Parte 2/2: De um modo ou de outro, a população turca sofreu um duro golpe em 2016...
Por Éder Israel
Disponível em:<https://pbs.twimg.com/media/CndwdRLW8AACJxb.jpg> Acesso em 15 ago. 2016
Imediatamente após o mal sucedido “golpe de Estado”, o presidente Erdogan começa a conduzir uma série de transformações e alterações na Turquia, que segundo ele, visavam manter a governabilidade e o pleno exercício da democracia no país. Porém, na prática, as ações políticas de Erdogan possuem mais traços ditatoriais do que liberdades civis à população.
As primeiras vítimas das ações após o suposto levante foram os altos comandos militares do país, que declaradamente discordavam dos rumos que o presidente dava às questões de segurança interna e principalmente externa do país, no que tange o combate e a repressão ao terrorismo que avança sobre a nação.
Dezenas de militares foram presos, acusados de traição e conspiração contra o povo turco, retirando imediatamente do controle das forças armadas aqueles que publicamente discordavam dos rumos que o país estava seguindo. O comando militar foi trocado em regime de emergência, e a intenção de Erdogan é tornar este setor subjugado e submisso ao Estado político, o que iria por si só retirar toda a autonomia destes órgãos.
Após “o limpa” nas forças armadas, a imprensa turca sentiu o peso da reformulação política do país. Quase duas dezenas de redes de TV e de radio, que atacavam o governo, foram fechadas e retiradas do ar, pois foram consideradas traidoras da pátria e conspiradoras contra o governo. A liberdade de expressão foi a primeira a ser revogada como resposta à tentativa de golpe, e a partir de agora apenas os meios que defendessem o Estado poderiam continuar no ar, o que garantiria a vital propaganda para qualquer Estado que queira se legitimar e conduzir profundas transformações.
Possivelmente, uma das próximas ações de Erdogan poderá se referir a questões políticas, com o intuito claro de minimizar o papel e o poder da oposição turca, principalmente aquela ligada ao PKK, que luta em favor da causa curda e tem crescido exponencialmente no país. Erdogan, como anteriormente mencionado, posiciona-se contra a criação de um Estado curdo, o qual implicaria obrigatoriamente na perda territorial e na redução de poder e autonomia da Turquia nesta estratégica região.
Disponível em <https://www.armenpress.am/static/tyyy/ghh/1111/txerq/789/jam/tg/qqqqq/ek/turk/halep/tarvankar/l/123/785/hhggg/rrr/cuyc/oscar/sargis_stepanyan/ddd/despanutyun/armenuhi/qax/nato/ser/gyumri/c1.jpg> Acesso em 15 ago. 2016
Com a redução do poder da oposição e a consequente ampliação dos poderes soberanos do Estado, o presidente turco tende a começar a buscar mudanças profundas na legislação do país, que já ficou bem delineado no fato de que Erdogan manifestou publicamente a intenção de retomar a aplicação da pena de morte na Turquia, que foi revogada oficialmente em 2004, embora nenhuma execução tenha sido realizada desde 1984. A abolição da pena capital no país foi um dos requisitos exigidos pela União Europeia para que fosse mantido e ampliado o diálogo entre turcos e membros do bloco econômico para uma possível adesão futura.
A premissa deixada no ar pelo governo da Turquia, de que poderia retomar as execuções, e o entendimento de que a aplicação da pena seria direcionada por interesses políticos, levaram o Parlamento Europeu a parar o debate sobre a entrada do país no bloco, distanciando ainda mais a nação do maior bloco econômico do mundo. O que foi entendido pelo Parlamento Europeu é na verdade um consenso mundial, de que a aplicação da pena de morte na Turquia faria como vítimas principalmente membros da oposição política ao governo Erdogan, ou seja, a pena de morte apenas legitimaria a eliminação daqueles que já são hoje perseguidos e/ou eliminados pelas forças, militares ou não, a serviço do Estado.
Disponível em: <https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFAbzgGxfWgjWbO3DQltmvjKHfWYt_zP1q6AXw2Tw2vmSErj4_plZGI5dbtKWDssv2tnwXz5KQTo6BmOaT3nz9y8ObHdBiN0Fn9ynTgyXaEgdOWDoq-VVw-gLOl4lj_njq7CmUvxtgzB7R/s1600/Cartoon.jpg> Acesso em 15 ago. 2016
Por um lado a Turquia alega que a União Europeia não tem demonstrado reais intenções de que o país entre de fato no bloco europeu, uma vez que nos últimos anos o governo turco realizou uma série de mudanças políticas e sociais, exigidas para a adesão ao bloco, ao passo que pelo lado dos países europeus mais desenvolvidos, as recentes ações políticas do Estado turco têm distanciado a nação dos pilares democráticos que seriam exigidos para que um novo membro fizesse parte da organização econômica. Sabe-se que no fundo, muitas nações da União Europeia não veem com bons olhos a possibilidade de uma nação com mais de 90% de sua população muçulmana, embora isso seja negado com veemência pelo discurso “politicamente correto” típico das nações do euro...
Na realidade os maiores derrotados por esse suposto levante popular/militar em território turco em 2016 será a própria população, privada que será de seus direitos civis mais essenciais, que serão subtraídos em nome de um combate a golpe de Estado, que na prática visa à legitimação de um governo que se mostra há anos autoritário contra minorias políticas, religiosas e sociais no país, porém a partir de agora toda a opressão será “justificável” pelo discurso de estar defendendo as liberdades da população que oprime. (Contraditório o mundo...).
Disponível em: <http://a-specto.bg/wp-content/uploads/2016/07/cszaqjwwwaalz_j.png> Acesso em 15 ago. 2016
Entre mortos e feridos sobrarão os turcos, olhando a União Europeia por sobre o muro das diferenças econômicas e sociais, e quem sabe sonhando o quão bom seria estar nesse agrupamento de nações pintado como um “país das maravilhas”, embora a razão desse olhar apaixonado e utópico seja em sua grande maioria o desconhecimento da voraz crise financeira que devora o bloco econômico, e já fez com que os ingleses pegassem o boné e partissem no BREXIT. As perdas turcas são muito mais sociais e políticas do que econômicas, pois falida a Europa já está quase que por completo...
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