quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

O PROCESSO MUNDIAL DE (DES)GLOBALIZAÇÃO (PARTE I)

Como as políticas externas de Donald Trump se inserem na geopolítica mundial


- Por Éder Israel


Disponível em: <http://static.politifact.com.s3.amazonaws.com/politifact/photos/AP_AZAB126_TRUMP.JPG> Acesso em 06 dez. 2017

Desde a eleição do 45ºpresidente dos Estados Unidos, o noticiário internacional informa ao mundo diariamente sobre a mais nova polêmica envolvendo o governante máximo da maior potência do mundo.

Ainda durante o pleito eleitoral, a caminhada de Donald Trump rumo à Casa Branca foi repleta de discursos, promessas, ações e falas que ainda hoje pontuam seu mandato, e colocam os Estados Unidos na situação de país que se afasta de acordos anteriormente firmados, ou ainda evite firmar novos compromissos multilaterais.

A promessa de campanha, de construir um muro na fronteira com o México e impedir o acesso dos latinos ao seu país foi recebida com temor pela mídia e pela maioria dos governos internacionais, porém encontrou ressonância no país e se converteu em votos de uma camada significativa da população estadunidense, que coloca sob os ombros dos imigrantes e peso do desemprego e de uma recessão econômica, que nasceu na verdade nos Estados Unidos (!) em 2008, quando “explodiu a bolha imobiliária”.

Soma-se a esta responsabilização indevida dos imigrantes latinos, o medo permanente que é cultivado na/pela população do país desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. O pavor da repetição de ações como aquela realizada pela Al Qaeda, assim como o senso comum de que o Islamismo é responsável pelos atos terroristas, levou os cidadãos estadunidenses a verem com “bons olhos” a restrição da entrada de “potenciais terroristas” no país, como insiste sempre em repetir, o presidente Trump ao se referir aos povos árabes.


 Disponível em: <https://www.dinheirovivo.pt/(...)3_USA_TRUMP_IMMIGRATION-1060x594.jpg> Acesso em 06 dez. 2017

Vivemos hoje um momento da geopolítica mundial em que as relações entre diferentes povos e lugares têm sido cada vez mais intensas, e os intercâmbios comerciais ou culturais se tornam peças vitais para que a economia/sociedade-mundo se estabeleça e consequentemente se expanda. Portanto, os fluxos (de qualquer espécie) regem atualmente o processo de globalização e consequentemente determinam o sucesso ou o fracasso de uma nação em seu processo de integração global.

Ora! Portanto, o fluxo crescente de pessoas, sejam latinos ou árabes para os Estados Unidos nas últimas décadas, atestam a efetivação da inserção do país americano no contexto da globalização, e qualquer ação que venha a proibir/barrar tal movimento migratório atua em um caminho contrário. Esta contramão é hoje academicamente chamada de “desglobalização”. Assim sendo, Donald Trump tem se destacado por uma política que pode levar a maior potência econômica do mundo a um relativo isolamento geopolítico, podendo impactar direta e negativamente na busca “americana” da superação da crise de 2008.

Ainda nos trilhos do estabelecimento de uma globalização ampla e que seja capaz de integrar todas as nações do globo, embora saibamos que apesar de integrados, os benefícios não serão oferecidos na mesma escala para as nações ricas e pobres (...), há a partir da década de 1990 (período pós Guerra Fria) a ampliação do processo de criação dos mercados regionais, também conhecidos como blocos econômicos. Notou-se isso com clareza na formação do North American Free Trade Agreement – NAFTA, composto por Estados Unidos, Canadá e México, que estabeleceu uma zona de livre comércio entre estas nações, visando uma colaboração maior entre estas economias e o desenvolvimento regional colaborativo.

Em relação ao NAFTA, Donald Trump é taxativo a respeito do que julga ser inviável aos Estados Unidos, que seria a permanência d do país nesse agrupamento regional, tendo manifestado abertamente a intenção de deixar o bloco futuramente. Seria outro passo na direção do isolamento geopolítico da nação americana. Seria outro passo no caminho da “desglobalização”.

Além de defender a retirada de um bloco econômico existente há mais de duas décadas, Trump ainda retirou os Estados Unidos de um grande projeto de integração, que seria a criação de uma zona de livre comércio transcontinental, chamada de Trans-Pacific Partnership – TPP, que contaria com a participação de nações da América, da Ásia e da Oceania. Em janeiro de 2017, o presidente dos Estados Unidos se retirou dessa proposta de criação de um “superbloco” com o risco colateral de ter rompido relações comerciais com antigos e importantes parceiros, e perdendo talvez a chance de realizar novas e vantajosas parcerias com outras nações.

A desistência do TPP e a política de defesa do fim do NAFTA tem levado o mundo a questionar o quão integrados e globalizados os Estados Unidos pretendem estar no século XXI. Isso acaba também por abalar a confiança de nações que têm alianças (de qualquer natureza) com o governo estadunidense, uma vez que há uma crescente incerteza de qual será a próxima associação política/econômica que Donald Trump abandonará.


Disponível em: <http://cdn.cnn.com/cnnnext/dam/assets/161118053613-cnnmoney-trump-trade-tpp-super-tease.jpg> Acesso em 06 dez. 2017

Nem mesmo a questão ambiental escapou deste rompante isolacionista do atual governo da Casa Branca, uma vez que Trump abandonou ainda o Acordo Climático de Paris, o qual foi negociado durante a COP-21, realizada na França em 2015. Este acordo previa a redução das emissões de CO2 para a atmosfera, ampliando as metas propostas na década de 1990 pelo Protocolo de Kyoto. Porém, para os Estados Unidos a redução do consumo de combustíveis fósseis poderia afetar negativamente o crescimento da economia nacional, amplamente dependente de petróleo. Esse pensamento motivou a saída da nação deste acordo climático global.

Na condição de uma das nações mais poluidoras da atmosfera na atualidade, os Estados Unidos com sua saída deste acordo do clima abra um precedente perigoso para a busca da sustentabilidade ambiental e por um maior equilíbrio entre as ações antrópicas e a natureza, uma vez que outras nações, menos poluidoras, podem se sentir desobrigadas/desresponsabilizadas a reduzir seu consumo de combustíveis fósseis e a liberação de gases poluente da atmosfera, tornando assim esse acordo global inviável ou mesmo insignificante.


Disponível em: <https://patricecarvalho.files.wordpress.com/2017/06/trump_climatosceptique.jpg?w=624> Acesso em 06 dez. 2017

Portanto, seja pela proposta de construção de um muro na fronteira com o México, ou ainda pelas restrições à entrada de imigrantes latinos ou árabes, ou mesmo pela ameaça de encerramento do NAFTA, ou também pelo abandono precoce do TPP, ou quem sabe pela não-aceitação dos termos do Acordo de Paris, os Estados Unidos têm se afastado cada vez mais de outras nações e tomando decisões cada vez mais unilaterais, na intensão de quem sabe um dia alcançar a tão sonhada (desde a Guerra Fria) unipolaridade mundial.

E olha que nem falamos, ainda, sobre a Coreia do Norte...


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