domingo, 7 de junho de 2015

O CORREDOR FERROVIÁRIO SUL-AMERICANO MADE IN CHINA (última parte)

Corredor ferroviário bi-oceânico: a mais nova estratégia de integração econômica dos BRICS (última parte)
Por Éder Israel
Disponível em: <http://www.environment.co.za/wp-content/uploads/2015/02/brics-logo1.png> Acesso em 30 mai. 2015.

SERÁ DESSA VEZ?

A grande questão que nos surge com relação a esse possível acordo sino-brasileiro para a construção desse corredor bi-oceânico é se esse dinheiro realmente chegará ao Brasil e se essa obra será realmente concluída. Ou até mesmo iniciada...

Aparentemente, para a China os 50 bilhões de dólares (investimento previsto para esta obra) não são um problema, pois os chineses têm ganhado dinheiro quase que ininterruptamente desde a segunda metade do século XX, quando Deng Xiao-ping assumiu o poder no país, após a morte de Mao Tse-tung, período em que iniciou-se no país asiático uma intensa, porém gradual, abertura econômica, com o intuito principal de atrair investimentos produtivos externos. Daí por diante o fluxo de dinheiro nunca mais cessou.

Esse novo modelo econômico adotado pela China pode ser chamado de Socialismo de Mercado, ou ainda Capitalismo de Estado, e é caracterizado pelo incentivo ao investimento privado, principalmente externo, aliado ao controle rigoroso dos aspectos políticos por um regime de partido único, no qual as condições de vida da população são escamoteados face à necessidade de se criar condições vantajosas para a atração dos capitais investidores advindos de países ocidentais.

Nesse aspecto, o Partido Comunista Chinês (PCCh) criou nas províncias litorâneas no leste da China as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que funcionariam, a grosso modo, como enclaves capitalistas em uma nação declarada socialista na Revolução Comunista de 1949. Nestes locais seriam viabilizados novos fatores locacionais para as empresas estrangeiras, que trariam ao país os investimentos externos e a tecnologia que ele não possuía, além da experiência com o modelo de gestão capitalista, o qual a nação procura se integrar e adaptar a partir da morte de Mao Tse-tung.

AS ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS



Disponível em: < https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1QrRAYn0M2GeSdj0joJJWWnXYF1IiaLxscpD4OT4vkg67whuYNYE_6I7cpBG6MWa7_EFfQ3bMu6Kzs7X8bqBHmxDqWomA-dlr6KPF3VycjwDL7xZV7bjdSlP6W8dFFCrg50C6cQZtUYc/s1600/china+-+zee's.jpg> Acesso em 01 jun. 2015.

Concordamos então que dinheiro em caixa não é um problema potencial para a China, embora sua economia tenha reduzido nos últimos anos o ritmo de crescimento, pois ninguém esteve totalmente a salvo da crise econômica global que se instaurou a partir de 2008. Porém, o acumulado nos anos anteriores foi capaz de criar uma poupança capaz de sustentar a economia no atual período de "vacas magras".

Mas talvez o grande dilema que a China enfrenta hoje seja a quantidade de investimentos simultâneos que o país realiza pelo mundo. Talvez a ânsia para alcançar a posição de maior potência mundial possa tornar-se um empecilho para a economia chinesa, pois a quantidade de dinheiro que o PCCh dispõe é inegavelmente alta, porém os passos que o governo do país asiático está dando atualmente podem se mostrar maiores que as próprias pernas da nação.

A China aponta seu canhão financeiro hoje para dois alvos vitais para sustentar seu projeto global, que são o continente africano e mais recentemente a América do Sul. O objetivo por trás destes investimentos é claro e óbvio, representado pelo livre acesso às commodities que se localizam nessas duas áreas, porém mais uma vez, o modo afoito de agir da economia chinesa pode trazer grandes perdas e inviabilizar uma série de projetos de grande envergadura, tais como o corredor ferroviário projetado no MERCOSUL.

O próprio Brasil já tem sido vítima recentemente desses "passos maiores que as pernas" do PCCh, posto que muitos projetos e programas de investimentos do país asiático na nação sul-americana não têm sido feitos do modo planejado, ou mesmo nem realizados estão sendo, conforme demonstra a imagem a seguir.



Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1632160-promessas-nao-cumpridas-da-china-somam-us-24-bilhoes.shtml> Acesso em 06 jun. 2015

Portanto, pode-se perceber que a China tem se esforçado muito em demarcar sua presença financeira pelo mundo, o que é totalmente esperado, basta lembrar dos Planos Marshall e Colombo realizados pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Obviamente a comparação aqui foi meramente a título de exemplo, haja visto que os períodos e os interesses por trás destes projetos de investimentos sejam diametralmente opostos, porém fazem parte do mesmo "modus operandi"...

O entendimento desta realidade leva-nos a ficar "com um pé atrás" com essa boa vontade chinesa em construir essa ferrovia de ligação entre o Pacífico e o Atlântico, pois o que for possível para que se reduzam os custos desse empreendimento será feito, logo este trajeto proposto possivelmente será alterado, e quem sabe o "choro" de Evo Morales possa surtir algum efeito, pois a ferrovia atravessando o território boliviano terá um traçado bem mais curto que o proposto que passaria pelo Peru, embora  já tenhamos aqui mencionado que o traçado proposto atualmente se deve ao interesse de passar pelo centro-oeste do Brasil e ter acesso mais fácil às safras de grãos do país.

Em resumo, o MERCOSUL nunca esteve tão próximo de finalmente conseguir estabelecer um canal de comunicação entre os dois oceanos que banham o subcontinente sul-americano, porém continuamos distantes da certeza de quando e como esta obra de infraestrutura será de fato concluída ou mesmo iniciada. O grande diferencial das outras vezes em que ficamos no quase, é o interesse e o caráter de urgência que a China deu a esta ligação, o que pode ser decisivo a favor dos mais otimistas sobre o incremento do comércio do bloco regional, mas por outro lado pode justificar o pessimismo daqueles que afirmam que podemos apenas trocar a histórica dependência em relação aos Estados Unidos por uma nova relação desfavorável com a candidata asiática à potência hegemônica do século XXI.

De resto é torcer para que nos "fundos de investimentos chineses", sobre dinheiro para a América do Sul...
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