Questão 01
O
Brasil comumente é “vendido” como um país com múltiplas regiões e com
diversidade na produção de alimentos. Para alimentar a população com sabor,
saúde e abundância, os meios de comunicação repetem por meio de imagens
coloridas o sucesso do agronegócio brasileiro: “Agro é Tec” , “Agro é Pop”,
“Agro é Tudo”
Fonte:
SANTOS, Marueem, GLASS, Verena (orgs.). Altas do agronegócio: fatos e números
sobre as corporações que controlam o que comemos. Rio de Janeiro: Fundação
Heinrich Boll, 2018, p. 28. (Adaptado)
A
partir do texto e da figura acima, responda.
a)
Conforme apresentado na figura, quais são os impactos do monopólio das
empresas-rede para a segurança alimentar da população mundial?
Comentário:
A imagem apresentada na questão nos
traz as sedes das cinco principais empresas relacionadas com o agronegócio na
atualidade, e suas respectivas sedes, deixando claro o predomínio de suas
localizações nas nações mais desenvolvidas do mundo, sendo três estadunidenses,
uma holandesa e uma chinesa. Nota-se que o surgimento de uma empresa estatal
chinesa em um mercado outrora dominado por importantes corporações privadas
ocidentais demonstra a pujança da economia da nação asiática, principalmente a
partir da abertura promovida pelo Partido Comunista Chinês no período posterior
à morte do líder Mao Tsé-tung na década de 1970, quando a nação passou a adotar
o modelo socialista de mercado.
Esse monopólio centrado por este
grupo de cinco grandes empresas traz consigo uma série de riscos para as nações
que ficam subjugadas pelo mercado global dessas mercadorias agrícolas, que no
passado eram vistas apenas como alimentos, mas no passado passaram a ser
classificadas como commodities, uma vez que continuam sendo usadas como
alimentos, mas atualmente servem também (e até mais) à produção de matérias
primas industriais ou combustíveis renováveis.
No que tange aos riscos para a
soberania alimentar, que na prática se refere à capacidade de uma nação suprir
seu mercado consumidor interno daqueles bens essenciais à sobrevivência de suas
populações, a destinação plena de suas produções para essas empresas determina
o direcionamento de suas commodities para os mercados externos (nas grandes
potências e na China), podendo ocasionar um desabastecimento dessas mercadorias
para as populações dos países produtores, assim como a elevação dos preços
internos, uma vez que a oferta interna será suprimida pelo foco no mercado
externo.
Por outro lado, a destinação quase
que completa dessas mercadorias para a produção de alimentos para os rebanhos
animais nos consumidores externos, assim como para a geração de energias
alternativas, pode ocasionar o abandono gradual do cultivo de lavouras
tradicionais de alimentos típicos das nações produtoras, passando o foco a ser
no abastecimento do mercado global de commodities, o que por sua vez
comprometeria diretamente a dimensão das áreas cultivadas com alimentos e
consequentemente a soberania alimentar dessas populações.
Há ainda o risco de que esse
monopólio do mercado e a consequente especulação e regulação dos preços por
esses cinco grandes fornecedores globais levem à prática de um cartel no
mercado mundial, suprimindo o direito das populações à livre-concorrência e às
vantagens comerciais que o livre mercado pode oferecer, tornando-as reféns da
dominação econômica dessas grandes corporações, que passariam a dominar
plenamente o mercado de um bem essencial como são os alimentos.
b)
Discorra sobre duas consequências econômicas e sobre duas ambientais oriundas
dos processos apresentados no texto e na figura.
Comentário:
O processo de monopolização dos
mercados internacionais de commodities por um grupo restrito de empresas, tal
qual é apresentado na questão, traz consigo várias consequências nos âmbitos
políticos, econômicos, sociais e ambientais, que cão além bem além das questões
meramente comerciais.
No que tange as questões econômicas
desse monopólio pode-se destacar a regulação da oferta e procura dos bens
agrícolas por essas grandes empresas, que atuam de maneira dominante na
importação e na exportação dessas commodities, o que lhes permite um controle
indireto dos valores das mercadorias, impedindo a concorrência entre vários
fornecedores, levando o mercado consumidor a aceitar valores cada vez mais
elevados e maximizando as margens de lucros dos poucos fornecedores. Além
disso, como o valore das commodities é regulado pelo mercado internacional, as
mesmas empresas que definem elevados preços a serem cobrados dos consumidores
de seus produtos, através de um monopólio, passam a definir também preços cada
vez mais baixos a serem pagos para os produtores rurais, geralmente nos países pobres,
que não tem várias opções de compradores para ofertarem seus produtos,
definindo assim um monopsônio.
Ainda no campo econômico, essa
estrutura monopolizada passa a fazer com que os produtores agrícolas passem a
buscar meios cada vez mais eficazes e modernos de produção, que sejam capazes
de abastecer aos mercados globais, tornando as práticas agrícolas cada vez mais
caras e menos acessíveis aos pequenos produtores, os quais tendem a abandonar
as atividades produtivas, gerando inicialmente o desabastecimento e carestia
dos gêneros alimentares nas nações menos desenvolvidas, seguido de um crescente
processo de valorização das terras e concentração fundiária nas mãos dos
grandes produtores, capazes de arcar com os custos cada vez mais elevadas de
uma agricultura marcadamente mais técnica e intensiva.
Com relação aos impactos ambientais
desse processo pode-se mencionar a expansão das fronteiras agrícolas, que
conduzem à ampliação da devastação dos biomas através do desmatamento das
vegetações nativas, tendo em vista a abertura de novas terras destinadas aos
cultivos de exportação. Esse processo de desmatamento traz consigo o aumento da
exposição do solo às forças exógenas, que potencializam problemas ambientais
naturais, tais como a erosão e a lixiviação.
Por outro lado, ambientalmente tem-se
ainda o empobrecimento dos solos, decorrente da expansão das práticas de
monoculturas dessas commodities, que causam a exaustão dos mesmos,
reduzindo-lhes a fertilidade e a produtividade. Em casos mais extremos desse
empobrecimento e exaustão do solo, pode haver o processo de plena perda de
fertilidade e produtividade, originando o processo de desertificação dessas
zonas. Ainda com relação aos possíveis danos ambientais, cabe mencionar que a
expansão das áreas de cultivo, para regiões outrora improdutivas ou menos
atraentes ao agronegócio, pode demandar uso mais intensivo dos recursos
hídricos para a prática de irrigação, o que além de comprometer a
disponibilidade natural de águas superficiais, pode levar ainda à contaminação
dos recursos subterrâneos, uma vez que nessa agricultura intensiva o uso de
pesticidas e fertilizantes se dá de maneira cada vez mais ampla.
Questão 02
O
Parlamento da Ucrânia decidiu, no dia 26/11/18, declarar lei marcial depois que
navios russos atiraram contra embarcações do país na costa da Crimeia. Para a
Ucrânia, o episódio que resultou em tripulantes feridos e capturados foi um
“ato de agressão”. Do outro lado, Moscou afirmou que os navios haviam “entrado
em suas águas ilegalmente”.
Disponível
em: <
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/11/26/entenda-a-nova-escalada-de-tensao-entre-ucrania-e-russia.ghtml> Acesso: 20 mar. 2019. (Adaptado)
O
confronto ocorrido no Mar Negro, relatado na reportagem, marca um novo episódio
na crescente tensão entre os dois países.
a)
Explique as causas do acirramento dos conflitos entre Rússia e Ucrânia.
Comentário:
O conflito recente entre Rússia e
Ucrânia, no Leste Europeu reacendeu as disputas territoriais na região a parti
de 2014, quando as duas nações entraram em disputa pelo controle da região da
Crimeia, que nesse período estava sob controle do governo ucraniano, mas que
foi declarada território anexado pelo governo russo, depois de um embate
geopolítico, com contornos militares, que fez ressurgir ações pouco observadas
no mundo desde o encerramento da Guerra Fria em 1991.
A região da Crimeia era parte
integrante do território russo até 1954, e, portanto habitada predominantemente
por russos ou descendentes de russos. Porém na esteira dos acordos geopolíticos
firmados após a Segunda Guerra Mundial pela Rússia e seus vizinhos, tendo em
pauta a expansão territorial do bloco socialista, levou o então presidente
soviético, Nikita Khrushchev a transferir o controle da região para a então
República Socialista Soviética da Ucrânia, em um gesto de reforçar os laços
políticos no bloco dentro da Europa. A população russa permaneceu na Crimeia,
embora a administração passasse a ser ucraniana.
Porém com o encerramento da Guerra
Fria e a consequente dissolução da União Soviética, os laços políticos no Leste
Europeu começaram a ser desfeitos. Visando a redução de conflitos internos e a
facilitação da inserção na Nova Ordem Mundial, grande parte das nações da
extinta URSS se agruparam novamente, dessa vez sob a égide capitalista, com a
criação da Comunidade dos Estados Independentes, dos quais faziam parte a
Rússia e a Ucrânia. Assim sendo, apesar do fim da URSS, a Crimeia continuou sob
o comando do governo ucraniano.
Dentro da Crimeia fica a província
(cidade) autônoma de Sebastopol, cuja administração é realizada pela Rússia,
por conta de um acordo firmado entre os dois governos, que permitiu
à nação líder da URSS manter ali a base naval homônoma, o que lhe garantiu o
controle militar e político da região do Mar Negro, estratégico para a
navegação comercial e principalmente pelas imensas jazidas de gás natural
existentes em seu leito, aumentando ainda mais o poderio da Rússia como grande
produtor e fornecedor desse recurso energético na (e para a) Europa Ocidental.
No início do século XXI frente à
estagnação das economias do Leste Europeu e aos avanços econômicos observados
na União Europeia, a Ucrânia iniciou um movimento de aproximação com o bloco
ocidental e automaticamente afastamento com as nações da Comunidade dos Estados
Independentes, o que começou a estremecer as relações entre Kiev e Moscou.
Ciente da possibilidade de perder seu principal aliado entre as ex-repúblicas soviéticas,
a Rússia endureceu o discurso em relação ao governo ucraniano.
As tensões culminaram com um embate
diplomático em 2014, quando o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich,
apoiador e apoiado do governo russo foi expulso do poder, naquilo que ficou
conhecido como “Revolução Ucraniana”, um desdobramento das revoltas internas no
país, iniciadas em 2013 e batizadas de Euromaidan, que visavam a ampliação das
relações da nação com a União Europeia e a redução da dependência em relação ao
governo russo. Com a derrubada do presidente Yanukovich e sua fuga para a
Rússia e o apoio da União Europeia aos responsáveis pela “revolução”, o governo
russo interviu militarmente na Ucrânia e declarou em 2014 a anexação da
Crimeia, que segundo Moscou deixava de pertencer aos ucranianos e voltava
plenamente ao controle russo.
Desse modo pode-se inferir que entre
as principais motivações para o recente acirramento entre russos e ucranianos
se destacam questões geopolíticas ligadas ao desmantelamento da Comunidade dos
Estados Independentes, o que mina o poder político da Rússia no continente
europeu; a aproximação da Ucrânia com a União Europeia, o que pode afetar
drasticamente o mercado russo de gás natural, posto que a Ucrânia pode passar a
fornecer o recurso para os europeus reduzindo os ganhos russos; controle de uma
importante rota comercial que é o Mar Negro, que faz a ligação entre o Leste
Europeu e a Ásia Ocidental; além do interesse principal, que é o domínio das
imensas e quase inexploradas reservas de gás natural existente sob as águas
desse mar, que poderiam abastecer a União Europeia e livrar as nações do quase
monopólio russo desse recurso no continente.
b)
Qual é o interesse da OTAN e dos aliados da Ucrânia em apoiar o presidente
ucraniano?
Comentário:
A Organização do Tratado do Atlântico
Norte – OTAN foi ciada em 1949 pelas nações que aderiram ou mantiveram o
sistema capitalista no contexto da bipolaridade da Guerra Fria. O objetivo era
a criação de uma força militar de defesa mútua dos Estados Unidos e seus
aliados no caso de alguma ação militar agressiva proveniente do bloco socialista.
Mais tarde, em 1955, o bloco oriental criou o Pacto de Varsóvia, com o mesmo
objetivo da OTAN, porém para as nações socialistas.
Portanto, a OTAN, dentre outros
elementos marcou a presença militar efetiva e a defesa econômica direta dos
Estados Unidos naquilo que durante a Guerra Fria se convencionou a chamar de
Europa Ocidental e que na atualidade (embora com algumas diferenciações) se
intitula de União Europeia. Assim, o braço militar da economia capitalista visa
manter a estabilidade geopolítica na Europa, dividida hoje entre a parte
ocidental mais desenvolvida (União Europeia) e a parte oriental menos
desenvolvida (Comunidade dos Estados Independentes), para que os interesses econômicos
não sejam ameaçados.
No contexto geopolítico do início do
século XXI a ascensão da China e o acirramento da economia da nação asiática
frente à hegemonia estadunidense definiu de fato a reinserção da Rússia no cenário
global, o que havia sido suprimido desde o fim do bloco socialista em 1991.
Embora em uma posição secundária, como coadjuvante da crescente China moderna,
a influência política da Rússia no cenário oriental da Europa ameaça a
hegemonia capitalista ali instalada, colocando as disputas pela região da
Crimeia, entre russos e ucranianos, na pauta global da atualidade.
Cientes da inclinação da Rússia em
prol da China e seu posicionamento contrário à União Europeia e aos Estados
Unidos, os membros da OTAN tendem (de modo racional e coerente) a se posicionar
em favor da Ucrânia, defendendo a manutenção do território da Crimeia sob o
comando do governo de Kiev. Porém isso coloca em choque interesses ocidentais e
orientais dentro da Europa, originando uma tensão geopolítica que muitos
estudiosos têm batizado de “Nova Guerra Fria”.
Dentre os principais interesses da
OTAN em apoiar o governo ucraniano e consequentemente se posicionar contra o
governo e as recentes ações militares russas se assentam em questões econômicas
relativas aos sistemas portuários do Mar Negro, que liga parte dos mercados
europeus e asiáticos; acesso e controle sobre grandes campos de gás natural,
controlados atualmente pela Rússia através da base naval de Sebastopol; Acesso
ao grande mercado consumidor ucraniano com mais de 40 milhões de potenciais
compradores para produtos da União Europeia; aceso facilitado a mão de obra
barata na antiga nação socialista, que poderia reduzir o peso da redução da
População Economicamente Ativa do bloco europeu; a possibilidade de expansão da
União Europeia para o oriente, uma vez que a aproximação do bloco com a Ucrânia
desde 2017 poderia motivar outras nações da região a abandonar a Comunidade dos
Estados Independentes e aproximarem-se das nações da Europa Ocidental,
enfraquecendo com isso o poderio russo na região.
Questão 03
FERREIRA,
G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010,
p.6. (Adaptado)
a)
Qual é a importância econômica dos escudos cristalinos e das bacias
sedimentares?
Comentário:
O mapa apresentado na questão traz a
divisão do território brasileiro nas chamadas macroformas do relevo, também
conhecidas como estruturas geológicas. De modo amplo, a estrutura geológica é
dividida em três grandes macroformas, das quais tem-se os escudos cristalinos,
que formam o embasamento geral dos relevos, as bacias sedimentares, resultantes
da acumulação dos detritos de escudos cristalinos devastados pelas forças
exógenas e os dobramentos modernos, que se formam nas zonas de convergência
entre duas placas tectônicas da crosta.
Por localizar-se no centro da placa
tectônica sul-americana, o Brasil não
possui em sua estrutura geológica os dobramentos modernos, uma vez que esses se
restringem às bordas de placas que se chocam, apresentando portanto apenas os
escudos cristalinos, que recobrem cerca de 36% de seu território, e os demais
64% são recobertos por bacias sedimentares.
Economicamente essas estruturas
apresentam grandes possibilidades de exploração de recursos minerais, sendo que
nos escudos cristalinos localizam-se as reservas de minerais metálicos, tais
como minério de ferro, bauxita, hematita, cassiterita, manganês, ouro, nióbio,
cobre (...), o que permite que o país se torne um dos maiores exportadores
globais de commodities minerais, com destaque para as produções em importantes
regiões cristalinas como o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais; a Serra dos
Carajás, no Pará; a Serra do Navio, no Amapá e o Maciço do Urucum, no Mato
Grosso do Sul.
Ao passo que nas bacias sedimentares,
se destacam a presença das grandes jazidas dos combustíveis fósseis, também
chamados de hidrocarbonetos, uma vez que a acumulação de sedimentos soterra
restos orgânicos aquáticos e terrestres, os quais ao serem decompostos originam
os recursos minerais energéticos fósseis, tais como o carvão mineral, o
petróleo, o gás natural e o xisto. No Brasil as reservas de carvão mineral se
concentram no chamado Cinturão Carbonífero, que se estende do sul de São Paulo
até o Rio Grande do Sul, sendo composto principalmente por carvões do tipo
linhito e hulha.
Já o petróleo e o gás natural se
concentram nas bacias sedimentares localizadas no leito oceânico raso,
conhecido como plataforma continental, com destaque para o Recôncavo Baiano, no
litoral nordeste e principalmente o litoral Sul-Sudeste, onde se localizam as
bacias de Campos no Rio de Janeiro e de Santos em São Paulo. Nessas bacias
encontram-se grandes reservas petrolíferas em profundidades diferentes, sendo
que as menos profundas, já plenamente exploradas, são conhecidas como camada do
pós-sal (nos litorais de São Paulo e Rio de Janeiro) e as mais profundas e
ainda não plenamente exploradas, conhecidas como camadas do pré-sal (que se
estendem do litoral de Santa Catarina ao litoral do Espírito Santo).
b)
Explique o processo de formação das estruturas geológicas que compõem o relevo
brasileiro.
Comentário:
O processo de formação das estruturas
geológicas que compõem o território brasileiro se iniciou com o processo de
resfriamento e solidificação da crosta terrestre, há cerca de 4.5 bilhões de
anos, no período Pré-Cambriano. Desse processo inicial de resfriamento se
originaram os escudos cristalinos, também conhecidos como maciços antigos, ou
embasamento cristalino ou simplesmente crátons. Portanto, a formação desse
arcabouço geológico mais antigo se deu através da ação predominante das forças
endógenas, uma vez que o vulcanismo foi o responsável pela liberação do magma
do manto, o qual se resfriou na parte externa dando origem a essa estrutura.
Portanto, dentre as estruturas geológicas (escudos cristalinos, bacias
sedimentares e dobramentos modernos) o escudos se configuram com as mais
pretéritas.
Devido a sua localização,
predominantemente na faixa intertropical da Terra, a estrutura geológica
brasileira encontra-se intensa e permanentemente exposta à ação das forças
exógenas esculpidoras, relacionadas aos elementos climáticos, o que ao longo
das eras geológicas levou a uma grande devastação dos antigos escudos
cristalinos, os quais foram intemperizados e seus detritos erodidos e
depositados em áreas mais baixas do relevo. Desse modo, atualmente apenas 36% da
superfície brasileira é coberta por essas estruturas.
Por sua vez, os sedimentos dos
escudos antigos que foram devastados formaram bacias sedimentares, que recobrem
os outros 64% da superfície continental do país. Assim, a formação das bacias
sedimentares decorre predominantemente da ação das forças exógenas (elementos
do clima), posto que é a ação dessas forças que provocam a destruição
(intemperismo) dos escudos cristalinos, cujos restos (sedimentos) são erodidos
(transportados) dos locais mais elevados do relevo, em direção às áreas mais
rebaixadas do entorno, que ao serem preenchidas por camadas horizontais
estratificadas ao longo do tempo (a partir da Era Paleozoica originaram essas
macroformas do relevo. Devido à sua localização intraplaca, o Brasil não
apresenta em sua estrutura geológica os dobramentos modernos, restrito às
bordas convergentes das placas, tanto em locais de subducção quanto de
obducção.
Questão 04
MAPA-MÚNDI: PROJEÇÃO DE
PETERS
FERREIRA,
G. M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2010,
p.4. (Adaptado)
De
acordo com a projeção cartográfica de Peters, utilizada para representar o
mapa- -múndi, responda.
a)
Por que essa projeção do mapa-múndi é criticada e pouco utilizada?
Comentário:
A figura apresentada pela questão se
refere à Projeção Cilíndrica Equivalente de Peters, também conhecida como
Projeção de Gall-Peters, uma vez que sua ideia básica foi proposta ainda no
século XIX por James Gall, mas foi Arno Peters que a reformulou, já na segunda
metade do século XX, no período após a Segunda Guerra Mundial, e portanto no
contexto da Guerra Fria. Nesse contexto histórico, a bipolaridade ideológica
entre o capitalismo estadunidense e o socialismo soviético definiu uma divisão
das nações entre aquelas capitalistas ricos, chamadas de Primeiro Mundo,
aquelas socialistas, chamadas e Segundo Mundo e as capitalistas pobres,
chamadas de Terceiro Mundo.
Peters buscava, nesse momento
geopolítico obscuro, superar a histórica visão eurocêntrica, trazida através da
Projeção Cilíndrica Conforme de Mercator, elaborada no contexto das Grandes
Navegações, na qual além de colocar as potências coloniais numa posição central
da representação do mundo, enfatizava as nações do hemisfério Norte,
colocando-as “acima” das nações pobres do Sul. Desse modo, Peters trouxe uma
visão diferente da realidade espacial do mundo, focada dessa vez nas nações
pobres do Sul, e principalmente superando a visão de que as potências mundiais
estariam literalmente “acima” das nações mais pobres.
Portanto, a crítica realizada sobre
essa projeção reside, em termos ideológicos, no fato de enfatizar as nações
mais pobres, principalmente da África e América Latina, em detrimento da Europa
e América Anglo-Saxônica, e em relação aos aspectos estruturais, é criticada
por basear-se na manutenção da proporcionalidade das áreas continentais, não se
preocupando em representar com fidelidade as formas (contornos) e as distâncias
relativas entre essas áreas.
b)
Quais são as principais características dessa projeção?
Comentário:
A projeção de Peters, assim como toda
projeção cilíndrica apresenta relativa fidelidade apenas nas zonas de baixas
atitudes (próximas ao paralelo do Equador), apresentando distorções e
deformações crescentes no sentido das latitudes. Assim, quanto mais próximo dos
polos, mais deformadas e distorcidas serão as informações apresentadas nesse
tipo de mapa.
Por se tratar de uma projeção
equivalente ou proporcional, esse mapa apresenta fidelidade apenas nos tamanhos
relativos das áreas continentais, sendo suas formas ou contornos totalmente
diferentes dos reais e as distâncias relativas entre dois locais também
deformadas. Estruturalmente essa projeção apresenta os meridianos verticais e
os paralelos horizontais, formando sempre ângulos ortogonais entre si. Em
relação às deformações (de formas e distâncias), essas são diretamente
proporcionais às latitudes, assim, quanto mais próximo dos polos, maiores serão
os erros nessas duas variáveis.
Ideologicamente esse mapa foi
concebido para trazer uma visão terceiro-mundista, que tentava superar o
histórico eurocentrismo dos mapas-múndi anteriores, por isso a ênfase dada ao
continente africano e às terras latino-americanas, territórios que foram
desenhados de modo alongado no sentido norte-sul, de modo proposital, para
fazer uma analogia aos corpos magros das populações que vivem nessas regiões, e
são assoladas pela fome e pelas epidemias que tornavam a qualidade de vida
muito inferior à média mundial. Além disso, quando Arno Peters apresentou seu
mapa ao mundo, na década de 1970, ele foi concebido “de cabeça para baixo”, na
tentativa de negar a ideia de que os países do Norte (ricos) estão acima dos
países do Sul (pobres).