Corredor ferroviário bi-oceânico: a mais nova estratégia de
integração econômica dos BRICS (última parte)
Por Éder Israel
Disponível
em:
<http://www.environment.co.za/wp-content/uploads/2015/02/brics-logo1.png>
Acesso em 30 mai. 2015.
SERÁ DESSA
VEZ?
A
grande questão que nos surge com relação a esse possível acordo sino-brasileiro
para a construção desse corredor bi-oceânico é se esse dinheiro realmente
chegará ao Brasil e se essa obra será realmente concluída. Ou até mesmo
iniciada...
Aparentemente,
para a China os 50 bilhões de dólares (investimento previsto para esta obra)
não são um problema, pois os chineses têm ganhado dinheiro quase que
ininterruptamente desde a segunda metade do século XX, quando Deng Xiao-ping
assumiu o poder no país, após a morte de Mao Tse-tung, período em que
iniciou-se no país asiático uma intensa, porém gradual, abertura econômica, com
o intuito principal de atrair investimentos produtivos externos. Daí por diante
o fluxo de dinheiro nunca mais cessou.
Esse
novo modelo econômico adotado pela China pode ser chamado de Socialismo de
Mercado, ou ainda Capitalismo de Estado, e é caracterizado pelo incentivo ao
investimento privado, principalmente externo, aliado ao controle rigoroso dos
aspectos políticos por um regime de partido único, no qual as condições de vida
da população são escamoteados face à necessidade de se criar condições
vantajosas para a atração dos capitais investidores advindos de países
ocidentais.
Nesse
aspecto, o Partido Comunista Chinês (PCCh) criou nas províncias litorâneas no
leste da China as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que funcionariam, a grosso modo, como enclaves capitalistas em uma nação declarada socialista na
Revolução Comunista de 1949. Nestes locais seriam viabilizados novos fatores locacionais
para as empresas estrangeiras, que trariam ao país os investimentos externos e
a tecnologia que ele não possuía, além da experiência com o modelo de gestão
capitalista, o qual a nação procura se integrar e adaptar a partir da morte de
Mao Tse-tung.
AS ZONAS ECONÔMICAS
ESPECIAIS
Disponível
em: <
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1QrRAYn0M2GeSdj0joJJWWnXYF1IiaLxscpD4OT4vkg67whuYNYE_6I7cpBG6MWa7_EFfQ3bMu6Kzs7X8bqBHmxDqWomA-dlr6KPF3VycjwDL7xZV7bjdSlP6W8dFFCrg50C6cQZtUYc/s1600/china+-+zee's.jpg>
Acesso em 01 jun. 2015.
Concordamos
então que dinheiro em caixa não é um problema potencial para a China, embora
sua economia tenha reduzido nos últimos anos o ritmo de crescimento, pois
ninguém esteve totalmente a salvo da crise econômica global que se instaurou a
partir de 2008. Porém, o acumulado nos anos anteriores foi capaz de criar uma
poupança capaz de sustentar a economia no atual período de "vacas
magras".
Mas
talvez o grande dilema que a China enfrenta hoje seja a quantidade de
investimentos simultâneos que o país realiza pelo mundo. Talvez a ânsia para
alcançar a posição de maior potência mundial possa tornar-se um empecilho para
a economia chinesa, pois a quantidade de dinheiro que o PCCh dispõe é
inegavelmente alta, porém os passos que o governo do país asiático está dando
atualmente podem se mostrar maiores que as próprias pernas da nação.
A
China aponta seu canhão financeiro hoje para dois alvos vitais para sustentar
seu projeto global, que são o continente africano e mais recentemente a América
do Sul. O objetivo por trás destes investimentos é claro e óbvio, representado
pelo livre acesso às commodities que se localizam nessas duas áreas, porém mais
uma vez, o modo afoito de agir da economia chinesa pode trazer grandes perdas e
inviabilizar uma série de projetos de grande envergadura, tais como o corredor
ferroviário projetado no MERCOSUL.
O
próprio Brasil já tem sido vítima recentemente desses "passos maiores que
as pernas" do PCCh, posto que muitos projetos e programas de investimentos
do país asiático na nação sul-americana não têm sido feitos do modo planejado,
ou mesmo nem realizados estão sendo, conforme demonstra a imagem a seguir.
Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1632160-promessas-nao-cumpridas-da-china-somam-us-24-bilhoes.shtml>
Acesso em 06 jun. 2015
Portanto,
pode-se perceber que a China tem se esforçado muito em demarcar sua presença
financeira pelo mundo, o que é totalmente esperado, basta lembrar dos Planos Marshall
e Colombo realizados pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.
Obviamente a comparação aqui foi meramente a título de exemplo, haja visto que
os períodos e os interesses por trás destes projetos de investimentos sejam
diametralmente opostos, porém fazem parte do mesmo "modus operandi"...
O
entendimento desta realidade leva-nos a ficar "com um pé atrás" com
essa boa vontade chinesa em construir essa ferrovia de ligação entre o Pacífico
e o Atlântico, pois o que for possível para que se reduzam os custos desse
empreendimento será feito, logo este trajeto proposto possivelmente será
alterado, e quem sabe o "choro" de Evo Morales possa surtir algum
efeito, pois a ferrovia atravessando o território boliviano terá um traçado bem
mais curto que o proposto que passaria pelo Peru, embora já tenhamos aqui mencionado que o traçado
proposto atualmente se deve ao interesse de passar pelo centro-oeste do Brasil
e ter acesso mais fácil às safras de grãos do país.
Em
resumo, o MERCOSUL nunca esteve tão próximo de finalmente conseguir estabelecer
um canal de comunicação entre os dois oceanos que banham o subcontinente
sul-americano, porém continuamos distantes da certeza de quando e como esta
obra de infraestrutura será de fato concluída ou mesmo iniciada. O grande
diferencial das outras vezes em que ficamos no quase, é o interesse e o caráter
de urgência que a China deu a esta ligação, o que pode ser decisivo a favor dos
mais otimistas sobre o incremento do comércio do bloco regional, mas por outro
lado pode justificar o pessimismo daqueles que afirmam que podemos apenas
trocar a histórica dependência em relação aos Estados Unidos por uma nova
relação desfavorável com a candidata asiática à potência hegemônica do século
XXI.
De
resto é torcer para que nos "fundos de investimentos chineses", sobre dinheiro para a América do Sul...
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