quinta-feira, 13 de junho de 2019

CORREÇÃO COMENTADA DE GEOGRAFIA SEGUNDA FASE - UFU - 2019




Questão 01

O Brasil comumente é “vendido” como um país com múltiplas regiões e com diversidade na produção de alimentos. Para alimentar a população com sabor, saúde e abundância, os meios de comunicação repetem por meio de imagens coloridas o sucesso do agronegócio brasileiro: “Agro é Tec” , “Agro é Pop”, “Agro é Tudo”



Fonte: SANTOS, Marueem, GLASS, Verena (orgs.). Altas do agronegócio: fatos e números sobre as corporações que controlam o que comemos. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Boll, 2018, p. 28. (Adaptado)


A partir do texto e da figura acima, responda.


a) Conforme apresentado na figura, quais são os impactos do monopólio das empresas-rede para a segurança alimentar da população mundial?

Comentário:

A imagem apresentada na questão nos traz as sedes das cinco principais empresas relacionadas com o agronegócio na atualidade, e suas respectivas sedes, deixando claro o predomínio de suas localizações nas nações mais desenvolvidas do mundo, sendo três estadunidenses, uma holandesa e uma chinesa. Nota-se que o surgimento de uma empresa estatal chinesa em um mercado outrora dominado por importantes corporações privadas ocidentais demonstra a pujança da economia da nação asiática, principalmente a partir da abertura promovida pelo Partido Comunista Chinês no período posterior à morte do líder Mao Tsé-tung na década de 1970, quando a nação passou a adotar o modelo socialista de mercado.

Esse monopólio centrado por este grupo de cinco grandes empresas traz consigo uma série de riscos para as nações que ficam subjugadas pelo mercado global dessas mercadorias agrícolas, que no passado eram vistas apenas como alimentos, mas no passado passaram a ser classificadas como commodities, uma vez que continuam sendo usadas como alimentos, mas atualmente servem também (e até mais) à produção de matérias primas industriais ou combustíveis renováveis.

No que tange aos riscos para a soberania alimentar, que na prática se refere à capacidade de uma nação suprir seu mercado consumidor interno daqueles bens essenciais à sobrevivência de suas populações, a destinação plena de suas produções para essas empresas determina o direcionamento de suas commodities para os mercados externos (nas grandes potências e na China), podendo ocasionar um desabastecimento dessas mercadorias para as populações dos países produtores, assim como a elevação dos preços internos, uma vez que a oferta interna será suprimida pelo foco no mercado externo.

Por outro lado, a destinação quase que completa dessas mercadorias para a produção de alimentos para os rebanhos animais nos consumidores externos, assim como para a geração de energias alternativas, pode ocasionar o abandono gradual do cultivo de lavouras tradicionais de alimentos típicos das nações produtoras, passando o foco a ser no abastecimento do mercado global de commodities, o que por sua vez comprometeria diretamente a dimensão das áreas cultivadas com alimentos e consequentemente a soberania alimentar dessas populações.

Há ainda o risco de que esse monopólio do mercado e a consequente especulação e regulação dos preços por esses cinco grandes fornecedores globais levem à prática de um cartel no mercado mundial, suprimindo o direito das populações à livre-concorrência e às vantagens comerciais que o livre mercado pode oferecer, tornando-as reféns da dominação econômica dessas grandes corporações, que passariam a dominar plenamente o mercado de um bem essencial como são os alimentos.


b) Discorra sobre duas consequências econômicas e sobre duas ambientais oriundas dos processos apresentados no texto e na figura.

Comentário:

O processo de monopolização dos mercados internacionais de commodities por um grupo restrito de empresas, tal qual é apresentado na questão, traz consigo várias consequências nos âmbitos políticos, econômicos, sociais e ambientais, que cão além bem além das questões meramente comerciais.

No que tange as questões econômicas desse monopólio pode-se destacar a regulação da oferta e procura dos bens agrícolas por essas grandes empresas, que atuam de maneira dominante na importação e na exportação dessas commodities, o que lhes permite um controle indireto dos valores das mercadorias, impedindo a concorrência entre vários fornecedores, levando o mercado consumidor a aceitar valores cada vez mais elevados e maximizando as margens de lucros dos poucos fornecedores. Além disso, como o valore das commodities é regulado pelo mercado internacional, as mesmas empresas que definem elevados preços a serem cobrados dos consumidores de seus produtos, através de um monopólio, passam a definir também preços cada vez mais baixos a serem pagos para os produtores rurais, geralmente nos países pobres, que não tem várias opções de compradores para ofertarem seus produtos, definindo assim um monopsônio.

Ainda no campo econômico, essa estrutura monopolizada passa a fazer com que os produtores agrícolas passem a buscar meios cada vez mais eficazes e modernos de produção, que sejam capazes de abastecer aos mercados globais, tornando as práticas agrícolas cada vez mais caras e menos acessíveis aos pequenos produtores, os quais tendem a abandonar as atividades produtivas, gerando inicialmente o desabastecimento e carestia dos gêneros alimentares nas nações menos desenvolvidas, seguido de um crescente processo de valorização das terras e concentração fundiária nas mãos dos grandes produtores, capazes de arcar com os custos cada vez mais elevadas de uma agricultura marcadamente mais técnica e intensiva.

Com relação aos impactos ambientais desse processo pode-se mencionar a expansão das fronteiras agrícolas, que conduzem à ampliação da devastação dos biomas através do desmatamento das vegetações nativas, tendo em vista a abertura de novas terras destinadas aos cultivos de exportação. Esse processo de desmatamento traz consigo o aumento da exposição do solo às forças exógenas, que potencializam problemas ambientais naturais, tais como a erosão e a lixiviação.

Por outro lado, ambientalmente tem-se ainda o empobrecimento dos solos, decorrente da expansão das práticas de monoculturas dessas commodities, que causam a exaustão dos mesmos, reduzindo-lhes a fertilidade e a produtividade. Em casos mais extremos desse empobrecimento e exaustão do solo, pode haver o processo de plena perda de fertilidade e produtividade, originando o processo de desertificação dessas zonas. Ainda com relação aos possíveis danos ambientais, cabe mencionar que a expansão das áreas de cultivo, para regiões outrora improdutivas ou menos atraentes ao agronegócio, pode demandar uso mais intensivo dos recursos hídricos para a prática de irrigação, o que além de comprometer a disponibilidade natural de águas superficiais, pode levar ainda à contaminação dos recursos subterrâneos, uma vez que nessa agricultura intensiva o uso de pesticidas e fertilizantes se dá de maneira cada vez mais ampla.


Questão 02

O Parlamento da Ucrânia decidiu, no dia 26/11/18, declarar lei marcial depois que navios russos atiraram contra embarcações do país na costa da Crimeia. Para a Ucrânia, o episódio que resultou em tripulantes feridos e capturados foi um “ato de agressão”. Do outro lado, Moscou afirmou que os navios haviam “entrado em suas águas ilegalmente”.

Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/11/26/entenda-a-nova-escalada-de-tensao-entre-ucrania-e-russia.ghtml>  Acesso: 20 mar. 2019. (Adaptado)

O confronto ocorrido no Mar Negro, relatado na reportagem, marca um novo episódio na crescente tensão entre os dois países.


a) Explique as causas do acirramento dos conflitos entre Rússia e Ucrânia.

Comentário:

O conflito recente entre Rússia e Ucrânia, no Leste Europeu reacendeu as disputas territoriais na região a parti de 2014, quando as duas nações entraram em disputa pelo controle da região da Crimeia, que nesse período estava sob controle do governo ucraniano, mas que foi declarada território anexado pelo governo russo, depois de um embate geopolítico, com contornos militares, que fez ressurgir ações pouco observadas no mundo desde o encerramento da Guerra Fria em 1991.

A região da Crimeia era parte integrante do território russo até 1954, e, portanto habitada predominantemente por russos ou descendentes de russos. Porém na esteira dos acordos geopolíticos firmados após a Segunda Guerra Mundial pela Rússia e seus vizinhos, tendo em pauta a expansão territorial do bloco socialista, levou o então presidente soviético, Nikita Khrushchev a transferir o controle da região para a então República Socialista Soviética da Ucrânia, em um gesto de reforçar os laços políticos no bloco dentro da Europa. A população russa permaneceu na Crimeia, embora a administração passasse a ser ucraniana.

Porém com o encerramento da Guerra Fria e a consequente dissolução da União Soviética, os laços políticos no Leste Europeu começaram a ser desfeitos. Visando a redução de conflitos internos e a facilitação da inserção na Nova Ordem Mundial, grande parte das nações da extinta URSS se agruparam novamente, dessa vez sob a égide capitalista, com a criação da Comunidade dos Estados Independentes, dos quais faziam parte a Rússia e a Ucrânia. Assim sendo, apesar do fim da URSS, a Crimeia continuou sob o comando do governo ucraniano.

Dentro da Crimeia fica a província (cidade) autônoma de Sebastopol, cuja administração é realizada pela Rússia, por conta de um acordo firmado entre os dois governos, que permitiu à nação líder da URSS manter ali a base naval homônoma, o que lhe garantiu o controle militar e político da região do Mar Negro, estratégico para a navegação comercial e principalmente pelas imensas jazidas de gás natural existentes em seu leito, aumentando ainda mais o poderio da Rússia como grande produtor e fornecedor desse recurso energético na (e para a) Europa Ocidental.

No início do século XXI frente à estagnação das economias do Leste Europeu e aos avanços econômicos observados na União Europeia, a Ucrânia iniciou um movimento de aproximação com o bloco ocidental e automaticamente afastamento com as nações da Comunidade dos Estados Independentes, o que começou a estremecer as relações entre Kiev e Moscou. Ciente da possibilidade de perder seu principal aliado entre as ex-repúblicas soviéticas, a Rússia endureceu o discurso em relação ao governo ucraniano.

As tensões culminaram com um embate diplomático em 2014, quando o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, apoiador e apoiado do governo russo foi expulso do poder, naquilo que ficou conhecido como “Revolução Ucraniana”, um desdobramento das revoltas internas no país, iniciadas em 2013 e batizadas de Euromaidan, que visavam a ampliação das relações da nação com a União Europeia e a redução da dependência em relação ao governo russo. Com a derrubada do presidente Yanukovich e sua fuga para a Rússia e o apoio da União Europeia aos responsáveis pela “revolução”, o governo russo interviu militarmente na Ucrânia e declarou em 2014 a anexação da Crimeia, que segundo Moscou deixava de pertencer aos ucranianos e voltava plenamente ao controle russo.

Desse modo pode-se inferir que entre as principais motivações para o recente acirramento entre russos e ucranianos se destacam questões geopolíticas ligadas ao desmantelamento da Comunidade dos Estados Independentes, o que mina o poder político da Rússia no continente europeu; a aproximação da Ucrânia com a União Europeia, o que pode afetar drasticamente o mercado russo de gás natural, posto que a Ucrânia pode passar a fornecer o recurso para os europeus reduzindo os ganhos russos; controle de uma importante rota comercial que é o Mar Negro, que faz a ligação entre o Leste Europeu e a Ásia Ocidental; além do interesse principal, que é o domínio das imensas e quase inexploradas reservas de gás natural existente sob as águas desse mar, que poderiam abastecer a União Europeia e livrar as nações do quase monopólio russo desse recurso no continente.


b) Qual é o interesse da OTAN e dos aliados da Ucrânia em apoiar o presidente ucraniano?

Comentário:

A Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN foi ciada em 1949 pelas nações que aderiram ou mantiveram o sistema capitalista no contexto da bipolaridade da Guerra Fria. O objetivo era a criação de uma força militar de defesa mútua dos Estados Unidos e seus aliados no caso de alguma ação militar agressiva proveniente do bloco socialista. Mais tarde, em 1955, o bloco oriental criou o Pacto de Varsóvia, com o mesmo objetivo da OTAN, porém para as nações socialistas.

Portanto, a OTAN, dentre outros elementos marcou a presença militar efetiva e a defesa econômica direta dos Estados Unidos naquilo que durante a Guerra Fria se convencionou a chamar de Europa Ocidental e que na atualidade (embora com algumas diferenciações) se intitula de União Europeia. Assim, o braço militar da economia capitalista visa manter a estabilidade geopolítica na Europa, dividida hoje entre a parte ocidental mais desenvolvida (União Europeia) e a parte oriental menos desenvolvida (Comunidade dos Estados Independentes), para que os interesses econômicos não sejam ameaçados.

No contexto geopolítico do início do século XXI a ascensão da China e o acirramento da economia da nação asiática frente à hegemonia estadunidense definiu de fato a reinserção da Rússia no cenário global, o que havia sido suprimido desde o fim do bloco socialista em 1991. Embora em uma posição secundária, como coadjuvante da crescente China moderna, a influência política da Rússia no cenário oriental da Europa ameaça a hegemonia capitalista ali instalada, colocando as disputas pela região da Crimeia, entre russos e ucranianos, na pauta global da atualidade.

Cientes da inclinação da Rússia em prol da China e seu posicionamento contrário à União Europeia e aos Estados Unidos, os membros da OTAN tendem (de modo racional e coerente) a se posicionar em favor da Ucrânia, defendendo a manutenção do território da Crimeia sob o comando do governo de Kiev. Porém isso coloca em choque interesses ocidentais e orientais dentro da Europa, originando uma tensão geopolítica que muitos estudiosos têm batizado de “Nova Guerra Fria”.

Dentre os principais interesses da OTAN em apoiar o governo ucraniano e consequentemente se posicionar contra o governo e as recentes ações militares russas se assentam em questões econômicas relativas aos sistemas portuários do Mar Negro, que liga parte dos mercados europeus e asiáticos; acesso e controle sobre grandes campos de gás natural, controlados atualmente pela Rússia através da base naval de Sebastopol; Acesso ao grande mercado consumidor ucraniano com mais de 40 milhões de potenciais compradores para produtos da União Europeia; aceso facilitado a mão de obra barata na antiga nação socialista, que poderia reduzir o peso da redução da População Economicamente Ativa do bloco europeu; a possibilidade de expansão da União Europeia para o oriente, uma vez que a aproximação do bloco com a Ucrânia desde 2017 poderia motivar outras nações da região a abandonar a Comunidade dos Estados Independentes e aproximarem-se das nações da Europa Ocidental, enfraquecendo com isso o poderio russo na região.

Questão 03



FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010, p.6. (Adaptado)


a) Qual é a importância econômica dos escudos cristalinos e das bacias sedimentares?

Comentário:

O mapa apresentado na questão traz a divisão do território brasileiro nas chamadas macroformas do relevo, também conhecidas como estruturas geológicas. De modo amplo, a estrutura geológica é dividida em três grandes macroformas, das quais tem-se os escudos cristalinos, que formam o embasamento geral dos relevos, as bacias sedimentares, resultantes da acumulação dos detritos de escudos cristalinos devastados pelas forças exógenas e os dobramentos modernos, que se formam nas zonas de convergência entre duas placas tectônicas da crosta.

Por localizar-se no centro da placa tectônica sul-americana, o Brasil  não possui em sua estrutura geológica os dobramentos modernos, uma vez que esses se restringem às bordas de placas que se chocam, apresentando portanto apenas os escudos cristalinos, que recobrem cerca de 36% de seu território, e os demais 64% são recobertos por bacias sedimentares.

Economicamente essas estruturas apresentam grandes possibilidades de exploração de recursos minerais, sendo que nos escudos cristalinos localizam-se as reservas de minerais metálicos, tais como minério de ferro, bauxita, hematita, cassiterita, manganês, ouro, nióbio, cobre (...), o que permite que o país se torne um dos maiores exportadores globais de commodities minerais, com destaque para as produções em importantes regiões cristalinas como o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais; a Serra dos Carajás, no Pará; a Serra do Navio, no Amapá e o Maciço do Urucum, no Mato Grosso do Sul.

Ao passo que nas bacias sedimentares, se destacam a presença das grandes jazidas dos combustíveis fósseis, também chamados de hidrocarbonetos, uma vez que a acumulação de sedimentos soterra restos orgânicos aquáticos e terrestres, os quais ao serem decompostos originam os recursos minerais energéticos fósseis, tais como o carvão mineral, o petróleo, o gás natural e o xisto. No Brasil as reservas de carvão mineral se concentram no chamado Cinturão Carbonífero, que se estende do sul de São Paulo até o Rio Grande do Sul, sendo composto principalmente por carvões do tipo linhito e hulha.

Já o petróleo e o gás natural se concentram nas bacias sedimentares localizadas no leito oceânico raso, conhecido como plataforma continental, com destaque para o Recôncavo Baiano, no litoral nordeste e principalmente o litoral Sul-Sudeste, onde se localizam as bacias de Campos no Rio de Janeiro e de Santos em São Paulo. Nessas bacias encontram-se grandes reservas petrolíferas em profundidades diferentes, sendo que as menos profundas, já plenamente exploradas, são conhecidas como camada do pós-sal (nos litorais de São Paulo e Rio de Janeiro) e as mais profundas e ainda não plenamente exploradas, conhecidas como camadas do pré-sal (que se estendem do litoral de Santa Catarina ao litoral do Espírito Santo).


b) Explique o processo de formação das estruturas geológicas que compõem o relevo brasileiro.

Comentário:

O processo de formação das estruturas geológicas que compõem o território brasileiro se iniciou com o processo de resfriamento e solidificação da crosta terrestre, há cerca de 4.5 bilhões de anos, no período Pré-Cambriano. Desse processo inicial de resfriamento se originaram os escudos cristalinos, também conhecidos como maciços antigos, ou embasamento cristalino ou simplesmente crátons. Portanto, a formação desse arcabouço geológico mais antigo se deu através da ação predominante das forças endógenas, uma vez que o vulcanismo foi o responsável pela liberação do magma do manto, o qual se resfriou na parte externa dando origem a essa estrutura. Portanto, dentre as estruturas geológicas (escudos cristalinos, bacias sedimentares e dobramentos modernos) o escudos se configuram com as mais pretéritas.

Devido a sua localização, predominantemente na faixa intertropical da Terra, a estrutura geológica brasileira encontra-se intensa e permanentemente exposta à ação das forças exógenas esculpidoras, relacionadas aos elementos climáticos, o que ao longo das eras geológicas levou a uma grande devastação dos antigos escudos cristalinos, os quais foram intemperizados e seus detritos erodidos e depositados em áreas mais baixas do relevo. Desse modo, atualmente apenas 36% da superfície brasileira é coberta por essas estruturas.

Por sua vez, os sedimentos dos escudos antigos que foram devastados formaram bacias sedimentares, que recobrem os outros 64% da superfície continental do país. Assim, a formação das bacias sedimentares decorre predominantemente da ação das forças exógenas (elementos do clima), posto que é a ação dessas forças que provocam a destruição (intemperismo) dos escudos cristalinos, cujos restos (sedimentos) são erodidos (transportados) dos locais mais elevados do relevo, em direção às áreas mais rebaixadas do entorno, que ao serem preenchidas por camadas horizontais estratificadas ao longo do tempo (a partir da Era Paleozoica originaram essas macroformas do relevo. Devido à sua localização intraplaca, o Brasil não apresenta em sua estrutura geológica os dobramentos modernos, restrito às bordas convergentes das placas, tanto em locais de subducção quanto de obducção.

Questão 04

MAPA-MÚNDI: PROJEÇÃO DE PETERS



FERREIRA, G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010, p.4. (Adaptado)


De acordo com a projeção cartográfica de Peters, utilizada para representar o mapa- -múndi, responda.


a) Por que essa projeção do mapa-múndi é criticada e pouco utilizada?

Comentário:

A figura apresentada pela questão se refere à Projeção Cilíndrica Equivalente de Peters, também conhecida como Projeção de Gall-Peters, uma vez que sua ideia básica foi proposta ainda no século XIX por James Gall, mas foi Arno Peters que a reformulou, já na segunda metade do século XX, no período após a Segunda Guerra Mundial, e portanto no contexto da Guerra Fria. Nesse contexto histórico, a bipolaridade ideológica entre o capitalismo estadunidense e o socialismo soviético definiu uma divisão das nações entre aquelas capitalistas ricos, chamadas de Primeiro Mundo, aquelas socialistas, chamadas e Segundo Mundo e as capitalistas pobres, chamadas de Terceiro Mundo.

Peters buscava, nesse momento geopolítico obscuro, superar a histórica visão eurocêntrica, trazida através da Projeção Cilíndrica Conforme de Mercator, elaborada no contexto das Grandes Navegações, na qual além de colocar as potências coloniais numa posição central da representação do mundo, enfatizava as nações do hemisfério Norte, colocando-as “acima” das nações pobres do Sul. Desse modo, Peters trouxe uma visão diferente da realidade espacial do mundo, focada dessa vez nas nações pobres do Sul, e principalmente superando a visão de que as potências mundiais estariam literalmente “acima” das nações mais pobres.

Portanto, a crítica realizada sobre essa projeção reside, em termos ideológicos, no fato de enfatizar as nações mais pobres, principalmente da África e América Latina, em detrimento da Europa e América Anglo-Saxônica, e em relação aos aspectos estruturais, é criticada por basear-se na manutenção da proporcionalidade das áreas continentais, não se preocupando em representar com fidelidade as formas (contornos) e as distâncias relativas entre essas áreas.


b) Quais são as principais características dessa projeção?

Comentário:

A projeção de Peters, assim como toda projeção cilíndrica apresenta relativa fidelidade apenas nas zonas de baixas atitudes (próximas ao paralelo do Equador), apresentando distorções e deformações crescentes no sentido das latitudes. Assim, quanto mais próximo dos polos, mais deformadas e distorcidas serão as informações apresentadas nesse tipo de mapa.

Por se tratar de uma projeção equivalente ou proporcional, esse mapa apresenta fidelidade apenas nos tamanhos relativos das áreas continentais, sendo suas formas ou contornos totalmente diferentes dos reais e as distâncias relativas entre dois locais também deformadas. Estruturalmente essa projeção apresenta os meridianos verticais e os paralelos horizontais, formando sempre ângulos ortogonais entre si. Em relação às deformações (de formas e distâncias), essas são diretamente proporcionais às latitudes, assim, quanto mais próximo dos polos, maiores serão os erros nessas duas variáveis.

Ideologicamente esse mapa foi concebido para trazer uma visão terceiro-mundista, que tentava superar o histórico eurocentrismo dos mapas-múndi anteriores, por isso a ênfase dada ao continente africano e às terras latino-americanas, territórios que foram desenhados de modo alongado no sentido norte-sul, de modo proposital, para fazer uma analogia aos corpos magros das populações que vivem nessas regiões, e são assoladas pela fome e pelas epidemias que tornavam a qualidade de vida muito inferior à média mundial. Além disso, quando Arno Peters apresentou seu mapa ao mundo, na década de 1970, ele foi concebido “de cabeça para baixo”, na tentativa de negar a ideia de que os países do Norte (ricos) estão acima dos países do Sul (pobres).