A guerra civil na Síria: como os bombardeios em Ghouta Oriental reacenderam um conflito que nem tinha se apagado?
Por Éder Israel
Disponível
em: <https://cdnbr1.img.sputniknews.com/images/372/46/3724662.jpg> Acesso
em 25 fev. 2018
Os
números, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (que se opõe ao
governo de Bashar al-Assad), são impactantes. Eles revelam que desde novembro
de 2017 foram realizados pelo governo e aliados 1290 ataques aéreos à região,
sendo grande parte destes ataques realizada nos últimos dias. Mas o que está
realmente por trás destes números e das ações do governo? E qual o papel da
mídia internacional?
A
região conhecida como Ghouta Oriental é composta por regiões periféricas da
parte leste da capital Damasco, onde vivem milhares de opositores do regime do
presidente Assad. Esta zona de subúrbio participou ativamente das rebeliões
populares iniciadas no país em 2011, durante a chamada Primavera Árabe, as
quais pediam a retirada do presidente do poder e novas eleições na Síria. Porém
as retaliações das forças leais ao regime sírio deram início a ataques contra
os insurgentes e se instalou no país uma guerra civil.
Disponível
em: <https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/16431/production/_96058119_syria_de_escalation_zone_624_v5.png>
Acesso em 25 fev. 2018 (adaptado)
Ainda
em 2012, o governo sírio foi acusado pela mídia internacional de utilizar armamentos
proibidos, como o gás sárin e as bombas de cloro, porém pouco se fez para se
investigar e punir, caso comprovasse o uso de tais armamentos. Na realidade,
acredita-se que foi na verdade o uso dessas estratégias de guerra que levaram à
retomada do controle, por parte do governo, da parte ocidental de Ghouta, e o
que tornou ainda mais violenta a reação dos rebeldes que resistiram na parte
oriental dessa região periférica de Damasco.
Juntamente
às acusações de “guerra suja” imputadas ao regime sírio, o mundo observou ainda
a formação de uma importante aliança entre a Síria, o Irã e a Rússia, que
passou a atacar com mais intensidade os rebeldes remanescentes da Primavera
Árabe, e a ajuda militar de Moscou tornou o conflito completamente
desequilibrado, assim como multiplicaram as acusações da mídia internacional a
respeito do uso desproporcional de forças militares, e de massacres contra
civis, bombardeados sob a justificativa de pertencerem ou colaborarem com o
Daesh.
Aliás,
a participação da Rússia nesse conflito foi decisiva para que as rebeliões
populares iniciadas em 2011 não tivessem na Síria o mesmo sucesso que obtiveram
na Tunísia, na Líbia e no Egito, tendo o presidente Bashar al-Assad se mantido
no poder, apesar dos diversos grupos nacionais que exigiam sua saída/deposição.
Disponível
em: <https://i2.wp.com/www.cavok.com.br/blog/wp-content/uploads/2015/10/Urso-na-S%C3%ADria1.jpg?resize=600%2C410>
Acesso em 25 fev. 2018
O
grande problema oriundo desta situação é que, segundo as nações e organismos
internacionais contrários ao governo Assad, é que após a derrota inicial dos
insurgentes nos levantes populares o governo sírio continuou usando sua força
militar e a de seus aliados para combater e eliminar toda a oposição política
ao presidente e garantir a plena permanência do presidente no poder, tendo para
isso cometido incontáveis crimes contra a população civil do país.
Na
realidade, o conflito eu se tornou mais intenso em 2011 não se estancou até os
dias de hoje. O que aconteceu foi que a mídia global passou a dar mais atenção
para outros assuntos no cenário político global, e criou-se a falsa ideia de
que a guerra civil tinha acabado. Atualmente, com as ações militares em Ghouta
Oriental sendo intensificadas, parece que recomeçaram as disputas militares na Síria,
quando na verdade, o que mudou foi apenas o foco dos organismos de imprensa do
mundo, voltando seus olhos novamente para o entorno de Damasco. Porém, há de se
destacar e reconhecer que em relação aos conflitos anteriores, o atual é mais
intenso, mas não é como se acredita uma nova guerra, mas sim apenas a
continuação do mesmo conflito de sempre...
Juntamente
às perdas imediatas dos bombardeios há também as chamadas “perdas lentas”, que
se relacionam à impossibilidade de recebimento de ajuda humanitária e de
socorro médico para as vítimas, o que estabelece um quadro ainda mais dramático
nesse cenário observado na Síria. Segundo organizações e analistas
internacionais, é impossível saber exatamente o que se passa hoje em Ghouta
Oriental, e isso faz com que a compreensão do conflito seja muito mais baseada
em acusações de opositores de Assad e de justificativas daqueles que o
defendem. O que se sabe é que o número de pessoas que são assoladas aumenta a
cada dia, assim como a intensidade dos ataques realizados.
A
situação tomou tamanha proporção na imprensa internacional, que a Organização
das Nações Unidas foi forçada a assumir que o conflito fugiu do controle
convencional, e que os direitos humanos essenciais não têm sido colocados à
margem do planejamento e das ações militares das forças armadas da Síria e dos
exércitos de seus aliados. Com isso, o Conselho de Segurança da ONU, composto
por Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China votou e aprovou uma
resolução que determina a partir de 24 de fevereiro de 2018 um cessar-fogo de
30 dias em Ghouta Oriental, para que nesse período haja apoio médico e a
chegada de ajuda humanitária para as vítimas da guerra.
Disponível
em: <http://prensalatina.com.br/images/2017/octubre/02/consejo-seguridad.jpg>
Acesso em 25 fev. 2018
Porém,
um dia após o anúncio do cessar-fogo, o Observatório Sírio para os Direitos
Humanos informou que novos ataques aéreos foram realizados na região
conflituosa, demonstrando claramente que não há um controle externo para a
situação e que a escalada de violência tende a se ampliar cada vez mais na
Síria, a despeito das resoluções aprovadas pela ONU ou do apelo da imprensa
internacional enquanto não haja um novo assunto que esconda do mundo a
catástrofe humanitária que assola hoje parte da população síria.
No
caso desse conflito, em específico, um dos grandes problemas agravantes é a
quantidade de grupos envolvidos e de interesses associados à geopolítica e a
questões religiosas, e esta miscelânea de interesses e visões eleva grandemente
o potencial destrutivo dessa guerra civil, e torna qualquer decisão externa uma
contrariedade aos interesses internos dos indivíduos/grupos que encontram-se no
front de batalha...
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