Corredor ferroviário bi-oceânico: a mais nova estratégia de integração
econômica dos BRICS
Por Éder Israel
Disponível
em: <http://www.environment.co.za/wp-content/uploads/2015/02/brics-logo1.png>
Acesso em 30 mai. 2015.
NOVO VELHO PROJETO
Em
visita ao Brasil, o Primeiro Ministro Chinês Li Keqiang enalteceu a aproximação
entre os governos chinês e brasileiro, e como é de praxe anunciou a abertura
novamente da torneira de dinheiro da China para projetos no Brasil. O foco
dessa vez foi o tão sonhado corredor ferroviário bi oceânico, que em tese
ligará um porto na costa atlântica do Brasil a um porto na costa pacífica da
América do Sul, ao que tudo indica no Peru. Mas o que há de novo nesse velho
projeto? O que há de velho nessa nova ação financeira da China?
Disponível
em: <http://ansabrasil.com.br/webimages/al_news_476x/2015/5/19/78a4b49457495122f74402095e0b801f.jpg>
Acesso em 30 mai. 2015.
É
o que tentaremos elucidar a partir de agora...
O
novo acordo de cooperação entre as duas nações, foi assinado em 19 de maio pela
Presidente Dilma Rousseff e por Keqiang em Brasília, acordo este que prevê a
realização de investimentos bilaterais, principalmente no setor de
infraestrutura e produção, até 2021, em uma nova demonstração de proximidade
política e econômica entre os dois principais emergentes do grupo conhecido
atualmente por BRICS (nomenclatura essa criada pelo economista inglês Jim
O'Neill para se referir à criação de acordos bilaterais entre Brasil, Rússia,
Índia, China e mais recentemente África do Sul, a partir da década passada.
Um
dos assuntos que mais chamou a atenção nessa visita e nesses acordos de
investimentos, foi o interesse pela primeira vez materializado em um discurso
de uma figura do Estado chinês, de que o país asiático tem interesse (entenda-se
pressa) na construção de uma ligação ferroviária entre os oceanos Atlântico e
Pacífico, cortando assim a América do Sul no sentido leste-oeste, o que vai de
encontro com um antigo projeto do MERCOSUL para a integração plena das
economias dos países membros, mas com algumas novidades, made in China...
O
novo pacotão de investimentos chineses é estimado em cerca de 50 bilhões de
dólares, e vem acompanhado de acordos comerciais vinculados à importação de carne
brasileira, haja visto que, o primeiro ministro da China trouxe as "boas
novas" de que o país asiático permitirá, a partir deste ano, a entrada da
carne processada por oito grandes frigoríficos aqui sediados. Mas foquemos na
bendita ferrovia, que é o que nos interessa.
O
projeto desta ligação entre os dois oceanos que banham a América é antiga, e é
um projeto que fora vislumbrado antes mesmo da concretização do MERCOSUL
enquanto mercado continental. Ainda durante os governos militares do Brasil (e
da maior parte da América do Sul...) haviam conversações a respeito da necessidade
de se buscar estabelecer essa conexão entre as duas costas, como meio de
garantir o desenvolvimento e a "independência" econômica destas
nações. Porém, desta vez é diferente, desta vez tem a China,dessa vez não tem o
controle pleno dos Estados Unidos.
-
"Desta vez o Brasil é protagonista!"
-
Não José, não é para tanto...
Este
novo projeto proposto pela parceria sino-brasileira vem adaptar um projeto
anterior que tinha o mesmo objetivo,
porém por vias diferentes. A ideia central dos membros do bloco sul-americano no
final da década de 1970, era que essa ligação partisse do sudeste do Brasil,
passando pelo sul do país, atravessando a Argentina e depois o Chile, chegando
finalmente ao Pacífico, como mostra a imagem a seguir.
Disponível
em: <http://images.slideplayer.com.br/1/279737/slides/slide_3.jpg> Acesso
em 30 mai. 2015.
O
projeto inicial realizaria a integração do chamado núcleo geoeconômico do MERCOSUL,
que corresponde à porção mais dinâmica da economia dos membros fundadores do
bloco, sendo o centro-sul do Brasil, Leste do Paraguai, Leste da Argentina e o
pequeno território do Uruguai. Porém havia a necessidade de passar pelo Chile,
e foi aí que azedou...
O
Chile não é membro efetivo do MERCOSUL, portanto não teria os mesmos objetivos
ou não teria os mesmos benefícios dos países membros do bloco, posto que é
apenas um membro associado, para o qual são validos apenas alguns dos acordos e
normas vigentes no bloco dos efetivos. Talvez por isso tenha sido difícil
convencer o Chile a comprar a ideia da ligação entre os dois oceanos. Mas, mais
importante que a falta de interesse aparente do Chile na construção do corredor
ferroviário, existe a ação silenciosa dos Estados Unidos, grande aliado do
governo chileno desde a queda de Allende... Sim os Estados Unidos são amigões
do Chile muito antes do governo de Pinochet, e essa aliança histórica coloca o
vizinho sul-americano em uma sinuca de bico, tendo que escolher entre o Tio Sam
e os vizinhos anteriormente quebrados do Cone-sul. Parece óbvia a opção prioritária
do vizinho da costa oeste...
Para
os Estados Unidos a construção dessa ligação sul-americana representaria uma perda
econômica gigante, pois grande parte das commodities exportadas por estes países
passam pelo Canal do Panamá, assim como grande parte dos produtos
industrializados provenientes do sudeste da Ásia. Ou seja, os estadunidenses
ganham por cada navio que por ali passa, e uma saída para o pacífico que não
fosse a da América Central representaria perdas financeiras importantes para a
economia dos primos ricos do norte.
Assim,
o Chile não poderia conceber a criação dessa ferrovia em seus territórios, mas
ao mesmo tempo não podia dizer que não aceitaria sua construção. Em resumo, a
intenção do governo chileno era enrolar o quanto fosse possível as negociações
para essa monumental obra. O bom e velho "jeitinho brasileiro"... E convenhamos, o Chile foi eficiente, ele adiou essa obra o quanto pode, mas agora tem a China, e os chineses têm
pressa, não só em construir a ferrovia, mas também (e principalmente) qualquer coisa que venha a
enfraquecer a já cambaleante economia dos Estados Unidos. Digamos que agora
talvez a obra saia.
Eu
disse TALVEZ.
Continua...
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