; e por fim se atinge o ápice da integração, na fase de União Econômica e Monetária, quando além dos fluxos liberalizados os membros optam pela adoção de uma moeda única e de uma legislação comum no mercado regional.

Correção

I - Incorreto, pois a maior parte dos acordos do Mercosul se restringem às questões de cunho econômico e comercial, não sendo a questão social uma das bases para os tratados firmados entre os Estados membros desse bloco, bem como a melhoria da qualidade de vida não é uma das prioridades diretas da associação.

II - Incorreto, pois as bases dos acordos firmados no âmbito do Mercosul têm como objetivo primaz a liberalização das trocas comerciais e dos fluxos de mercadorias entre os membros. Temas como universalização da educação e da saúde seriam debatidos apenas em uma fase posterior, de União Econômica e Monetária.

III - Incorreto, pois acordos que versam a respeito da livre circulação de pessoas seriam possíveis apenas numa fase de Mercado Comum, mas o Mercosul encontra-se atualmente ainda na fase de União Aduaneira, com a tentativa de criação de uma Tarifa Externa Comum (TEC) para negociações com nações parceiras, mas que não integram o bloco.

IV – Parcialmente correto, pois no âmbito do Mercosul a fase de Zona de Livre Comércio já foi implementada, com a liberalização dos fluxos de mercadorias entre os Estados membros, e atualmente se avança nos acordos para que haja também liberalização da circulação de serviços e fatores produtivos, mas ainda não concluídas as conversações; bem como a Tarifa Externa Comum (TEC) que ainda não foi completamente implementada.

V - Incorreto, pois a livre circulação de pessoas é determinada no Mercado Comum, estágio posterior àquele que o Mercosul se encontra atualmente, e a União Econômica e Monetária é um estágio integracional que se estabelece após a concretização de um Mercado Comum entre as nações do bloco.

Questão 24

Estendendo-se por cerca de 20% de todo o território nacional, o Cerrado brasileiro se distribui por dez estados e possui mais de 10 mil espécies vegetais e uma rica fauna que inclui animais como a onça-pintada, o tatu-canastra e o lobo-guará. A região possui grande importância no ambiente natural, porém é elevado o nível de desmatamento de sua cobertura. Da vegetação nativa restam aproximadamente 20%. Dados mostram que, a cada década, o bioma está reduzindo 40 mil quilômetros quadrados. A principal causa é a expansão da atividade agropecuária que pressiona cada vez mais as áreas remanescentes. O bioma possui uma grande variedade de espécies de fauna e flora, que compõem subsistemas, como as veredas, que formam objetos de descrição e deram nome à obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: veredas.

Em relação às veredas, encontradas no Cerrado, é correto afirmar que:

a) Servem ao Cerrado como uma espécie de caixa d’água com o surgimento de diversas nascentes que deveriam ser preservadas em benefício dos rios que elas dão origem.

b) Em todas as suas variações, as veredas são muito resistentes, por isso dificilmente são atingidas por processos erosivos.

c) Por estarem localizadas em ambientes extremamente áridos, as veredas participam do controle do nível do lençol freático, além de serem responsáveis pelas características de toda a vegetação do bioma.

d) Podem ser entendidas como uma região pantanosa, de fácil drenagem, com presença predominante de palmeiras.

e) As veredas são compreendidas por regiões alagadas, com a presença de palmeiras e solos halomórficos pouco desenvolvidos.

Resposta: A

Comentário

O bioma do Cerrado corresponde à formação representativa das Savanas Tropicais no território brasileiro, recobrindo grande parte da porção central do país, se estendendo por estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. As formações botânicas são de médio porte, compostas por estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo, com espécies do tipo tropófila, adaptadas à alternância de estações do Clima Tropical Semiúmido, que apresenta verões quentes e chuvosos e invernos amenos e secos. A devastação desse bioma se intensificou sobremaneira a partir da Revolução Verde nas décadas de 1960 e 1970, quando a expansão da sojicultura chegou ao Centro-Oeste após o início da calagem e da correção da acidez natural dos latossolos dessa região.

Correção

a) Correto, pois as regiões das veredas no Cerrado atuam como grande reservatório permanente de águas na porção central do Brasil, tendo intensa infiltração durante as abundantes chuvas do verão. Dessa porção territorial nascem rios que abastecem importantes bacias, como as do Amazonas, do Araguaia-Tocantins, do São Francisco, do Paraná e do Paraguai. Preservar as regiões de veredas significa garantir o abastecimento futuro das nascentes para essas importantes regiões hidrográficas do país.

b) Incorreto, pois as veredas representam áreas de grande complexidade ambiental, e consequentemente qualquer impacto mínimo é capaz de gerar grandes perdas e modificações nesses ambientes. Veredas, assim como os ecótonos, correspondem a regiões ambientais de grande sensibilidade a toda e qualquer ação de origem antrópica.

c) Incorreto, pois as veredas se inserem no espaço biogeográfico do Cerrado, região tropical de verões bastante úmidos. Não há no Brasil nenhuma região que apresente condições de extrema aridez, e também as características das veredas impactam diretamente apenas sobre as vegetações nelas inseridas, embora indiretamente favoreçam às condições vegetacionais de outras áreas do Cerrado.

d) Incorreto, pois embora haja a presença marcante dos buritis, palmeira símbolo do Cerrado, ela não é a vegetação ali predominante, ocupando apenas as áreas de maior umidade do solo ou afloramento das nascentes. Ainda, apesar da grande umidade disponível no subsolo, as veredas não podem ser consideradas áreas pantanosas, muito menos de fácil drenagem.

e) Incorreto, pois as veredas representam áreas de grande disponibilidade de águas nos solos abaixo da superfície, mas não permanentemente alagadas. Os solos são muitas vezes saturados em água, conhecidos como hidromórficos, e não halomórficos (com excesso sais). Por tratar-se de uma região úmida, o solo das veredas, assim como em todo o Cerrado, é resultado de intenso e contínuo intemperismo e, portanto, apresenta grandes profundidades, sendo muito desenvolvido.

Questão 25

No início do século XX, o meteorologista Alfred Wegener divulgou um estudo no qual afirmava que, há cerca de 250 bilhões de anos, existia apenas uma massa continental, um supercontinente chamado de Pangeia, cercado por um oceano, o Pantalassa. Alfred baseou-se na existência de fósseis animais e vegetais; e em características geológicas idênticas presentes em continentes distintos, como África e América; além do encaixe perfeito do continente africano com a costa do Brasil, na América do Sul. A tal processo de separação das placas tectônicas, ele chamou de Teoria da Deriva Continental. Wegener não viu sua teoria comprovada, pois não conseguiu explicar que força poderia movimentar as placas tectônicas. Atualmente, pesquisadores de todo o mundo se baseiam em suas pesquisas para compreender a tectônica de placas e suas consequências. O continente africano, situado na Placa Africana e o Brasil, situado na Placa Sul-Americana continuam se afastando entre 2 a 10 centímetros por ano por meio do movimento divergente.

Do afastamento dessas placas, é possível afirmar que a principal consequência é

a) a formação do Arquipélago Japonês.

b) a formação da Fossa das Marianas.

c) a formação da Cordilheira dos Andes.

d) a formação da Dorsal Meso-atlântica.

e) a formação do Rift-Valley.

Resposta: D

OBS: Há um erro no texto apresentado pela questão, que faz menção a um período de “250 bilhões de anos atrás”. Seria impossível a existência desse período, pois a origem da Terra data de 4,5 bilhões de anos atrás e a idade do Universo é estimada em 15 bilhões de anos. Consideraremos isso como erro de digitação, pois a intenção do texto certamente seria falar de um período de “250 MILHÕES de anos atrás”.

Comentário

A teoria proposta pelo alemão Alfred Wegener no início da segunda década do século XX, através do livro “A origem dos continentes e Oceanos” ficou popularmente conhecida como a “Teoria das Placas Tectônicas”, que se baseava em três ideias principais: a primeira era de que no passado todos os continentes estavam unidos em um único grande bloco de terras emersas, ao qual deu o nome de Pangeia; a segunda era de que a crosta terrestre não seria uma camada única e uniforme, mas sim descontínua e fragmentada em várias parcelas, às quais deu o nome de placas tectônicas; e a terceira era de que essas placas tectônicas se movimentariam a partir de uma força interna, a qual Wegener não conseguiu demonstrar em vida, mas estudos futuros a comprovaram e deram o nome de correntes convectivas da Astenosfera. Segundo as ideias de Wegener as placas tectônicas podem convergir entre si, se chocando, como se observa entre as placas de Nazca e Sul-Americana; ou ainda divergir entre si, se afastando, como se observa entre as placas Sul-Americana e Africana; bem como tangenciar entre si, se movendo paralelamente, como se observa entre as placas do Pacífico e Norte-Americana.

Correção

a) Incorreto, pois a formação do arquipélago japonês se deve a processos de vulcanismo ocorridos por fendas que se abriram na crosta após a separação dos continentes, não tendo relação direta com as placas Sul-Americana e Africana.

b) Incorreto, pois a formação da Fossa das Marianas, localizada no Oceano Pacífico, se deve ao encontro entre as placas do Pacífico e das Filipinas, não tendo relação direta com as placas Sul-Americana e Africana.

c) Incorreto, pois a formação da Cordilheira dos Andes deriva da convergência entre as placas Sul-Americana e de Nazca, formando uma zona de subducção que não tem relação direta com a placa Africana.

d) Correto, pois a Dorsal Meso-Atlântica se forma no contato divergente entre as placas Sul-Americana e Africana, que abre uma fenda submarina por onde ocorre o vulcanismo de fissura libera o magma que se solidifica em camadas sobrepostas, formando montanhas submarinas e arcos de ilhas.

e) Incorreto, pois a formação de um Rift-Valley decorre de rachaduras e divisões em uma placa continental, que cria uma grande falha entre as partes divididas, como se observa atualmente no continente africano, na região Nordeste, no chamado “Chifre da África”, em que o distanciamento das partes tem alargado lentamente o Mar Vermelho.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

GRUPO TALIBÃ (parte 3)

A VOLTA DO TALIBÃ AO PODER NO AFEGANISTÃO

                                                                                                     Prof. Éder Israel

No final de agosto os últimos soldados dos Estados Unidos deixam o território do Afeganistão

Disponível em: <https://www.stripes.com/theaters/middle_east/us-troops-to-leave-afghanistan-by-sept-11-white-house-says-1.669576> acesso em 08 Set. 2021

A assumir a presidência dos Estados Unidos no início de 2021, Joe Biden propôs grandes mudanças em decisões tomadas por Donald Trump, seu antecessor no cargo, mas a decisão do presidente anterior de retirar as tropas estadunidenses do território afegão antes que se completassem 20 anos dos atentados de 11 de setembro de 2001 foi mantida, embora com um relativo atraso de datas para o retorno dos soldados à América. Talvez essa tenha sido a última grande armadilha deixada por Trump a seu sucessor, e diferentemente das outras, nessa Biden parece ter caído sem muitas ressalvas.

Dentro dos Estados Unidos a população apoiava há mais de uma década o encerramento das ações militares iniciadas ainda durante a Guerra ao Terror em 2001, que de maneira prática e direta já haviam custado dinheiro e vidas demais, com um aparente retorno político e econômico muito pequeno, aos olhos dos cidadãos comuns. Desse modo, atendendo ao antigo clamor popular, Biden confirma a retirada das tropas, combinada à suposta estruturação de um governo democrático em território afegão. Afinal, uma das justificativas para a invasão do país havia sido exatamente a de levar a liberdade e a democracia à sua população.

Dessa forma a Casa Branca inicia uma apressada e impensada manobra de evacuação do país asiático, tendo o intuito de cumprir os prazos acordados pela administração Trump, bem como aqueles acordos informais feitos por seus representantes com as lideranças do grupo Talibã. Porém, nesse meio tempo, o grupo extremista começa também a se organizar para retomar o poder assim que os Estados Unidos deixassem o país, uma vez que o mundo todo sabe que a única coisa que sustentava de fato o governo afegão era o apoio da potência americana, e sem tal apoio e sustentação o Talibã não teria grandes dificuldades em derrubar o comando político da nação e reassumir o posto de onde foi retirado em 2001.

Após tomar a cidade de Cabul, militantes do Talibã patrulham as ruas e impõem o medo à população

Disponível em: <https://www.orfonline.org/expert-speak/opportunity-in-crisis-will-a-pandemic-lead-to-peace-with-the-taliban-in-afghanistan-64568/> acesso em 10 Set. 2021

Em uma demonstração pública de força e afronta o grupo Talibã assumiu o poder no Afeganistão ainda durante a presença de soldados dos Estados Unidos, tendo rapidamente tomado o controle de importantes cidades do interior, culminando com a conquista de Cabul em meados de agosto. A retirada completa dos soldados americanos estava marcada para o dia 31 daquele mês. Apesar dessa reviravolta na dinâmica interna do país árabe, os Estado Unidos não alteraram seu cronograma ou postergaram a retirada de suas tropas. O avanço do Talibã acontecia ao mesmo tempo em que os soldados americanos abandonavam a população afegã à sua própria sorte.

Na medida em que os extremistas avançavam e conquistavam cidades, o presidente afegão fugia do país e o governo era oficialmente esvaziado, deixando livre o caminho para os radicais assumirem novamente o poder. Pressionado pela imprensa internacional o governo estadunidense se viu forçado a garantir a segurança do aeroporto de Cabul, a grande porta de saída do Afeganistão, por onde os estrangeiros passaram a ser rapidamente evacuados e milhares de afegãos se amontoavam em voos com destino a qualquer lugar, desde que não fosse um país dominado pelo Talibã. Rapidamente as cenas da retirada desesperada de funcionários da embaixada americana no país passou a ser comparada com a evacuação forçada de funcionários do governo em Saigon, no Vietnã, durante a guerra que a potência americana travava contra os comunistas do extremo Oriente durante a Guerra Fria. E na verdade a história era de fato muito parecida...

Visando criar uma imagem menos ruim perante a imprensa e as organizações internacionais o Talibã rapidamente passou a divulgar mensagens de que os direitos das populações e dos ex-funcionários do governo deposto seriam plenamente respeitados, principalmente os direitos das mulheres, amplamente subjugadas no período anterior em que o grupo extremista comandou o país. Porém, o mundo todo acompanha com muito ceticismo (e com total razão) esse discurso de que o Talibã agora está diferente. As primeiras impressões demonstram que esse ceticismo do mundo em relação do governo autoproclamado se justifica, pois ainda durante a evacuação dos soldados dos Estados Unidos e de cidadãos de outras nações houve uma série de atentados suicidas, inclusive no aeroporto, sem que o Talibã se posicionasse de maneira clara contra tais atos, bem como o grupo extremista reprimiu com violência vários protestos populares contra o “novo governo”. Por mais que se adote um discurso mais racional e politicamente correto, a essência extremista do grupo dificilmente será mudada um dia.

No poder o Talibã troca a bandeira e o nome do país, que passa a ser chamado de Emirado Islâmico do Afeganistão

Disponível em: <https://online.seterra.com/en/p/afghanistan-flag> acesso em 10 Set. 2021

A retirada atabalhoada dos Estados Unidos produziu um cenário incerto e com perspectivas múltiplas no Afeganistão, pois grande parte dos armamentos e recursos militares repassados às forças de segurança comandadas pelo antigo governo afegão encontram-se agora sob poder dos extremistas, bem como muito equipamento militar usado pelas tropas americanas durante os 20 anos de ocupação foram deixados para trás, o que oferece ao Talibã um poder bélico muito superior ao que o grupo possuía até 2001. Agora a população do país está a mercê de um regime que baseia as suas ações em uma interpretação deturpada das escrituras sagradas do Islamismo e que possui a capacidade militar não mais de um grupo de guerrilha convencional, mas sim de um Estado Nacional.

Para agravar ainda mais a condição geopolítica da região, após a derrubada do governo e a saída das forças militares estadunidenses, a Rússia e a China adotaram um discurso de defesa do estabelecimento de diálogo diplomático com o grupo Talibã, o que significa informalmente que as duas nações reconhecem que o grupo extremista é de fato o novo governo do Afeganistão, e como ambas fazem parte do Conselho de Segurança da ONU se torna muito difícil que a organização apoie, em curto prazo, algum tipo de intervenção no país árabe, bem como é praticamente nula a possiblidade de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (comandada pelos Estados Unidos, que estão de saída do país...) encabece uma ação militar internacional em prol da derrubada dos rebeldes talibãs do poder.

Em suma, o mundo deve novamente assistir de longe, ou continuar fingindo que não vê, as violações sistemáticas dos direitos humanos (principalmente das mulheres e minorias étnicas) realizadas pelo Talibã, desde que assumiu o poder no Afeganistão pela primeira vez em 1996.